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Doping: Inimigo do esporte e do atleta
Posted by Cottidianos
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20:34
Sexta-feira, 07 de março
Entrevista Mario Vigna
Procurador do Comitê Olímpico Nacional Italiano
Procurador do Comitê Olímpico Nacional Italiano
Doping: “Um fenômeno que destrói a saúde das pessoas e a "verdade do esporte"
Jean
Louis Quadri é um jovem de 18 anos de idade. Ele joga em um time de futebol
amador, próximo a Grenoble, na França. Seu grande sonho, porém, é ser um dos
grandes astros do futebol nacional. Durante um campeonato joga, por várias
semanas, com estilo agressivo e incansável, destacando-se dos demais atletas. O
jovem esportista pede, insistentemente, aos dirigentes locais que consigam uma
vaga para ele em um grande time. Os dirigentes prometem ajudá-lo. Seis semanas
depois, em uma quinta-feira, 24 de outubro de 1968, Jean disputa mais uma
partida, e, como das outras vezes, joga com muito empenho e dedicação. Em uma
jogada espetacular, ele consegue driblar os onze defensores do time adversário
e se prepara para o glorioso momento do gol.
Acontece então um inesperado
desfecho: O corpo de Jean Louis sofre um colapso e ele cai em campo, com o
rosto azulado. O jovem é socorrido às
pressas, porém, morre a caminho do hospital, deixando uma viúva de 19 anos e um
bebê de apenas dois meses de idade.
A autópsia feita no corpo do rapaz revelou
a presença de anfetaminas. A investigação policial concluiu que ele havia
conseguido a droga no hospital psiquiátrico onde trabalhava.
Jean
Louis Quadri não foi o primeiro, nem o último a fazer uso de substâncias
proibidas no mundo do esporte. Ao buscar superar os próprios limites, o homem
sempre encontrou um grande obstáculo: a fadiga. É necessário driblá-la,
afastá-la para longe. Com esse objetivo, busca meios que o ajudem a explorar ao
máximo a capacidade física de seu corpo. Isso se chama dopagem – um modo
desonesto, para consigo mesmo e para com os demais competidores, de provocar
estímulos artificiais ou efeitos depressores, estimulando um alto rendimento
muscular ou inibindo-o.
Quando
as organizações antidoping empenham-se na luta contra esse meio desonesto de
conseguir bons resultados no mundo dos esportes, elas estão preocupando-se, em
primeiro lugar, com a vida e a saúde dos atletas. A punição aplicada aos que
são flagrados em exames antidopings é uma forma de educar.
Para
fala a respeito desse assunto, conversei, por e-mail com o Procurador do Comitê
Olímpico Nacional Italiano (CONI), Mario Vigna. Vigna é advogado e mora em
Roma. Conheci o procurador do CONI, quando ele esteve aqui no Brasil, em
janeiro deste ano, ocasião em que proferiu palestra no evento Direito Desportivo Comparado – Brasil,
Espanha e Itália, organizado por Leonardo Andreotti Paulo
de Oliveira, presidente da Comissão de Direito Desportivo da Ordem dos
Advogados do Brasil, 3ª Subseção de Campinas.
Agradeço
na elaboração deste trabalho, ao advogado brasileiro, Leandro Moura da Silva,
que trabalha na Embaixada Brasileira, em Roma. Leandro foi quem me ajudou,
também por e-mail, na tradução do texto da entrevista do português para o
italiano e vice-versa.
Mario Vigna
José Flávio - Qual a importância de se discutir a questão
dos casos de doping, no Brasil, país que vai sediar a Copa do Mundo de 2014 e
os Jogos Olímpicos de 2016?
Mario Vigna - O doping é contra o esporte e, todos
os dias, se manifesta nas diversas latitudes. Certamente, o país anfitrião de
um grande evento esportivo não pode subestimar o tema, considerando que estão
em jogo a saúde dos atletas envolvidos e a credibilidade do próprio evento.
José Flávio - Por qual motivo as convenções e federações
internacionais se preocupam tanto com a questão do doping?
Mario Vigna - Considero que seja um fenômeno que
destrói a saúde das pessoas e a "verdade do esporte".
José Flávio - Como Procurador do Comitê Olímpico Nacional
Italiano (CONI), o Sr. já deve ter se deparado com diversos casos interessantes
envolvendo atletas que fizeram uso de substâncias proibidas. Qual ou quais
desses casos, mais lhe chamou a atenção?
Mario Vigna - Durante a minha atividade segui
numerosos casos disciplinares em matéria de doping, levados também ao Tribunal
Arbitral do Esporte de Lousanne. O que posso dizer é que, freqüentemente,
existe um "sistema doping" que não envolve somente os atletas mas
também os chamados "pessoais de apoio".
Sede do Comitê Olímpico Nacional Italiano
Sede do Comitê Olímpico Nacional Italiano
Imagem: http://www.portalestoria.net/italia%20palazzi%20del%20potere.html |
José Flávio - Em breve palavras: como funciona o sistema
antidoping na Itália?
Mario Vigna - No plano da justiça esportiva, o
Comitê Olímpico Italiano é a Autoridade Antidoping Nacional prevista nas normas
Agência Mundial Anti Doping) WADA. O sistema disciplinar antidoping está,
portanto, concentrado no CONI. Existe um único departamento investigativo (por
exemplo, o Departamento da Procuradoria Antidoping) que se ocupa de todos os
procedimentos que dizem respeito aos atletas de federações e de outras
entidades filiadas ao CONI.Os casos que são posteriormente submetidos a um
tribunal independente (por exemplo Tribunal Nacional Antidoping) são divididos
em duas seções que julgam diferentes categorias de sujeitos.
No plano da
justiça estatal, a lei italiana 376/2000 prevê o doping como elemento de crime.
Freqüentemente, a Procuradoria Antidoping consegue a obter os meios de prove
diretamente do inquérito penal e isto ajuda muito nas investigações.
José Flávio - Se algum atleta faz uso de substâncias
proibidas, é porque alguém receitou ou forneceu para ele? Há punição também
para essas pessoas que facilitaram ao atleta o uso da substância?
Mario Vigna - Ao abrigo dos artigos 2.7 (tráfico) e
2.8 (uso) do código mundial antidoping da WADA as condutas
"cúmplices" no âmbito do doping são proibidas. Em 2015, com a entrada
em vigor do novo código mundial, tornar-se-á operativa uma norma - já adotada
pela Itália nestes anos - que proibirá aos atletas também de utilizar pessoas
sancionadas por doping, a chamada "Associação ilícita".
José Flávio - Mudando de assunto: Qual a sua expectativa
para a Copa do Mundo de 2014, no Brasil?
Mario Vigna - Espero que seja um evento de alegria
e paixão esportiva. Espero que a Itália jogue bem.
José Flávio - O Sr. esteve no Brasil em fins de 2013 e
início de 2014. Participou também do evento Direito Desportivo Comparado
Brasil-Espanha e Itália, em Campinas, onde proferiu palestra. Foi a primeira
vez que veio ao Brasil? Que impressões teve do país?
Mário Vigna - Foi um verdadeiro prazer visitar uma
parte do vosso país. As cascatas do Iguaçu foi uma experiência inesquecível.
Foi a primeira vez mas espero, de verdade, que não seja a última, até porque me
falta visitar o norte e tantos outros lugares lindíssimos. Espero, de verdade,
que os dois grandes eventos esportivos em vista sejam uma ocasião para fazer
conhecer a tantas pessoas as belezas do Brasil.
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