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Entrevista da ex-gerente da Petrobras, Venina Velosa da Fonseca, ao Fantástico
Posted by Cottidianos
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00:36
Segunda-feira,
22 de dezembro
O caso
de desvio de dinheiro da PETROBRAS está pegando fogo há alguns meses. Recentemente,
uma mulher, ao que parece muito corajosa, jogou mais lenha nessa enorme
fogueira, ou se preferirem, jogou mais lama nesse mar. O nome dela é Venina Velosa
da Fonseca. Ela é geóloga e, durante muitos anos trabalhou junto com o
ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás, Paulo Roberto Costa, onde atuava como
gerente executiva. Nesse departamento, ela atuava como uma espécie de
vice-diretora, uma vez que era a segunda pessoa mais importante depois do
diretor. Na ausência dele, ela assumia interinamente o posto de diretora. Era também,
presença constante em, praticamente, todas as reuniões de fornecedores. Era,
portanto, alguém que sabia muito bem o que acontecia nos bastidores, não sendo
pessoa de saber da coisas por ouvir dizer por outros.
Entre
2005 e 2009, época em que Venina atuou como gerente executiva, as empreiteiras
que estão sendo investigadas na operação lava-jato tiveram contratos
superfaturados para a construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Outra
participação importante de Venina na Petrobras foi entre 2008 e 2009, quando
autuou como integrante do conselho de administração da refinaria, também
presidido por Paulo Roberto Costa.
Essa
proximidade com Costa dentro da empresa vem de longa data. Em 1999, ainda
durante o governo de Fernando Henrique, integrou o quadro de funcionários da área
de gestão da Diretoria de Gás. Nessa época, Costa era gerente geral de Logística.
No governo Lula, Paulo Roberto Costa subiu para o cargo de Diretor de
Abastecimento e levou Venina para trabalhar junto com ele como sua auxiliar
principal.
Venina
Velosa afirma que já tinha alertado a atual presidente da estatal, Graça
Foster, amiga e protegida de Dilma Rousseff, sobre a corrupção e a roubalheira
que imperava nos quadros da empresa. Graça, e toda a atual diretoria negam as
acusações. Porém, analisando bem os fatos que são apresentados parece verossímil
a versão de Venina. Pois, quando a denunciante começou a ficar incomodada com
as coisas estranhas que aconteciam na empresa, e a reclamar disso, foi mandada
para fora do país — a mim, me parece uma
espécie de exílio — com o objetivo, ou melhor, com a desculpa de que estariam
lhe proporcionando um curso de especialização.
Neste
domingo (21), Venina conversou com a repórter Glória Maria, em uma entrevista para
o Fantástico. Bonita e elegante, serena e, ao mesmo tempo, indignada — a
maquiagem ajudou a disfarçar as olheiras, pois, certamente deve estar sofrendo
muitas pressões e ameaças — Ela falou do que viu nos bastidores da PETROBRAS e
conclamou aos funcionários da estatal a não ficarem calados e também revelarem
as suas verdades, para que eles, funcionários, e todos nós, brasileiros,
venhamos a sentir orgulho desse patrimônio nacional, que é a PETROBRAS. Venina
parece ser pega de surpresa quando Glória Maria pergunta sobre sua ida para
Cingapura, e fica muito emocionada ao falar do quão difícil foi essa fase da
vida. Tenta, e consegue, segurar as lágrimas.
Antes
de compartilhar com vocês a entrevista, digo que a presidente Dilma Rousseff, ao
comentar, no Chile, os escândalos envolvendo a estatal brasileira, afirmou que
não existe “crise de corrupção” no Brasil. Isso me preocupa muito, pois se
diante de tudo que temos visto há alguns anos, dizer que não vivemos uma crise
de corrupção, é achar que toda essa roubalheira é coisa normal, que não há mal
nenhum em se agir dessa forma. Isso, repito, é altamente preocupante.
Segue
a entrevista, o texto é longo, mas vale a pena ser lido por completo.
***
Entrevista
da ex-gerente da Petrobras, Venina Velosa da Fonseca, ao Fantástico
O Fantástico mostra com exclusividade a
entrevista com a principal personagem das novas denúncias de corrupção que
envolvem a Petrobras.
A ex-gerente Venina Velosa da Fonseca
diz que muitos funcionários da empresa têm conhecimento das irregularidades. E
convocou todos eles a também denunciarem.
Venina confessa que tem medo mas que vai
até o fim. E assegurou que a atual presidente da estatal, Graça Foster, foi
informada das irregularidades não só por email, mas, também, pessoalmente.
A ex-gerente da Petrobras Venina Velosa,
que vem fazendo inúmeras denúncias sobre irregularidades nos negócios da
empresa, aceitou conversar com o Fantástico.
Glória Maria - A senhora prestou depoimento ao Ministério
Público, inclusive entregou inúmeros documentos que comprovariam irregularidades
na Petrobras. Desde quando começou a fazer as denúncias?
Venina Velosa - Desde que eu
percebi que havia irregularidades na minha área. Isso aconteceu em 2008. Desde
2008 eu venho fazendo essas... Eu venho reportando esses problemas aos meus
superiores, o que culminou agora eu realmente estar levando essa documentação
toda ao Ministério Público.
Glória Maria - Que tipo de irregularidades a senhora
constatou ou verificou nos contratos da Petrobras?
Venina Velosa - São vários
tipos. Irregularidades de pagamento de serviços não prestados, de contratos que
aparentemente estavam superfaturados. De negociações que eram feitas onde eram
solicitadas comissões para aquelas pessoas que estavam negociando e uma série
de problemas que feriam o código de ética e os procedimentos da empresa.
Glória Maria - A senhora informou a que funcionários, a que
pessoas da Petrobras sobre irregularidades?
Venina Velosa - A todos os
meus superiores. Informei ao gerente executivo, aos diretores e até a
presidente da empresa.
Glória Maria - A senhora poderia dar nomes?
Venina Velosa – Com certeza.
Num primeiro momento, em 2008, como gerente executiva, eu informei ao então
diretor Paulo Roberto Costa. Informei a outros diretores, como a Graça Foster.
E, em outro momento, como gerente geral, eu informei aos meus gerentes
executivos, Jose Raimundo Brandão Pereira e o Abílio, que era meu atual gerente
executivo. Informei ao diretor Cosenza. Tanto quanto diretor, como ele era meu
par, como gerente executivo. Informei ao presidente Gabrielli. Informei a todas
a pessoas que eu achava que podiam fazer alguma coisa para combater aquele
processo que estava se instalando dentro da empresa.
A atual presidente da Petrobras, Graça
Foster, é funcionária de carreira da empresa, onde já trabalhou como diretora
de gás e energia. Graça assumiu a presidência em fevereiro de 2012.
Ela substituiu Sérgio Gabrielli, que
estava no cargo desde julho de 2005. No organograma de Petrobras também estava
Paulo Roberto Costa, que chefiou a diretoria de abastecimento de 2004 a 2012.
Ele assinou um acordo de delação premiada, para contar o que sabe em troca de
uma possível redução da pena. Hoje, cumpre prisão domiciliar. A diretoria de
abastecimento é atualmente comandada por José Carlos Cosenza. Nesse mesmo setor
ainda trabalha o gerente executivo Abílio Paulo Pinheiro Ramos.
Já outro gerente executivo, José
Raimundo Brandão Pereira, foi destituído em abril deste ano.
Glória Maria - A atual presidente da Petrobras, Graça
Foster, diz que que a senhora mandou e-mail, mas que ela não teria entendido o
que era. A senhora fez denúncia através de e-mail ou esteve com ela
pessoalmente?
Venina Velosa - Eu estive com
a presidente pessoalmente quando ela era diretora da área de gás e energia.
Naquele momento, nós discutimos o assunto. Foi passada documentação para ela
sobre processo de denúncia na área de comunicação. Depois disso, a gente... Ela
teve acesso a essas irregularidades nas reuniões da diretoria executiva.
Entre os documentos a que Venina se
refere, ela entregou ao Fantástico um e-mail que enviou a Graça Foster em
outubro de 2011: “Eu gostaria de estar aí, conversando com você, olhando direto
nos seus olhos para você sentir o que eu quero dizer, mesmo correndo o risco de
chorar na sua frente. Vou escrever mesmo sabendo que existe a possibilidade de
você ir na sala do diretor Paulo Roberto e de ele depois me questionar o que
fui fazer na sua sala. Vou falar em nome da mulher que exige respeito, e que
vai lutar até o fim, para que um dia suas filhas jamais digam: ela se cansou,
ela desistiu no meio do caminho”.
No e-mail, Venina pergunta: você faria
diferente? E segue: hoje, eu posso dizer
que estou praticamente sozinha na empresa.
Venina explica que escreveu para Paulo
Roberto Costa porque estava se sentindo humilhada e assediada - e que reiterou
que jamais o traiu e que tudo o que fez foi para atender as normas e o código
de ética da Petrobras.
Venina também escreveu que, do imenso
orgulho que tinha da empresa, passou a sentir vergonha. Disse que técnicos
brigavam por novas formas de contratação, melhorias nos contratos e o que
acontecia era o esquartejamento do projeto e licitações sem aparente
eficiência.
Na mensagem, Venina ainda afirmou a
Graça Foster: gostaria de te apresentar parte da documentação que tenho. Parte
dela eu sei que você já conhece.
E terminou dizendo: gostaria de te ouvir
antes de dar o próximo passo. Não quero te passar nada sem receber um sinal
positivo da sua parte.
Glória Maria - O que é esquartejamento de projetos?
Venina Velosa - Você tem uma
refinaria, são várias unidades que são construídas. Então você tem várias
formas de fazer a contratação. A depender da forma que você faz a contratação,
você facilita ou dificulta a fiscalização. Em nenhum momento, se não houve a
compreensão do que eu estava falando, fui chamada a dar esclarecimento a
respeito do assunto. Então teve esse momento e teve agora, no fim da minha
gestão em Cingapura, onde eu fiz relatório de tudo que aconteceu na minha área
de gestão.
Glória Maria - A Graça diz que ela só recebeu este ano um
relatório, denúncia da senhora. É verdade?
Venina Velosa - Os e-mails
que eu fiz para ela já foram publicados e a documentação adicional já foi
entregue ao Ministério Público.
Glória Maria - Ela diz que não entendeu o que a senhora
disse na época, o que a senhora acha disso?
Venina Velosa - O que eu
posso falar é o seguinte: se falar que irregularidade na área de comunicação é
problemas na licitação. Se isso não está suficientemente claro, eu, como
gestora, posso falar o seguinte: eu buscaria uma explicação, principalmente por
uma pessoa que eu tinha muito acesso. Nós tínhamos muito acesso. Eu conhecia a
Graça na época que ela era gerente de tecnologia, na área de gás, e era gerente
do setor na área de contratos. Éramos próximas. Então, ela teria toda liberdade
de falar: Venina, o que está acontecendo.
Segundo uma reportagem publicada há nove
dias pelo jornal Valor Econômico, em 2008 Venina descobriu que contratos para
pequenos serviços chegaram a R$ 133 milhões entre janeiro e novembro daquele
ano, ultrapassando, em muito, os R$ 39 milhões previstos.
Segundo o jornal, Venina procurou Paulo
Roberto Costa e no encontro, segundo a gerente, o então diretor de
abastecimento apontou o dedo para o retrato do presidente Lula e perguntou se
ela queria derrubar todo mundo.
Venina encaminhou a denúncia ao então
presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli,
e instalou uma comissão para apurar o caso. O responsável pela
investigação era Rosemberg Pinto, então assessor especial de Gabrielli e hoje
deputado estadual na Bahia, pelo PT.
A comissão apurou que foram pagos R$ 58
milhões em contratos de comunicação para serviços não realizados.
E identificou notas fiscais com o mesmo
número para diversos serviços, num total de R$ 44 milhões.
O diretor da área de comunicação,
Geovanni de Moraes, chegou a ser demitido. Mas, segundo a reportagem, uma
licença médica impediu que ele fosse desligado imediatamente. E Geovanni ficou
mais quatro anos na empresa.
Glória Maria - A senhora relatou também um encontro com o
atual delator de toda essa história de corrupção da Petrobras, Paulo Roberto,
no qual a senhora apresentou várias denúncias e que ele teria tido a reação de
dizer ‘você quer derrubar o governo’ e teria apontado para uma foto do
presidente Lula. O que aconteceu exatamente?
Venina Velosa - Esse evento
aconteceu quando eu fui apresentar o problema que ocorreu na área de
comunicação. Eu cheguei na sala dele e falei: olha, aqui tem só amostra do que
está acontecendo na área. Eram vários contratos de pequenos serviços onde nós
não tínhamos conhecimento do tipo de serviço, do que estava sendo prestado, mas
mostrava esquartejamento do contrato. Aí, naquele momento, eu falei: eu nunca
soube nada disso, estou sabendo isso agora e acho que é muito sério e temos que
tomar atitude. Aí ele pediu que eu procurasse o gerente responsável e pedisse
para que ele parasse. Aí eu falei: ele já fez, não tem como eu chegar agora e
falar: vamos esquecer o que aconteceu e vamos trabalhar diferente. Existe um
fato concreto que tinha que ser apurado e investigado. Aí, nesse momento, ele
ficou muito irritado comigo. A gente estava sentado na mesa da sala dele, ele
apontou para o retrato do Lula, apontou para a direção da sala do Gabrielli e
perguntou: você quer derrubar todo mundo? Aí eu fiquei assustada e disse: olha,
eu tenho duas filhas, eu tenho que colocar a cabeça na cama e dormir. No outro
dia, eu tenho que olhar nos olhos delas e não sentir vergonha.
Glória Maria - Eu pergunto, você quer derrubar todo mundo?
Venina Velosa - Não. O que eu
quero é uma empresa limpa. O que eu quero é que os funcionários da Petrobras
possam sentir orgulho de trabalhar nessa empresa. O que eu não quero é ouvir o
que a gente ouve quando entra no táxi e fala assim: o senhor pode me deixar ali
na Petrobras? Aí vem a brincadeira: você vai lá pegar seu trocado? Eu não quero
isso. O corpo técnico não merece isso. Por isso é que eu estou aqui passando
por todo esse desgaste, que não é pequeno, para a gente conseguir reerguer essa
empresa novamente.
Glória Maria - Por que que a senhora pediu ajuda à atual
presidente Graça Foster, que era diretora de energia e gás, para redigir
relatório sobre irregularidade na Petrobras.
Que irregularidade a senhora apontava?
Venina Velosa - Na verdade, o
que aconteceu: durante esse processo todo da comunicação eu fui muito
assediada, fui muito pressionada. O tempo todo tinham assistentes do
presidente, assistentes dos diretores na minha sala falando: "tem muita
gente envolvida, você não pode tratar essa questão dessa forma”. Então, quando
a gente conduziu todo o processo, eu tinha que formatar, fazer um documento
final para que ele fosse encaminhado às áreas que teriam que tomar as ações. Na
verdade, o que estava ocorrendo era uma pressão grande para que isso não fosse
feito. Aí, eu fui lá não para pedir para formatar. Foi para falar o seguinte: o
que que eu faço? Para quem que eu mando? Diretor? Na verdade, era para pedir
conselho. O que eu fiz foi emitir documento para a diretoria, que é quem teria
que tomar as ações, copiando o jurídico, porque o jurídico teria ações ali, e o
diretor de abastecimento.
Glória Maria - A senhora diz que vem recebendo várias
ameaças, inclusive com arma apontada para sua cabeça, que as suas filhas vêm
sendo ameaçadas. O que está acontecendo?
Venina Velosa - Depois que eu
apurei essa questão da área de comunicação, depois desse processo todo da área
de comunicação, a gente recebeu várias ameaças por telefone. As minhas filhas
deveriam ter 5 e 7 anos. Eram bem novas. Teve outros momentos mais difíceis. A
opção que eles fizeram em 2009 foi realimente me mandar para o lugar mais longe
possível, isso está entre aspas, onde eu tivesse o menor contato possível. Com
a empresa, aparentemente eu estaria ganhando um prêmio indo para Cingapura, mas
o que aconteceu foi que realmente quando eu cheguei lá me foi dito que eu não
poderia trabalhar, que eu não poderia ter contato com o negócio, era para eu
procurar um curso.
Glória Maria - Existem ainda dentro da empresa pessoas
envolvidas com o esquema de irregularidades?
Venina Velosa - Se você
chamar irregularidade é amplo. Eu diria o seguinte: se eu tenho como processo
subordinada a mim, como a gente conversou sobre bunker, você tem claramente
desvios tem compra de combustível superfaturada, você tem discussão de prêmios
envolvendo negociações e você não tem as medidas consideradas compatíveis com
esse nível de atividade, talvez... Alguma irregularidade esteja associada.
Glória Maria - Existem documentos internos da Petrobras que
mostrariam que a senhora teria assinado aditivos pra acelerar a inauguração da
refinaria de Abreu e Lima. É verdade?
Venina Velosa - Nenhuma área
de negócio, não só a minha, nenhum gerente executivo, não só eu assino contrato
ou aditivo, todos os contratos ou aditivos, todos esses contratos são
negociados e assinados pela área de serviços.
A refinaria Abreu e Lima está sendo
construída em Ipojuca, na região metropolitana do Recife, em Pernambuco. As
instalações serão usadas, principalmente, para a produção de óleo diesel.
Quando projeto foi lançado, em 2005, no governo Lula, o orçamento inicial era
de menos de dois bilhões e meio de dólares. Mas o custo total da obra deu um
salto enorme e, agora, deve passar dos 20 bilhões de dólares. Esse valor é
quase seis vezes maior do que todo o dinheiro gasto com a construção dos 12
estádios da Copa do Mundo.
Glória Maria - Existe uma mensagem da senhora para o Paulo
Roberto na qual a senhora faz agradecimento pelo crescimento na sua carreira e
menciona que estava vivendo situação de conflito pela possibilidade de fazer
coisas fora do código de ética e diz que teve dialogo caloroso e tenso e foi
chamada de covarde por querer pular fora do barco. Isso significa que em algum
momento a senhora foi cúmplice? Ou atuou junto?
Venina Velosa - Eu trabalhei
junto com Paulo Roberto, isso eu não posso negar. Na diretoria de
abastecimento, a partir de 2005. Eu diria que, de 2005 a 2006, foi um trabalho
muito voltado para melhoria da gestão de abastecimento, que culminou no Prêmio
Nacional de Responsabilidade. Eu trabalhei com Paulo Roberto, esse documento se
refere à época desse problema da comunicação onde eu falei quando começamos a
trabalhar, eu falo isso para todos que sou subordinada. Eu só trabalho mediante
os procedimentos e código de ética. Não trabalho se tiver que contrariar isso,
então, quando começou a acontecer, foi o caso do desvio da comunicação. Então o
que eu quis dizer foi : você está me assediando, eu não vou fazer isso. E o
desgaste foi muito grande e a história toda já foi contada, em momento nenhum
eu cedi.
Glória Maria - Quer dizer que a senhora nunca participou de
esquema com Paulo Roberto?
Venina Velosa - Se eu tivesse
participado de algum esquema, eu não estaria aqui hoje. Eu não teria feito a
denúncia, não teria ido ao MP, entregue o meu computador com todos os
documentos que eu tenho desde 2002.Eu não teria feito isso.
Glória Maria - Em nota, a Petrobras diz que afastou a
senhora por atitudes fora da ética e fora das normas da empresa.
Venina Velosa - Na verdade,
as atitudes não foram fora da ética nem fora da norma, foram atitudes pouco
corriqueiras para um empregado que quer ver as coisas sendo feitas da forma
correta. Por um empregado que quer denunciar escrevendo. Eu escrevi, eu não
entrei na sala e falei, eu registrei. Quando eles falam que eu estou fazendo
uma coisa fora do código de ética, denunciar irregularidades é fora do código
de ética?
Glória Maria - Você tem uma família. Ou tinha. Foi para lá
com filhos e marido? Depois disso tudo que aconteceu, como está a sua vida?
Venina Velosa - Eu tinha uma
família, sim. Um apartamento, marido, duas filhas. A minha mãe. Simplesmente o
que eles fizeram foi me afastar do meu país, das empresas que eu tanto gostava,
dos meus colegas de trabalho. Eu fui para Cingapura, eu não vi minha mãe
adoecendo. Minha mãe ficou cega, transplante de coração, eu não pude acompanhar
minha mãe. Meu marido não pôde mais trabalhar, ele teve que retornar. Eu fui o
tempo todo pressionada para fazer coisas que não eram dentro do código de ética
da empresa. A única coisa que me sobrou foi meu nome. E quando eu vi que eles
colocaram meu nome associado a coisas que eu não fazia, eu chamei minhas duas
filhas e falei: ou eu reajo e tento fazer, limpar meu nome, ou vou deixar isso
acontecer, a gente vai ter uma certa tranquilidade agora e o trator vai passar
por cima depois. O que nós vamos fazer? Minhas filhas falaram: vamos reagir.
Glória Maria – Existe uma denúncia também na Petrobras de
que a senhora teria beneficiado seu ex-marido com contrato, que a senhora teria
feito contrato dentro da empresa pra ele. É verdade isso?
Venina Velosa - Na verdade,
foram dois contratos: um em 2004 e outro 2006. Eu me casei em 2007. E a
condição para assumir o relacionamento é que o contrato de 2007 fosse
descontinuado.E isso foi feito.
Glória Maria - O contrato foi anterior ao casamento?
Venina Velosa - Foi anterior
ao casamento. No momento que a gente assumiu a relação, a condição foi: vamos
interromper esse contrato porque tem uma questão de ética dentro da Petrobras e
eu não posso continuar. Isso foi feito com parecer jurídico. Agora, só quero
deixar bem claro que a empresa é muito competente, não fui só eu que fiz, a
atual presidente quando trabalhava na diretoria de TVG também assinou contrato
com ele. Depois, em 2008, também assinou contrato com a empresa para fazer
integração dos modelos de gestao das termoelétricas. Ela fez isso com base nas características
técnicas da empresa da mesma forma que eu fiz antes de casar. E depois de
casar, interrompemos o contrato.
Glória Maria - Você vai até o fim? Você tem medo?
Venina Velosa - Eu vou até o
fim, sim. Eu também tenho muito medo sim. Eu não posso falar que eu não tenho
porque no momento que você denuncia, em vez de você ver respostas para
denúncias, você vê simplesmente a empresa tentando o tempo todo falar: você não
é competente, você fez um monte de coisa errada. E o tempo todo as pessoas tendo
que responder, mostrando documentos, que aquilo não é verdade. É uma máquina
que passa por cima da gente. Ela está passando. Eu tenho medo? Eu tenho. Mas eu
não vou parar, eu espero que os empregados da Petrobras. Porque eu tenho
certeza que não fui só eu que presenciei, eu espero que os empregados da
Petrobras criem coragem e comecem a reagir. Nós temos que fazer isso para poder
realmente fazer a nossa empresa ser de volta o que era. A gente tem que ter
orgulho, os brasileiros têm que sentir orgulho dessa empresa. Eu vou até o fim,
estou convidando vocês para virem também.
A Petrobras voltou a declarar que tomou
todas as providências para elucidar os fatos citados por Venina Velosa da
Fonseca. Segundo a empresa, não procede a afirmação de que não houve apuração
sobre as irregularidades apontadas por Venina porque todas foram encaminhadas
às autoridades competentes.
A Petrobras também repetiu que,
possivelmente, a funcionária trouxe a público as denúncias porque foi
responsabilizada por uma comissão interna. A empresa reafirmou que Graça Foster
e José Carlos Cosenza não sabiam de irregularidades e que a presidente da
Petrobras só foi informada dessas irregularidades, por Venina da Fonsenca, no
dia 20 do mês passado.
O ex-presidente da Petrobras, Sergio
Gabrielli, afirmou que nunca foi informado diretamente por Venina da Fonseca
sobre a existência de corrupção na empresa.
A defesa de Paulo Roberto Costa declarou
que praticamente todos os aspectos investigados pelo Ministério Público Federal
foram mencionados na delação premiada do ex-diretor e que não há como comentar
incidentes específicos.
O ex-presidente Lula não quis se
pronunciar. E os demais citados na reportagem não foram encontrados.
E em entrevista publicada neste domingo
por jornais da América Latina, a presidente Dilma Rousseff afirmou que o Brasil
não vive crise de corrupção.
A afirmação foi feita em resposta a
perguntas sobre as denúncias de irregularidades na Petrobras. A presidente
disse também que a indignação dela com as denúncias é igual a de todos os
brasileiros e que os culpados devem ser punidos. Segundo a presidente, no
Brasil não há intocáveis.
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