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Cenas de Selvageria e brutalidade no Arena Joinville
Posted by Cottidianos
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01:49
Quarta-feira,
11 de dezembro
Imagem: http://veja.abril.com.br/noticia/esporte/pancadaria-deixa-tres-torcedores-em-estado-grave-no-jogo-atletico-pr-x-vasco |
Uma
guerra brutal entre duas torcidas. Os homens se atacavam ferozmente uns aos
outros. Eles trocavam entre si, socos, tapas e pontapés. Nem mesmo quando um
deles caia, desmaiado, nos degraus das arquibancadas, era poupado da
pancadaria. Alguns tentavam arranjar abrigos nas grades de proteção e eram
encurralados nelas e apanhavam mais ainda. Torcedores que não participavam da
confusão, e cujo erro era apenas estarem em meio à ela, corriam apavorados. Meu
Deus, o que era aquilo?! Eles nem pareciam homens. Assemelhavam-se a
animais selvagens, enfurecidos, se digladiando entre si. Parecia que estávamos
assistindo a gravação de cenas de um filme de violentas brigas entre gangues,
desses que Hollywood sabe produzir muito bem. Infelizmente, não era ficção,
eram cenas reais mesmo. Ninguém acreditava no que estava acontecendo nas
arquibancadas. Nem os jogadores, nem as equipes técnicas, nem os comentaristas
esportivos e nem quem assistia a partida, em casa, pela televisão. A barbárie era
protagonizada por torcedores do Clube Atlético Paranaense e do Clube de Regatas
Vasco da Gama.
Imagem:http://paraisoweb.com.br/whazzup/2013/12/sem-pm-no-estadio-briga-de-torcedores-paralisa-jogo-entreatletico-pr-e-vasco/ |
Essas
cenas horríveis, não se deram em nenhuma praça de guerra. Ao contrário, aconteceu
em um ambiente destinado ao lazer à competição saudável: um estádio de futebol.
Era
domingo (08) e o futebol brasileiro, uma paixão nacional, encerrava os jogos do
Campeonato Brasileiro. As equipes realizavam a última rodada do campeonato.
O
Cruzeiro, time do Estado de Minas Gerais, estava tranquilo. Havia conquistado a
taça com quatro rodadas de antecedência. A equipe mineira conquistou, de fato, a
taça de campeão, quando venceu o Vitória, da Bahia, por 3 a 1. O time mineiro
foi favorecido nessa partida, pelo resultado de outro jogo: Criciúma e Atlético
Paranaense.Àquela altura do campeonato, a equipe paranaense era a única em
condições de alcançar o Cruzeiro na contagem de pontos. A equipe paranaense,
porém, acabou perdendo o jogo por 2 a 1 para o Criciúma, ficando dessa forma,
14 pontos distante do líder Cruzeiro. Era matematicamente impossível, alguém
tirar o título de campeão do Cruzeiro.
Definido
o campeão, antecipadamente, a última rodada do Brasileiro foi marcada, digamos
assim, pelo jogo dos desesperados, ou seja, havia quem não queria ser
rebaixado, no caso do Vasco e quem queria assegurar uma vaga na Libertadores da
América de 2014. Ao final da partida no Arena Joinville, o Atlético Paranaense
venceu o Vasco por 5 a 1. Com esse resultado, a equipe paranaense terminou o
campeonato na terceira posição e, finalmente, conseguiu vaga na Libertadores.
Já o Vasco... A equipe carioca alcançou a décima oitava colocação na tabela e
caiu para a segunda divisão do Campeonato Brasileiro. Diante das cenas
lamentáveis, ocorridas nas arquibancadas, nenhuma das equipes tinha motivos
para comemorar, nem o Atlético Paranaense, nem muito menos o Vasco.
Vamos
ao início do jogo. A partida acontecia no Estádio Arena Joinville, no Estado de
Santa Catarina. A bola, em campo, corria normalmente, como corria em todos os
campos do país. Paulo Baier, meio-campistas do Atlético Paranaense, fez um gol.
Até aí, tudo bem. A coisa começou a
esquentar, quando um grupo de torcedores do Atlético furou o cordão de
isolamento que separava as duas torcidas. A guerra estava declarada. Quando
começou o confronto não havia nenhum policial dentro do estádio. A segurança da
partida estava sendo feita por 90 homens de uma empresa de segurança privada,
contratada pelo Atlético. Imaginem vocês: 90 homens para fazer a segurança de
8.900 pessoas. Quantidades absolutamente desproporcionais, não acham? Quando as
coisas dão erradas, ninguém quer assumir a responsabilidade. A polícia diz que
não podia fazer a segurança dentro do estádio, por causa de uma determinação do
Ministério Público. O Ministério Público diz que não emitiu tal determinação.
Resta saber quem tem razão.
Imagem: http://atarde.uol.com.br/esportes/materias/1554106-com-seguranca-da-pm-reinicia-jogo-atletico-pr-x-vasco |
A
partida ficou suspensa por, cerca de 1 hora e doze minutos. Depois de muita
discussão entre os organizadores, a partida foi reiniciada. Três torcedores do
Vasco foram presos. Outros torcedores foram hospitalizados. Por pura sorte, eu
diria, não houve vítimas fatais.
Esses
fatos, acontecidos no Estádio Arena Joinville, já são, por si só, vergonhosos.
Levemos em consideração que o país sediará a Copa do Mundo de 2014. Nesse caso
o que já era ruim fica ainda pior. As cenas de barbárie na briga entre as duas
torcidas repercutiram de forma negativa na imprensa internacional. Na condição
de brasileiro, tenho vergonha de falar isso, porém, notícia é notícia e precisa
ser transmitida. O El País, da
Espanha dizia: “Barbárie no Brasil”. Em Portugal, o Record, estampava em manchete: “Imagens arrepiantes no país do
Mundial”. O vizinho argentino, Olé,
ironizava: “Selvageria Mundial”.
Diante
da gravidade e da repercussão que está tendo o caso, a Polícia Civil de Santa
Catarina, vai abrir um novo inquérito para apurar todas as responsabilidades, e
não apenas a briga entre torcidas. Um primeiro inquérito já havia sido
instaurado, porém, ele só tratava da prisão dos três torcedores vascaínos. São
eles; Jonathan Fernandes da Silva, Arthur Barcelos Lima e Leone Mendes. A polícia
catarinense também disponibilizou um e-mail para receber denuncias sobre o
episódio. Dos torcedores que foram hospitalizados, o único que ainda se encontra
em leito hospitalar, é Willian Batista da Silva, de 19 anos. Willian chegou ao
hospital com traumatismo craniano. O estado dele é estável, porém inspira
cuidados. Pode-se dizer que o torcedor “nasceu de novo”.
Outro
torcedor que seu deu mal, foi o atleticano, Juliano Borghetti. Juliano,
ex-vereador em Curitiba, ocupava, atualmente, um cargo de Superintende da
Ecoparaná - uma autarquia vinculada a Secretaria de Turismo de Santa Catarina.
Após o incidente, Juliano “pediu” demissão do cargo, pedido que foi prontamente
aceito pelo governador Beto Richa (PSDB).
Após
a selvageria em Porto Alegre, as autoridades brasileiras estão correndo para
apagar o fogo.
Aldo
Rebelo, Ministro do Esporte, sugeriu que sejam criadas delegacias
especializadas, próximas aos estádios. A equipe do governo fará, nesta quinta-feira,
uma reunião para discutir a questão da segurança em eventos esportivos.
Porém,
o que os verdadeiros amantes do esporte precisam, é de ações efetivas que
permitam a eles, assistir a uma partida
de futebol no estádio, em paz, junto com a família e os amigos. Chega de
promessas! Disso já estamos fartos. Por exemplo, em agosto deste ano, também um
domingo, também pelo Brasileirão, jogavam Corinthians e Vasco, no recém-construído,
Estádio Mané Garrincha. No intervalo da partida, integrantes da torcida
organizada, Gaviões da Fiel, invadiram o espaço destinado a torcida Vascaína e,
durante cinco minuto, ameaçaram com palavras e gestos obscenos, crianças e
adultos. A confusão e pancadaria entre as torcidas rivais começou para valer. Crianças
e adultos, que não tinham ver nada a ver com a confusão que os bandidos
promoviam,- digo bandidos, e não torcedores, pois torcedor mesmo, de verdade, é
aquele que vai ao campo apoiar e incentivar o clube e não com a finalidade de promover
a baderna e a confusão – corriam desesperados, tentando sair do meio do fogo
cruzado. Isso, em minha opinião, é puro vandalismo. No caso desse jogo em Brasília,
ninguém foi preso e o processo está parado na justiça.
Deixei
para o final desse texto, a opinião do Dr. Leonardo Andreotti Paulo de Oliveira.
Leonardo é advogado especializado em Direito Desportivo Internacional, é
Diretor Tesoureiro do Instituto Brasileiro de Direito Desportivo – IBDD e é Presidente
da Comissão de Direito Desportivo da OAB/Campinas. Conversei com o Dr. Leonardo
por e-mail. Vejamos o que ele diz:
"A Justiça Desportiva está fazendo a sua parte, punindo os clubes pelos atos de seus torcedores. No entanto, isso não é suficiente e o Poder Público precisa atuar de forma responsável e eficaz, prevenindo a violência e, mais importante, punindo esses "bandidos" travestidos de torcedores. O combate à violência nos estádios de futebol precisa ser feito de forma conjunta e coordenada, envolvendo o Estado e as Entidades Desportivas".
"A Justiça Desportiva está fazendo a sua parte, punindo os clubes pelos atos de seus torcedores. No entanto, isso não é suficiente e o Poder Público precisa atuar de forma responsável e eficaz, prevenindo a violência e, mais importante, punindo esses "bandidos" travestidos de torcedores. O combate à violência nos estádios de futebol precisa ser feito de forma conjunta e coordenada, envolvendo o Estado e as Entidades Desportivas".
Eu ainda acredito na
possibilidade de que as torcidas vivam em harmonia, mas a questão é complicada
e envolve aspectos psicológicos e sociológicos. É uma questão de cultura e não
será fácil eliminar este fenômeno da noite para o dia. A única forma é a
educação nas escolas. Sempre afirmo, as crianças são o futuro na nação. E fazendo
uma reflexão, porque não estabelecer nas escolas de todo o país o dia do
torcedor mirim, por exemplo? Se as crianças se acostumarem, desde cedo, a
conviver com colegas torcedores de equipes diversas, o futuro estará garantido”!
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