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Receita de Ano Novo
Posted by Cottidianos
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10:01
Terça-feira,
31 de dezembro
Quando
os ponteiros do relógio se encontram, na noite de 31 de dezembro, seja no Norte
ou no Sul, no Leste ou no Oeste, no Oriente ou no Ocidente, algo mágico
acontece. Há em todos os corações uma explosão de alegria e felicidade indescritíveis.
Quem dera que as únicas bombas que explodissem em nosso mundo fossem as da paz,
da amizade, da concórdia, da boa união... Aí sim, teríamos, de verdade, um ano
realmente novo. “Isso é utopia”, diria você. “Alimentar essa esperança é uma
utopia, eu sei, mas o que seria do mundo sem as utopias?”, pergunto eu. Elas,
no decorrer da história, podem não ter mudado o mundo, mas que mexeram com a
estrutura dele, ah, isso mexeram.
Quando
as luzes de fogos multicoloridos explodem nos céus, pelo mundo afora, anunciando
a chegada de um novo ano, muitas são as esperanças de realizar os sonhos que
não conseguimos realizar ano passado... São abraços, apertos de mãos. Às vezes
nem ao menos conhecemos a pessoa que está ao nosso lado, mas fazemos questão de
exibir o melhor de nossos sorrisos e dizer, em alto e bom som: FELIZ ANO
NOVO! Com aqueles que conhecemos e que
nos são queridos, então, a emoção é dobrada.
Quando
uma garrafa de champagne estoura na passagem de um ano para outro, ela deixa de
ser apenas uma garrafa do milenar liquido borbulhante e passa a se revestir de
um significado maior. O liquido que estoura e sai da garrafa com toda força,
como se aquela prisão do vidro não fosse digna de contê-lo, é como os sonhos
que cochilam dentro de nós, esperando apenas o momento em que abramos a garrafa
de nossa esperança para que eles possam sair com força, vigor e vitalidade. O
champagne, ao ser estourado na virada do ano, é um divisor de águas entre um
ano que já faz parte de nosso passado e outro no qual depositamos todas as nossas
expectativas. Talvez seja isso que anime todos os povos a comemorar com alegria
contagiante esse momento singular: o fato de que o nosso combustível, aquilo
que nos anima a caminhar e atravessar todo o ano, é a esperança no bem viver. Quem,
em sã consciência, colocará o pé no ano vindouro, pensando o pior de si mesmo? A
unanimidade quer alegria, paz, sucesso, prosperidade. É um instinto natural
querer o bem para nós mesmos e para os que nos rodeiam.
E
qual a receita para isso? Pular sete ondas? Comer caroços de romã em cima de
uma cadeira? Vestir peças de roupas brancas na passagem do ano? São tantas as superstições
que poderia passar todo esse texto enumerando-as. Você, certamente, tem as
suas. É bom que as tenha, faz parte do show. Se isso lhe traz energias positivas,
que as faça então. Mas não esqueça, porém, que a melhor receita de ano novo é
deixar acordar o Ano Novo que cochila dentro de você desde sempre. Esse é o
ingrediente especial que fará com que cresça aquele bolo da felicidade que você
está preparando faz tempo.
Mas
quem pode falar com mais propriedade que eu a respeito dessa eficiente receita
não sou eu, é um mestre das palavras, o grande escritor brasileiro, poeta,
contista e cronista, Carlos Drummond de Andrade. Drummond nasceu em Itabira do
Mato Dentro, no Estado de Minas Gerais, em 31 de outubro de 1902 e morreu no
Rio de Janeiro, em 17 de agosto de 1987. Começou a carreira como colaborador do
Diário de Minas, jornal que reunia em
seus quadros, adeptos do iniciante movimento modernista mineiro. Drummond foi,
seguramente, o poeta brasileiro mais influente de sua época ao abordar temas
universais, como a vida, o homem e o mundo sob uma perspectiva filosófica. O
escritor tem suas obras traduzidas para diversos idiomas.
É
com a Receita de Ano Novo, de Drummond, que estouro, agora, os fogos
multicoloridos e o champagne com vocês e, de coração, lhes desejo um ano
realmente novo. FELIZ ANO NOVO!
Que
2014 seja um ano pleno de realizações para todos nós!
Um
grande abraço e até o ano que vem.
Receita de Ano Novo
Para
você ganhar belíssimo Ano Novo
Cor
de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano
Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal
vivido ou talvez sem sentido)
Para
você ganhar um ano
Não
apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
Mas
novo nas sementinhas do vir-a-ser,
Novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a
começar pelo seu interior)
Novo
espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
Mas
com ele se come, se passeia,
Se
ama, se compreende, se trabalha,
Você
não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
Não
precisa expedir nem receber mensagens
(Planta
recebe mensagens?
Passa
telegramas?).
Não
precisa fazer lista de boas intenções
Para
arquivá-las na gaveta.
Não
precisa chorar de arrependido
Pelas
besteiras consumadas
Nem
parvamente acreditar
Que
por decreto da esperança
A
partir de janeiro as coisas mudem
E
seja tudo claridade, recompensa,
Justiça
entre os homens e as nações,
Liberdade
com cheiro e gosto de pão matinal,
Direitos
respeitados, começando
Pelo
direito augusto de viver.
Para
ganhar um ano-novo
Que
mereça este nome,
Você,
meu caro, tem de merecê-lo,
Tem
de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
Mas
tente, experimente, consciente.
É
dentro de você que o Ano Novo
Cochila
e espera desde sempre.
(Carlos Drummond
de Andrade)
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