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Falando de Igualdade Racial em ondas AM
Posted by Cottidianos
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16:34
Sábado,
17 de outubro
Antes
de iniciar o assunto deste post propriamente dito, gostaria de lembrá-los de que
hoje, à meia-noite deste sábado (17), para domingo (18), deverão adiantar os
relógios em uma hora, se moram nos seguintes lugares: Distrito Federal, Espírito
Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio do
Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, e São Paulo. Os relógios deverão
ser mantidos nesse horário até o dia 21 de fevereiro de 2106. Há quem goste, há
quem deteste, mas o fato é o de que os moradores destes 10 estados, e do
Distrito Federal, deverão submeter-se a ele.
***
J. Tannus, apresentador |
O entrevistado do programa, O Direito
Nosso de Cada Dia, no dia 07 de outubro, foi o Dr. Ademir Silva, advogado
militante da causa do povo negro. Num bate papo sério com o apresentador do programa,
o também advogado, Jorge Tannus, foram discutidos assuntos de grande
importância nessa área. Na conversa, se falou de resgate da história do povo
negro, do lento avanço dos negros em cargos e empregos de destaque no cenário
nacional, da Comissão da Verdade sobre a Escravidão Negra no Brasil, das
instituições que levantam a bandeira da luta para que a igualdade entre as
raças seja respeitada, da opressão sofrida pelos escravos no passado de nossa
nação, e outros assuntos.
O Programa, O Direito Nosso de Cada Dia, é um programa de variedades, e existe está no ar há quatro anos, pela Rádio Brasil Campinas AM 1270, desde ela foi comprada pela Arquidiocese de Campinas.
O apresentador J. Tannus traz ao público assuntos de relevância para uma melhor
compreensão do mundo em que vivemos. O programa sempre traz um entrevistado
para ajudar a jogar luz sobre essas questões. O fato de ser advogado ajuda
bastante na condução das entrevistas. Além de apresentador de rádio, o Dr. Tannus também é apresentador de
programas televisivos, também autor do blog Palavra de Honra.
A seguir, apresento-vos a entrevista do
Dr. Ademir Silva, à Rádio Brasil Campinas.
***
Dr. Ademir Silva |
J. Tannus - Lutar pela
igualdade racial, eu tenho certeza, e não vai demorar muito, esse é um tema que
o pessoal vai esquecer, porque é inacreditável, uma sociedade que se diz
civilizada, ainda precise buscar na lei, na participação política, temas dessa
natureza.
Vamos
conversar com o Dr. Ademir José da Silva, presidente da Comissão de Igualdade
Racial, da OAB-Campinas, Membro do Conselho Municipal de Participação e
Desevnvolvimento da Comunidade Negra de Jundiaí, Membro da Comissão da Verdade
sobre a Escravidão Negra no país, entre outras atividades… Dr. Ademir José da
Silva, bom dia!
Dr. Ademir
Silva - Bom dia Dr. Tannus, e a todos
os seus ouvintes da Rádio Brasil .
J. Tannus - Eu não
exagerei não, né? Eu acho que no futuro temas como esse vão ser temas da
pré-história da civilização.
Dr. Ademir
Silva - É o norte que buscamos. Nós
pretendemos, primeiro resgatar a história do negro no Brasil, e a partir desse
resgate, apontarmos para um futuro menos doloroso do que tem vindo durante,
praticamente, esses quinhentos anos de Brasil. Quase quatrocentos anos de
escravização, e mais cento e poucos do pós-escravidão, dos quais as práticas
têm sido uma continuidade.
J. Tannus - Mas a gente
tem hoje números que devem ser ditos e destacados, por exemplo, no que diz
respeito as novas empresas que estão sendo hoje empreendidas no Brasil, já há
uma maioria negra, comandando, administrando, enfim, se destacando na atividade
privada, o que é um alento, o Sr. não concorda com isso, Dr. Ademir?
Dr. Ademir
Silva - Em parte. Se compararmos à
parcela da população que significa a parcela dos negros no Brasil, é insignificante.
Nós temos, assim, lampejos aqui e acolá, e não devemos desprezar…
J. Tannus - Mas pelo
menos o gráfico tá crescendo…
Dr. Ademir
Silva - … Há um grande caminho a ser
percorrido.
J. Tannus - Mas o gráfico
tá ascendente, não é decadente mais, pelo menos isso, né?
Dr. Ademir
Silva - Embora muito vagarosamente.
J. Tannus - Fale um pouco
da Comissão da Verdade da Escravidão Negra no Brasil, porque já é uma comissão
nacional.
Dr. Ademir
Silva - Na realidade, muito
interessante, essa comissão. Ela nasceu no seio do Conselho Federal da Ordem
dos Advogados do Brasil. Era um fato que eu tinha, nos nossos estudos, nos
nossos trabalhos, mas que a gente não percebia a possibilidade de isso
acontecer em nossa existência. E foi muito gratificante, no final do ano
passado, o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, tomar essa
iniciativa, de forma a levantar a resposta pra três perguntas: A escravidão
negra no Brasil foi um crime? Se foi um crime, quem o cometeu? E quais as
formas de responsabilização. Então, esse avanço e, porque ter nascido no
Conselho Federal, no seio da OAB, e está hoje em todas as seccionais estaduais,
e também em várias cidades, em todo o Brasil, isso é alentador pra nós. Dado o
grau de respeito que a OAB tem, o conceito que a OAB tem, e a seriedade dos
seus trabalhos, e também da defesa da cidadania, defesa da Constituição.
…
Então pra nós é muito gratificante. Essa comissão é
uma comissão criada com nível de comissão permanente, ela não vai perdurar
somente durante os trabalhos, esse trabalho que nós temos um ano a partir de
agora, nós temos que concluir o levantamento dos relatórios em outubro de
2016. Nós tomamos posse na comissão estadual no dia 18 de agosto, e no dia 24,
na secional Campinas.
J. Tannus - Como é que se
dá o entrosamento entre o Conselho Estadual de Participação e Desenvolvimento
da Comunidade Negra, em São Paulo, com a Comissão da Verdade da Escravidão
nacional?
Dr. Ademir
Silva - São atividades congruentes,
na realidade, hoje, não só o Conselho da Comunidade Negra, mas como as CEPIRs (Coordenadorias
Especiais de Promoção da Igualdade Racial), que existem em várias cidades. Aí
em Campinas tem a Cepir de Campinas, aqui em Jundiaí, tem a Cepir de Jundiaí, e
várias outras cidades, a Cepir de São Paulo.Aqui é coordenadoria, Campinas é
coordenadoria, São Paulo é uma secretaria, essas comissões e os conselhos,
cuidam dos assuntos do presente. A Comissão da Verdade, vai levantar fatos do
passado ao presente. Então é uma busca de reescrever, ou recontar com outros
olhares a história do negro no Brasil.
J. Tannus - Tem parte da
história que foi omitida, ninguém sabe. Deixa eu só fazer uma pergunta para os
ouvintes entenderem o motivo disso. Tem muita gente que fala assim: “Ah, mais
porque? Já tem as cotas, o que a comunidade negra quer a mais?” Eu quero fazer
uma pergunta pro senhor, para o senhor nos esclarecer, porque eu me lembro que
na minha juventude, um negro, por exemplo, ele poderia ter tido um avô escravo,
não sei hoje, em termos de tempo, dentro de uma família, isso pros ouvintes
entenderem, como é importante o resgate da história, da auto-estima, porque, às
vezes, parece uma coisa muito distante, mas essa sensação, este dano causado
pela escravidão, ele ainda está presente em muitos lares de afro-descendente,
de negros brasileiros, não é verdade?
Dr. Ademir
Silva - Tanto está presente nas
feridas das famílias afro-brasileiras, como está presente nas riquezas que
essas famílias, que esses antepassados produziram que estão sendo usufruídas
pelas famílias que, embora não lembrem, “ah, o meu avô poderia ter sido um
escravocata, mas a riqueza tá aí permanente. É um contraponto.
J. Tannus - E
importantíssimo, não podemos esquecer o passado. Eu tô vendo aqui um dos
trabalhos da Comissão da Verdade da Escravidão Negra, tô lendo provas, tô lendo
um texto da comissão nacional, de antigos ataques a comunidades quilombolas,
Brasil afora, uma delas diz respeito ao quilombo de Campo Grande, Minas Gerais,
onde mais de 3.500 quilombolas foram mortos e tiveram suas orelhas arrancadas,
na época era o bandeirantes que comandava isso, a fim de provar as execuções e,
em troca, receberem 90 quilos de ouro.
Dr. Ademir
Silva - Ele ganhava por prova de cada
orelha que ele apresentava.
J. Tannus - Então as
pessoas da sociedade contemporânea, elas não têm a menor ideia da opressão
moral e física a que foram submetidos os afro-descendentes nesse país, aliás,
os negros nesse país.
Dr. Ademir
Silva - Mãe de leite, quando a
escrava tinha que dar o leite dela para o filho do senhor, o filho dela era
subtraído, morria. E o objetivo dessa comissão é hoje, em interação com os
institutos, universidades, bibliotecas, com os historiadores. É importante,
nesse momento, nós estamos buscando o apoio de outras áreas, porque o Direito
sozinho, não dá conta dessa tarefa. Então nós precismos da Antropologia, precisamos
da História, precisamos da Psicologia, porque teve também os danos
remanescentes, doenças… até da medicina… doenças oriundas desse processo pelos
quais os negros escravizados passaram, e que remanescem até hoje, e nas nossas
famílias.
J. Tannus - Eu espero que a sociedade se sensibilize e aqui o que nós pregamos é a dignidade, o respeito pelo ser humano.
Dr. Ademir
Silva - A dignidade da pessoa humana,
o respeito, evidentemente que muitos irão perguntar, mas como vocês vão querer
resgatar essa dívida. Evidentemente, nós não temos essa resposta de imediato,
mas para onde a gente pontua? A gente pontua no sentido de realmente demarcar
no Brasil, o lugar que ocupou, a contribuição que os negros escravizados
fizeram para a produção dessa nação, para a criação dessas riquezas. E através
de política reparatórias reconhecidas e mais céleres do que se tem hoje e, às
vezes, por desconhecimento de muitos, ou má-fé de outros, essas políticas são
questionadas, como se fosse um favor, como se fosse algo que já se deu muito e
está querendo mais. Evidentemente, que não é um trabalho dessa comissão, mas é
apontar a dificuldade que temos hoje para apontar a demarcação das terras dos
quilombolas, está lá na Constituição. Está lá definido, mas há dificuldade para
se concretizar, materializar esse direito.
J. Tannus - Dr. Ademir José da Silva, advogado, um
representante dos interesses dos afro-descendentes do negro brasileiro, o Sr.
dá muita dignidade só pela sua luta diária, que eu sou testemunha, eu sou
testemunha da sua devoção a lutar para que a sociedade brasileira entenda que
não se trata simplesmente do que nós já dissemos aqui, de caridade, se trata de
Direito, direito fundamental do indivíduo, de resgate da história, e de compromisso
com a verdade. Dr. Ademir, muito obrigado pela sua participação.
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