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Medo de água fria
Posted by Cottidianos
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00:29
Domingo,
23 de agosto
“A
corrupção dos governantes
quase
sempre começa
com
a corrupção dos seus princípios”.
(Barão de Montesquieu)
O
que se espera de um governo em um estado democrático de direito? Muitas coisas,
dentre elas, que esse governo aja com transparência. Pois se o governo pauta
suas ações em planos e ações nebulosas, estará ele incentivando tais atitudes
em seus governados. Um agir ético é o que se espera de um governo democrático.
Quando falo em governo no estado democrático de direito, não me refiro apenas
ao governante da nação, mas também as instituições que o ajudam a governar essa
mesma nação.
No
Brasil, quando olhamos para o cenário político, a impressão é a de que estamos
navegando em um mar de lama. Os escândalos jorram a toda hora, — como o petróleo
jorra do seio da terra — em todo lugar, e com tamanha intensidade que chega a
nos assustar, deixar perplexos. Como brasileiros honestos que somos a grande
maioria de nós, deveríamos ficar escandalizados, com o fato de que, nesse jogo
de xadrez, as peças chaves deste tabuleiro, ou seja, os políticos que estão no
comando dos cargos vitais para o bom andamento de uma democracia, estejam
submersos nesse mar de lama. Por exemplo, na Presidência da República, pairam
dúvidas de que, parte dos recursos que ajudaram a pagar os gastos de campanha
da presidente Dilma Rousseff, tenha sido oriundas dessa imensa fortuna que saiu
dos cofres da Petrobrás.
E
essas suspeitas não nasceram agora, no bojo dessas manifestações populares que
pedem o fim da corrupção, e o impeachment da presidente. Vale a pena
recordarmos que, logo após a vitória de Dilma, nas eleições passadas, mais
precisamente no dia 10 de dezembro, a menos de um mês da solenidade de posse
para um novo mandato, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), aprovou, com
ressalvas, as contas da presidente Dilma. Na ocasião, todos os sete ministros
votaram com a mesma orientação.
O
caso foi levado à instância eleitoral máxima do país, pelo partido derrotado
nas eleições de segundo turno, o PSDB, e também por técnicos do próprio TSE,
que ao analisar as receitas e despesas de campanha da presidente, observaram
irregularidades, e pediram a rejeição dessas contas.
Na
época, o PT e a Procuradora-Geral Eleitoral, minimizaram a situação, alegando
que os erros havidos eram apenas formais, e que isto não poderia implicar numa
rejeição das contas. Em outras palavras, afirmavam eles que houvera apenas
“erros técnicos”. O relator do caso, à época, Gilmar Mendes, acolheu estas
justificativas e aprovou as contas, porém, com ressalvas. O voto pela aprovação
das contas foi seguido pelos ministros, Luiz Fux, João Otávio de Noronha, Maria
Thereza de Assis, Luciana Lóssio e Admar Gonzaga, bem como pelo presidente do tribunal,
ministro Dias Toffoli.
Em
uma primeira análise, o problema menos grave, digamos assim, encontrado por
eles, referia-se a falta de documentação no registro de arrecadação do valor de
R$ 18,3 milhões (5,22% do total), feitas pelo sistema de “doação estimada”, que
é quando um doador colabora com bens ou serviços. A defesa da presidente
atribuiu esse problema, simplesmente, a falhas no sistema eletrônico de
prestação de contas.
Além
desse “problema menos grave”, os técnicos do TSE haviam apontado um grave
problema que foi a não identificação da origem de R$ 13,6 milhões arrecadados.
Outras cifras na casa de milhões foram apontadas pelo TSE como irregulares e,
para cada uma delas, eram apresentadas justificativas simplistas por parte do PT.
O
ano começou. A crise chegou. A Operação Lava Jato continuou revelando sujeiras
escondidas debaixo do tapete. O ex-gerente da Petrobrás, Pedro Barusco, revelou
em depoimento, em 13 de março deste ano, que 300.00 mil dólares oriundos desse
criminoso esquema de corrupção, abasteceram, sim, os cofres do PT, e ajudaram a
pagar a campanha de presidente Dilma, em sua primeira eleição, no ano de 2010.
Barusco já havia afirmado anteriormente em depoimento, que, entre os anos de
2003 e 2013, — note-se que isso envolve os dois governos do presidente Lula, e
o da presidente Dilma — uma quantia que varia de 150 a 200 milhões de dólares,
milhões de dólares ressalte-se, entraram nos cofres do PT, pelas mãos de seu
tesoureiro, João Vaccari Neto. “Como na
divisão da propina cabia ao PT receber o dobro ou um pouco mais, eu estimo que
o partido deve ter recebido o dobro do que eu”, disse Barusco, em seu
depoimento. Ou seja, o que se desenrolava nos bastidores era um tesoureiro se
reunindo com diretores da estatal para cobrar propina que ia para os cofres do
partido, em outras palavras, tínhamos um assalto à Petrobrás, e ao Brasil.
Outra
manobra nas contas do governo que tem dado o que falar é as “pedaladas
fiscais”. Através dessa manobra, o Tesouro Nacional atrasava o repasse de
dinheiro para bancos públicos, e também para órgãos como o INSS. Com isso, o
governo estava sempre apresentando nos relatórios, despesas menores que as realmente
efetuadas, em resumo, era uma forma de maquiar as contas públicas, enganando a
todos nós, brasileiros, mercado financeiro, e especialistas em contas públicas.
Esse esquema foi relevado pelo jornal, O
Estado de São Paulo, no primeiro semestre de 2014, mas só agora, em 2015, a
equipe do governo admitiu que elas tivessem existido, e que as estavam
corrigindo. Essas manobras ocorreram entre 2012 e 2014.
O
processo de julgamento das “pedaladas fiscais” corre no Tribunal de Contas da
União (TCU), órgão que analisa o caso. No dia 12 agosto, o TCU resolveu
conceder mais quinze dias para que o governo se explique. Essa concessão de
prazo se deveu a um acordo de comadres, entre o Palácio do Planalto e o Senado
Federal. As coisas não são claramente ditas, mas sabemos que são assim. Assim,
Dilma alivia a barra de Renan Calheiros, investigado na Operação Lava Jato, e
Renan ajuda Dilma a se livrar de um possível pedido de impeachment. É o jogo
sujo de um poder que deveria, em tese, ser do povo e para o povo. Porém, pelo
que estamos vendo e ouvindo, ainda estamos muito longe desse conceito desse
principio democrático.
Porém,
nem tudo é desesperança, algumas vezes as coisas que pareciam travadas,
avançam. Por exemplo, nesta sexta-feira, o atual ministro do TSE, Gilmar
Mendes, fez um pedido para que a Polícia Federal e a Procuradoria Geral da
República investiguem as contas da última campanha da presidente Dilma para
averiguar se, de fato, houve crime. Segundo Gilmar Mendes, há indícios de
lavagem de dinheiro e falsidade ideológica, fatos que podem levar a abertura de
uma ação penal. O pensamento de Mendes se afina com o de delatores da Operação
Lava Jato, ao afirmar que dinheiro desviado dos contratos da Petrobrás
retornaram aos cofres do PT, em forma de propina, por meio de doação ao partido
e para pagamento de contas de campanha.
O
PT afirma, veemente, que todas as doações de campanha foram legais. Para quem
já viu o partido afirmar, categoricamente, que o mensalão nunca existiu, e
depois o fato ser fartamente provado e comprovado, é pagar para ver.
Como
diz o ditado popular: “Gato escaldado tem medo de água fria”. Seguindo a
esteira desse ditado, devo dizer que, nós brasileiros, somos gato escaldado...
E bem escaldados, diga-se de passagem.
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