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Entrevista de Graça Foster, presidente da Petrobras, ao Jornal Nacional

Posted by Cottidianos on 23:51
 Segunda-feira, 22 de dezembro

Ontem, domingo (21), a ex-gerente da Petrobras, Venina Velosa, concedeu uma entrevista ao Fantástico, falando das irregularidades que havia na Petrobras e das ameaças que por lá sofreu. A cartilha do bom jornalismo manda que se ouça os dois lados da notícia. Seguindo essa cartilha, o Jornal Nacional, também da TV Globo, entrevistou hoje (22), a presidente da Petrobras, Graça Foster. Cabe ao leitor ler o que está escrito nas entrelinhas, ouvir as versões das duas partes e tirar suas conclusões. É um jogo de gato e rato, um esconde-esconde da verdade. Um dia, ela virá à tona e saberemos quem está com a razão. Para o bem da Petrobras e do Brasil, é o que todos nós esperamos.

Abaixo, compartilho a entrevista feita com Graça Foster, no Rio de Janeiro, pelo repórter Paulo Renato Soares.

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Entrevista de Graça Foster, presidente da Petrobras, ao Jornal Nacional




A presidente da Petrobras, Graça Foster, conversou na tarde desta segunda-feira (22), no Rio, com o repórter Paulo Renato Soares e desmentiu as declarações feitas ao Fantástico pela ex-gerente da estatal, Venina Velosa da Fonseca. Veja os principais momentos.

Paulo Renato Soares - Quando a senhora diz que recebeu os e-mails de Venina, a senhora diz que não entendeu. A Venina disse que um gestor, quando não entende, procura saber, procura entender se viu algo errado neles. O que a senhora tem a dizer a respeito disso?

Graça Foster, presidente da Petrobras - Os e-mails que eu recebi da Venina foram e-mails de feliz aniversário, e-mail relativo quando eu tomei posse na Petrobras. Um primeiro e-mail, que foi o primeiro que ela cita, que fala de abril de 2009, simples compreensão e este quarto e-mail, de outubro de 2011. Ele é um e-mail longo, bastante emocionado, cheio de preocupações dela e em quatro linhas ela faz alguns comentários, que me pareceram assim bastante cifrados, quando ela fala em ‘licitações ineficientes’. Ontem, ela explicou o que é o projeto esquartejado e tal. Em nenhum momento, nenhum momento, ela fala em corrupção, fraude, conluio, cartel. São palavras muito simples de serem entendidas.

Paulo Renato Soares - A senhora não se preocupou, mesmo que mal entendidas, aquelas palavras, ou mesmo usuais, como a senhora diz, que fosse investigada aquela denúncia que ela estava fazendo?

Graça Foster - Nós tínhamos feito já vários... Ela não fez uma denúncia

Paulo Renato Soares - A senhora não entendeu aquele e-mail como uma denúncia?

Graça Foster - Não. Aquele e-mail não foi uma denúncia. Ela chamava a atenção e ela ainda dizia assim: ‘Poxa. Tarde demais para entrar em detalhes’. Isso está no e-mail, alguma coisa parecida com isso. E eu logo que assumi a presidência, a Venina quis falar comigo e veio. E nós conversamos sobre vários desafios que eu tinha pela frente.

Paulo Renato Soares - Quando ela esteve com a senhora, ela não fez nenhuma denúncia?

Graça Foster - Nenhuma denúncia. O que nós conversamos muito era sobre custos de projetos mais altos do que os previstos. Prazo de projetos muito mais longos do que os previstos e das atitudes que eu precisava tomar para que a gente pudesse ir por um outro caminho. E essa foi a grande parte da nossa conversa. Custos e prazos.

Paulo Renato Soares - Agora, no caso da comunicação do abastecimento, houve uma comissão e houve uma punição. E ela fez essa denúncia. Não é?

Graça Foster - Ela fez essa denúncia.

Paulo Renato Soares - Se nesse caso se chegou a uma conclusão, se encontrou o problema, se houve punição, por que não se deu mais crédito ao que ela falou depois? Mesmo que ela não tenha usado palavras mais taxativas? Por que você não deu crédito à Venina quando ela falou de outros assuntos?

Graça Foster - Não é que eu não tenha dado credito à Venina, a Venina falou de assuntos que eram da nossa agenda do dia a dia. Da nossa agenda. De que os projetos precisam ser conduzidos de forma diferenciada, monitorados, gerenciados, coordenados de forma diferenciada e isso já era dezenas de trabalhos de grupo, na busca desses processos.

Paulo Renato Soares - Ela diz que além de mandar e-mails e de lhe falar pessoalmente, ela também encaminhou para a diretoria estas denúncias, onde a senhora tinha e tem assento, obviamente. Não são avisos suficientes, presidente?

Graça Foster - Jamais nas reuniões de diretorias que eu participei, e olha que eu, para faltar a uma reunião de diretoria, é difícil, não houve denúncias em nenhuma das reuniões de diretoria da Petrobras. Diretoria da Petrobras, presidida pelo Gabrielli, presidida pela Graça, no pouco espaço de tempo que teve a Venina aqui comigo, é, porque ela ficou lá em Cingapura, então, não teve denúncias. O que a Venina diz, e eu espero muito que ela tenha todos estes documentos e deve ter, porque ela é bastante organizada, todos estes documentos, ela vai ajudar muito a Petrobras, se ela tiver todos estes documentos. Eu tenho certeza de que ela vai ajudar muito ao Ministério Público Federal, vai ajudar muito a tudo que a gente espera de positivo desta Operação Lava-Jato. Sobre esse e-mail pretendido dela de 2011, a gente conversou algumas atividades correlacionadas a este e-mail, ela poderia ter falado comigo qualquer coisa naquele momento.

Paulo Renato Soares - Ela teve oportunidade para fazer as denúncias, falar com a senhora e não o fez?

Graça Foster - Ela poderia ter feito, mas ela não fez. Não fez denúncia para a diretoria, ela não fez. Mas ela não fez denúncia para a diretoria, ela não entrou na sala, fez uma apresentação e denunciou, ela não fez isso.

Paulo Renato Soares - Por que ela não está falando a verdade?

Graça Foster - Eu não sei, ela está com cinco anos, segundo ela, de documentos nas mãos e que ela preferiu, ela deu depoimento na CIA da Rnest, na comissão interna de apuração da Rnest, ela deu depoimento na comissão interna do Comperj, ela falou tudo o que ela quis falar, ela levou para casa o relato dela, o depoimento dela, ela mandou outras informações, ela anexou outras informações, isso tudo ela fez, de fato.

Paulo Renato Soares - No caso de Cingapura, ela se disse perseguida. Disse que foi mandada para Cingapura para ficar longe da Petrobras. E disse que isso foi literal, foi como ela ouviu. Ela foi punida por denunciar?

Graça Foster - A Venina teve 2 momentos em Cingapura, um momento com Paulo Roberto que é esse momento que os dois romperam a relação profissional deles, eles brigaram de fato, se desentenderam, ficava patente isso. Eu não sei porque. A Venina era uma pessoa que trabalhou como eu disse anos e anos com Paulo e o Paulo Roberto admirava a Venina e mostrava a Venina, os feitos da Venina e tudo mais. E aí, eles se desentenderam e a Venina foi fazer essa pós-graduação ou mestrado, na Universidade de Chicago, em Cingapura tem um campus e eles foram, foi uma decisão do Paulo Roberto e dela. Ela foi para lá.

Paulo Renato Soares - Ela disse que chegando lá foi avisada que não ia trabalhar que era para procurar o curso.

Graça Foster - Olha, eu só te falando o que eu sei. Ela não trabalhava comigo. Normalmente, quando a gente sai para fazer mestrado, doutorado, pós-graduação, que a gente sai e vai para outro país, a gente não trabalha, a gente fica estudando. Aí, tem a segunda vez da Venina em Cingapura. A Venina terminou o curso, voltou, foi trabalhar no IMC, o marketing de comercialização, com o Paulo Roberto, que era o presidente, com o Pereira, que era o chefe dela. E, depois que eu assumi, a presidência da Petrobras, passou um tempo assim, uns dois meses, a pessoa que estava em Cingapura saiu de Cingapura e a Venina pediu ao Cosenza se ela poderia voltar para Cingapura. Aí voltaria como diretora-presidente ou diretora-geral, era o cargo máximo, número 1 lá de Cingapura. Cingapura, não sei se você já teve a oportunidade de ir lá, é primeiro mundo, supermoderno, superorganizado. E foi com salário muito bom, porque ela tinha o topo.

Paulo Renato Soares - A senhora disse que a Venina era uma boa funcionária mas ela foi afastada depois dessa comissão. A senhora mudou a opinião sobre ela? Por que?

Graça Foster - Como assim? Ela é uma boa funcionaria, ela foi afastada porque todos, ela foi uma boa funcionaria, sim, em Singapura. Todos os dirigentes de empresas que foram apresentados pela comissão com algum nível de não conformidade, eles foram afastados.

Paulo Renato Soares - A senhora pode explicar o que é nível de não conformidade?

Graça Foster - Você tem na companhia, por exemplo, é muito importante colocar, nós não temos todas as ferramentas que o Ministério Público tem, que a Polícia Federal tem, a gente não faz escuta de telefone, a gente não tem identificação de que tivesse havido conluio, que tivesse havido má fé, que alguém tivesse recebido propina, nada disso. Mas os procedimentos da companhia, eles não foram seguidos à risca.

Paulo Renato Soares - Isso significa que ela agiu de maneira antiética?

Graça Foster - Talvez tivesse sido necessário mais prudência, tivesse sido necessário um envolvimento de mais tempo na discussão daqueles tópicos que ela estava tratando.

Paulo Renato Soares - Ela cometeu irregularidade?

Graça Foster - Eu não chamo de irregularidade. São não conformidades de procedimentos.

Paulo Renato SoaresPresidente, a Venina fez ontem um apelo a todos os empregados da Petrobras para que venham a público denunciar casos de corrupção. A senhora faria um apelo semelhante?

Graça Foster - Olha, eu tenho dito que a Petrobras não são, nós somos 85 mil empregados. Eu tenho dito isso sistematicamente. E eu coloquei, inclusive na entrevista que você deu a honra de estar, no nosso café da manhã, que é muito ruim você chegar num avião e você ver pessoas olhando para você, desconfiando de você. A família fica superpreocupada e tal. Então, o apelo que eu faço à companhia é que enfrente essa situação, que enfrente essa situação com retidão, com disciplina, com determinação e use a Ouvidoria e use a Auditoria da Petrobras.

Paulo Renato Soares - Muito obrigado pela entrevista.

Graça Foster - Obrigado a você.

A ex-gerente da Petrobras Venina Velosa da Fonseca falou na noite de segunda-feira (21), por telefone, ao Jornal Nacional.

Venina disse que nunca usou a palavra corrupção nas mensagens escritas, mas reafirmou que fez alertas a Graça Foster sobre a existência de irregularidades na área de comunicação e nos processos de licitação. Ainda segundo Venina, as licitações e os projetos eram feitos de forma ineficiente, para dificultar o acompanhamento.

A ex-gerente reafirmou que, como qualquer gestor, Graça Foster deveria tê-la chamado para novas conversas, diante desses alertas. Venina também reafirmou que nunca pediu para ir para Cingapura e que foi mandada para lá por falta de opção no Brasil.

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