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Jovem Guarda – 2ª parte - (O Movimento Musical)
Posted by Cottidianos
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00:22
Terça-feira,
04 de agosto
À esquerda, Roberto. Ao centro, Wanderléa. À direita, Erasmo |
Toda
essa onda que arrebentou na apresentação do programa Jovem Guarda, invadindo as
praias da mocidade dos anos 60, começou a ser formada bem antes, em meados da
década anterior.
Deve
ser difícil para alguém de outra nacionalidade falar de samba sem que não se
reporte ao seu berço: O Brasil. Assim como é difícil para um brasileiro falar
das bases do rock sem que não se remeta ao seu berço: Os Estados Unidos da
América. Foi de lá que, na década de 50, surgiu uma verdadeira cultura juvenil,
e uma música própria dos jovens. Antes disso, os jovens viviam à sombra de seus
pais, vestindo as roupas que eles vestiam, ouvindo as músicas que eles ouviam,
e por aí vai. O rock teve grande influência nisso. Ele trouxe em seu pacote de
novidades: um ritmo, uma moda, um jeito jovem de viver. Essa reação,
desencadeada naquele país se espalhou pelo mundo inteiro.
No
Brasil não foi diferente. Em outubro de 1955 chegava às telas de cinema o filme,
Sementes da Violência (Blacboard
Jungle). A música tema do filme “Rock
Around the Clock”, de Bill Haley and His Comets, chegava com força e
enlouquecia os jovens. A trilha sonora do filme fez tanto sucesso que, a partir
dela, foi lançado o filme, Rock Around
the Clock — (no Brasil, o filme recebeu o nome de: Ao Balanço das Horas), — um musical que apresentava ao mundo
artistas que tocavam o novo ritmo, dentre eles Bill Halley e The Platters.
O
primeiro canto de rock a ecoar em solo brasileiro veio, quem diria, de uma
famosa cantora de samba-canções. Na Rádio Nacional do Rio de Janeiro, no Programa
Cesar de Alencar, Nora Ney, uma das poucas cantoras brasileiras a dominar o
inglês à época, soltou a bela voz na interpretação de Rock Around the Clock. A música foi interpretada no original sem
grandes variações.
Em
1957, aconteceu a primeira gravação de um rock com letra em português na voz de
Cauby Peixoto, Rock’n Roll em Copacabana,
música composta pelo carioca Miguel Gustavo.
Os
primeiros astros do pop brasileiro entraram em cena em 1959: Os irmãos Tonny e
Celly Campello. Foi o ano do lançamento do LP, Estúpido Cúpido. A faixa que dava título ao LP é uma versão bem
sucedida de Stupid Cupid, de Neil
Sedaka e Howard Greenfield.
Curiosa
essa estrada do rock no Brasil, não é? Uma mulher foi a primeira a gravar um rock no Brasil:
Nora Ney, e outra foi o primeiro ídolo pop: Cellly Campello. Celly chegou a ser
eleita, em 1961, Rainha do Rock, em um concurso elaborado pela Revista do Rock.
Nascia ali um ritmo com cara e jeito de Jovem Guarda. Porém o sucesso de Celly
foi igual aos das estrelas cadentes: no auge do fulgor ela se retirou do
deslumbrante mundo da fama para casar-se com José Eduardo Chacon. Tonny,
continuou no cenário musical e chegou a produzir alguns discos dos músicos da
Jovem Guarda.
Roberto e Erasmo Carlos |
E
Roberto e Erasmo Carlos, dois ícones desse movimento? A primeira música feita
por eles nada tinha a ver com rock. Era um samba chamado, Maria e o Samba, que nunca chegou a ser gravado, mas foi
apresentado por Roberto em um de seus shows, na Boate Plaza, no Rio de Janeiro,
em 1959. Assim encontramos Roberto Carlos no início de sua carreira: indefinido
musicalmente, cantando sambas e Bossa Nova. A carreira do astro só ganhou a
direção do rock quando o cantor Sérgio Murilo brigou com a CBS e foi para a
RCA. A direção da CBS não podia ficar sem um ídolo jovem e, praticamente,
empurrou Roberto para o rock.
The
Clevers(Os Íncríveis), Golden Boys, Renato e Seus Blue Caps, The Jet Blacks, e
todos os artistas que se apresentaram no Jovem Guarda, já vinha fazendo sucesso
há algum tempo. Tiveram influência de astros do rock como Elvis Presley, Bill
Halley, Litllte Richard, Beatles, Rolling Stones, e dos românticos: Paul Anka,
Neil Sedaka, The Platers. Musicalmente, a Jovem Guarda fez uma grande salada à
brasileira. Juntou num prato só música romântica, rock, música americana,
francesa, italiana. Salada esta que resultou num prato perfeito. Simples nas
suas letras, nos acordes, mas muito gostoso e popular.
Nesse
período, grande parte das letras eram versões de músicas estrangeiras. A grande
sacada da dupla Erasmo e Roberto Carlos foi perceber que era preciso criar
letras em português. Tarefa na qual foram bem sucedidos.
Não
poderia deixar de falar aqui da briga estética e ideológica entre Jovem Guarda
e Bossa Nova. A guitarra elétrica, e demais instrumentos novos trazidos pela
Jovem Guarda, incomodaram por demais o banquinho e o violão da Bossa Nova. Essa
última com ideais nacionalistas, e a primeira cheia de estrangeirismos. Vale
lembra que era um tempo em que a cortina de ferro da ditadura descia forte
sobre o país. A turma da Bossa fazia música de protesto, se engajava na luta
política. A Jovem Guarda?! Queria mais era fazer rock e curtir a vida numa boa.
Por causa desse descompromisso com a causa política, as críticas vieram
pesadas. O pessoal da Jovem Guarda foi chamado, dentre outras coisas, de
“alienados”, “debilóides”, e “submúsicos”. Acho que essas críticas tinham muito
de ciumeira e dor de cotovelo, talvez por causa do sucesso que vinham fazendo
os meninos e meninas da Jovem Guarda.
Enquanto
movimento musical, a Jovem Guarda trouxe sua importante contribuição à música
brasileira. Foi ela quem colocou em evidência os instrumentos elétricos, tão
desprezados pelos artistas da Bossa Nova. Além disso, a Jovem Guarda inaugurou
uma cultura roqueira no país através do vestuário e das gírias. Expressões como
“bicho” “cara” “broto” passaram a fazer parte do falar da mocidade que gostava
da agitada música da época.
A
Jovem Guarda acabou? Não de jeito nenhum. Ela vive por aí inspirando as novas
gerações. Vive nos programas de rádios apresentados Brasil afora, nas
entrevistas e especiais de TV que, vez em quando, trazem o tema à tona.
Para
finalizar, peço aplausos para aqueles rapazes e moças que, em meio às trevas da
repressão, acenderam as luzes da alegria e nos deixaram como legado uma música vibrante
e gostosa. Viva a Jovem Guarda!
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