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Morre em São Paulo o ator Paulo Goulart
Posted by Cottidianos
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23:09
Quinta-feira,
13 de março
Nesta
quinta-feira (13), enquanto o sol, mais
uma vez, brindava o planeta com sua luz, as luzes dos palcos brasileiros se
despediam de um dos seus grandes atores: Paulo Goulart. Paulo morreu hoje, aos
81 anos, em São Paulo, em decorrência de um câncer renal avançado. Paulo estava
internado no Hospital São José, na região central da cidade desde o dia 08 de
janeiro. O corpo do ator será velado na noite desta quinta-feira, à partir das
23h30 e o sepultamento ocorrerá, amanhã, sexta-feira, no cemitério da
Consolação.
Paulo
sempre encarou a arte de representar com muita seriedade e destacou-se em
trabalhos no teatro, no cinema e na televisão.
O
ator viveu brilhou intensamente no palco e nas telas do Brasil, mas este não
foi o seu primeiro emprego. Em seu leito de morte deve ter-lhe passado pela
lembrança, os primeiros anos, em suas atividades profissionais como DJ,
operador técnico e locutor em uma rádio,
fundada por seu pai, em Olímpia,
interior de São Paulo. O jovem Paulo,
ainda chegou a cursar a faculdade de Química Industrial, porém, ao descobrir a
arte de representar, viu que ali estava sua vida, seu talento. Ao fazer um
teste para a Rádio Tupi, não conseguiu o primeiro lugar, mesmo assim foi
contratado por Oduvaldo Viana, para a função de radioator. A primeira novela em
que atuou foi “Helena”, de Manoel Carlos, na extinta TV Paulista, em 1952. Por
essa mesma época, conheceu Nicete Bruno: Foi amor à primeira vista. Os dois se
casaram logo em seguida e ficaram juntos até o instante final. A relação entre
o casal foi uma das mais belas e duradouras da TV brasileira.
Em
1962, mudou-se com a família para a cidade de Curitiba, no estado do Paraná,
onde trabalhou em uma escola de teatro, chamada Escola de Teatro Guaíra. Na
cidade, trabalhou ainda no Teatro de Comédia do Paraná e também na TV Paraná.
Voltou à São Paulo ainda na década de 60, onde deu continuidade ao seu trabalho
como ator. O papel que marcou sua carreira, entretanto, só veio em 1972, na
novela “Uma rosa com amor”. Além da televisão Paulo Goulart também desempenhou
papeis de destaque no teatro e no cinema.
Para
homenagear o grande ator que foi Paulo Goulart, deixo com vocês um texto do
ator Fernando Calloni, escrito em 19 de agosto de 2012, em homenagem ao dia do
ator.
***
“Ser
ator é realmente uma profissão de maluco, fascinante. A poética do ridículo, o
brincar de faz de conta, o infindável universo onírico infantil e a tremenda
cara de pau fazem com que os atores encantem os que os assistem e sonham junto
com eles – pelo seu poder de transgressão, pela sedução, pelo poder de
conscientização, pela capacidade de simplesmente entreter e pela mágica de
poder ser quase todo mundo.
Lemos
Diderot, Stanislavsky, Grotovsky, Meyerhold, D. T. Suzuki e uma infinidade de
outros livros (todos fundamentais). Ouvimos muita música clássica para
apurarmos nossa noção de ritmo, de cor, de intensidade. Ouvimos samba, pagode,
MPB, música sertaneja e o diabo a quatro, graças ao bom Deus. Graças à
obrigatória falta de preconceito para ver e viver a vida como ela é (obrigado,
grande Nelson!) e poder reproduzi-la, e, melhor ainda, recriá-la como uma
pintura, que quase sempre é mais rica do que uma foto. Vemos (com o corpo
inteiro) pinturas de Bosch, Goya, Velázquez, Max Ernst, para tentar compreender
alguns mistérios da vida, para provocar nossos sonhos ou, para nada. Só para
ver mesmo. Que bom!
Conversamos
com o Zé que vende coco no quiosque da praia e notamos um gesto diferente, um
ritmo novo, outras possibilidades de comportamento e de comunhão com a vida.
Observamos sem pensar. Viva o Zé! Precisamos dele. E depois colocamos uma
armadura e dizemos que somos cavaleiros da Távora Redonda, dizemos que somos
bons, que somos maus, que somos bons e maus, que somos gente. É uma profissão
que deveria se iniciar logo que a pessoa começasse a falar e a ler, e terminar
no início da adolescência, já que os adolescentes têm verdadeiro horror a pagar
mico. Mas não… o maravilhoso complexo de Peter Pan nos acompanha pelo resto da
vida e passamos a nos comportar como crianças relativamente adultas. E aí entra
a poética do tempo que estará sempre a nosso favor.
Fazer
um bom trabalho de ator é sempre muito arriscado, mesmo que o personagem seja
comum, simples, cotidiano. É mais arriscado ainda. É raro, mas acontece de se
ver um ator dizendo que está arriscando quando, na verdade, está fazendo um
trabalho histérico e fora da medida. No caso de uma novela, geralmente as
pessoas se acostumam e até passam a gostar. O erro faz parte do show.
Eliminá-lo é impossível. Diminuir a margem de erro com estudo, dedicação e,
principalmente, leveza e bom humor talvez seja o melhor caminho. Cada um
escolhe o seu.
É
uma profissão generosa, democrática e acolhedora. Qualquer um pode ser ator,
basta saber falar, andar, ler e ter o juízo mais ou menos perfeito. Todos têm
direito à tentativa e ninguém tira o lugar de ninguém. Fazer um bom trabalho de
ator e permanecer digno praticando o ofício já são outros quinhentos, não é
para qualquer um. A consciência de que somos inevitavelmente precários por
sermos humanos pode ser um grande estímulo para fazermos trabalhos grandiosos.
Viramos heróis, mendigos e uma infinidade de outros personagens, para, entre
outras coisas, vencer a morte (eta coisinha incômoda). E, no final, conseguimos
rir de nós mesmos.
Quero,
por fim, agradecer aos meus nobres e loucos companheiros atores por percorrerem
esse caminho inventado e que aumenta a vida, o prazer e o sonho. Quero
agradecer aos grandes atores que já superaram o estágio dos adjetivos e
conquistaram a liberdade plena da criação. Qual o adjetivo para Fernanda
Montenegro, para Laura Cardoso? Quero agradecer também aos que estão começando,
aos que estão terminando (se é que isso é possível) e aos que estão por vir. Sou
ator, acho que isso quer dizer alguma coisa. Evoé!”
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