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Que país é esse?
Posted by Cottidianos
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00:09
Quinta-feira,
04 de dezembro
“Brasil
Mostra tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil
Qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim”
(George Israel , Cazuza , Nilo Romero)
Agora,
nesse exato momento, eu gostaria de viver na Dinamarca. Mas, como canta Ivan
Lins, no verso da canção, Meu País:
Aqui
é o meu país
De
botas, cavalos, estórias
De
yaras e sacis
Violas
cantando glórias
Vitórias,
ponteios e desafios
No
peito do Brasil
Me
diz, me diz
Como
ser feliz em outro lugar
Por
que eu gostaria de estar na Dinamarca e não aqui? Explico em breve.
Em
1989, após três décadas, o Brasil realizava eleições diretas para Presidente da
República. A nação estava em êxtase. Afinal de contas, a liberdade havia, mais
uma vez, raiado nesta terra, depois dos frios anos da ditadura militar. Os corações
dos brasileiros estavam floridos tal qual jardim em flor: Flor de esperança. Nosso
céu ficou mais azul, nossas matas mais verdes e nossos sorrisos mais
esperançosos.
Dois
candidatos protagonizaram a disputa pelo importante cargo: Fernando Collor de
Melo e Luís Inácio Lula da Silva. "Vamos
fazer do nosso voto, a nossa arma. Para retirar do Palácio do Planalto, de
Brasília, os maiores marajás deste país", prometia Collor, a plenos
pulmões, em seus comícios. A multidão aplaudia, delirava... E acreditava.
Do
outro lado, estava Lula. Sindicalista. Com seus discursos de esquerda,
renovadores... E o povo, ingenuamente,
acreditava... A elite morria de medo de que um candidato de esquerda chegasse
ao poder, principalmente, pelos braços do povo. Ela Influenciou a população. Influenciada
pela elite, e também a grande mídia, a maioria da população ficou com medo de
votar num candidato de esquerda e elegeu o bonito e elegante, Caçador de
Marajás, de direita.
Não
bastaram três meses, para que descobríssemos que a República estava corrompida.
Começaram a surgir denúncias de que o tesoureiro — Os tesoureiros. Por que será
que eles estão sempre envolvidos nessas histórias? — da campanha de Collor, Paulo Cesar Farias,
mais conhecido como PC Farias, oferecera vantagens a empresários em troca de
dinheiro. A plenos pulmões, o presidente
repetia um discurso que também vemos soar hoje, do alto dos palácios, do alto
dos tronos do poder: "Toda e qualquer denúncia tem que ser exemplarmente
apurada".
Nessas
histórias de corrupção sempre tem um dedo duro. — E é bom que tenha mesmo. Em 1992,
Pedro Collor, irmão de Fernando Collor, abriu o jogo e disse que sabia das
atividades criminosas do irmão.
Armou-se
aquela confusão toda. Instaurou-se Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). Foi aquele falatório, tudo igual ao que temos
visto tantas vezes nos últimos anos. Ao fim, a CPI apurou que Collor cometera crime
de responsabilidade fiscal, uma vez que usara cheques fantasmas para pagar
despesas pessoais, como por exemplo, a reforma da Casa da Dinda e a compra de
um Fiat Elba. Armou-se todo um circo. A população foi às ruas exigindo a cassação
do presidente, e isso de fato aconteceu.
Nem
sabia a nação brasileira que crimes cem vezes mais tenebrosos estavam por
acontecer em um futuro não muito distante.
Em
2002, nova nuvem de esperança pairou sobre os céus do Brasil. Afinal, um
candidato que tinha vindo de bases populares, que fora sindicalista e lutara
pelo direito dos trabalhadores, organizara greves bem-sucedidas na região do
ABC paulista, e que tinha a seu lado grandes nomes do pensamento político, econômico
e sociológico brasileiro, certamente faria uma revolução no Brasil. Era tudo o
que nós queríamos. Lula foi eleito após algumas tentativas fracassadas na
corrida pela presidência. Assim que assumiu o poder o petista abandonou o
discurso de esquerda e abraçou o ideário que tanto criticara e aliou-se a
políticos que tanto combatera.
Em
meado de 2005, a nação brasileira foi surpreendida pelo início de um grande escândalo:
O famoso “mensalão”. O congresso brasileiro se afastou de suas funções
primordiais e tornou-se um grande mercado, isso mesmo, mercado, onde se compravam
parlamentares em troca de apoio político. Então, aquela reformazinha que Collor
havia promovido e aquele carrinho que havia comprado com dinheiro público
passou a ser, diante da enormidade do mensalão, coisa de criança, brincadeira
de criança. Alguns anos depois veio o julgamento, alguns políticos foram para a
cadeia, a grande maioria deles já passou para o regime semiaberto...
Quando
achávamos que já havíamos visto de tudo, somos surpreendidos por um tsunami de
proporções catastróficas: a Operação Lava Jato que apura denuncias de desvio de
dinheiro da Petrobrás. Ficamos boquiabertos
ao ver pessoas envolvidas nas falcatruas que nem eram do, digamos assim,
primeiro escalão, fazer acordos para devolver quantias vultosas que ultrapassam
somas que envolvem centenas de milhões de dólares. Se esses “peixes pequenos”
devolveram tanto dinheiro, imaginem, senhores e senhoras, os “peixes” grandes,
aqueles mais graúdos. Todos estão estupefatos. Algo de muito grave, gravíssimo,
aconteceu nos bastidores da Petrobrás. É coisa de arrepiar. Agora, diante da
grandiosidade escandalosa da Operação Lava Jato, o Mensalão virou um brinquedo
de criança e aquele Fiat Elba que Collor comprou nem existe.
A cada
dia ficamos sabendo de coisas ainda mais graves. Por exemplo: Envolvidos no
esquema disseram que parte da propina do esquema de corrupção que ocorria na
Petrobrás, foi ofertada como “doação” oficial ao Partido dos Trabalhadores
(PT). Até agora, não apareceram nomes de políticos envolvidos, apenas de
empresários. Entretanto, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás, Paulo
Roberto Costa, quando perguntado a respeito da questão, disse, com sorriso irônico,
sem citar nomes, que há dezenas de políticos envolvidos.
"Se
não fizerem nada em relação à Petrobras, esperarem que em duas ou três semanas
as pessoas se esqueçam e tudo siga igual, a imagem do país vai piorar. Se ao
contrário, o caso for tratado como um momento de mudança histórica para o país
e decididamente fizerem mudanças e castigarem os corruptos, a imagem do Brasil
pode melhorar", disse à imprensa, Alejandro Salas, diretor nas Américas da
Transparência Internacional.
Falando
de corrupção, em um índice elaborado por especialistas em corrupção, de 175
países elencados, o Brasil aparece na 69a posição nesse ranking. O critério
usado pelos especialistas leva em conta critérios como punição aos corruptos e
transparência dos governos. Ou seja, na luta contra a corrupção, patinamos
muito e quase não saímos do lugar. Nesse quesito há países piores que nós, como
é o caso da Somália e da Coreia do Norte, neste último, a transparência quase não
existe.
O
foco da atenção mundial, os holofotes se voltaram para nós este ano, em
especial, por causa de todo esse escândalo na Petrobrás. Percebemos que o petróleo,
esse ouro negro, pode ser tanto causa de avanço, de prosperidade econômica que,
por sua vez, leva a uma melhora em todos os níveis, quanto pode ser causa de
perdição e morte de tantos sonhos de um Brasil melhor.
Nesse
ranking, o país mais honesto, na lista dos especialistas em corrupção, é a
Dinamarca. Eis porque eu disse que preferia estar lá essa hora. Mas como diz o
cantor e compositor Ivan Lins: “Aqui é o meu país” e eu ainda espero vê-lo
florescer, sem sobressaltos.
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