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Pornografia e Política
Posted by Cottidianos
on
21:55
Quinta-feira, 19 de junho
Essa
semana, recebi uma mensagem em meu e-mail. Achei e interessante e fui conferir
a fonte de onde a notícia tinha brotado. Vi que era confiável e resolvi
compartilhar com vocês. É a respeito das vaias e xingamentos que a presidente
do Brasil sofreu na abertura do Mundial 2014. O artigo foi
publicado no blog do Noblat, colunista do jornal O Globo, e é de autoria do jornalista
e escritor Ruy Fabiano.
***
Pornografia
e Política
Ruy
Fabiano
A
novidade da vaia dada no Itaquerão à presidente Dilma foi o seu teor ofensivo,
de baixíssimo calão. Sempre se vaiou tudo num estádio de futebol, mas apenas ao
juiz estavam reservados os palavrões mais cabeludos. Dilma foi brindada com a
novidade, que Lula, com toda razão, classificou de “falta de educação”.
O
estranho, no entanto, é que tal puxão de orelha tenha partido de alguém que, no
cargo de presidente da República, quebrou todos os protocolos verbais, chamando
seus adversários de “babacas”, proferindo com a maior naturalidade e frequência
as expressões mais chulas – como “merda”, “tira a bunda da cadeira” - e
reclamando do falso moralismo de quem o criticava.
O
presidente da República, seja ele quem for, tem, por força do cargo, papel de
referência perante o público. Se ele pode dizer palavrões do alto dos
palanques, todos se sentem com o mesmo direito. É ele quem, mais que qualquer
outro, estabelece os limites verbais e comportamentais que o público há de
seguir.
Deve-se
ao PT, aliás, a quebra de todos os limites protocolares na política.
Pornografia verbal é sua manifestação menos ofensiva. Quando deriva para atos –
e atos com dinheiro público -, eis sua forma mais abjeta e deplorável.
A
privatização dos bens públicos, por exemplo. Quando Lula mudou a lei da
telefonia e permitiu que seu filho intermediasse a bilionária fusão da Telemar
(Oi) com a Brasil Telecom, praticou um ato moral? Antes, a Telemar, da qual o
BNDES era sócia, já havia injetado R$ 5 milhões numa empresa de fundo de
quintal de Lulinha, a Gamecorp. Isso, sim, é pornografia.
E
a Petrobras, que a Polícia Federal diz estar infiltrada por uma “organização
criminosa”? E o Mensalão? Lula chamou repetidas vezes José Dirceu de “capitão
do time”. Trancafiado na Papuda, seu capitão deixou de ser alguém de sua
confiança, como disse em recente entrevista em Portugal. Só faltou dizer quem
nem o conhecia. Pode haver algo mais pornográfico?
Na
campanha eleitoral passada, no cargo de presidente da República, burlava a lei
e debochava das multas do TSE, perguntando à multidão quem lhe ajudaria a
pagá-las.
No
Mensalão, uma pornografia institucional, produziu algumas amoralidades. Disse
que fora traído, sem mencionar por quê ou por quem. Disse que o PT errara e
tinha que pedir desculpas ao povo brasileiro. Depois – e desde então -, disse
que o Mensalão jamais existiu, que havia sido uma tentativa de golpe contra ele
e o PT.
Tentou
induzir o ministro Gilmar Mendes a adiar o julgamento, ameaçando denunciar
supostas – e devidamente desmentidas - mordomias que teria recebido por parte
do bicheiro Cachoeira.
Reclamou
da “infidelidade” de Joaquim Barbosa, dizendo que o nomeara por ser negro e não
um jurista competente. Racismo pornográfico, jamais reclamado pelo movimento
negro. Sigamos.
Ao
receber a faixa presidencial de FHC, disse, com emoção: “Fernando, aqui você
tem um amigo”. No dia seguinte, passou a atribuir ao “amigo” todas as mazelas
do país, debitando-lhe uma suposta “herança maldita”. Quando se viu ameaçado de
impeachment, ao tempo do Mensalão, correu ao “amigo” para pedir auxílio, que
estranhamente recebeu.
E
a Rosemary Noronha? Tratava-se de “uma amiga íntima”, sem qualificações
técnicas. Mesmo assim, ganhou cargo de primeira na República. Lula, além de
levá-la clandestinamente nas viagens internacionais a que a primeira dama
Marisa não comparecia, criou um escritório da Presidência da República em São
Paulo - que não existia antes e deixou de existir depois de exposto o escândalo
- e a brindou com a chefia.
De
lá, como se sabe, ela passou a influir na nomeação de figuras carimbadas para
os mais altos postos da República – figuras que hoje estão aos cuidados da
Polícia Federal.
Rosemary
perdeu status e regalias, mas tem a defendê-la um dos mais caros escritórios de
advocacia de São Paulo (remunerado não se sabe como). Mais pornográfico é saber
que o caso está envolto em um manto de silêncio.
Mil
vezes menos escandaloso é o grito ofensivo da multidão no estádio, cuja
construção se deve a Lula, que, por cautela, ausentou-se de sua inauguração.
Bertolt Brecht perguntava, com sarcasmo: “O que é um assalto a banco diante do
próprio banco?”
A
pergunta cabe perfeitamente no caso presente. Não aprovo a conduta da multidão
do Itaquerão, mas quem sou eu para lhe dar lições de moral? Transfiro a tarefa
a Lula, o grande pedagogo das multidões, que as acostumou ao convívio constante
com palavrões e atos políticos pornográficos.
(Fonte da qual foi extraído o artigo:
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