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Crise econômica brasileira chega a área de ciência, tecnologia e inovação
Posted by Cottidianos
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00:23
Quinta-feira, 08 de outubro
Texto publicado no site do Senado Federal,
diz que se compararmos a proporção, em relação ao PIB (Produto Interno Bruto),
de investimentos em pesquisa e tecnologia no Brasil com os números de outras
nações da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), dos
Brics — grupo político de cooperação
formado pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — e de outros países
da América Latina, veremos que o Brasil só está acima do México, Argentina,
Chile, África do Sul e Rússia. Quando comparado a países que muito recentemente
inciaram a corrida pela busca de inovações tecnológicas, por exemplo, China e
Coreia do Sul, há uma ponte enorme nessa área separando o Brasil de tais países.
“A
grande diferença entre o Brasil e os outros países desses grupos é o volume de
investimento em pesquisa e desenvolvimento feito pela iniciativa privada. O
0,55% do PIB aplicado pelas empresas brasileiras está longe dos 2,68% investidos
pelo setor privado da Coreia do Sul ou dos 1,22% da China, por exemplo. Quando
se comparam os investimentos públicos, no entanto, os gastos do Brasil estão na
média das nações mais desenvolvidas: o 0,61% do PIB brasileiro está próximo do
percentual investido pelo conjunto dos países da OCDE (0,69%)”, afirma o
texto, em citação literal.
Do parágrafo acima, podemos concluir
que o Brasil é um dos países de economia relevante do mundo em que o setor público
investe mais nas áreas de inovação, ciência e tecnologia, do que o setor
privado.
Apenas de posse da informação podemos
dizer: “Que legal! O Brasil está em um bom caminho, afinal o Estado brasileiro
investe em áreas essenciais para um país que pretende caminhar a passos firmes
rumo ao desenvolvimento”.
Cuidado com a empolgação, pois temos aí
uma armadilha perigosa. Pois, quando é deixado na responsabilidade do Estado o
gerenciamento de uma peça fundamental no desenvolvimento de qualquer país, como
é o caso da ciência, quando o Estado atravessa uma crise econômica, investimentos
são cortados, e se o país já tem uma tendencia a deixar a educação em segundo
plano, são cortados investimentos nas áreas de ciência, inovação, pesquisa e
tecnologia. É curioso, para não dizer dramático, que o setor privado não faça
maiores investimentos nas áreas citadas, pois quem mais teria a ganhar seriam a
indústria, em produtividade e lucro. Mas também é curioso, e também para não
dizer dramático, que no Brasil as coisas parecem funcionar pelo seu avesso.
A respeito desse assunto, apresento a
vocês as palavras de Luiz Álvarez-Gaume, pesquisador do CERN (Conselho Europeu
para Pesquisa Nuclear), em entrevista ao El País, citado na matéria, Por que o
investimento em Ciência é essencial para o desenvolvimento do Brasil?, do site, Além do Laboratório: “Está claro que
todos os países onde há um investimento em ciência básica são países nos quais
não houve crise, ou quase não houve. Onde há P+D+i [pesquisa, desenvolvimento e
inovação], como Suíça, Finlândia e Japão, a crise mal se nota, e na verdade o
que eles têm feito é investir mais. Na Espanha, investiu-se muitíssimo dinheiro
nos Jogos Olímpicos de 1992, e agora somos uma potência mundial em nível
desportivo. É surpreendente que um país com 40 milhões de habitantes tenha
resultados comparáveis a países muito maiores. É um investimento que floresceu
com o tempo. A ciência é muito mais difícil. Fazer um Contador [Alberto
Contador, ciclista] é fantástico, mas fazer um Einstein, um Galileu ou um
Newton leva muito mais tempo. É necessário um investimento sistemático, não
cortar cada vez que há um problema, porque isso é ter uma miopia atroz”.
Do que foi dito até agora, temos visto
exemplos claros nesses tempos em que o Brasil atravessa uma grave crise
econômica. Esta não hesitou em mirar como alvo também a ciência, e obviamente,
os cortes já se fazem sentir nas pesquisas de inovação e tecnologia em
institutos e universidades de todo o país.
Dados estatísticos apresentados pela
matéria, O Brasil está à beira de um apagão científico, apresentados pelo site da revista Época, mostra que nos últimos anos, o Brasil vinha aumentando seus
investimentos em ciência. Foram R$ 1,6 bilhões, em 2011; R$ 18,bilhões, em
2012; R$ 2 bilhões em 2013, e R$ 1,4 bilhões, em 2015. Ou seja, vinhamos em um
crescendo nos investimentos em áreas fundamentais para colocar o país na trilha
do desenvolvimento, que foi interrompida com medidas econômicas equivocadas. Seguindo
o raciocínio do pesquisador Luiz Álvarez-Gaume, ao cortar gastos em áreas tão
importantes, o Brasil chama para si uma miopia atroz.
Um infográfico apresentado na matéria
da revista época e que aqui reproduzo, mostra que o Brasil — em relação a
países nos quais crise econômica não existe, ou se existem, quase não são
sentidas — investe uma porcentagem muito menor de seu PIB. Vejamos o
infográfico:
Essa interferência da crise na ciência
não aconteceu, assim, do nada. Ela já vem sendo sentida desde o ano passado. Devido
ao fato de muitos equipamento serem importados a alta do dólar, atinge,
diretamente, a ciência brasileira. Dizendo de outro modo, a alta do dolár é uma
ótima desculpa para a acionar a tesoura afiada de um governo ávido por cortar
despesas.
O caldo engrossou a partir de julho
deste ano, quando o governo cortou recursos da Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Por causa disso, “A Universidade Federal da
Bahia (UFBA), por exemplo, anunciou que estava simplesmente paralisando seu
programa de pós-graduação, já que sofreu corte de 75% nos recursos da Capes.
Outros anúncios se seguiram, com o da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ) dizendo que o corte "afeta de modo irreparável cada um dos
programas de pós-graduação da UFRJ e das demais universidades públicas”,
diz a reportagem de Época.
Evidentemente que todo esse quadro não
poderia passar despercebido pela comunidade cientifica internacional. No final
do mês passado, uma das revistas científicas mais renomadas do mundo, a Nature, publicou artigo em uma de suas
edições, que destacada os efeitos da crise na pesquisa científica brasileira. Segundo
o artigo da revista, a situação tende a ficar pior, pois o orçamento
apresentado por Dilma Rousseff para 2016, prevê um corte de 24% nas verbas para
o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), a medida ainda congela
os subsídios para o programa de intercâmbio internacional Ciências sem Fronteiras.
Diante de tudo isso podemos concluir
que além de pesquisadores e cientistas, os nossos profissionais da ciência,
merecem ainda outro título: o de heróis, pois, enquanto em países
desenvolvidos, o investimento em ciência e tecnologia é prioridade, nos quais
laboratórios de última geração funcionam com perfeição, onde dinheiro para
investimento em pesquisa não é problema, e onde os pesquisadores sabem que
podem contar com o governo para despesas com congressos e viagens relacionados
ao tema, os pesquisadores brasileiros tem de batalhar, e muito, para conseguir
um mínimo de resultados.
Pois é povo brasileiro, há uma outra
crise, a crise da ciência, que por sua vez, é consequência da crise econômica, que
pode atravancar o desenvolvimento de nosso país.
Assim é no Brasil: investimento em
ciência, tecnologia e inovação são cortados, mordomias do governo,não. Isso
não. Definitivamente, não.
Algo está errado, ou sou eu que estou
louco?
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