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Sob a luz da estrela de Belém

Posted by Cottidianos on 00:13
Domingo, 28 de dezembro


Foto divulgação

Andar pelas ruas do centro de Campinas, em época de Natal é um exercício de paciência. As ruas ficam abarrotadas de gente que vem e vai, corre para lá e para cá. Algumas apressadas em chegar a algum lugar, outras passeiam lentamente, namorando a decoração e os artigos expostos nas vitrines das lojas. Por todo lado, se veem pessoas carregadas de sacolas de presentes. Indo para os lados do Mercado Municipal — onde se pode comprar boas carnes, bons peixes e outros artigos raros e diversos, difíceis de encontrar em outro lugar da cidade — a situação não é diferente: Todos procuram um bom alimento e um tempero especial para o preparo da ceia natalina.

Em comparação com outras cidades, Campinas recebeu uma decoração de Natal bem modesta. A Prefeitura Municipal não investiu muito nesse aspecto. Em outros Natais já tivemos ruas e fachadas de prédios belamente decorados e iluminados. Infelizmente, não foi assim dessa vez. Campinas esteve timidamente decorada para o Natal, diria eu.

No cruzamento das Avenidas Campos Salles com a Rua José Paulino, os que passeavam pelo centro da cidade, puderam visitar a casa do bom velhinho, aquele que vem do Polo Norte. Pois não é que ele montou uma filial aqui na cidade. O bom velhinho montou aqui sua Casa do Papai Noel, diga-se de passagem, com muito carinho e esmero.

Na verdade, a iniciativa de montar a Casa de Papai Noel foi da Associação Comercial e Industrial de Campinas (ACIC). Foi o primeiro ano que a instituição montou o evento... E foi um sucesso. Entre os dias 05 e 23 de dezembro, cerca de 10 mil pessoas passaram pelo local.


Quem adentrava a aconchegante casa, encontrava um caminho de sonhos ladeado por árvores de Natal, grandes e pequenas, muito bem decoradas e coloridas. Dentro dessa casa cabia uma floresta, na qual os visitantes podiam ver miniaturas de animais e também soldados de chumbo, caixas de presentes — objetos encantados que povoam o universo de crianças... E também de adultos que não se esquecem de cultivar a criança que tem dentro de si. Papai Noel não podia deixar de decorar a casa dele com detalhes que lembram sua terra natal, como a neve e os ursos polares. Após percorrer esse encantado caminho, chegava-se ao trono do dono da casa, que recebia os visitantes com doces, sorrisos e muita simpatia. Como parte da atração, os clientes que fizessem compras acima de R$ 150,00, nas lojas que participavam da campanha de Natal da ACIC, ganhavam um cupom que dava direito a uma foto emoldurada ao lado de Papai Noel. 


Estive visitando o local por dois dias. No segundo dia, conversei com uma simpática família, formado por Leandro e Andreia, pais da pequena Saloá. Os três pareciam muito felizes por estar ali. Perguntei-lhes como haviam ficado sabendo do evento. “Passando na rua, a gente viu, achou bonito e resolveu entrar para tirar fotos. É um espaço lúdico, tanto da criança, quanto do adulto, deixando sempre o espírito natalino aquecido. Seria interessante divulgar, não só no centro, como em outras regiões de grande porte, como Campo Grande, Ouro Verde, Barão Geraldo, e assim por diante’, disse Leandro.

Segundo Adriana Flosi, presidente da ACIC, todos acabam sendo beneficiados com uma campanha como essa: “Conseguimos com isso agradar a todos. O comerciante que participa, garante ao cliente dele uma lembrança especial, que é a foto emoldurada. Já os consumidores terão mais um atrativo para passear no Centro durante o funcionamento do comércio em horário especial", afirma ela.

Ainda passeando pelas ruas de Campinas, envolvido pela modernidade que me cercava, voltei meus pensamentos aos dias em quem Campinas, não passava de um povoado, com hábitos simples, de gente de cidade pequena. Nessa volta ao passado, fiquei a pensar: Passam-se o tempo, mudam os hábitos e os costumes.

Hoje em dia, com o todo o avanço e o progresso da modernidade, o centro do presépio passou a ser o consumo exagerado. Tiraram o pequeno recém-nascido, celebrado e homenageado em todos os cantos do planeta, e o colocaram de lado, como coadjuvante, quando, na verdade, ele é o centro da festa. Mas cabe a cada um, no santuário de sua consciência, dar ao menino Jesus, o devido lugar que ele merece ocupar no presépio e, principalmente, em nossas vidas...

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... Porém, voltando à Campinas de antigamente. Ainda por volta de 1876, o centro do presépio era o menino Jesus. A matriz velha de Santa Cruz enchia-se de enfeites dourados, adereços de sedas, muitas flores perfumadas e uma infinidade de velas, conferindo ao lugar de oração um clima de divina festa, em expectativa pelo nascimento do redentor da humanidade. A divina e sacra música advinda dos acordes da orquestra de Sant’Anna Gomes — irmão do maestro Carlos Gomes — fazia ecoar por todo o ambiente um ar angelical. Belas vozes, acompanhadas pelo órgão da Matriz, entoavam hinos e canções que faziam os anjos abrirem uma janela no céu a apreciarem as divinas melodias de júbilo, louvor e glória.

Do lado de fora, no largo da Matriz, fogueiras iluminavam a escuridão da noite, enquanto quitandeiras — vendedoras ambulantes — vendiam guloseimas como bolos pés de moleque e empadinhas, que davam água na boca dos que passeavam pelo largo, principalmente das crianças. À meia-noite, os sinos badalavam alegremente a solene novidade: Cristo nasceu. Então, cantavam-se glórias e louvores ao menino Deus. O clima era de solenidade, respeito e reverência.

Para dar um toque de elegância à festa, a Guarda Nacional comparecia com seus trajes de gala e montava guarda na porta da Matriz. O hábito de trocar presentes também existia, porém, correspondia a simplicidade da época. Nada de tablets, iphones, notebooks e coisas do tipo. Os amigos se presenteavam com deliciosos e bem preparados bolos que vinham em bandejas cuidadosamente decoradas com papeis de seda e flores. Também era costume se presentear com compotas e cestas contendo frutas diversas.

Nesses tempos que já se vão longe, o acontecimento principal era a missa do galo, celebrada à meia-noite. Não havia preocupação com essa doença da modernidade, chamada violência, e as pessoas transitavam pelas ruas da cidade a qualquer hora da noite, sem medos nem receios. Após a missa, todos queriam ver o presépio, que ficava em exposição bem ao lado dos degraus do altar-mor. Havia ainda, durante a adoração dos fieis, um espetáculo em forma de oração que era imperdível e belo de se ver e ouvir. No coro da Igreja, um coral de meninos, com suas sublimes vozes, acompanhados do órgão da Matriz, entoava belos cânticos e trovas populares, cheias de fé e muita poesia.

Fogos estouravam em sinal de alegria pela vinda do recém-nascido divino e humano. Às ceias não podiam deixar de faltar, faziam parte da alegria que a todos irmanava. As famílias convidavam os amigos, conversavam sobre amenidades, enquanto esperava os pratos fumegantes, apetitosos e deliciosos, serem postos à mesa, para alegria de todos. Era comum também se organizarem bailes dançantes, ao som de pequenas orquestras de dois ou três violinos que eram caprichosamente acompanhados de um violão repicado. Essas orquestras que tocavam polkas, schotisks, lanceiros e geraes, faziam a alegria da moçada e ajudavam a aproximar muitos casais.

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Acho que todos os dias deveriam ser dia de Natal. Já pensou se fosse Natal o ano todo. Não falo isso pela ceia, até porque se fossemos comer as comidas do cardápio natalino todos os dias, iríamos ficar enjoados de comer sempre as mesmas coisas. Falo da onda de amor e solidariedade que toma conta do mundo, provocada por um menino que nasceu há dois mil anos atrás, entre o povo simples e humilde, em um estábulo, nos arredores de Belém.

Seus pais olhavam, maravilhados, o pequeno ser que apenas acabara de nascer e nem imaginavam que estavam diante de um rei. É possível que tenham recebido algum tipo de aviso, premonição dos seres do mundo espiritual. Mas creio que não compreendiam a verdadeira dimensão da grandeza daquele menino. As estrelas no céu sorriram. Os reis magos vieram visitá-lo, conduzidos até ali pela cintilante estrela de Belém. É provável que esses ilustres visitantes fossem astrólogos, e se não fossem, eram profundos conhecedores da ciência dos astros, pois nos diz o evangelho que eles sabiam da estrela, em que região ela estaria, e a seguiram.

Um ambiente camponês... Um estábulo perdido nos arredores de Belém... As estrelas brilhando no céu... Um menino deitado, envolto em panos, sobre as mesmas palhas que davam um pouco de conforto ao descanso dos animais... Os anjos cantando... Os pastores em festa... Tudo isso é muito belo e poético.

Porém, vocês já pararam para imaginar no aspecto prático que tudo isto representa. Primeiro, as dúvidas que, certamente devem ter tornado difícil a relação entre José e Maria, após o anuncio da gravidez divina. Maria estava prometida a ele em casamento, de repente, sem que tivesse havido contato intimo entre os dois, ela fica grávida. Como pode ser isso? Como aceitar o impossível? Isso não é fácil para um homem. Em seu íntimo, José pensou em abandoná-la. Ia fazer isto, se não tivesse recebido a visita de um anjo. Em sonho, o anjo lhe disse: “José, filho de David, não tenha medo de receber Maria por sua esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo. Ela dará a luz a um filho e você lhe dará o nome de Jesus, pois ele vai salvar o seu povo de seus pecados”. Após isso, o noivo de Maria acreditou nas palavras do anjo e a paz voltou a reinar entre eles.

Outra dificuldade que tiveram de enfrentar foi uma longa viagem. Nisso, lembremos que, naquela época, não havia as facilidades de transporte que temos hoje. O Imperador Augusto, baixou um decreto, ordenando recenseamento em todo o império. Cada habitante deveria ser registrado em sua cidade natal. Saiu, então, o jovem casal de Nazaré, na Galileia, para Belém, na Judeia.  Maria, quase às vésperas de dar a luz, teve que fazer todo esse percurso. Estando em Belém, longe de casa, chegou o dia de dar a luz. Como não havia lugar na hospedaria, o rei menino, foi nascer em condições adversas, entre os animais, numa estribaria. Imaginem um menino nascendo no frio da madrugada, sem o menor conforto...

Em sua busca pelo local exato do nascimento do menino Jesus, os reis magos pararam para pedir informação na casa do inimigo: o rei Herodes. Este ficou muito interessado, não em adorar o menino, mas em matá-lo. Pediu então aos reis que, ao voltar, lhe falassem onde estava o esperado recém-nascido. Após a visita ao Rei dos reis, os  visitantes foram avisados, em sonho, para não voltarem à Herodes.  Após a partida dos magos, os anjos apareceram a José, em sonho, e lhe pediram para ir para o Egito, pois que Herodes estava em busca do menino para matá-lo. Pediu também para que eles ficassem em terras egípcias que fossem avisados para voltar a Galileia.

E lá vai de novo, Maria e José, com o filho recém-nascido, tendo que fugir, à noite para não serem vítimas do poder opressor e tirano.

Não foi fácil a vida de Jesus, nem quando criança, nem muito menos quando adulto. Ao contrário, foi uma caminhada cheia de inúmeras dificuldades. Porém, ao final venceu a fé, venceu o amor.

Acho que a história de Jesus Cristo serve como lição a cada de um de nós, seja qual a religião que professem. Às vezes, atravessamos dificuldades tão menores e reclamamos da vida, nos lamentamos. Algumas vezes chegamos até mesmo ao absurdo de por em dúvida o amor de Deus por nós, quando, por exemplo, chegamos a dizer: “Porque isto está acontecendo comigo, ò Deus”? Por acaso, em algum momento, do livro santo, vemos José, Maria ou Jesus, reclamarem de alguma coisa? É certo que, no alto da cruz, em sua última hora, o lado humano de Jesus bradou: “Pai, se possível, afasta de mim este cálice...”. Isto poderia ser um sinal de fraqueza, mas em sinal de grande humildade e amor por Deus, ele prosseguiu: “... Porém seja feita a tua vontade, e não a minha vontade”.

Que cada um de nós saibamos compreender que a vida é, acima de tudo, eterna, e que se enfrentamos dificuldades, há um Deus maior que todas elas e que nós dá forças para vencê-las, por maiores que sejam estas mesmas dificuldades. Desejo que possamos deixar o menino Jesus nascer em nossos corações a cada dia, assim, para nós, todos os dias serão DIA DE NATAL!

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