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Assassinato em Nova York
Posted by Cottidianos
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00:12
Sexta-feira, 05 de dezembro
“Vida de negro é difícil, é difícil como o
quê
Vida de negro é difícil, é difícil como
o quê
Meu amor, eu vou-me embora, nessa terra
vou morrer
Um dia não vou mais ver, nunca mais eu
vou te ver”
(Vida
de negro – Dorival Caymmi)
Assim
como em Ferguson, assim em Nova York.
Mais
uma vez o grande juri resolveu inocentar o policial branco que assassinou um
negro nas ruas de Nova York. Uso a palavra “assassinato”, pois não consigo encontrar
outra palavra adequada após ter visto as imagens que rodaram o mundo, mostrando
o policial, Daniel Pantaleo, aplicando uma gravata em Eric Garnier, enquanto
este diz, por várias vezes, que não estava conseguindo respirar. Daniel estava
acompanhado por outros policiais que tentavam prender Eric. O grupo suspeitava
que a vítima estava vendendo cigarros ilegalmente em Staten Island. O caso
provocou uma onda de revolta em Nova York, nesta quarta-feira (03), aumentando
o clima de tensão racial iniciado em Ferguson com a decisão do juri de
inocentar o policial branco, Darren Wilson, acusado de matar o jovem negro,
Michael Brown.
Abaixo,
compartilho materia publicada no site do jornal El Pais/Brasil
***
Júri
de Nova York inocenta policial acusado de matar negro
Eric
Garner, de 43 anos, morreu asfixiado depois de ter sido estrangulado por um
agente
A
indignação tomou conta das ruas de Nova York na quarta-feira, depois que um
grande júri de Staten Island decidiu não indiciar Daniel Pantaleo, o policial
de 29 anos que matou em julho Eric Garner, 43, com uma gravata, uma prática
proibida em detenções nas ruas. A decisão provocou uma onda de manifestações em
vários pontos da cidade. As autoridades temem focos de violência semelhantes
aos ocorridos há menos de uma semana em Ferguson (Missouri), quando outro
grande júri absolveu o agente Darren Wilson, de 28 anos, pela morte a tiros do
adolescente negro Michael Brown.
O
caso não termina com a decisão em Staten Island. O promotor-geral, Eric Holder,
anunciou que seu departamento investigará o caso de Garner como uma possível
violação de seus direitos civis. “Nossos promotores vão realizar uma
investigação independente, exaustiva, justa e rápida”, declarou. Além disso, o
departamento de assuntos internos da polícia de Nova York tem uma investigação
em aberto. Os familiares de Garner também podem entrar com uma ação civil.
Apesar
disso, a notícia provocou uma avalanche de protestos entre a classe política e
os cidadãos, veiculados através das redes sociais. Pouco depois da decisão do
júri, centenas de pessoas se reuniram em lugares como Times Square, Union
Square e Rockefeller Center, onde era realizada a tradicional iluminação da
árvore de Natal. “Não posso respirar”, o fatídico apelo pronunciado por Garner
antes de morrer, foi o slogan mais repetido. Houve pessoas detidas que tentaram
derrubar as barreiras da polícia. Na estação de trens Grand Central, um grupo
de pessoas deitou pacificamente no chão. Mais tarde, no começo da noite,
centenas de manifestantes ocuparam a rodovia à margem do rio Hudson, no oeste
de Manhattan, o que levou a mais prisões.
O
presidente Barack Obama expressou sua contrariedade durante um evento realizado
com líderes indígenas na Casa Branca: “Quando alguém não é tratado com
igualdade pela Justiça, este país tem um problema e eu, como presidente, tenho
o dever de resolvê-lo”. O líder democrata não entrou na questão sobre os
detalhes da morte de Garner, mas afirmou que existem “várias ocasiões em que os
cidadãos não confiam que todas as pessoas estão sendo tratadas com igualdade”.
O
prefeito de Nova York, Bill de Blasio, consciente da gravidade da situação,
cancelou sua presença na festa com milhares de pessoas no Rockefeller Center,
em Manhattan, e se dirigiu a Staten Island para se reunir com políticos
eleitos, representantes de organizações da sociedade civil, líderes religiosos
e ativistas em uma tentativa de acalmar os ânimos e evitar uma onda de
violência como a registrada em Missouri. Em um evento pela manhã, durante a
apresentação das novas câmeras que serão carregadas pelos policiais da cidade,
De Blasio demonstrou respeito em relação à possibilidade de as pessoas se
manifestarem depois da decisão do grande júri, mas expressou sua confiança de
que tais protestos seriam pacíficos.
À
noite, em Staten Island, o prefeito destacou: “Há muita dor e frustração neste
lugar esta noite. Ao mesmo tempo, há muitos sentimentos bons. Este é um dia
muito emotivo para a família de Garner e todos os nova-iorquinos. Sua morte foi
uma tragédia terrível que nenhuma família deveria ter que suportar. A morte de
Eric Garner põe foco nas relações entre a polícia e a comunidade, e os direitos
civis, problemas críticos enfrentados por nossa nação”, declarou o prefeito. “A
decisão do grande júri não é a que muitos em nossa cidade queriam, mas Nova
York possui a tradição de expressar-se por meio do protesto, não da violência”,
acrescentou.
O
prefeito destacou seus argumentos com as palavras pronunciadas 24 horas antes
por um dos seis filhos de Garner, Eric Snipes, ao dizer que, independentemente
da decisão do júri, esperava que não houvesse distúrbios. “Não vai ser como Ferguson
porque todo mundo sabe que meu pai não era uma pessoa violenta e vão respeitar
sua memória”, declarou. À noite, no mesmo lugar em Staten Island onde Garner
morreu, seu pai, Benjamin, defendeu a paz diante de todos que vinham
cumprimentá-lo.
O
policial Pantaleo divulgou um comunicado de condolência à família de Garner.
“Me tornei um oficial de polícia para ajudar as pessoas e proteger os que não
podem proteger a si mesmos”, disse. “Nunca foi minha intenção prejudicar
ninguém e me sinto muito mal pela morte de Garner. Espero que a família aceite
minhas condolências pessoais pela perda.” A viúva da vítima, Esaw Garner,
rejeitou as palavras do policial. “Não significam nada para mim”, disse.
Pantaleo continuará suspenso durante as investigações internas da polícia.
A
decisão do grande júri chega em um momento em que tanto o presidente Barack
Obama quanto as autoridades de Nova York haviam feito esforços consideráveis e
adotado medidas para uma conciliação entre as forças de polícia e os cidadãos,
e diminuir a tensão racial que dominou o país depois dos distúrbios em
Ferguson.
Mas,
ao contrário de lá, o ocorrido em Staten Island não deixa margem para dúvida,
já que tudo foi gravado em vídeo. Um grupo de policiais, ao aplicar a política
de pequeno delito seguida durante anos em Nova York sob o mandato dos prefeitos
conservadores Rudolph Giuliani e Michael Bloomberg, quis prender Garner,
suspeito de vender cigarros ilegalmente. Garner, que tinha mais de 100 quilos,
resistiu. Foi derrubado no chão e imobilizado pelo pescoço com uma gravata,
prática proibida pelo comando da polícia. Garner, que era asmático, sofria de
diabetes e outras doenças, gritou “não posso respirar” onze vezes antes de
morrer. A divulgação do vídeo e o exame médico, que constatou que houve um
homicídio, provocaram manifestações em Nova York em agosto, um mês depois do
ocorrido.
O
reverendo Al Sharpton, líder da National Action Network, a principal
organização de direitos civis da comunidade negra de Nova York, havia
esquentado os ânimos ao iniciar sua “contagem regressiva” sobre a decisão do
grande júri. “Quero que as pessoas saibam que isso não é assunto apenas de
Ferguson. Também temos isso aqui e vamos acompanhar bem de perto a decisão do
grande júri”, disse Sharpton este fim de semana em um evento com a mãe e a
esposa de Garner. À noite, em um chamamento semelhante, disse: “quantas pessoas
têm que morrer para que vejamos que o que acontece não é uma ilusão, mas uma
triste realidade que este país deve enfrentar de uma vez por todas?”.
O
reverendo convocou um protesto nacional em Washington dia 13 de dezembro. Uma
manifestação, disse, pacífica, mas marcante. Apesar do tom às vezes acalorado
de seus discursos, Sharpton havia pedido calma nos dias que antecederam o
julgamento, caso o grande júri decidisse não indiciar o policial Pantaleo, como
de fato aconteceu. “Podemos mostrar que Nova York é diferente? Não vamos ter
violência, mas queremos justiça”, disse. Suas palavras foram ditas em um
contexto muito específico. Nova York havia registrado na semana passada as
maiores manifestações do país devido ao caso Brown. Na segunda-feira, dezenas
de pessoas voltaram a protestar sentadas na Times Square, ao grito de “mãos ao
alto, não atire!”. Durante as comemorações do Dia de Ação de Graças e na Black
Friday também houve protestos.
Outro
incidente relativo a uma atuação exagerada da polícia havia deixado o ambiente
ainda mais carregado. Em 21 de novembro, um jovem afro-americano de 28 anos,
Akai Gurley, morreu baleado por um policial novato em um edifício de
residências protegidas no Brooklyn. O agente, Peter Liang, estava fazendo uma
batida rotineira com um colega. Ao encontrar com Gurley e sua namorada em uma
escada pouco iluminada, o policial, que estava com uma arma nas mãos, disparou.
O jovem estava desarmado. O ocorrido também terá que ser avaliado por um grande
júri, o que sem dúvida aumentará a tensão.
As
leis do Estado de Nova York estabelecem que todos os crimes graves devem ser
apresentados diante de um grande júri, composto por 23 cidadãos. Este órgão
pode revisar as provas do caso, ouvir testemunhas e inclusive realizar suas
próprias investigações antes de apresentar uma acusação formal ou arquivar o
caso.
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