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Alerta máximo: Termômetros em alta
Posted by Cottidianos
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00:56
Um lugar tenebroso, em chamas, e muito
quente. Essa é a imagem que o imaginário popular formou para o inferno. Não me
deterei na descrição desses ambientes, pois as energias que dele emanam não são
lá muito boas. O fato é que, se os dirigentes e governantes de nosso planeta,
não adotarem medidas que desacelerem o aquecimento global, o inferno será aqui, e não
vai demorar muito para isto acontecer.
De acordo com a World Meteorological Organization (OMM), o ano de 2015, foi o ano
mais quente da história do nosso planeta. Os termômetros, em todo o planeta,
foram às alturas. O clima estava tão quente que, em julho deste ano, o Iraque
decretou feriado de quatro dias por causa do calor. Naquele país, as
temperaturas, em 30 de julho, atingiram a marca de 52ºC. Aqui, em Campinas, não
chegou-se a esse ponto de se decretar feriado, mas em vários dias do ano, o sol
esteve abrasador. Certamente, o caro leitor, também deve ter sentido os efeitos
da onda de calor durante o decorrer deste ano.
O que acontece com uma máquina que
trabalha demais? O que acontece com uma pessoa da qual é exigida atividades em
demasia? Estresse. Estresse total. Ora se isso vale para as máquinas e para os
humanos, vale também para o nosso querido planeta. Há tempos ele tem dado
sinais de que está estressado, de que precisa ser tratado com carinho. Se nós,
que somos leigos, temos percebido, essas disfunções planetárias, quanto mais os
governantes, que tem a seu dispor, os mais atualizados e avançados estudos na
área climática. E porque não agem? Por que estão demorando tanto a perceber
aquilo que nós, leigos, já sentimos há tanto tempo?
Espero que os líderes mundiais,
reunidos em Paris, para a 21ª Conferência
do Clima (COP 21), que começou nesta segunda-feira (30), tenham em mentes
as vívidas imagens das florestas da Califórnia, ardendo em chamas; dos rios do
sudeste e nordeste brasileiro, cuja água se esvaí a cada ano; das geleiras dos
polos, que derretem a uma velocidade impressionante; e das cidades chinesas
tomadas por nuvens de poluição — dentre outras visões dantescas que se pode
evocar do clima no planeta — e aprovem resoluções e ações que rumem num caminho
de refrescar a nossa aquecida terra, pois de promessas, já estamos todos
cheios.
Abaixo, compartilho, entrevista de Ban
Ki-moon, Secretário-geral da ONU, à Folha de São Paulo, edição desta segunda
(30).
Nenhum país pode se omitir na luta à
mudança do clima', diz chefe da ONU”
LUCIANA COELHO
EDITORA DE "MUNDO"
MARCELO LEITE
DE SÃO PAULO
30/11/2015 02h00
Ban Ki-moon está otimista, mas não
tranquilo. O problema da mudança climática, alerta, é urgente e já se faz
sentir em todo o planeta.
Para o secretário-geral da ONU, a
conferência do clima que começa nesta segunda (30) em Paris pode –e precisa–
pôr os governos no rumo de uma economia que use pouco combustível fóssil e
emita menos gases-estufa.
Precisa também selar um compromisso
para manter o aquecimento global abaixo de 2°C até 2100.
"Não há alternativa", diz.
"Nenhum país pode se omitir."
Ban defende para tanto que todos ajam.
"Precisamos entrar em ação e precisamos fazê-lo pela cooperação
internacional. Nenhum país pode combater as mudanças climáticas de modo
isolado."
A chamada COP21 (21ª Conferência das
Partes), que reúne mais de 150 chefes de Estado, visa selar um acordo com peso
de lei, mas as metas anunciadas por ora são insuficientes para respeitar o teto
seguro de aquecimento.
Ban, porém, acha que o caminho está
traçado, se transformado em ação. "Quase 180 países apresentaram planos
climáticos nacionais. Isso mostra que estão engajados."
Esse trilho é um dos legados que o
secretário-geral, que encerra seu mandato em 31 de dezembro do próximo ano,
gostaria de deixar.
Em entrevista à Folha por e-mail, Ban,
71, falou ainda do peso das Nações Unidas em um cenário global mutante, do
papel do Brasil nesse palco e de como gostaria que sua sucessora fosse mulher.
"Está na hora."
***
Folha - Esta será a
21ª COP. O que mudou para esperarmos que os governantes desta vez mostrem a
vontade política necessária para selar um acordo com peso de lei que possa
frear as mudanças climáticas?
Ban
Ki-moon - Em decisão tomada quatro
anos atrás em Durban, as partes decidiram que esta será a conferência em que
adotarão um protocolo, outro instrumento legal ou um resultado acordado com
força legal na 21ª Conferências das Partes [a COP].
Acho que o mundo está preparado para
adotar agora um acordo significativo e universal, porque todos já estão
familiarizados com os impactos das mudanças climáticas sobre todos os
continentes. Não há mais incerteza científica, e, ademais, os líderes
reconhecem que o futuro pertence àqueles que avançarem prontamente em direção à
economia de baixo carbono.
Todo o mundo tem a visão clara de que
precisamos começar a entrar em ação e que precisamos fazê-lo por meio da
cooperação internacional. Nenhum país pode combater as mudanças climáticas de
modo isolado com êxito.
A
COP21 deve ser julgada pelo critério dos 2ºC [considerado o teto para o
aquecimento neste século sem consequências catastróficas]? Se as delegações
fecharem um acordo incapaz de alcançar essa meta, a conferência fracassará?
Precisamos manter a elevação da
temperatura global em menos de 2ºC neste século. Paris deve ser julgada com
base em se ela nos encaminha para alcançar essa meta. É por isso que o acordo
de Paris precisa trazer avaliação regular, revisões e reavaliações dos planos
climáticos dos países, as INDCs.
Quais
são suas expectativas para a conferência e o que poderia ser um êxito?
Um elemento muito animador é o fato de
que quase 180 países apresentaram seus planos climáticos nacionais, ou INDCs.
Isso mostra que eles estão engajados em empreender ações contra as mudanças
climáticas. Outros sinais muito positivos incluem a mobilização do setor
privado e o fato de que os investimentos em energia renovável continuam a
crescer.
Acredito que a COP21 poderá reforçar os
sinais enviados aos mercados globais para que elevem substancialmente os
investimentos na economia de baixo carbono.
O
senhor já afirmou que não há plano B para as mudanças climáticas porque não há
planeta B. Contudo, parece que o Acordo de Paris precisará de um plano B, pois
os compromissos de reduções de emissões das partes são insuficientes para os
2ºC. A comunidade internacional está desperdiçando tempo que a obrigará a pagar
mais custos econômicos e sociais?
Certíssimo – não há plano B. Não há
alternativa. O Acordo de Paris precisa dar o mecanismo que permita aos países
elevar seus compromissos de redução de emissões. As INDCs podem fazer a curva
da temperatura baixar, mas não tanto quanto precisamos. Quanto mais atrasarmos
ou adiarmos a ação, mais caro será conter as mudanças climáticas.
O
sr. acha politicamente viável que em algum momento a comunidade internacional
mude a meta para 1,5ºC, por medida de segurança?
Faria sentido visar 1,5ºC, e acho que
podemos chegar a isso, mas apenas se mudarmos para uma economia de baixo
carbono já. Precisamos mudar nossos investimentos de combustíveis fósseis para
energia renovável. Precisamos abraçar integralmente a Agenda de Desenvolvimento
Sustentável adotada pelos líderes em setembro. E precisamos apoiar os esforços
de adaptação, pois não podemos reverter as mudanças climáticas. Vamos ter que
conviver com elas.
O
cenário mais positivo apresentado pelo Pnuma [braço ambiental da ONU] em seu
relatório de 2015 sobre a discrepância de reduções aponta para um aquecimento
de 3ºC a 3,5ºC até 2100, e isso apenas se as INDCs forem plenamente
implementadas. Resta base para otimismo quanto a Paris?
Sim – Paris pode nos colocar no caminho
rumo a um futuro de menos de 2ºC.
Sabemos que as INDCs não vão bastar. Os
países terão que elevar seu nível de ambição e reduzir suas emissões enquanto
avançamos.
É por isso que o Acordo de Paris é tão
importante. Ele vai definir as regras a serem seguidas daqui para frente e
traçar um mecanismo para os países elevarem seus compromissos de modo regular.
Há
muito ceticismo e crescente divergência sobre o investimento anual de US$ 100
bilhões para acelerar a transição para um caminho de baixo carbono. O
compromisso financeiro deve ficar a cargo dos países desenvolvidos ou as
economias emergentes também devem contribuir? O montante deve ser dinheiro novo
e vir exclusivamente de governos, ou seria aceitável incluir o setor privado?
Não há dúvida de que os países
desenvolvidos precisam liderar no financiamento climático. Esse financiamento
deve vir de "todas as fontes", o que abrange dinheiro público e
privado.
Entende-se, entretanto, que devem ser
incluídos nos US$ 100 bilhões apenas os investimentos privados que sejam
resultantes de ação pública.
Os países em desenvolvimento também
precisam cumprir sua parte, na medida em que estiver ao seu alcance. Nenhum
país pode se omitir e ficar inativo.
A
ONU perdeu parte da força como fórum global em questões de segurança e alguns
outros temas, e a incapacidade de fechar um acordo com força de lei para o
clima pode corroer sua autoridade ainda mais. Nos últimos anos, organismos
globais que perderam o poder de angariar consensos perderam relevância para
fóruns menores. O fracasso em Paris não seria um risco à ONU?
Ninguém deve questionar a relevância e
importância das Nações Unidas e do multilateralismo. Já vimos países se unindo
para adotar as Metas de Desenvolvimento Sustentável, reconhecendo a necessidade
de transformar o modo como fazemos negócios para pôr fim à pobreza, promover a
prosperidade e proteger o ambiente.
Acredito que todos os países e os
líderes compreendem o que está em jogo em Paris e estão engajados em forjar um
acordo que nos faça avançar.
O
Brasil e países como Japão, Índia e Alemanha pedem a reforma do Conselho de
Segurança da ONU para refletir as mudanças políticas e econômicas dos últimos
70 anos. Muito já se debateu, mas nada fez a mudança avançar. Como o sr. vê a
reforma e qual prazo seria razoável para ela?
Acredito que tenha sido feito certo
progresso, mas sem dúvida há ainda mais trabalho pela frente, incluindo para o
Conselho de Segurança. É verdade que mais e mais pessoas pedem uma reforma. Mas
essa é uma questão para ser debatida e decidida pelos Estados membros, não pelo
Secretariado.
A ONU está mudando juntamente com o
resto do mundo, e é um processo constante. Estou colaborando estreitamente com
os Estados membros sobre a restruturação institucional, a melhoria da
coordenação e sobre as prioridades estratégicas da ONU.
Após
15 anos elevando sua importância nos organismos internacionais, o Brasil teve sua
voz e ambição reduzidas. É provável que a crise política e econômica aqui
agrave o problema. O que o Brasil tem a perder caso se retraia? E o que o
sistema internacional?
O Brasil é um ator líder no palco
mundial e na ONU, onde tem feito contribuições fortes e constantes sobre
questões que fazem parte dos três pilares de nosso trabalho: paz e segurança,
direitos humanos e desenvolvimento.
Estou grato ao Brasil por sua
participação em missões de paz, com mais de 1.200 brasileiros servindo em nove
missões em todo o mundo. Agradeço ao Brasil sobretudo pela missão no Haiti.
O mundo descreveu avanços tremendos
neste ano em direção à criação de um futuro sustentável, com a adoção em Nova
York, em setembro, de uma nova agenda de desenvolvimento sustentável. Mas a
longa estrada que conduz a essa vitória começou realmente na ECO92 no Rio de
Janeiro em 1992, quando o Brasil foi palco da Cúpula da Terra, reunindo mais de
cem líderes mundiais para repensar o desenvolvimento econômico e encontrar
maneiras de sustar a degradação dos recursos naturais.
Essa cúpula inusitada foi seguida duas
décadas depois com a Rio+20, onde os líderes mapearam um caminho em direção a
um mundo mais seguro, igualitário, limpo, verde e próspero para todos.
Como anfitrião, o Brasil exerceu papel
fundamental na negociação de acordos ambiciosos. E fez grandes contribuições ao
esboço da Agenda de Desenvolvimento Sustentável de 2030, adotada por líderes
mundiais em setembro. O Brasil também exerce papel importante de lançar pontes
nas negociações climáticas e é fonte de muitos denominadores comuns. Espero que
o país continue a liderar nessas áreas.
O
sr. deixa seu cargo em 2016. O que gostaria que ficasse como sua maior
realização?
Caberá à história avaliar. Só posso
dizer que fiz o melhor que pude para assumir responsabilidades que me foram
entregues.
Há três questões às quais eu me
dediquei plenamente. Em primeiro lugar, as mudanças climáticas. Viajei aos
confins da Terra para soar o alarme e ressaltar oportunidades de uma transição
para um futuro de baixo carbono.
Em segundo, o desenvolvimento
sustentável. Esse é o caminho mais certeiro para sociedades estáveis e uma vida
com dignidade para todos.
Em terceiro lugar, o empoderamento de
mulheres. O mundo já avançou muito, mas a violência e discriminação continuam
amplas.
Também tenho procurado promover o
avanço dos direitos humanos para todas as minorias, incluindo a LGBT, e tenho
orgulho de nossos avanços na construção de parcerias e no fortalecimento da
gestão, transparência e prestação de contas da ONU.
O
senhor gostaria de ser sucedido por uma mulher?
Já ouvi muitas vozes de todo o mundo
dizendo que é chegada a hora de uma mulher qualificada e com realizações
liderar as Nações Unidas. Sou muito engajado com a igualdade de gêneros. Sou o
oitavo secretário-geral homem.
Acho que está mais que na hora de os
Estados membros ouvirem seriamente os chamados para que tenhamos uma mulher
como secretária-geral das Nações Unidas.
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