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Orações e homenagens para um guerreiro

Posted by Cottidianos on 14:05
Terça-feira, 10 de dezembro

Imagem: http://atarde.uol.com.br/galerias/34/18796-homenagens-a-nelson-mandela


Neste domingo (08), a fumaça dos cheirosos incensos subiram aos céus africanos, em forma de oração pela alma do grande líder africano, Nelson Mandela. Por falar nisso, os céus devem estar em festa. Penso que os seres celestiais sempre fazem festa quando um justo iluminado retorna para casa, depois de travar lutas e batalhas incessantes aqui na terra.

Enquanto os céus se alegram e fazem festa, a humanidade e, principalmente, o povo sul-africano, chora a morte de Nelson Mandela, um ser humano provado no fogo das batalhas da vida - também o ouro, para atingir brilho e esplendor, é provado no fogo. Desde quinta-feira (05), o país chora a morte de seu filho ilustre, a quem eles amam como um filho ama um pai. No domingo, começaram as celebrações oficiais pela morte do líder político e baluarte na luta contra o apartheid. Em cidades grandes e cidades pequenas, em aldeias próximas e vilarejos distantes, nas Igrejas ou nas Sinagogas, nas ruas ou dentro de casa, sozinhos ou comunitariamente, os sul-africanos dobraram os joelhos em preces. Eram como almas que, em um momento sobem aos céus e compartilham com os anjos a felicidade de ter nascido, entre eles, um homem extraordinário, um ser de luz; em outro momento descem à terra e choram à morte de Mandiba – como carinhosamente era chamado.

Mais de 70 Chefes de Estado e celebridades são aguardados para o funeral de Mandela, cujo sepultamento ocorrerá dia 15, na semana que vem.

Na Igreja Regina Mundi, maior Igreja Católica da África do Sul, as orações e incensos ascendem, aos céus, de forma mais forte, mais significativa. Em passado não muito distante, sangue negro foi derramado pela polícia branca sobre aquele espaço sagrado.
O sistema de segregação racial ao qual os negros estavam submetidos desde 1950, era absolutamente injusto, mesmo assim, contava com a proteção legal do Estado. Mesmo sendo maioria, os negros eram obrigados a pagar para estudar em escolas superlotadas que ministravam um ensino de péssima qualidade, enquanto os brancos tinham escola de boa qualidade e gratuita. Dados estatísticos mostravam que o percentual de investimento do governo sul-africano no ensino de um branco, era 15 vezes superior ao de um aluno negro.

Imagem: http://sthafrika.tumblr.com/


Em 1975, foi decretado pelo governo, a obrigatoriedade do ensino das línguas africâner e inglês. A medida aprofundava ainda mais a segregação. O idioma africâner, de origem holandesa, era considerado símbolo da opressão, por ser o idioma usado pela minoria branca. Cansados e revoltados com tamanha opressão, na manhã de 16 de junho de 1976, milhares de estudantes negros saíram às ruas para protestar contra aquela situação. A manifestação começou pacífica pelas ruas de Soweto – à época, subúrbio de Johanesburgo. Os jovens cantavam músicas de protesto e gritavam palavras de ordem. Tudo normal como em qualquer manifestação popular. Até que a polícia quebrou a normalidade atirando contra os manifestantes. Os estudantes revidaram atirando contra a polícia as armas que tinha em mãos: pedras. A partir daí o massacre começou. O primeiro estudante a morrer foi um jovem de 13 anos, chamado Hector Pieterson. A foto do jovem sendo carregado nos braços de um amigo foi mostrada em meios de comunicação do mundo inteiro e se tornou um símbolo do protesto. Porém, o mundo só tomou conhecimento dessa cena devido a esperteza do autor da foto. Percebendo que havia feito uma foto importante, Sam Mzima, rapidamente, tirou o rolo de filme da máquina e guardou-o na meia. Quando a polícia chegou para revistá-lo, não encontrou nenhum rolo de filme na máquina fotográfica. Quando a foto foi publicada, Sam teve que sair de Johanesburgo para escapar da perseguição do governo.

Para escapar do massacre, alguns estudantes correram para dentro da Igreja. Certamente pensaram: “Quem ousará profanar esse chão sagrado, derramando sangue inocente”? Para infelicidade deles, a polícia branca ousou. Entrou na Igreja e atirou no grupo de jovens que para lá haviam acorrido e atirou neles, ali mesmo. Centenas de vidas foram ceifadas nesse confronto. Em vez de deixar os negros encurralados, o massacre, só aumentou a revolta dos que lutavam pela libertação de Mandela e o desejo de ver uma África do Sul livre da dolorosa segregação racial.

Hoje, na Igreja Regina Mundi, pode-se apreciar, desenhado nos belos vitrais, uma enorme imagem de Nelson Mandela. Nos dias atuais Soweto é considerada a maior comunidade negra da África do Sul. Segundo o site do Wikipédia, “Em 1983, o Soweto deixou de fazer parte da municipalidade de Johanesburgo , passando a ter o estatuto de cidade e a sua própria administração”.

Vendo o seu país vivendo em harmonia hoje, se entende perfeitamente o choro dos africanos. Não choreis povo sul-africano, pois, dentre vós, nasceu um homem iluminado. Alegrai-vos pelo fato de Deus vos haver concedido o privilégio de ter partilhado momentos da vida com um ser humano especial. Não deixeis que a luz acesa por ele, se apagar jamais.



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