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Viajando no mundo das palavras com Sarah Passarella ( I parte)

Posted by Cottidianos on 12:43
Quinta-feira, 26 de dezembro

Entrevista Sarah de Oliveira Passarella

"Eu fico fascinada com o natal"




No dia 14 de dezembro às 15hs, a escritora Sarah de Oliveira Passarella, lançou o livro “Poemas de Cantar Natal”, o evento aconteceu nas dependências do CIS-Guanabara, à Rua Mário Siqueira, 829, no bairro Botafogo, em Campinas. A festa de lançamento ocorreu durante uma cantata de natal da qual participaram diversos corais de Campinas e região. Foi uma bela festa. Entre um autografo e outro, perguntei a Sarah se ela poderia me conceder uma entrevista. Ela respondeu que sim e ficamos de combinar data e hora por e-mail. Quando perguntei a Sarah em que bairro ela morava, ela respondeu: “Eu não moro, me escondo na Vila Nogueira”. Enfim, marcamos a entrevista para o final da tarde/início da noite de sexta-feira, dia 20. No dia combinado, cheguei à casa da escritora, por volta das 8h30 da noite. Enquanto caminhava até lá, compreendi por que ela falou que não morava, se escondia. O bairro é de fácil acesso, mas a rua em que ela mora forma um circulo, e não é muito fácil de ser encontrada, porém vencido esse pequeno obstáculo, toquei a campanhinha. Enquanto esperava que Sarah viesse abrir o portão, fiquei apreciando a quietude da noite e a tranqüilidade da rua. No céu, ainda se conseguia ver os últimos raios de sol desaparecendo no horizonte. Ouvi o barulho da fechadura do portão se abrindo, e Sarah me recebeu com sua gentileza costumeira. Encaminhamo-nos para dentro de casa. Já na porta de entrada, me chamou à atenção uma exuberante guirlanda natalina, com enormes bolas vermelhas. Ao adentrar a residência da escritora fiquei encantado com a bela e caprichada decoração natalina. Senti-me entrando nas páginas de um livro de contos de natal. Eram árvores de natal, guirlandas, trenós, Papais-Noéis, anjos e presépios em profusão.

__ Onde você quer sentar: aqui no sofá da sala ou na mesa de jantar? Perguntou ela.

__ No lugar em que você se sentir melhor, respondi eu.

__ O lugar que eu acho melhor é em frente ao computador. Uma vez não sendo possível a entrevista lá. Podemos sentar aqui no sofá mesmo. Depois da entrevista, vou te mostrar minha coleção de presépios.

__ Podemos começar justamente por aí, pela sua coleção de presépios? - Havia lido no livro da Sarah, que ela é colecionadora desse gênero de arte e tem, atualmente, quinhentos e trinta e três exemplares. Fiquei impressionado com esse fato e queria satisfazer a curiosidade em ver tantos presépios juntos.

__ Claro! Respondeu Sarah, prontamente.




 __ A escritora foi me mostrando os presépios. Primeiros os que estavam expostos na sala. Depois descemos uma escada e, em outra sala, havia mais presépios, cada um mais belo que o outro. Fiquei admirando tudo aquilo enquanto ela me falava, com entusiasmo, de como havia adquirido alguns e de sua paixão por essa coleção. Através desse gênero de arte, a escritora trouxe o mundo para dento de casa. Há presépios trazidos de vários Estados brasileiros; do Nordeste ao Rio Grande do Sul, e de vários países; Estados Unidos, Alemanha, Itália, Egito, Portugal, Bolívia, México, Nigéria, dentre outros. Trouxe também a natureza junto: há presépios feitos de casa de milho, de casca de romã, de casca de nozes, de arame, tecido, louça, velas. Também os recicláveis estão presentes nas latinhas de refrigerante e em garrafas pet. Depois de me contar as histórias curiosas envolvendo os presépios, e me mostrar o restante da decoração, voltamos ao sofá da sala, onde conversamos por quase uma hora.

Sarah de Oliveira Passarella é paulista, nascida na cidade de Limeira, porém toda a sua infância e juventude foram vividas na cidade de Americana, da qual guarda as melhores lembranças. Vinda de uma família de seis irmãos, é filha de Fernando de Oliveira e Deldina Martins (dona Dina). É viúva do Ítalo brasileiro, Antonio Passarela, com quem teve a filha Tessa. A filha de Sarah, Tessa Virginia de Oliveira Passarela Madeira, é casada com Wander Marcelo Brugnola Madeira. Desse casamento, nasceu Pietra Aurora, hoje, com três anos de idade, neta de Sarah.  O poder publico da cidade de Campinas, outorgou a escritora, a medalha “Carlos Gomes” honra máxima da cidade, pelos serviços prestados junto à cultura de Campinas.

O livro, Poemas de Cantar Natal, é prefaciado pelo maestro Oswaldo Antonio Urban, e o texto que acompanha a orelha do livro foi escrita por Fernanda Beatriz de Oliveira de Faria Bernardi, advogada especialista em Direito Tributário.

Na entrevista, Sarah fala de seu fascínio pelo Natal, da família, do seu trabalho como escritora e do novo livro “Poemas de cantar Natal”.



José Flávio - Como surgiu essa paixão pelos presépios? Esse desejo de querer colecioná-los?

Sarah Passarela – O primeiro que eu vi foi numa igreja... Meu pai era adventista. Minha mãe era católica, mas era do tempo em que a mulher tinha que seguir o marido. Então, ela não podia ter outra religião, ou trabalhar fora. Trabalhar fora, ela não podia nem quando era solteira, pois o pai dela não permitia. Ela era do tempo em que mulher não trabalhava fora. O primeiro presépio que eu vi e, que hoje faz parte de minha coleção e tem mais de cem anos...




José Flávio - Isso foi em Americana?

Em Americana. Eu achei aquilo muito interessante. Achei bonito, retratar a história de Jesus através das imagens. Mas na minha casa não tinha, porque no conceito de meu pai, não se cultua imagens. Depois quando eu me casei, dois anos depois, meu marido me deu um presépio, que até está lá embaixo. Nós fomos à igreja, tinha uma lojinha lá, eu achei tão bonitinho. Então ele falou: “Leva para você, já que você gostou”. Então ele me deu aquele. Depois eu fui comprando outros. Quando eu vi, eu estava com mais de cem presépios. Quando eu viajo, qual a minha meta principal? Buscar presépio!  (risos).  Foi meio sem querer. Eu falei: “Gostaria de colecionar alguma coisa: passei a colecionar presépio. Eu acho interessante, passei a estudar bastante o que era realmente o presépio, o que representa essa palavra. As pessoas dizem “Ah, tal cidade é uma maravilha, parece um presépio". Ora, o presépio é uma cocheira, onde Jesus nasceu. Não dá para associar as coisas. Não era bonito, tem a simbologia bonita. Mas uma cidade bonita não parece um presépio. Mas é assim, eu comecei a gostar do assunto. Por isso que eu consigo colecionar presépio.

José FlávioEsse primeiro presépio que você viu e que hoje está montado em sua casa, como você o adquiriu?

Sarah Passarela – Passados muitos anos, eu me mudei de Americana. Eu me casei em 1970, vim morar aqui, e o meu cunhado, ele mora em Americana, mas trabalhava na Bosch, trabalhou trinta anos na Bosch, depois se aposentou. Ele foi convidado para trabalhar numa igreja. Ser comprador da igreja, naquela igreja na qual eu tinha visto o presépio. Eles compraram outro presépio grande para colocar no gramado, na frente da igreja. Aí eles perguntaram o que fazer em relação ao outro. O padre que tomava conta da igreja falou: “Amarreta ele e joga fora”. Então meu cunhado falou: “Não, se for assim, vou dar para minha cunhada. Ela gosta de presépio. Então ele me trouxe o presépio.

José FlávioÉ bem interessante, aquele primeiro presépio que você viu, veio parar em suas mãos. Não é muita coincidência?

Sarah Passarela – Vou te contar outra história. Eu gosto muito de viajar, meu marido gostava também. Mas a gente não viajou muito porque não tínhamos muita oportunidade. Ele trabalhava, não chegou nem a se aposentar, ele morreu antes, morreu muito novo, mas viajamos algumas vezes. Depois que ele morreu, eu continuei trabalhando, me aposentei, mas continuei trabalhando, mas aí surgiu outras oportunidades de viajar. Por que aí é mais fácil, você tem uma amiga que também é solteira, viúva ou separada que tem vontade de viajar... Aí nós fomos para o Egito e para Israel. Fomos à Jordânia e, chegando à Jordânia, você desce assim por uma estrada, é tudo pedras, eles fizeram uma estrada e, naquelas pedras, o vento foi formando desenhos. Depois que nós chegamos lá embaixo, havia um lugar sagrado, um portal que estava fechado, a gente não pode visitar, tinha duas barraquinhas de artesanato, de bugingangas, eram duas barraquinhas, tudo cheio de terra. Daí eu falei: “Preciso comprar alguma coisa, daqui. Tenho que levar algo da Jordânia”. Eu comprei três colheres de ferro. Aquelas colherzinhas tudo encardidas, sujas, mas mesmo assim eu trouxe, quando cheguei aqui eu lavei, lavei, e nada. Fique pensando: “Será que não sai essa terra dessas colheres”? Então, o que fiz? Comprei uma lata de querosene e mergulhei as colheres dentro dela. Quando elas ficaram limpinhas, sabe o que tinha no fundo das colherinhas? A Sagrada Família! Quando eu tirei do querosene e vi aquelas imagens no fundo das três colheres, fiquei sem acreditar no que estava vendo: era o presépio. O presépio, realmente, está ligado à minha vida.



José Flávio – O que representa o presépio para você?

Sarah Passarela – Eu acho que é um sinal da vida. A vida dá sinais, e dá sinais de vida. Cada vez que chega o natal, é uma vida que se renova. É algo que se renova. Por mais que você seja ateu, e não digo ateu no sentido de que não acredita. Não acredita porque não conhece. O natal mexe com a pessoa. É uma renovação para ela. Ela não acredita em nada, mas no natal ela fica mais sensível. Ela não costuma dar nada, mas quando chega o natal ela presenteia alguém. Ela passa o ano inteiro sem ver um irmão, mas quando chega o natal ela vai visitá-lo. Então, o natal, para mim, é sinal de nova vida. Um sinal de renascer. Eu acho isso fantástico! Eu fico fascinada com o natal, eu queria ter o triplo dos presépios que tenho, para festejar mesmo, essa nova vida, esse renascer. Eu penso assim, que... Não no cunho religioso, mas no poder dessa pessoa, chamada Jesus, o poder que ele tem... As pessoas morrem, daí a um mês, ninguém lembra mais. Ele (Jesus) morreu há dois mil anos e até hoje é lembrado. Ele mudou um calendário. Todo ano, as pessoas querem comemorar e ficam mais sensíveis e alegres com o nascimento dele. É uma coisa que independente de religião. Eu posso falar bem disso porque eu nasci num lar que não era católico. Tornei-me católica porque fui estudar em colégio de freira e elas eram muito boas para a gente. Isso fez com que a gente gostasse da religião católica. A vida dos santos, eu acho uma coisa maravilhosa. Convivo com amigos que são Espíritas, Batistas, Testemunhas de Jeová. Eu recebo Testemunhas de Jeová em minha casa toda vez que eles passam. Eles aprendem lá no culto, que só vão ganhar o céu, se eles levarem a mensagem. Se ninguém atender, como é que eles vão... Então, independente de religião, Cristo mexe com todas as pessoas. Em toda religião, pode ser ela qual for, Jesus está em primeiro plano. Então a força desse ser, é uma coisa maravilhosa. Então acho que eu escolhi o melhor caminho. Tem gente que coleciona borracha, canivete...

José Flávio – Selos.

Sarah Passarela – Selos. Não desfazendo de quem coleciona essas coisas, nada disso. Eu acho que eu escolhi o melhor caminho...



José Flávio – O que acha que falta para as pessoas levarem o espírito do natal pelo resto do ano?

Sarah Passarela – É conseqüência do mundo moderno que nós vivemos. As pessoas precisam trabalhar. Há as divergências, a pessoa acaba, às vezes, ficando revoltada com coisas que acontecem. Então você acaba até esquecendo aquele espírito de natal que você teve em dezembro, quando você um seqüestro de criança. Um pai de família que morre num acidente de trabalho. Então, sem querer, a pessoa dispersa daquele sentimento. Não dá para ela ficar com aquele espírito o ano todo. É o bem e o mal, não é? Deus colocou esse Filho no mundo, para que a gente tenha esse sentimento, mas tem o lado ruim que está aí, lhe cutucando e a gente precisa ser muito forte para não partir para o lado do mal. Eu não acredito em céu e inferno, em pecado, em Deus e demônio. Eu acredito em poderes... O poder da mente.

José FlávioComo era o natal junto com a sua família, em Americana?

Sarah Passarela – Comemorávamos o natal assim, na minha casa não tinha presépio. Meu pai não acreditava em... Acontece que meu pai era um evangélico de mente muito aberta. Ele não era inimigo do padre, meu pai era um homem culto. Ele estudava a Bíblia como quem estuda um livro. Preconceito, essas coisas ele não tinha. A árvore de natal era imprescindível em casa. Meu pai era agricultor. O forte dele era cítricos, mas ele plantava também pinheirinhos de natal, e a árvore mais bonita ia para minha casa. Então, pelo menos na minha visão de criança, a árvore mais bonita que existia, era a árvore de minha casa. Nós tínhamos a árvore de natal e comidas saborosas. Nesse dia, até vinho meu pai tomava. Ele lia um trecho de Lucas (o Evangelho de Jesus Cristo, segundo Lucas), que falava do nascimento de Jesus. Eu já nasci com isso.

José Flávio – Por isso que eu percebo, nos objetos que decoram sua casa, uma religiosidade muito forte...

Sarah Passarela – Sim. Nas historias que tem. E, quando não é época de natal, eu tenho objetos que possuem histórias belíssimas. Eu tenho um prato que a minha sogra usou na barriga, quando os alemães invadiram a casa deles. Eles moravam na Itália, ela estava em casa, de avental, então ela pegou aquele prato e colocou na barriga, então eles pensaram que ela estava grávida e deixaram-na ir embora, ela e os filhos pequenos, e na realidade o que ela tinha era um prato que havia colocado na barriga. Ela deu para mim, esse prato, porque ela sabe que eu amo, que eu gosto das histórias. Então, os objetos em minha casa sempre têm uma história. Nunca eles estão ali por estar.

José Flávio – É muito bonita sua relação com a vida, com os objetos. A Sra. busca colocar um significado em tudo aquilo que faz... Acho que nada na vida da gente é por acaso. Não estamos aqui por acaso.


Sarah Passarela – A gente está no mundo porque tem essa missão de estar no mundo. As pessoas que cruzam o caminho da gente. Pessoas que, às vezes, vem para enriquecer nossa vida, às vezes até para nos perturbar, mas isso também pode ser um enriquecimento. Tem tudo isso. A minha história de natal é essa. Eu escrevia muito sobre natal. Sempre escrevi uns versos, umas poesias. Até que um dia eu pensei: “Poxa, porque eu não lanço um livro de natal, já que eu gosto tanto de natal.

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Foi um prazer imenso te conhecer e muito obrigada pelo presente. Beijos

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