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Amor de mãe – Homenagem ao dia das mães
Posted by Cottidianos
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10:02
Domingo, 11 de maio
“Para
mim sou grande
Mas
pra ela pequenino
Sou
adulto mas pra ela sou menino,
Quando
olha pra mim seus olhos brilham
Um
amor feito de sonho
De
alegria e de esperança,
Se
estou junto dela sou criança,
O
mundo é muito mais bonito
Sem
pecado e sem perigo
E
ninguém no mundo vai gostar de mim
Como
ela gosta”
Trecho
da música Mãe, um pedaço do céu
Autor:
Zezo
Há
um perfume de rosas no ar deste domingo tão especial. Talvez seja por ser o 2o
domingo de maio, Dia das Mães, e a mãe seja sempre para os filhos, uma
rosa especial, de amor inigualável. Aquela que gerou uma vida é capaz de dar a
vida por ela. O que é isso senão a expressão máxima do amor? Não seria essa uma
atitude divina?
As
mães são seres de um amor extremo, capazes de sacrifícios enormes apenas para
ver o brilho da felicidade no olhar dos filhos. Também são capazes de dizer não,
mesmo com o coração cheio de dor, e verem uma lágrima rolar pela face deles, apenas
para não vê-los bater com a cabeça na parede da vida.
Neste
dia especial, vai o meu abraço e os meus parabéns a todas as mães. Em especial às
minhas mães: Raimunda Santos de Carvalho (minha mãe biológica), Maria Julieta
Henrique do Nascimento (minha mãe adotiva, falecida em 1989) e minhas irmãs
adotivas (Maria da Conceição e Maria das Dores) que, após a morte de minha
adotiva, tiveram e tem para comigo, um carinho maternal.
Aproveito
para expressar também minha admiração por uma mãe de muitos filhos, uma
guerreira da paz e da solidariedade: Zilda Arns, fundadora da Pastoral da
Criança — https://www.pastoraldacrianca.org.br/pt/
— , ONG que ajuda a trazer dignidade e bem estar a milhões de crianças no
mundo todo. A fundadora desta entidade,
uma mulher batalhadora, sonhadora e cheia de amor no coração, morreu no terremoto
que vitimou milhares de pessoas no Haiti, no ano de 2010. Zilda Arns, coordenadora
internacional da Pastoral da Criança, estava nos pais em missão humanitária.
Após sua morte, o trabalho da Pastoral da Criança não parou, nem esse era o
desejo de Zilda Arns. A Pastoral da Criança segue seu caminho iluminando o
caminho de muitas crianças e muitas famílias que nela encontram forças para
caminhar rumo a um mundo melhor.
Abaixo, compartilho com vocês, trechos de uma entrevista que a Dra. Zida Arns, deu ao programa, Roda Viva — exibido pela TV Cultura de São Paulo, sempre às segundas-feiras, a partir das 22h — em outubro de 2001.
Abaixo, compartilho com vocês, trechos de uma entrevista que a Dra. Zida Arns, deu ao programa, Roda Viva — exibido pela TV Cultura de São Paulo, sempre às segundas-feiras, a partir das 22h — em outubro de 2001.
Ao
final da entrevista, Zilda Arns, se refere a uma guerra — Ela se referia ao inicio
dos bombardeios iniciado pelos Estados Unidos, ao Afeganistão, em resposta aos
ataques terroristas, realizados pela Al-Quaeda, ocorridos um mês antes, em 11
de setembro daquele ano.
Aproveito
para desejar um bom domingo e boa semana a todos.
***
Imagem: http://www.comerciarios.org.br/upload/zilda-arns.jpg |
Paulo
Markun: Boa noite. Nesta semana em que a questão da
solidariedade ganha a atenção especial em São Paulo e também na rádio e na TV
Cultura, o Roda Viva apresenta o personagem que comanda hoje, no Brasil, a
maior organização não governamental do mundo a trabalhar com a saúde, a
nutrição e a educação da criança. É a médica pediatra Zilda Arns, fundadora e
coordenadora nacional da Pastoral da Criança.
[Comentarista Márcia Bongiovanni]: O sobrenome Arns, da Dra. Zilda,
tem um significado nessa história: ela é irmã de Dom Paulo Evaristo Arns,
arcebispo emérito de São Paulo. Partiu dele, no início dos anos [19]80, o
convite para que a irmã, que já tinha experiência com trabalhos comunitários,
montasse um plano nacional para ensinar mães a combater a diarreia e a
desidratação, que eram as principais causas da mortalidade infantil no Brasil,
na época. O plano, baseado no trabalho voluntário e na ação de líderes
comunitários, ganhou forma em 1983. Com o apoio da Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil, foi criada a Pastoral da Criança. A experiência começou no
pequeno município de Florestápolis, interior do Paraná, e espalhou-se para o
país todo, estando presente, hoje, em mais de três mil municípios brasileiros,
desenvolvendo ações básicas de saúde e educação, junto às comunidades. A
Pastoral da Criança articulou uma rede de solidariedade que já reúne mais de
150 mil pessoas, treinadas e capacitadas para um trabalho voluntário inédito no
país: combater a mortalidade infantil e melhorar as condições de vida de mães e
crianças brasileiras carentes. Os voluntários trabalham nas periferias das
grandes cidades e nos bolsões de miséria dos pequenos e médios municípios,
incluindo também as áreas rurais. Eles andam de casa em casa, ensinando como
prevenir doenças e melhorar a saúde de gestantes e crianças. As mães recebem
orientações e acompanhamento durante a gravidez. São estimuladas a dar atenção
especial ao aleitamento materno, à vacinação. O desenvolvimento dos bebês é
acompanhado mensalmente e as crianças recebem uma alimentação especial,
enriquecida, para prevenir a desnutrição. A Pastoral da Criança, que através da
campanha do soro caseiro, já tinha revertido um quadro nacional de morte de
crianças por desidratação, promoveu outra mudança estatística. Nos municípios
onde atua, a mortalidade infantil caiu 50% em relação à média brasileira. Os
recursos que sustentam esse trabalho vêm, principalmente, do Ministério da
Saúde, mas chegam também através de doações do setor privado. Os voluntários
atendem a mais de um milhão e meio de crianças e quase oitenta mil gestantes,
através de visitas mensais a um milhão e cem mil famílias. Além de ensinar às
mães como prevenir doenças e melhorar o nível de saúde nas comunidades, os
voluntários passaram a desenvolver um trabalho de prevenção de acidentes
domésticos e de melhoria das relações familiares, estimulando uma cultura de
paz e de melhor convivência entre as pessoas. Os resultados, que não só
melhoram índices de saúde e saneamento, promovem a auto-estima e fazem crescer
o sentimento de dignidade e de cidadania entre as populações atendidas. O
modelo já foi exportado para países da América Latina e da África, e recebeu do
governo brasileiro a indicação para o Prêmio Nobel da Paz deste ano. O prêmio
não veio, pelo menos desta vez, mas no entendimento de Zilda Arns, a indicação
já foi um prêmio, chamando a atenção do mundo para uma ação social que está ao
alcance de qualquer comunidade, e que mostra como a solidariedade, através do
trabalho voluntário, pode mudar a realidade salvando vidas e promovendo o
desenvolvimento humano.
Paulo
Markun: Para entrevistar a médica Zilda Arns, coordenadora
nacional da Pastoral da Criança, nós convidamos: Gilberto Nascimento, colunista
do jornal O Diário de São Paulo; a jornalista Nilza Iraci Silva, coordenadora
executiva do Geledés - Instituto da Mulher Negra; Ricardo Soares, apresentador
e diretor do programa Caminhos e Parcerias, da TV Cultura, e do programa
Literatura, da STV; Stephen Kanitz, articulista da revista Veja e diretor do
site www.voluntarios.com.br; Marcos Kisil, professor da Faculdade de Saúde
Pública da USP e presidente do IDIS – Instituto para o Desenvolvimento do
Investimento Social; Gilmar Carneiro dos Santos, representante da Central Única
dos Trabalhadores, a CUT, no Conselho de Administração do BNDES - Banco
Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social, e curador do Projeto Travessia,
e Cleide Silva, repórter de economia do jornal O Estado de S. Paulo. O Roda
Viva é transmitido em rede nacional para todos os estados brasileiros e também
para Brasília, e o endereço do programa na
internet [é] rodaviva@tvcultura.com.br.
Paulo
Markun: Boa noite.
Zilda
Arns:
Boa noite. É um prazer muito grande estar aqui; eu gostaria de mandar um grande
abraço para todos que me veem, principalmente os voluntários, os líderes da
Pastoral da Criança.
Paulo
Markun: O prazer é nosso! É, a gente, vendo aí e lendo a
trajetória da Pastoral, do trabalho dos voluntários, os resultados obtidos, dá
a impressão de que aquele... a história do ovo de Colombo, quer dizer, uma ideia simples, uma coisa aparentemente banal, que funcionou. A senhora acha que
existem outros desafios, outros problemas grandes da sociedade brasileira que
podem ser resolvidos dessa maneira ou outras coisas exigem outro tipo de
solução: políticas públicas, mudança na maneira de governar, enfim, alterações
maiores do que as que a Pastoral promoveu?
Zilda
Arns:
Normalmente não se dá muito valor às coisas simples e também não se dá valor à
promoção e à prevenção. É assim, tanto na área da saúde, quanto [n]a [de]
educação, marginalidade, né? Então, eu creio que nessa área nós podemos avançar
bastante, e, naturalmente, compete, não só ao governo, mas também à sociedade,
às próprias famílias, assumir o seu papel. E a Pastoral da Criança,
principalmente, se ocupa com as famílias, para saberem cuidar bem dos filhos.
Agora, tem que também, muitas vezes, ter melhores condições de vida,
alfabetização, geração de renda e outras coisas mais.
Paulo
Markun: Qual foi a
chave, na opinião da senhora, do sucesso do trabalho da Pastoral?
Zilda
Arns: Eu creio...
Paulo
Markun: [Falando ao mesmo tempo que Zilda] O ponto central.
Zilda
Arns:
... [que seja] a solidariedade e a multiplicação do saber. Então, nós formamos
uma rede de solidariedade humana em cada bolsão de pobreza e miséria, e o
protótipo, o propulsor, vamos dizer, do desenvolvimento da Pastoral da Criança,
foram as próprias líderes que moram nessas comunidades. Então, melhorando,
vamos dizer, o tecido social da liderança, nós expandimos isso para todas as
famílias.
Paulo
Markun: Quer dizer,
a solução, então, estava mais na própria comunidade,...
Zilda
Arns:
Na base. Na base.
Paulo
Markun: ... na base.
Zilda
Arns:
Eu creio que nós temos que dar muito mais valor às comunidades e fazer sempre o
agente de transformação que mora na comunidade ser a pessoa principal.
Ricardo
Soares: Dra. Zilda, eu tive a sorte de fazer aqui,
recentemente, para a TV Cultura, um episódio de Caminhos e Parcerias, que
mostrava a ação da Pastoral da Criança no norte de Minas Gerais, em Montes
Claros, naquela região de Montes Claros. Aí eu tive uma impressão, ao fazer
esse programa - e eu queria que a senhora me confirmasse ou não se é verdade -,
que a ação da Pastoral, concentrada no norte de Minas, é uma ação de
necessitados que ajudam necessitados, ou seja, quando a senhora fala da comunidade,
da base da sociedade, dá a impressão [de] que grande parte dos voluntários da
Pastoral da Criança são pessoas das camadas mais pobres da população. Isso
procede? É, de fato, um enorme movimento onde os mais necessitados ajudam os
mais necessitados?
Zilda
Arns:
É... já quando nós idealizamos o trabalho da Pastoral, assim o fizemos. A
descentralização que, vamos dizer, na base... as famílias fossem cuidar de
pessoas que moram perto delas, para serem da mesma cultura, conhecer as
necessidades, né? E assim como em Montes Claros - até vim de lá há três dias,
nós estamos capacitando 17 pessoas da África lá - assim acontece em todo o
Brasil. São 132 mil os voluntários que moram nos bolsões de pobreza, que fazem
o trabalho, assim, do dia-a-dia.
Paulo
Markun: [Interrompendo] A senhora me desculpa interromper... Cento e trinta...
Zilda
Arns:
... e duas mil. E as demais são das equipes de capacitação. [Por]que grande
arte também é a gente capacitar as lideranças. Então, nós temos... nas
microrregiões do País são 286 pontos, nós temos pequenas equipes de
capacitação. Então esses moram, muitas vezes, na comunidade ou perto da
comunidade ou vêm de fora, são profissionais, aposentados, a maioria ainda
atuantes, que doam algumas horas por semana ou por mês - né? -, capacitando
liderança, acompanhando...
Ricardo
Soares: Seria
leviano, então, concluir que os pobres ajudam os pobres mais do que os ricos
ajudam os pobres?
Zilda
Arns:
É... eu diria que, para melhorar o tecido social, para fazer daquelas pessoas
que não se sentem gente, verdadeiramente, uma obra de arte, elas próprias têm
que ser trabalhadas.
Marcos
Kisil: Dona Zilda,
é com alegria que a gente vê o sucesso de um esforço de melhoria da qualidade
de vida, particularmente, das crianças brasileiras. Mas uma dúvida que fica é:
o quanto o trabalho que a senhora vem desenvolvendo com a Pastoral vem para
substituir, ou vem para suplementar, ou complementar o papel do Estado? Como é
que a senhora vê a relação da Pastoral com aquilo que, na Constituição
brasileira , coloca, no seu capítulo de Saúde, que é direito do cidadão e dever
do Estado? Como é que a senhora vê essa relação, baseada no sucesso que a
Pastoral está tendo?
Zilda
Arns:
Você sabe que, antes de começar a Pastoral da Criança, trabalhei muito em saúde
pública: [durante] 27 anos, eu fui dirigente. E antes disso eu consultava, e
ainda continuava um pouco depois, mas não tinha mais tempo. E o que sempre
faltava é... vamos dizer, a mãe ter alguém próximo, amigo, que ensinasse, que
desse apoio - né? -, e isso é difícil o governo fazer. Por outro [lado], também
a Constituição de [19]88 diz que quem deve cuidar da criança é o governo, a
sociedade e a família. Então, a Pastoral da Criança faz com que a família possa
cuidar melhor da criança. E não substitui [a família]. E o governo não é capaz
de fazer o trabalho da Pastoral da Criança, que é um trabalho [feito], assim,
com muito amor. Agora, a Pastoral precisa do governo e o governo precisa da
Pastoral. Quer dizer, nós, sozinhos, sem parceria, não poderíamos treinar
tantas lideranças; são, por mês, milhares de capacitações, milhares no Brasil.
Então, tudo isso requer materiais educativos - né? -, viagens... quer dizer,
viagens, pagar ônibus para o pessoal, porque são pobres - né? -, para irem se
capacitar e todo o material que nós precisamos para recuperação dos desnutridos
e tal... Então, nós fazemos um trabalho com muito calor humano, e o governo nos
ajuda financeiramente e também tecnicamente. Todos os nossos materiais, vamos
dizer, o Ministério da Saúde, na área de saúde,
[o da] Educação, na área de educação, Sociedade de Obstetrícia, Unicef
[Fundo das Nações Unidas para a Infância; em inglês: United Nations Children's
Fund], Organização Pan-Americana de Saúde [órgãointernacional de saúde pública
dedicado a melhorar as condições de saúde dos países das Américas], muitos
pediatras, nutricionistas, psicólogos colaboram para que esse material seja de
excelente qualidade. Então, nós temos ajuda, mas nós damos também. Agora, o
nosso trabalho é um trabalho de fraternidade.
...
Gilmar
Carneiro dos Santos: Dona
Zilda, eu gostaria que a senhora falasse um pouco sobre uma coisa que mexe
muito com a gente, que é o desafio da relação dessas pessoas pobres com a
própria pobreza, essa cultura de passividade, e a relação dessas pessoas com a
morte das crianças. Porque a Pastoral é da Igreja [Católica], que fala:
"Os bebês são anjinhos. Se são anjinhos e morrem, é porque Deus
quer." E a Pastoral, ela... o mérito principal dela é mudar os valores das
pessoas, tanto em relação à vida, como em relação à morte. Embora sejamos
religiosos, mas não é porque Deus quer que deixamos morrer as crianças.
Zilda
Arns:
É... quando nós começamos - né? -, que eu visitava, assim, o interior, eu
ficava abismada que era natural morrer... um anjinho no céu... Mas já mudou -
viu? - , hoje não se vê mais isso. Quer dizer, a comunidade quer salvar as
crianças. Então, o valor cultural "criança", ele tem peso agora nas
comunidades. A coisa mais, vamos dizer, o que tem mais valor na família é a
criança. E também, morrer não é mais um valor, e sim fazer com que a criança
seja bem nutrida, seja feliz, não é? Eu creio, Gilmar, que isso já está bem
mudado, né?
...
Nilza
Iraci Silva: Eu
queria voltar um pouco, quando a senhora falava das condições, ou melhor, das
subcondições de miserabilidade da população, e qualquer indicador
socioeconômico vai demonstrar o impacto do racismo como estruturante das
desigualdades e como ele incide de maneira perversa sobre mulheres e crianças
negras. O Movimento Mulher Negra [o Movimento das Mulheres Negras iniciou-se no
Brasil na década de 1990 e denuncia a geração de desigualdades sociais
decorrentes da subordinação da mulher negra] vem, há pelo menos dez anos,
vinculando a questão da mortalidade infantil ao racismo sofrido pela mulher
negra. Uma pesquisa recente do Nepo Unicamp [Núcleo de Estudos de População da
Universidade Estadual de Campinas] demonstra essa vinculação, quer dizer, os
resultados apontam diferenciais na mortalidade infantil, dependendo de raça e
etnia. Eu gostaria de saber de que maneira o trabalho exemplar da Pastoral
trabalha com esse recorte racial ou como é que a Pastoral enfrenta o racismo no
seu trabalho cotidiano.
Zilda
Arns:
Sabe, a Pastoral não tem preconceito. A gente trabalha numa comunidade onde a
maioria é negra. Eu já fui a áreas [em] que havia só negros, redutos africanos.
Por exemplo, no Piauí, em Oeiras, eu visitei comunidades rurais. Mas eles são
tão bons. Eu diria mesmo que os pretos são tão bonitos. Nós, os brancos, somos
negros desbotados, viu? Eu acho bonitos os negros. E eles têm tanta... tanto
valor, tanto talento. Eu fico, assim, encantada! Agora que nós estamos com 17
africanos, aí de Angola, Guiné Bissau e Moçambique, as celebrações são uma obra
de arte! Então, realmente, os negros,
para nós, são muito bem vindos; nós temos muitos coordenadores negros. Não só,
vamos dizer, é a clientela negra, mas eles são, realmente, os propulsores do
desenvolvimento.
Nilza
Iraci Silva: Mas
a Pastoral reconhece o racismo?
Zilda
Arns:
Nós reconhecemos, mas, ...
Nilza
Iraci Silva: [Interrompendo] [A Pastoral reconhece]
Que existe o racismo que permeia toda a
sociedade, e que provoca...
Zilda
Arns:
[Interrompendo] ... na Pastoral,...
Nilza
Iraci Silva: ...
uma desigualdade.
Zilda
Arns:
... Nós notamos isso, é evidente. Mas, assim, dentro das comunidades da
Pastoral da Criança todos se sentem bem, se sentem felizes. Eu vou às reuniões
da Pastoral e fico encantada! Os negros
tão felizes, tão realizados na Pastoral!
Eu creio que é uma riqueza a gente poder trabalhar com os negros. E
quando eu fui à Angola e treinei as primeiras 17 mulheres, eu fiquei, assim,
encantada pelo interesse e pelo talento [delas]. Hoje são mais de 400 mulheres
trabalhando na Pastoral da Criança. Então, eu creio que o racismo, também, está
muito, assim, na cabeça das pessoas. Na hora [em] que a gente trabalha com elas
e melhora a autoestima, elas mesmas, elas se incluem melhor.
Paulo
Markun: E qual é o
sonho que a senhora tem, ainda, para realizar?
Zilda Arns: Bom, quando
eu vejo essa miséria, digo: "por que [é] que a gente não trabalha juntos e
vai até a comunidade resolver os problemas?". Segundo estudo que eu li no
jornal, esses dias, seria um bilhão e setecentos mil reais por mês para acabar
com a pobreza, com a miséria, né? Por quê [é] que não se faz isso aí? Agora,
por que [é] que os partidos políticos não se unem na hora que é [para promover]
o bem-estar do povo? Muitas vezes, não querem fazer passar programas bons
porque vai, vamos dizer, prejudicar a nossa eleição para a próxima... para a
próxima vez. Quer dizer, a cidadania, aquele compromisso de a gente fazer com
que os outros não sofram tanto... Eu gostaria, até, assim, eu penso: "meu
Deus, se eu ficasse morando três dias numa... num barraco daquele que eu fui,
que não tinha nem água, eu acho que eu sairia de lá e berrava: vamos fazer logo
uma melhoria, porque isso é insuportável!". Agora, tem milhões de pessoas,
muitas vezes, entrando como traficantes de drogas, porque não têm o que comer.
Quantas crianças maltratadas, não é? Então, isso não é governo federal, é todos
os governos, a sociedade e a família. As escolas deveriam ter programas de
cidadania, de experiências de cidadania, para formação do caráter, da
co-responsabilidade. Agora, eu diria também [que] os países têm que ser mais
solidários. Quando eu vejo a dívida externa sangrando o Brasil e outros países
- né? -, em detrimento de programas... Eu diria, por que [é] que os outros
países... ? Talvez aprendam com essa guerra, agora, porque uma guerra é aquela
[e] a outra guerra é aquela que nós temos aqui, que vai explodir... Então por
que [é] que os países ricos não perdoam a dívida, mas empregam a dívida em
programas sociais? Porque produziria a inclusão social, quer dizer,
economicamente, o Brasil tem um potencial enorme e seria maior ainda, né? E paz
no mundo... Trabalham tanto com polícia, para controlar drogas, por que não
trabalham para erradicar a pobreza, não é? Então, eu penso que o Brasil tem que
pensar um pouco o futuro, e o mundo tem que pensar, os países ricos têm que
pensar que eles também vão sofrer com a pobreza dos outros países. Estão vendo
agora quanto, né? Eu acho horrível a guerra que está acontecendo no [...]. A
guerra deveria trabalhar mais com a inteligência, diplomacia - né? -, mas
quanto gasto numa guerra? Eu estive em Timor Leste, em janeiro, na comitiva
presidencial, né? A ONU gastava vinte... vinte milhões [de dólares] ao mês para
manter toda a estrutura e Timor Leste estava pedindo oitocentos mil para
reconstruir escolas e não tinha esse dinheiro. Então, eu penso assim: "por
que [é] que nós gastamos tanto em defesa e tão pouco nas causas? As causas [é]
que são importantes.".
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