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Remédio amargo
Posted by Cottidianos
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00:19
Quinta-feira, 01 de outubro
Foi assim, segundo relatos bíblicos. No
tempo de Noé, nos dias antes do dilúvio, todos comiam e bebiam, casavam-se e
davam-se em casamento. Era uma farra só. Isso até que Noé entrou na arca. Estavam
tão entretidos em festas e coisas mais, que nem perceberam. E olhem que a arca
não era pequena. Então, veio o dilúvio e arrasou a todos.
Calma, não pense que vou enveredar pelo
discurso religioso, citando, a passagem bíblica de Mateus (28, 37-38). Vou falar
de uma coisa não tão digna nos dias atuais: a política.
Segundo o site, Contas Abertas, em
pesquisa de março de 2014, o governo Dilma Rousseff, foi um dos que mais gastou
em festividades — 71% a mais que os gastos de mesma natureza no segundo governo
de Lula. No governo do ex-presidente foram gastos R$ 153,4 milhões. No governo
de Dilma foram gastos R$ 214 milhões. Ainda de acordo com o site, o atual
governo foi o que mais gastou com festividades desde 1999.
E não para por aí, não de modo algum. Em
pronunciamento feito no plenário do senado há dois anos, o senador Mário Coutto
(PSDB-PA), afirmou que a presidente Dilma gastou com propaganda, R$ 1,78
bilhão. Uma quanta astronômica, para ser investido em publicidade por um
governo que tem tantas outras áreas que precisam de investimento.
Somem-se a isso, os gastos com
altíssimos salários e encargos sociais. Apenas no primeiro semestre deste ano,
o governo gastou mais de R$ 77,6 bilhões.
Isso sem contar as quantias vultosas
desviadas das empresas públicas.
Foi assim nos dias atuais. Eles comiam
e bebiam, aliavam-se e davam-se como aliados, gastavam somas enormes divulgando
quimeras. Noé entrou na arca e eles nem perceberam. Então veio o dilúvio e
arrasou o país.
Parece não haver, por parte da equipe
de governo, nem um plano definido para salvar a população desse dilúvio. Medidas
são adotadas, porém, nenhuma delas convincente para ninguém: nem para os
investidores, nem para os mercados, e muito menos para a população.
As medidas adotadas até agora, caminham
sempre no sentido de colocar ainda mais peso na cruz carregada pelo brasileiro.
Primeiro o governo tentou aumentar os impostos querendo criar um imposto sobre
transações financeiras, aos moldes da antiga CPMF. Para o governo era a solução
perfeita para cobrir um rombo de R$ 80 bilhões no orçamento do próximo ano.
Houve pressão da sociedade e o governo abandonou a ideia.
Ontem foram tomadas mais duas medidas
altamente impopulares: O corte das verbas para o programa Farmácia Popular e a
aumento nos combustíveis. A primeira afetará, diretamente, as classes menos
favorecidas. A segunda, infelizmente, afetará a toda a população.
Em meio a tudo isso, ainda não vi
ninguém no governo falar em corte de mordomias, que é, onde realmente, vai
parar o suado dinheiro do trabalhador brasileiro, advindo dos impostos. Querem penalizar
o povo e manter os próprios privilégios.
Acorda, Brasil!
Abaixo, compartilho entrevista
publicada na Folha de São Paulo, com Ricardo Lacerda, Sócio-fundador do banco
de investimentos, BR Partners.
***
O ambiente de negócios no Brasil vive um caos
absoluto, diz banqueiro
JOANA CUNHA / DE SÃO PAULO
O ambiente de negócios vive o caos e os investidores
estrangeiros estão perplexos com o governo. O rebaixamento por outras agências
de risco é inevitável. A opinião é de um dos principais assessores financeiros
do país, Ricardo Lacerda, que, desde que fundou seu banco de investimento, BR
Partners, em 2009, fez mais de 90 operações, ultrapassando R$ 70 bilhões.
Eleitor de Marina no primeiro turno e de Dilma no
segundo, ele admite que errou nas previsões ao dar um voto de confiança à
presidente em artigos publicados em 2014.
“A presidente e seu círculo mais próximo nunca abriram
mão da condução da economia. O objetivo ao aceitar nomear Levy era apenas usar
sua credibilidade para recuperar o apoio dos mercados”, diz Lacerda, que também
tem no currículo a presidência do Goldman Sachs no Brasil e do Citigroup na
América Latina.
***
Folha - O sr. estava mais otimista em 2014 e votou na
presidente. Errou nas previsões?
Ricardo
Lacerda - Fui um dos primeiros
empresários a apontar publicamente os erros do ex-ministro Guido Mantega. Previ
a reeleição da presidente Dilma e uma condução mais ortodoxa da política
econômica. Mas errei ao achar que a presidente faria isso com convicção, que
optaria por um ajuste claro e profundo, que poderia resgatar rapidamente a
confiança dos mercados. Hoje está claro que prevalece na cúpula do governo a
crença de que existem saídas menos dolorosas para a crise. É justamente essa
distância da realidade que aprofunda ainda mais a crise.
Há risco de
o país ser rebaixado por outra agência?
A menos que haja um comprometimento imediato e claro
com um profundo ajuste fiscal, o que já não parece provável, é certo que o
Brasil será rebaixado por todas as agências. Seus critérios são similares e há
rápida deterioração dos indicadores econômicos. Creio que esse efeito já está
em boa parte refletido no preço dos principais ativos brasileiros —mas claro
que um rebaixamento em cadeia será muito negativo.
Como os
investidores estrangeiros estão vendo o Brasil?
Há uma enorme perplexidade com a completa inabilidade
do governo em propor um caminho viável para sair da crise. O ambiente de
negócios vive momento de caos absoluto. O governo perdeu completamente a
credibilidade e houve uma paralisação de gastos e investimentos. Os empresários
estão com medo de quebrar e os trabalhadores com medo de perder empregos. Esse
sentimento negativo reverbera mundo afora e afeta nossa credibilidade junto ao
investidor estrangeiro.
Há quem veja
oportunidade nessa crise?
Sim, oportunidades enormes. Muitos bons ativos estão
sendo negociados a preço de banana. É muito menos arriscado para um investidor
estrangeiro entrar no país hoje, com o dólar a R$ 4 e a Bolsa a 45.000 pontos,
do que há três anos, com o dólar a R$ 2 e a Bolsa a 75.000 pontos. Mas para que
predomine a visão de que temos oportunidade, é preciso que os preços dos ativos
se estabilizem. Entrar no Brasil com dólar a R$ 4 pode ser ótimo negócio, desde
que não chegue a R$ 5 ou R$ 6 no curto prazo. Há hoje percepção de que o risco
de descontrole da economia é real.
Até onde vão
os juros?
Num ambiente de total falta de credibilidade da
política econômica, o único elemento que pode tranquilizar investidores é a taxa
de juros.
Mantido o cenário atual, eu diria que não só não
encerramos o ciclo de aperto monetário, como é provável que ainda seja
necessário um novo choque de juros, de mais 200 a 300 pontos base. Os juros
futuros mostram isso e podemos ver a Selic próxima a 20% ao ano. Pagaremos caro
por ter mantido juros artificialmente baixos por tanto tempo.
Mudaria algo
no ajuste?
Acho que a proposta do governo é absolutamente
desconexa. A manobra de enviar ao Congresso um Orçamento com deficit foi
desastrada e em seguida o governo não conseguiu articular nenhum raciocínio
lógico para defendê-la. Em segundo lugar, o governo pode pedir que a sociedade
faça sacrifício, é justo, mas tem que fazer sua parte e mostrar com clareza o
que defende. Ele foi eleito para liderar, mostrar caminhos, não para enviar um
Orçamento e pedir que se virem para equilibrá-lo. Acho que a sociedade não
aceita mais alta de imposto, o governo terá de cortar mais gastos. Senão, a
inflação cortará por ele.
Como
combater a inflação?
Com política fiscal e monetária sérias. O Brasil não
foi o único no mundo a relaxar tais políticas diante da crise de 2008. O erro
foi exagerar em estímulos excessivamente de curto prazo e não propor reforma
estrutural.
O governo não soube a hora de recuar nos incentivos
para garantir a saúde das contas. Essa barbeiragem nos levou a uma combinação
tóxica de baixo crescimento, explosão da dívida pública e inflação alta. Para
reverter, é preciso competência e determinação por parte do governo. Não
estamos vendo uma coisa nem outra.
O controle da inflação foi a maior conquista social do
brasileiro nas últimas décadas e é lamentável que a presidente nunca tenha dado
a ele sua devida importância.
Levy ainda é
considerado pelo mercado a tábua de salvação? Ou é hora de deixar a cena?
A presidente nunca endossou o ministro, nem seu
receituário econômico, como o caminho para o país driblar a crise. O resultado
é esse: governo com atuação conflitante e sem liderança. O ministro é um
profissional sério, acadêmico respeitado, pessoa com espírito patriótico que
tenta ajudar seu país. Será lamentável se ele deixar o cargo, mas creio que
ninguém mais o vê como tábua de salvação. Para reverter expectativas, a
presidente precisará mostrar uma mudança radical e inequívoca de suas próprias
convicções.
O sr. avalia
que ele teve boa atuação até agora?
O mercado esperava que Levy representasse ruptura com
a gestão anterior e uma oportunidade de fazer ajuste rápido, que traria de
volta a credibilidade. Era minha aposta. Isso não ocorreu, pois a presidente e
seu círculo próximo nunca abandonaram suas ideologias nem abriram mão da
condução da economia. O objetivo ao aceitar nomear Levy era apenas usar sua
credibilidade para recuperar o apoio dos mercados. Acho injusto julgar a
atuação dele. Fica a impressão que ele foi sem nunca ter sido.
Mudar o
governo ajuda? Quer impeachment?
No momento não há motivos técnicos para impeachment.
Tudo leva a crer que a presidente é uma pessoa honrada. Mas, evidentemente, o
impeachment tem dinâmica política, que já está em curso. A inépcia política da
presidente e a relutância em buscar novos caminhos a coloca numa posição cada
vez mais delicada. É possível que termine seu mandato, mas há o risco de isso
acontecer sem que tenha apoio político ou popular e com economia em frangalhos.
-
O BANQUEIRO E O BANCO
Ricardo Lacerda, 47
Sócio-fundador do BR Partners, ex-presidente do
Goldman Sachs no Brasil e do Citigroup na America Latina, mestre em finanças
pela Universidade Columbia (EUA)
BR Partners
Patrimônio líquido: R$ 230 milhões
Ativos totais: R$ 540 milhões
Ativos sob administração: R$ 3,5 bilhões
Legenda: Ricardo
Lacerda, sócio-fundador do banco de investimento BR Partners
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