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Corrupção e maracutaia: Um golpe contra o Brasil
Posted by Cottidianos
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00:18
Domingo, 13 de dezembro
Vida de coralista, nos finais de ano, é
bastante corrida. Apresentação aqui e acolá. As belas canções natalinas são o
carro chefe da grande maioria dos corais nesta época do ano. Eu, na condição de
participante de coral também estou nessa correria, de forma que, nem sempre
consigo tempo para escrever textos mais elaborados, vocês que acompanham o blog,
espero que compreendam.
Ontem mesmo (12), fui à cidade de
Valinhos, próxima à Campinas, com o Coral
Pio XI, onde nos apresentamos em
uma casa de idosos. No mesmo local estava se apresentando o Coral do Regatas, e como também já
cantei com eles, eles me chamaram para dar uma força para eles. Quando cheguei a
Campinas, ainda fui à Igreja de Nossa Senhora da Boa Morte, onde estava se
apresentando o Coral Assussena.
Feito esse adendo, prossigo, na
postagem de hoje, com um assunto menos agradável que é a crise política pela
qual atravessa o Brasil.
A mim, me parece tudo tão irreal... Os
discursos dos políticos soam vazios de significado, e suas atitudes beiram o
cinismo e o sarcasmo. É como se estivesse lendo um romance, péssimo romance, de
uma história que se passa em alguma república das bananas, de algum tempo no
passado, onde os que foram eleitos para governar não tem o menor discernimento
do que seja a coisa pública, nem do porque e para que foram eleitos. Nessa república
das bananas, eles, políticos, parecem apenas decorativas, de tão preocupados que estão em amealhar tesouros
para os seus celeiros particulares, quando na verdade tais tesouros são um bem
pertencente à nação. Não fosse esse o enredo também o título do romance não
mereceria o nome de república das bananas.
Ainda neste pitoresco lugar, lá fora,
longe dos feudos, há um povo agredido nos seus direitos de cidadão que paga uma
alta carga tributária. Essa carga tributária pesada deveria servir para tornar mais
suave a vida dos cidadãos. Eu disse deveria, mas os corruptos tem se apoderado
destes tesouros para fins particulares, deixando seus governados à deriva.
Não gostaria de fazer semelhante
comparação de república das bananas a esse maravilhoso país. Afinal de contas,
temos um povo trabalhador e que sabe acolher muito bem aos que pisam em nosso
solo; Temos recursos naturais incontáveis; estamos, relativamente, longe da
fúria da natureza, tais sejam, terremotos, maremotos, tsunamis; enfim, uma
série de fatores nos coloca em uma posição privilegiada em relação a muitos
países. Porém, a pequenez de pensamento de grande parte dos políticos que
ocupam nossas casas legislativas, tanto em nível federal, quanto estadual, ou
municipal, contribui para que o Brasil, que é gigante, ande mal das pernas.
À possibilidade de impeachment, o PT
reage com a palavra “golpe de estado”. Daí eu fico pensando: “Por acaso, não
seria um golpe, os milhões de reais, desviados dos cofres públicos para comprar
políticos nos mensalões da vida, a fim de obter base aliada no governo? Não
seria golpe de estado sucatear a Petrobrás, um dos maiores patrimônios brasileiros?
Não seria golpe, mentir, enganar, e enriquecer ilicitamente à custa do dinheiro
dos contribuintes e das n formas de
maracutaias inventadas todos os dias para driblar a lei e a justiça"?
Talvez não tenhamos parado para pensar
nisso, mas estamos assistindo, todos os dias, através dos diversos meios de
comunicação, o povo brasileiro sofrer um golpe por parte da Câmara dos
Deputados, na pessoa de seu presidente, Eduardo Cunha, e de seus aliados. São tantos
os documentos e testemunhos que comprovam que ele está envolvido em
corrupção... Esse homem já deveria ter sido cassado há muito tempo, ou se ele
tivesse um mínimo de vergonha na cara, ele mesmo teria renunciado. Mas, cínica e
sarcasticamente, ele insiste em dizer que não é dele o dinheiro em uma conta no
exterior, dinheiro que, aliás, é usado por ele e por seus familiares. Acho
isso, no mínimo, chamar os brasileiros de palhaços.
Como podemos ter na Câmara um político
sem escrúpulos como Eduardo Cunha? Um homem que usa a máscara de religioso
para, sob ela, usar de má fé para com a lei? Esse respeitável? homem piedoso? É
especialista em encontrar brechas no regimento interno da Câmara, e com isso,
vai protelando o início da análise de seu processo de cassação. É como se o
político em questão legislasse em causa própria. Já são sete as sessões nas
quais a Câmara tenta votar o relatório que vai analisar o processo de cassação
de Eduardo Cunha. A Câmara bem que tenta votar esse relatório, mas Cunha e seus
aliados, usando de brechas encontradas no regimento interno da Casa, vão adiando
esse momento, tão esperado por todos nós. Ora, senhores e senhoras, isto não é
ou não é um golpe contra a democracia?
Concordo com a abertura do processo de
impeachment da presidente Dilma. Que seus atos sejam julgados, e forem
considerados dignos de punição, então que assim se faça. Mas, antes do
impeachment de Dilma, que se pegue essa raposa, chamada Eduardo Cunha, antes
que ela faça ruir ainda mais a confiança em nossos políticos e a confiança no
país.
Bem ou mal, o movimento das ruas tem
dado resultado, mas o grito das ruas não deve apenas se resumir apenas a
presidente Dilma, ou ao ex-presidente Lula, ou contra o PT. O povo deve usar de
sua força, baseada e alicerçada nos princípios democráticos, contra todos os políticos
e partidos políticos que usam de dissimulação e hipocrisia e, agindo dessa
forma, levam o nosso querido Brasil à ruína.
Na semana que passou, mais precisamente
na sexta-feira (11), a Folha publicou um excelente artigo, escrito por Vladimir
Safatle, professo do Departamento de Filosofia da USP (Universidade de São
Paulo). O artigo é uma excelente reflexão sobre essa grave política que o país
atravessa, e por isso, resolvi compartilhá-lo com vocês.
Aproveito para desejar a todos um bom
domingo e uma boa semana.
***
O Estado Oligárquico de Direito
Vladimir Safatle
Neste exato momento, a população
brasileira vê, atônita, a preparação de um golpe de estado tosco, primário e
farsesco. Alguém poderia contar a história da seguinte forma: em uma república
da América Latina, o vice-presidente, uma figura acostumada às sombras dos
bastidores, conspira abertamente para tomar o cargo da presidente a fim de
montar um novo governo com próceres da oposição que há mais de uma década não
conseguem ganhar uma eleição. Como tais luminares oposicionistas da
administração pública se veem como dotados de um direito divino e eterno de
governar as terras da nossa república, para eles, "ganhar eleições" é
um expediente desnecessário e supérfluo.
O vice tem como seu maior aliado o
presidente da Câmara: um chantagista barato acostumado, quando pego em suas
mentiras e casos de corrupção, a contar histórias grotescas de fortunas feitas
com vendas de carne para a África e contas na Suíça com dinheiro depositado sem
que se saiba a origem. Ele comanda uma Câmara que funciona como sala de reunião
de oligarcas eleitos em eleições eivadas de dinheiro de grandes empresas e tem
ainda o beneplácito de setores importantes da imprensa que costumam contar a
história do comunismo a espreita e do bolivarianismo rompante para distrair
parte da população e alimentá-la com uma cota semanal de paranoia. O nome de
sua empresa diz tudo a respeito do personagem: "Jesus.com".
O golpe ganha um ritmo irreversível
enquanto a presidenta afunda em suas manobras palacianas estéreis e nos
incontáveis casos de corrupção de seu governo. Ela havia dado os anéis para
conservar os dedos; depois deu os dedos para guardar os braços. Mais a frente,
lá foram os braços para preservar o corpo, o corpo para guardar a alma e, por
fim, descobriu-se que não havia mais alma alguma. Reduzida à condição de um
holograma de si mesma e incapaz de mobilizar o povo que um dia acreditou em
suas promessas, sua queda era, na verdade, uma segunda queda. Ela já tinha sido
objeto de um golpe que tomou seu governo e a reduziu à peça decorativa. Agora,
nem a decoração restou.
Bem, este romance histórico ruim e
eternamente repetido parece ser a história do fim da Nova República brasileira.
Que ela termine com um golpe de estado primário, fruto de um pedido de impeachment
feito em cima da denúncia de "manobras fiscais" em um país no qual o
orçamento é uma ficção assumida por todos, isto diz muito a respeito do que a
Nova República realmente foi. Incapaz de criar uma democracia real por meio do
aprofundamento da participação popular nos processos decisórios do Estado e
equilibrando-se na gestão do atraso e do fisiologismo, ela acabou por ser
engolida por aquilo que tentou gerir. Para justificar o impeachment, alguns são
mais honestos e afirmam que um governo inepto deveria ser afastado. É verdade,
só me pergunto por que então conservar Alckmin, Richa, Pezão e cia.
O fato é que, no lugar da Nova
República, o Brasil depois do golpe assumirá, de vez, sua feição de Estado
Oligárquico de Direito. Um estado governado por uma oligarquia que, como na
República velha, transformou as eleições em uma pantomima vazia. Uma oligarquia
que já mostrou seu projeto: uma política de austeridade que não temerá
privatizar escolas (como já está sendo feita em Goiás), retirar o caráter público
dos serviços de saúde, destruir o que resta dos direitos trabalhistas por meio
da ampliação da terceirização e organizar a economia segundo os interesses não
mais da elite cafeeira, mas da elite financeira.
Mas como a população brasileira
descobriu o caminho das ruas (haja vista as ocupações dos estudantes
paulistas), enganam-se aqueles que acreditam poder impor ao país os princípios
de uma "unidade de pacificação". Contem com um aumento exponencial
das revoltas contra as políticas de um governo que será, para boa parte da
população, ilegítimo e ilegal. Mas como já estamos dotados de leis
antiterroristas e novas peças de aparato repressivo, preparem-se para um Estado
policial, feito em cima de leis aprovadas, vejam só vocês, por um "governo
de esquerda". Faz parte do comportamento oligarca este recurso constante à
violência policial e ao arbítrio para impor sua vontade. Ele será a tônica na
era que parece se iniciar agora. Contra ela, podemos nos preparar para a guerra
ou agir de forma a parar de vez com este romance ruim.
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