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Milho de pipoca
Posted by Cottidianos
on
14:06
Quarta—feira,
11 de dezembro
Li
esse texto do escritor Rubem Alves, achei interessante e compartilho agora com
os caros leitores. À noite, volto falando da violência nos estádios de futebol.
***
"Milho
de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho para sempre."
Quem
não passa pelo fogo, fica do mesmo jeito a vida inteira. São pessoas de uma mesmice
e uma dureza assombrosa. Só que elas não percebem e acham que seu jeito de ser
é o melhor jeito de ser.
Mas,
de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que
nunca imaginamos: a dor. Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um
filho, o pai, a mãe, perder o emprego ou ficar pobre. Pode ser fogo de dentro:
pânico, medo, ansiedade, depressão ou sofrimento, cujas causas ignoramos. Há
sempre o recurso do remédio: apagar o fogo! Sem fogo o sofrimento diminui. Com
isso, a possibilidade da grande transformação também.
Imagino
que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro cada vez mais quente, pensa que sua hora chegou: vai
morrer. Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar um
destino diferente para si. Não pode imaginar a transformação que esta sendo
preparada para ela. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí,
sem aviso prévio, pelo poder do fogo a
grande transformação acontece: BUM! E ela aparece como uma outra coisa
completamente diferente, algo que ela mesma nunca havia sonhado.
Bom,
mas ainda temos o piruá, que é o milho de pipoca que se recusa a estourar. São
como aquelas pessoas que, por mais que o
fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais
maravilhosa do que o jeito delas serem. A presunção e o medo são a dura casca
do milho que não estoura. No entanto, o
destino delas é triste, já que ficarão duras, a vida inteira. Não vão se
transformar na flor branca, macia e nutritiva. Não vão dar alegria para
ninguém.
Extraído
do livro "O amor que acende a lua", de Rubem Alves.
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