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Trabalho sério longe dos ricos e luxuosos tronos do poder
Posted by Cottidianos
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00:14
Sexta-feira, 11 de dezembro
Em
um país em que os governantes brincam de governar, e, brincando de governar,
brincam com os sonhos do povo, é bom ver que há gente que faz diferente, mesmo
com os parcos recursos de que dispõe, e sem os desvarios do luxo.
É o
exemplo que vem do sofrido semiárido cearense, que mesmo estando muito longe
dos fartos recursos da Corte, digo, de Brasília, conseguem desenvolver
excelente trabalho na área educacional.
Se
aqueles que foram colocados em Brasília para governar o país, saíssem de seus
tronos luxuosos e olhassem para o povo que realmente trabalha para o bem maior
do país, talvez, quem sabe, parassem de olhar para o próprio umbigo, ou para o
próprio bolso, e arregaçassem as mangas, para, finalmente, trabalhar pelo bem
daqueles que é o foco da democracia: o povo.
Abaixo,
compartilho texto publicado pela Folha de São Paulo, em 12 de novembro último.
***
Semiárido
cearense tem escolas públicas com nível de países ricos
FÁBIO
TAKAHASHI
ENVIADO
ESPECIAL A SOBRAL (CE)
Os
alunos da escola Massilon Sabóia moram em assentamentos ou em pequenos
vilarejos do semiárido cearense. É no colégio onde muitos fazem as principais
refeições, devido à baixa renda familiar. Mas é ali também onde eles conseguem
resultados que chamam a atenção do meio educacional do país ao ultrapassarem o
nível de aprendizagem de nações ricas.
A
escola faz parte da rede municipal de Sobral, cidade de 200 mil habitantes, a
230 km de Fortaleza. Seus 31 colégios com resultados divulgados na última
avaliação do governo federal, o Ideb, tiveram notas entre 6,9 e 9 na primeira
etapa do ensino fundamental, em escala de 0 a 10.
Nessa
métrica, a média dos países desenvolvidos estaria em 6, algo equivalente à
educação no Reino Unido. A Massilon Sabóia, a mais distante do centro de
Sobral, teve 8. A avaliação considera notas em português e matemática e taxa de
estudantes aprovados.
Em
outra avaliação, divulgada neste mês, o município apareceu como o melhor do
país em oportunidade de educação, que considera resultados das provas,
percentual de estudantes matriculados e condições das redes (como escolaridade
dos professores e experiência dos diretores).
Os
estudantes passam por uma bateria de avaliações. Além das provas aplicadas
pelos próprios colégios, que são no mínimo mensais, são feitas semestralmente
avaliações do município, com equipes de fora do colégio. Também há os exames
dos governos estadual e federal.
O
sistema visa, de um lado, indicar os alunos que estão com dificuldades. Estes
passam a frequentar atividades fora do horário normal de aula, até entrarem no
ritmo.
AS
AÇÕES
Para
se chegar a esses resultados, o município implementou política calcada em
definição clara do que deve ser ensinado dia a dia, bonificação por resultado e
autonomia a diretores (escolhidos em concursos abertos, até para quem é de fora
do Estado).
As
escolas são bem conservadas, mas sem luxo. A base das aulas é o tradicional
lousas-carteiras-apostilas-livros.
"Nossa
preocupação é com o arroz com feijão bem feito, sem pedagogês que não dá
resultado", afirma o prefeito da cidade, Veveu Arruda (PT).
De
outro lado, os resultados norteiam a remuneração extra que professores e
diretores podem receber. No caso dos docentes o valor chega a R$ 500 mensais (o
salário-base da categoria é de R$ 2.000; a população ganha em média perto de R$
1.300 mensais). Também há prêmios pagos uma vez ao ano.
"A
gratificação por desempenho é o que alimenta a vontade de continuar
melhorando", afirma o diretor Osmarino Portela Ribeiro, da escola Elpídio
Ribeiro da Silva, que teve o melhor desempenho do município (nota 9).
No
colégio, os estudantes do 5º ano do fundamental já chegaram ao desempenho
esperado para os do 9º ano em português e matemática.
Outra
política da rede elogiado por Ribeiro é a de deixar aos diretores a
prerrogativa de montar o quadro de professores. Ao fim de cada ano, eles podem
retirar os que não estão rendendo (na rede pública em São Paulo, são os
docentes que escolhem onde querem lecionar). "É bom, dá pressão", diz
o diretor.
A
Folha conversou com pais que colocaram o filho no colégio depois de passarem
por escolas particulares de Fortaleza e de São Paulo.
"Aqui
ela se desenvolve melhor", afirma o comerciante Francisco da Costa, 44,
que morava na capital cearense e se mudou em 2013.
Mesma
opinião tem a podóloga Ana Lúcia Pitanga, 44, cujo filho de sete anos tem
autismo leve. "Ele só se alfabetizou aqui." Eles chegaram da capital
paulista neste ano.
CONTRAPONTO
Se
por um lado essa política educacional —iniciada na gestão do então prefeito Cid
Gomes (1997-2005)— apresenta bons resultados em avaliações, por outro desperta
debate acadêmico.
Um
dos céticos é o diretor da Faculdade de Educação da Unicamp, Luiz Carlos de
Freitas. "São políticas de voo de galinha. Focam no índice a ser obtido e
constrangem as escolas a caminharem nesta direção. Estreitam o currículo em
função do índice das disciplinas medidas", afirma.
Boa
parte do material pedagógico utilizado em Sobral tem como base a Prova Brasil,
que compõe o Ideb. "É claro que se você 'ensinar para a prova', a nota vai
subir. Educar, no entanto, é diferente de treinar", completa.
Já
Ilona Becskeházy, que estuda o caso de Sobral em seu doutorado na USP, diz que
o município faz um "trabalho árduo", que poderia ser estendido a
outras redes.
Como
empecilho para a disseminação, ela aponta a lógica da "compensação
política". Mesmo Sobral sofria do problema, antes da reforma. "Havia
diretora analfabeta, que assinava com o dedo. Estava ali porque era cabo
eleitoral", diz o prefeito.
RECURSOS
Para
atingir todos os objetivos, a prefeitura gasta 30% do seu Orçamento com
educação, pouco acima do exigido pela Constituição (25%). Recursos adicionais
vêm de parcerias com fundações e governos estadual e federal.
Parte
do material pedagógico é feito pela rede, parte por empresa terceirizada. Em
comum há a determinação do que deve ser ensinado a todos, diariamente.
No
caso da professora Daniele Mesquita, 23, da escola Massilon Sabóia, a missão na
manhã do último dia 6 era aprimorar coesão, coerência e concisão nos textos dos
estudantes do 5º ano.
"Corremos,
mas conseguimos", disse, ao fim das quatro horas de aula.
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