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Professor, professora, neste seu dia, nosso muito obrigado!

Posted by Cottidianos on 21:32
Quinta-feira, 15 de outubro

Quem com pó de giz, um lápis e um apagador,
Deu o verbo a Vinícius, Machado de Assis, Drummond?
Quem ensinou piano ao Tom?
Quem pôs um lápis de cor, nos dedos de Portinari,
Picasso e Van Gogh?
Quem foi que deu asas a Santos Dumont?
Crianças tem tantos dons, só que às vezes não sabem.
Quantos só se descobrem, porque o mestre enxergou

(O Professor – Amilson Godoy e Celso Viáfora)



Ah, Deus como tenho saudades dos pátios da escola em minha meninice... Quantas brincadeiras!... Quantos sonhos!... Quanto carinho!... Quanta inocência!...
 Olhando por sobre os ombros para aquele tempo passado, vejo que, em se tratando de peraltice da meninada, nada mudou. As crianças continuam tão travessas e tão surpreendentes quanto antes, e sempre o serão, pois essa é a essencia da infância. É o tempo do experimento, da descoberta, da alegria, da brincadeira, e por isso mesmo requer sempre a presença de um adulto por perto, orientando, seja pai, mãe, irmão ou professor. Nesse voltar no tempo, vejo que uma coisa mudou, e isso muito me entristece. É que naquele tempo, havia na sociedade uma atitude de respeito para com o outro. Os pais tinham autoridade sobre os filhos. Os filhos respeitavam os pais, respeitavam os mais velhos, respeitavam os professores. Hoje, salvo exceções, os pais perderam o controle sobre os próprios filhos. Os filhos não tendo respeito para com os pais, também não o tem para os professores e os mais velhos. O resultado disso, são os absurdos que se vêem pelo que é noticiado na imprensa: professores ameaçados pelos alunos, uma juventude agressiva, capaz de agressões brutais entre si, capazes de passar cola na cadeira do professor, dentre outros absurdos.
Na sala de aula daqueles meus primeiros dias em frente ao mar de letras e números, quanto zelo, quanta dedicação de minhas professoras e professores! Dar aulas para universitários é fácil. Eles já chegam à universidade prontos, ou quase prontos, sabendo se querem, ou não, mergulhar no mar de conhecimento. Resta ao professor instigar esse desejo de saber, conduzir o aluno pelas estradas do aperfeiçoamento àqueles que já sabem caminhar.

Nas séries iniciais, não. O aluno não chega pronto. É jóia a ser lapidada… E lapidar jóias requer um grande e paciente trabalho. O professor não pode jogar o pequeno aspirante a aprendiz no mar do conhecimento, primeiro, porque ele não tem noção do que seja isso, depois, porque se assim o fizer, corre o risco de afogar quem nem ao menos aprendeu a nadar. Educar, sobretudo nas séries iniciais, é um trabalho que tem que ser feito, digamos, à conta gota, para que tudo saia a contento.
Quem de nós já chegou à escola sabendo pegar no lápis e enchendo o caderno de palavras bonitas e agradáveis. Ao contrário, quando nos sentamos pela primeira vez no banco da escola, não sabíamos escrever um simples a. Foi preciso uma mão mais sábia, mais forte e mais ágil a guiar a nossa pequena e frágil mão, e nos ensinar a fazer pequenos rabiscos, que depois se tornaram letras, e depois palavras, até se tornarem textos complexos.
Dessa forma, íamos prosseguindo nossa aventura na escola, seguindo as orientações de mestres que, por sua vez, nos preparavam para a grande escola da vida. Com eles, aprendíamos a língua oficial e, enquanto isso, na rua, aprendíamos a linguagem não oficial, as gírias, os diferentes modos de falar, tão peculiares a cada região. Assim, também aprendíamos que qualquer ocasião é uma oportunidade de crescimento, de aprendizado.

E os desenhos? Como era bom fazê-los. Não eramos nenhum Maurício de Souza, ou Picasso, ou Van Gogh, mas nossos desenhos, mesmo parecendo apenas esboços de imagens, eram os melhores, os mais bonitos, pelo menos era isso que a professora dizia. Quando perguntávamos: “Ficou bonito o meu desenho?” Ela, orgulhosa, respondia: “Ficou maravilhoso!”. Uma folha em branco: Era tudo o que queríamos para deixar fluir a nossa fértil imaginação. Acho que todas essas nossas primeiras emoções estudantis, e por que não dizer, essas nossas primeiras experiências de vida, foram muito bem expressas na canção, Aquarela, tão belamente composta e interpretada por Toquinho. Diz ele na canção:
Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo.
Corro o lápis em torno da mão e me dou uma luva,
E se faço chover, com dois riscos tenho um guarda-chuva.

Se um pinguinho de tinta cai num pedacinho azul do papel,
Num instante imagino uma linda gaivota a voar no céu.
Vai voando, contornando a imensa curva Norte e Sul,
Vou com ela, viajando, Havai, Pequim ou Istambul.
Pinto um barco a vela branco, navegando,
é tanto céu e mar num beijo azul.
Entre as nuvens vem surgindo um lindo avião rosa e grená.
Tudo em volta colorindo, com suas luzes a piscar.
Basta imaginar e ele está partindo, sereno, indo,
E se a gente quiser ele vai pousar.


 E havia ainda as árvores! Não podemos esquecê-las. Que lindas ficavam quando as pintávamos! Bastavam apenas duas ou três e já nos imaginávamos em uma imensa floresta, cercados de fadas, castelos, príncipes e princesas, reis e rainhas, bruxos e bruxas, monstros e perigos vários. Perigos, fadas e monstros que só existiam em nossa imaginação, mas que a vida encarregou-se de os tornar reais. Quanto aos castelos e fadas, principes e princesas, reis e rainhas, tudo bem. São bem vindos à realidade, mas quantos aos perigos e monstros, bruxas e bruxos... Ah, esses bem que poderiam ter ficado apenas no papel, não é verdade?


As aulas de matemática, eram, para alguns, um terror. Para outros o terror eram as aulas de gramática. Nestas pequenas lições havia o dedo da vida a nos ensinar que nem sempre podemos fazer apenas aquilo que queremos e gostamos.
Em todas essas atividades e recreações, quem estava lá, ao nosso lado? O nosso anjo da guarda do saber, mais conhecido pelo nome de professor, ou professora. Eles com a maior paciência, carinho e amor, dividiam conosco a bagagem que haviam acumulado durante a vida. Acho também que aprendiam conosco a cada dia, assim como também nós, a cada dia, aprendíamos com eles. Na verdade a relação ensino-aprendizagem é dinâmica, é uma via de mão dupla. Não existe apenas aquele que aprende e aquele que ensina, na verdade, aquele que ensina também aprende, e aquele que aprende também ensina. Ah, como sera bom ficar frente a frente com nossos primeiros mestres e perguntar-lhes: “Terás aprendido alguma coisa comigo?” Um sim ouvido da parte deles, mesmo que fosse coisa pouca, nos faria tão felizes, afinal, seria tirado um peso de nossas consciências em dizer: “Nossa, não apenas dei trabalho para o meus mestres com minhas peraltices, mas no meio disso tudo, também ensinei algo a eles”.

Falando nisso, se os mestres, alguma vez, perderam a paciência conosco, não demonstraram, e devem ter perdido mesmo, pois a maioria trabalhava com dezenas de crianças na mesma sala, tudo falando ao mesmo tempo, se falassem na hora certa, ainda valia, o pior era que falavam bem hora das explicações do professor, atrapalhando a aula.
Entretanto, caros amigos, lembremos que o trabalho do professor não finalizava com o toque da sineta. Qual nada! Ainda havia o trabalho, em casa, de preparar mais uma aula para o dia seguinte, de procurar novidades que prendessem a atenção daqueles tantos “anjinhos”, de corrigir provas, lançar notas nas cadenetas e tantas outras coisas mais.
Ainda olhando por sobre os ombros para nossos primeiros dias na escola, quão gratos  somos pela paciência e bondade de nossos professores e professora, em dividir conosco seu saber, e nos encaminhar com maior segurança pelo caminho da vida! Hoje, temos uma melhor consciência do mundo que nos rodeia, e da sociedade em que estamos imersos. Vemos que o poder público não valoriza o profissional da educação, da forma como ele merecia ser valorizado. Será que os nossos governantes alguma vez já pararam para refletir que eles só chegaram aonde chegaram porque, um dia, eles também foram pequenos, e não sabiam ler, nem escrever, nem desenhar, ou qualquer outra coisa, e um professor paciente e bondoso, lhes dedicou tempo e atenção para que adquirissem algo de bom para que pudessem levar na bagagem da vida?
É bom refletir nessas questões, levando em conta o cenário que se apresenta na área da educação, em nosso país. Vimos, recentemente, mais precisamente, dia 13 deste mês, as universidades federais, retornarem de uma greve que durou cerca de 139 dias, e afetou 50 instituições de ensino superior. Sabem o que é passar 139 dias em greve? São quase cinco meses, e cinco meses não são cinco dias? E porque os profissionais de educação entraram em greve, e uma greve tão longa? Porque são, desculpem a má palavra, vagabundos? Não. Eles, mais do que ninguém, sentem o quanto é difícil a arte de educar em uma pátria que não valoriza a arte de educar. Numa pátria, na qual os governantes estão tão absortos em olhar para o próprio umbigo, que se esquecem de que, só através da educação deixaremos de dar passos para trás, e de que a educação é a mola propulsora que nos levará ao ápice do progresso e desenvolvimento. Faço demagogia? Prego ideologia? Basta olhar para os países desenvolvidos ,e os olhares e ações que os mesmos possuem em relação à educação de seus povos e vereis respondida, com propriedade, essas duas indagações que acabo de vos fazer.

Por tudo o que nos ensinaram, e muito mais, aos nossos professores e professoras, o nosso muito obrigado!

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