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Que sufoco, Brasil!!!
Posted by Cottidianos
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23:28
Acordei
hoje por volta das nove horas. Um pouco mais tarde do que, geralmente, costumo
sair da cama aos sábados. Liguei a TV e, enquanto preparava o café, ouvia o noticiário
que, desde às 8h da manhã, exibia uma programação voltada para o futebol e,
especialmente, para a partida entre Brasil e Chile. Queria ouvir falar de
outras coisas, desliguei a TV e liguei o rádio. A mesma coisa: também o rádio
falava de futebol. Sem maiores opções, deixei o aparelho de som sintonizado na
estação de rádio e segui fazendo os meus afazeres matinais.
Após
terminar minha primeira refeição e as primeiras tarefas do dia, desci o
elevador e sai para a rua. Como o jogo era à 1h da tarde, as lojas,
evidentemente, fechariam às 11h. Enquanto caminhava pelas ruas movimentadas,
via a esperança brilhar no coração das pessoas com quem cruzava... Sentia
também certa ansiedade misturada a essa esperança. A maior parte das pessoas
que passeavam pela cidade, ou faziam compras e outras coisas mais, vestia-se de
verde e amarelo, cores de nossa seleção, ou tinham algum adereço que os
mantivesse conectados a esse momento. Bandeiras tremulavam solitárias no alto
dos prédios, mas a solidão daquelas bandeiras que se agitavam acima da minha
cabeça era apenas aparente: centenas de outras da mesma espécie agitam-se e
desfilavam pelas ruas, seja pendurada nos automóveis, nas mãos dos transeuntes,
ou estampada em camisetas.
Entrei
em algumas lojas onde os chineses vendem suas bugigangas. As lojas estavam
repletas de adereços em verde e amarelo dos mais variados gostos e estilos. Tinha
de tudo: de perucas a camisetas. Os compradores procuravam ávidos por uma
dessas bugigangas. Todos queriam estar vestidos ou adornados a caráter para
assistir o jogo de logo mais. Pensei que talvez no Chile estivesse acontecendo
a mesma coisa... E talvez que eles estivessem bem mais apreensivos que nós
brasileiros. Afinal de contas e apesar de todos os problemas, ainda somos o
país do futebol e estamos jogando em casa. Enfim, não acabei comprando nada
para mim, entretanto, comprei um adereço para colocar na bike. Ela também precisava
entrar no clima de festa. Era um pompom, em verde e amarelo, ao estilo desses
que se usam nos jogos para incentivar os times. Foi uma boa adaptação. Gostei do
resultado.
Havia
assistido aos jogos anteriores da seleção, em casa, por escolha própria. Quis ficar
mais sossegado vendo os lances, ouvindo os comentários dos narradores. E hoje,
que é que eu faço? Fico em casa ou vou assistir em casa de amigos? Quando pensei
na cidade em festa que havia visto lá embaixo, e na importância daquela partida,
resolvi que não dava para assistir sozinho. Seria sofrimento demais.
Tomei
um banho, botei uma bermuda verde e branco e uma camisa amarela. Botei a bicicleta
na rua e rumei para a casa do amigo, Gentil. Sempre costumo ir lá, mas dessa vez,
evitei subir a Avenida Francisco Glicério, motivo? Ela estava abarrotada de
carros. Segui então por uma rua mais tranquila e, só peguei, a Francisco
Glicério novamente, quase ao final dela. No trajeto, vi muitas pessoas
apressadas, querendo chegar logo em casa. Ninguém queria perder o grande jogo. Após
cerca de vinte minutos, cheguei à casa do amigo Gentil. O relógio em pulso
marcava meio-dia e meia.
Faltava
meia hora para o início do jogo. Desci da bike e toquei o interfone. Nada. Ninguém
atendeu. Sempre quando chega lá, do portão ouço a conversa dos amigos reunidos
e a música. Aliás, na casa do Gentil e da Toninha, esposa dele, sempre há
música de boa qualidade. O simples fato de estar com eles e com os demais
amigos que lá se reúnem, já é uma festa. Dessa vez, porém, procurava ouvir
algum barulho que viesse do interior da residência e não ouvia nenhum.
Peguei
o celular e liguei para ele:
_
Gentil, onde você vai assistir ao jogo?
_
Aqui em casa, em Gramado.
O
casal tem outra casa em outro bairro, distante de onde estava. E agora?
Indaguei a mim mesmo.
_
Vem assistir aqui com a gente. Só estamos eu e a Toninha em casa.
_
Não dá, estou aqui, em frente a tua casa, no Jardim Leonor. Até eu chegar aí,
já vai ter terminado o primeiro tempo do jogo.
_
Por que você não vai assistir na casa do Pagano? Perguntou ele.
Pagano
é um dos nossos amigos e mora ao final da quadra da rua em que eu estava. Minha
ansiedade era tanta que nem lembrei disso.
-
Boa ideia, disse eu desligando o celular e correndo para a casa do Pagano e de
sua esposa, Maristela. Chegando lá toquei o interfone. Nada, ninguém atendeu.
Também não ouvi nem um barulho dentro da casa. Já estava pensando em voltar
para casa, quando a porta da casa vizinha se abriu: era o Pagano que estava
assistindo o jogo na casa da filha dele Estelamaris. Ele veio abrir o portão e
entrei, indo reunir-me a eles. Na casa do Maurício e Estelamaris, além de
Pagano e Maristela, estavam reunidos as crianças: Felipe, Pedro e Leonardo,
Miguel, Rafaela e outro Felipe, que é da Bahia e está passando uns dias por
aqui. — este último, faz aniversário no dia hoje — e mais alguns amigos. Era um
ambiente festivo. Fui juntar-me a eles perto da churrasqueira de onde vinha um
delicioso cheiro de carne assada na brasa.
Ficamos
ali conversando um pouco enquanto começava o jogo. Os jogadores de Brasil e Chile
entraram em campo. Perfilaram-se e começaram a cantar o Hino Nacional. Esse tem
sido sempre um emocionante espetáculo que precede as partidas propriamente
ditas. Quando eles começaram a cantar o Hino no estádio, nós, do lado de cá da
telinha, nos unimos aquele coro de milhares de vozes e também cantamos o Hino
Brasileiro. Quem não fica emocionado com um espetáculo daqueles? Os chilenos
também cantaram o seu Hino. O juiz apitou sinalizando o início da partida.
A partir
daí foi um teste para cárdicos. A seleção brasileira não jogou nada bem. O Chile
dominava o jogo e o Brasil ficava sem ter como sair para o ataque. A seleção
brasileira, em vez de jogar aquele futebol, bonito que a que estamos
acostumados, começou a chutar a bola de forma desordenada, sem objetivo, para
longe, como se em nossa seleção não existisse meio de campo. A marcação cerrada
em cima de Neymar contribuiu para que a estrela do craque ficasse meio apagada
nessa partida. Enquanto isso, todos estávamos apreensivos. Para nosso grande
alívio, David Luiz, em cobrança de escanteio mandou a bola para o fundo das
redes do gol chileno. O gol fez a gente se levantar das cadeiras e vibrar como
se estivéssemos no estádio. Nossa alegria, porém, durou pouco.
Da esquerda para a direita: Pedro, Felipe e Miguel |
Enquanto
o jogo se desenrolava em campo, entre nós surgiam conversas paralelas. Numa dessas
conversas, Pagano, que entende bastante de futebol dizia: “Assim não dá. Aonde esses
jogadores vão com esses chutões na bola. Porque não rolam a bola para o meio de
campo, em vez de ficarem chutando de qualquer jeito”? Não deu outra: Uma bobeira
da zaga do Brasil e o chileno Vargas roubou a bola e deu de presente para
Sanchez marcar o gol de empate. Estávamos comendo carne, mas era como se uma
espinha estivesse atravessada em nossa garganta. Mesmo empatando o time
continuava sem empolgar e sem criar jogadas que levassem a uma vitória. Nos últimos
minutos do tempo regulamentar, o Chile fez um ataque perigoso, a bola bateu na
trave e quase entrou, foi por pouco. Prendemos a respiração e logo soltamos,
aliviados.
Veio
a prorrogação e nada de gols. Era a hora do calvário dos pênaltis. Era a hora
de aparecer o nome mais importante do jogo... E ele apareceu na pessoa do
goleiro Júlio César. Júlio fez duas defesas e ainda teve a sorte de ver a bola
de um jogadores chilenos bater na trave e não entrar no gol. Os jogadores
explodiram de alegria. Havíamos passado mais uma fase nesse game emocionante
que é uma partida de futebol de Copa do Mundo.
Espero
que o susto tenha acordado os jogadores da seleção brasileira e que, na próxima
partida, eles estejam mais atentos e com melhor rendimento em campo. Afinal,
agora não dá mais para brincar em campo. Quem perder a partida despede-se da
competição e só restará chorar e esperar a próxima Copa, daqui há quatro anos.
Após
esse susto, fomos finalmente cantar parabéns para o Leonardo. Que hoje fez 14
anos. Os parabéns ao garoto iam ser cantados do qualquer modo, mas com vitória
do Brasil, o bolo ficou bem mais gostoso.
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