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Uma fortaleza chamada maestro Urban
Posted by Cottidianos
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23:28
Segunda-feira, 26 de
outubro
Há
pouco mais de um mês, o arborizado local que abriga a sede do Coral Pio XI tem
provado um pouco de silêncio nas tardes de sábado. Já não se ouve mais os sons
do teclado, nem as vozes dos coralistas, às vezes afinadas, às vezes
desafinadas, mas sempre com a mão forte e precisa do maestro a conduzir o fio
da meada, melhor dizendo, da música, e corrigir os erros. Também não se ouvia a
voz do maestro, às vezes mansa, às vezes brava, mas sempre com a intenção de
colocar os pingos nos is, ou melhor dizendo, nas notas musicais. Música ouvida nas
dependências da Rua Rafael de Rosa, 187, no Jardim das Paineiras, eram apenas a
suave melodia do vento e doce canto dos pássaros.
Sou
um dos 30 coralistas do Coral Pio XI e, no início do mês de setembro, recebi a
notícia, por mensagem de texto, de que algumas apresentações do Coral Pio XI,
tinham sido canceladas, por motivo de saúde do maestro Urban. Fiquei
preocupado. Como também, tenho certeza, ficaram preocupados os demais
coralistas. Os sábados foram passando e nada de novidades. Nenhuma notícia de retorno
às atividades. Isso só fazia aumentar a inquietude da espera. Perguntava a um:
—
Como está o maestro?
—
Não está bem. Os médicos recomendaram que ele ficasse em absoluto repouso, e
não recebesse visitas.
Na
verdade, era o que todos gostaríamos de fazer: ir visitá-lo, saber como estava
sua saúde. De uma coisa, porém, tínhamos certeza: O maestro Urban devia estar
sofrendo bem mais com a ausência nos corais que rege, Pio XI, e Vozes Amigas,
do que, propriamente, com o problema de saúde que o incomodava.
E assim,
foram se sucedendo os sábados de setembro, e também os de outubro. Até que,
finalmente, no meio da semana passada, o presidente do Pio XI, José Carlos
Corona, envia uma mensagem de texto, convocando todos para a sede do coral, no
sábado à tarde, às 16hs, costumeiro horário dos ensaios e, mais surpreendente
ainda, de que o maestro estaria lá. Fiquei animado com essa notícia e queira que
o sábado chegasse mais rápido.
Aconteceu
que tive uma sexta-feira bastante corrida, e a manhã de sábado também. De modo
que, no sábado à tarde, fui vencido pelo cansaço, e o sono me dominou. Em consequência,
não fui ao esperado ensaio.
No
domingo pela manhã, bem cedo, fui dar umas pedaladas pelas trilhas de Souzas e
Joaquim Egídio. Fazer um pouco de exercício no meio da tranquilidade daquelas
verdes paisagens é um estímulo para o coração, que já vem sendo estimulado, e
muito bem estimulado, diga-se de passagem, pela distância percorrida, e pelas íngremes
subidas. Ao voltar desse gostoso e agradável passeio, decidi ir à casa do Gentil,
que também canta no Pio XI. Por ele fui informado que, no domingo, 25, à noite,
haveria uma homenagem ao maestro, na sede do coral. Fiquei na expectativa. Pelo
jeito que ele falou parecia que ia ser algo bem simples. Apenas íamos lá, os
integrantes do Coral, e cantaríamos algumas músicas para ele, celebrando seu
retorno, e tudo bem.
Porém,
quando cheguei ao local, tive uma empresa, ao perceber que, no salão, havia
sido montada uma estrutura para cerca de cem pessoas. Assim que adentrei o
ambiente, vi que outro coral estava no palco, ensaiando. Era o Coral da
Petrobrás da Refinaria de Paulínia, uma cidade próxima a Campinas. Na verdade,
o motivo da festa era o seguinte: O Coral da Petrobrás, de Paulínia, SP, estava
completando 40 anos de atividades e queria celebrar essa data homenageando o
maestro Urban. O Coral da Replan (Refinaria de Paulínia), como também é
conhecido, foi fundado em 1975, pelo maestro Urban e, desde então tem primado
pela beleza e harmonia de suas apresentações. Atualmente, o Coral da Petrobrás
é regido pelo jovem maestro, Rafael Garbuio.
Pouco
a pouco, os demais convidados foram chegando, acomodando-se nas cadeiras. O clima
estava ameno e, devido ao horário de verão, quando a noite tardar em chegar,
ainda se podia aproveitar a claridade daquele agradável e especial fim de tarde
de domingo. O convidado mais aguardado da noite, o maestro Urban, chegou pouco
depois das oito, acompanhado da esposa, Letícia, dos filhos Marcelo e Márcio, e
dos netos.
O Coral
da Petrobrás subiu ao palco, e sob a regência de Rafael Garbuio, interpretou,
magnificamente, alguns clássicos do cancioneiro brasileiro, sendo muito
aplaudidos ao final de cada interpretação musical. Um coro de cerca de 30 vozes, masculinas e
femininas, enchia o ambiente, fazendo-me lembrar do doce canto das aves que
enfeitam as belas e exóticas árvores que enfeitam o terreno onde fica a sede do
Pio XI.
Após
a bela apresentação do Coral da Petrobrás, subiu ao palco, o coral de vozes
masculinas, Pio XI. E como diz o ditado, o Coral Pio XI também “não deixou a peteca
cair”, interpretando algumas músicas de seu repertório sacro. O Coral Pio XI,
foi regido, como não poderia deixar de ser, pelo maestro Urban, que, mesmo
estando ainda um pouco debilitado fez questão de reger os seus coralistas. Ao teclado,
acompanhando o coral, estava o tecladista, Francisco Emanuele.
Finalizando
a apresentação com a música que é carro-chefe do grupo, sendo cantada ao final
de, praticamente, todas as apresentações do coral, que é a música, Creio em Ti — versão do clássico americano,
I Believe, da autoria de Erwin Drake,
Irvin Graham, Jimmy Shirl, e Al Stillman .
Para finalizar o evento, o Coral da Petrobrás juntou-se no palco ao Coral Pio
XI, para cantar a música, Um Dia Especial,
com letra e música do Maestro Urban. O maestro Rafael Garbuio, se posicionou
entre os coralistas para entoar a música junto com eles, mas teve que descer do
palco, pois foi chamado pelo maestro Urban, para, junto com ele, reger a
música, misturando assim, nova e velha geração de maestros. Assim diz a letra
da música:
Este,
Senhor, é um dia muito especial,
Dia
de amor, de paz, carinho e emoção!
Tua
bondade, se fez em mim, Senhor!
Eu
te agradeço, de todo o coração.
A ti, Senhor, glória e louvor,
Graças e hosanas ao teu imenso amor.
A ti, Senhor, glória e louvor,
Graças e hosanas ao teu imenso amor.
Após
a belíssima e emocionante apresentação, todos foram convidados a um lanche,
pois já eram quase dez horas da noite, e além de fome de música, todos também
sentiam fome de pão material.
Enquanto
voltava para casa, pensava no sorriso de felicidade no rosto do maestro e do
brilho em seus olhos enquanto assistia a apresentação do Coral da Petrobrás, e
também quando regia o Pio XI. E, sem querer, lembrei-me da postagem que havia
feito no domingo, 25, cuja poesia, intitulada, O homem forte, ressalta as características do homem que, em meio as
adversidades da vida, conserva o sorriso no lábios, o brilho nos olhos, e a
ternura no coração, e vislumbrei o maestro na figura daquele homem. Admiro em
Urban essa bravura, essa fé, essa força, que o faz ir adiante, de cabeça
erguida, mesmo que os ventos não lhe sejam favoráveis naquele momento. Um homem
que, mesmo sentindo o peso da idade, não se entrega aos caprichos dela. Quando muitos
se entregariam, resignados, aos males da vida, ele, ao contrário, faz como diz,
Paulo Vanzolini, na canção, Volta por Cima, “Levanta, sacode a poeira, e dá a
volta por cima”.
Hoje,
dia 26 de outubro, é o aniversário desse guerreiro, chamado Oswaldo Antonio
Urban, que nesta data, completa, 96 anos, e que se pode dizer sem medo de errar:
96 anos bem vividos.
Maestro
Urban, ao senhor, dedico estas linhas que acabo de escrever, e lhe digo que me
sinto honrado em conhecê-lo, sinto-me honrado em ter cruzado seu caminho. Aproveito
para lhe agradecer as constantes oportunidades de crescimento e aprendizado que
o senhor me proporciona.
No
dia de ontem, ao final das apresentações dos corais, o senhor colocou-se diante
de nós na condição de pai. E, em nomes de todos os coralistas, eu lhe digo que
sentimo-nos inspirados em ter um pai como o senhor.
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