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Rede de intrigas

Posted by Cottidianos on 16:12
Quinta-feira, 09 de julho


Apenas a título de esclarecimento: Este blog pegou o título desta postagem emprestado do filme norte-americano, Rede de Intrigas, de 1976. O filme, no estilo comédia, narra a história de um locutor de TV que está para ser demitido por causa da baixa audiência do seu programa. Ele então resolve anunciar, no ar, que cometerá suicídio. Os índices de audiência então voltam a crescer. A partir daí ele passa a ser conhecido como louco, profeta. Entretanto, sua insanidade faz com que aqueles que foram responsáveis pela sua ascensão procurem um meio de detê-lo. Como veem, também não foi por acaso que o título foi tomado por empréstimo da produção americana.  
Na postagem anterior, esse blog falou do silencio do presidente. Da ausência de ataques a imaginários adversários políticos que remetem ainda aos tempos da guerra fria. Um presidente que vive evocando fantasmas do passado tentando, de alguma forma, fazê-los ressurgir para um tempos que não lhes cabe mais. Num mundo globalizado, classificar, julgar, e criticar as pessoas, rotulando-as, criticando-as, e desprezando-as pelas suas posições políticas é um tremendo retrocesso.
Porém, o ato de silenciar não significa, necessariamente, uma mudança de atitude. Também não significa que se está ouvindo àquela voz interior que clama para uma nova forma de pensar, um novo estilo de vida. Às vezes, calar significa apenas uma forma de sobrevivência, uma atitude conveniente, seja para uma pessoa, seja para um governo, seja para um presidente.
Isso, o presidente Jair Bolsonaro mostrou claramente ao anunciar que testou positivo para a Covid-19, na terça-feira, 07. Ele cometeu uma série de erros neste processo.
Primeiramente, os profissionais de imprensa não deveriam ter sido chamados o Palácio do Planalto para este anúncio feito pelo próprio presidente. Isso poderia ter sido feito pelo médico que o acompanhou ou por algum outro órgão do governo, ou mesmo pelo Jair Bolsonaro através de simples comunicado oficial. Governadores brasileiros e prefeitos que tiveram a doença fizeram justamente isso: deram o anúncio a população através de comunicado oficial.
Para o anúncio o presidente convocou jornalistas da TV Brasil, CNN Brasil, e Record TV. Durante o anúncio o presidente, já com diagnóstico positivo, tirou a máscara enquanto ainda falava com jornalistas. Acho que todos já devem estar fartos de ver nos noticiários os risco que isso pode representar para a saúde das pessoas.
Depois do pronunciamento, os veículos de imprensa citados afastaram os jornalistas que acompanharam a fala do presidente temporariamente, por medida de prevenção ao coronavírus.
Já o contrário não se deu com os funcionários do Palácio do Planalto que tiveram contato com o presidente. Esses continuam trabalhando normalmente, contrariando normas estabelecidas pelo Ministerio da Saúde, e pela OMS. Quem acompanha de longe, e que em civilidade e humanidade no coração, apenas torce para que estes funcionários não tenham sido afetados pela doença, e que o próprio presidente se recupere logo da doença.
Outro erro do presidente foi postar vídeo tomando cloroquina que, como todos sabem, é um medicamento sem nenhuma comprovação cientifica contra o Covd-19, e que pode, inclusive, provocar efeitos colaterais graves. O presidente também afirmou que dentro de uma semana retomaria sua agenda de encontro com pessoas. Segundo médicos infectologistas, o prazo para que uma pessoas que foi contaminada pelo coronavírus volte a ter encontros presenciais é de quatorze dias.
Porém, caros leitores e leitoras, uma pessoa que tem o coração cheio de ódio, não muda assim de uma hora para outra. Editorial do Estado de São Paulo, A vida, o vírus e a política, publicado neste dia 09 de julho, traz duas diferentes situações em que Jair Bolsonaro se mostrou desprovido de humanidade. Um deles, segundo o editorial, foi as frases pronunciadas por Bolsonaro em relação ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso: “O governo militar deveria matar pelo menos 30 mil, a começar por Fernando Henrique”, “o erro do governo militar foi não fuzilar o Fernando Henrique”, “defendo o fuzilamento do presidente”.
Outra situação apontada pelo jornal foi em 2015, quando foi questionado se a então presidente Dilma conseguiria concluir o mandato, ele assim respondeu: “Espero que o mandato dela acabe hoje, infartada ou com câncer, ou de qualquer maneira”. E fechando os parágrafos do editorial que trata dessa questão, o jornal assim se expressa: “De enorme brutalidade, a declaração é absolutamente despropositada, a revelar profunda incompreensão não apenas do exercício da política, mas de cidadania e humanidade”.
Já na função presidencial os brasileiros tem se acostumado com o descaso do presidente pela vida humana, como no “E daí?” ao se referir às vítimas do Covid-19. E também o desprezo com que trata a questão dos povos indígenas. Bem como referenda um discurso racista ao nomear para a Fundação Palmares Sérgio Camargo: um negro declaradamente racista.
O amor e o ódio são como dois vírus potencialmente transmissíveis. Os dois altamente contagiantes. Com a diferença abissal de que o primeiro transmite paz, cura, harmonia, e inspira a tantos outras sensações e sentimentos bons. O segundo ao contrário apenas espalha o mal.
E o presidente, Jair Bolsonaro, tendo sido contaminado pelo segundo vírus, o transmite largamente aos seus familiares, apoiadores, aliados, e seguidores.
Nem indo muito longe, basta ver o vídeo de um dos líderes do governo na Câmara criticando o ministro do Supremo, Alexandre de Moraes. Não são apenas as palavras que são carregadas de ódio. A expressão, a voz, tudo ali parece destilar um ódio mortal.
O vídeo foi publicado pelo deputado Otoni de Paula (PSC-RJ), em redes sociais, na segunda-feira, 6, e vai de encontro ao novo posicionamento que o governo parece querer assumir em relação ao Judiciário.
Ontem, dia 8, o deputado deixou o cargo, alegando que não queria que sua fala fosse ligada ao Planalto.
Agora, voltando um pouco no passado recente, vejamos a atitude do deputado Daniel Silveira, em 31 de maio deste ano.
 Silveira era até poucos dias líder do governo na Câmara. Por ocasião dos atos a favor da democracia, o deputado defendeu a morte de manifestantes. Em um vídeos, também nas redes sociais, ele disse: “"Até que vocês vão pegar um polícia zangado no meio da multidão, vão tomar um no meio da caixa do peito, e vão chamar a gente de truculento", "Eu tô torcendo para isso”. Quem sabe não seja eu o sortudo. Vocês me peguem na rua em um dia muito ruim e eu descarregue minha arma em cima de um filho da puta comunista que tentar me agredir. Vou ter que me defender, não vai ter jeito. E não adianta falar que foi homicídio, foi legítima defesa. Tenham certeza: eu vou me defender”.
E esses absurdos não vieram de terceiros, de longe do Palácio do Planalto, mas sim de pessoas próximas ao presidente. Puro ódio. A história nos mostra que todas as filosofias, todos os governos, baseados no ódio não prosperam, e, se prosperam, seus frutos são amargos e venenosos.
E aqui a gente entra no gabinete. Gabinete do Ódio.
Na quarta-feira, 8, o Facebook removeu contas e perfis que estavam ligados ao gabinete de Flávio Bolsonaro, de Eduardo Bolsonaro, e de Jair Bolsonaro. Segundo a rede social foram identificadas e retiradas do ar 35 contas, 14 páginas, 1 grupo no Facebook, e mais 38 contas no Instagram.
Quem operava o esquema criminoso eram 5 funcionários e ex-auxiliares ligados aos bolsonaros, os quais eram encarregados de disseminar notícias falsas e ataques a inimigos políticos de Jair Bolsonaro.
Ainda segundo o Facebook, a rede criou pessoas fictícias que fingiam ser repórteres, e gerenciava páginas, que se passavam por páginas de veículos de comunicação. De tudo e mais um pouco entrava no caldeirão das notícias falsas: memes, críticas à oposição, à mídia, e ao Judiciário. O pacote também incluía conteúdo sobre política e eleição. Até sobre o coronavírus era possível encontrar notícias falsas.
Um dessas pessoas que operava esse esquema criminoso de fakenews é Tercio Arnauld Thomaz. E quem é Tercio Arnauld Thomaz? Ele é o líder do gabinete do ódio. Saiu de Campinas Grande, na Paraíba, diretamente para trabalhar com a família Bolsonaro. Ele já trabalhou como assessor especial no gabinete de Flávio Bolsonaro, e hoje trabalha como assessor especial do próprio presidente.
Tem um salário de R$ 13.623,39, mora em um apartamento funcional, em Brasília, que é pago com dinheiro público, e trabalha a poucos metros do gabinete presidencial, no Palácio do Planalto. Sua função? Cuidar das redes sociais do presidente, e, como já se vinha especulando na imprensa, cuida da rede que dissemina mensagens difamatórias contra adversários do presidente, estejam eles no campo da política ou não.
A fábrica de fake news derrubada pelo Facebook tinha quase 2 milhões de seguidores no país.
Essa iniciativa do Facebook de derrubar essas páginas e perfis que espalhavam fake news não foi realizada apenas no Brasil, mas fez parte de uma operação que incluiu quadrilhas digitais em outros países como Canadá, Equador, Ucrânia, e Estados Unidos.
O Palácio do Planalto sempre negou a existência do gabinete do ódio. Coisa que vem sendo denunciada pela imprensa desde que a Folha de São Paulo, ainda durante a campanha presidencial de 2018, denunciou que empresários estavam comprando pacotes de disparos em massa de mensagens.
De lá pra cá, várias outras denúncias surgiram, como a da ex-bolsonarista, a deputada federal Joice Hasselman (PSL-SP), que em dezembro de 2019, revelou a existência da milícia digital que espalhava ataques à reputação de críticos do governo Bolsonaro. Na época, ela disse que quem estava à frente dessas atividades eram os irmãos Carlos e Eduardo Bolsonaro. Além de parlamentares e assessores ligados ao presidente.
Tudo o que Joice disse, confirmou-se depois com o inquérito das fakenews que corre no Supremo Tribunal Federal, e que revela a participação de políticos, assessores, e apoiadores do presidente na onda de crimes digitais.
A iniciativa do Facebook vem num momento em que a empresa está sendo pressionada a mudar sua política digital e impedir a disseminação de notícias falsas e de páginas que espalhem o ódio e preconceito.
Grandes marcas, cancelaram, recentemente, contratos de divulgação nas páginas da rede, em uma espécie de boicote à empresa. A adesão de grandes marcas como Adidas, Coca-Cola, Heineken e Starbucks fizeram o boicote ganhar mais impulso e se tornar ainda mais forte, chamando a atenção mundial para a questão.
O caso brasileiro é muito grave pois envolve diretamente o presidente e seus filhos na trama. É dinheiro público sendo usado para financiar um crime, um crime digital, mas um crime da mesma forma. É o uso de funcionários do estado brasileiro para operar uma indústria criminosa que espalha notícias falsas e destrói reputações. Ou seja, um completo desvio das finalidades para os quais foram contratados, e tudo isso com a anuência do governo. E o que deixa a situação ainda mais complicada. A quadrilha, podemos chamar assim, operava no coração do poder: ou seja, dentro do Palácio do Planalto. Como diz o ditado “nas barbas” do presidente.
O governo, claro, nega a existência de tal gabinete do ódio. É tanto que após saber da operação realizada pelo Facebook, o senador Flávio Bolsonaro, divulgou uma nota na qual diz: “O governo Bolsonaro foi eleito com forte apoio popular nas ruas e nas redes sociais e, por isso, é possível encontrar milhares de perfis de apoio. Até onde se sabe, todos eles são livres e independentes. Pelo relatório do Facebook, é impossível avaliar que tipo de perfil foi banido e se a plataforma ultrapassou ou não os limites da censura. Julgamentos que não permitem o contraditório e a ampla defesa não condizem com a nossa democracia, são armas que podem destruir reputações e vidas”.
Ora, senhor senador, destruir reputações e vidas era o que a rede de fakenews, montada pelos senhores, fazia. Isso, sim, não condiz, nenhum pouco com nossa democracia.
É melhor alguém, urgentemente, dá umas aulas sobre liberdade de expressão, democracia, respeito à vida, direitos humanos, dentre outros assuntos para os bolsonaros, seus assessores, e apoiadores, pois eles tem se revelado bastante ignorantes em relação a essas questões. Quem sabe, com um pouco de lições de conhecimento e civilidade para essa turma, eles aprendam, pelo menos um pouco. E nos ajudem a recuperar o respeito e admiração internacional que estamos perdendo a cada dia.

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