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Jovem Guarda – 1ª Parte - (O Programa Televisivo)
Posted by Cottidianos
on
18:00
Sábado,
01 de agosto
“Vejam só que festa
De
arromba
No
outro dia
Eu
fui parar
Presentes
no local
O
rádio e a televisão
Cinema,
mil jornais
Muita
gente, confusão...”
(Festa de Arromba – Roberto e Erasmo Carlos)
Na
postagem de hoje, e na seguinte, convido-os a revisitar meados da década de 60.
Tempos da brilhantina, da juventude rebelde que reivindicava seu espaço na
sociedade e no mercado. Que através de
suas músicas, seu estilo de vestir, diziam ao mundo que queriam, nele, ser
protagonistas, e não apenas coadjuvante, como haviam sido até meados da década
de 50.
Convido-os
a experimentar o balanço de uma música alegre, cheia de bom humor, chamada
Jovem Guarda, movimento musical, precursor do rock no Brasil.
Se
comparada aos dias de hoje, aquela rebeldia, proclamada nos anos 60, chega a
ser ingênua. A própria Jovem Guarda, que se pretendia alinhada com as
tendências musicais da época, possuía letras, olhando para o passado da
perspectiva atual, ingênuas. Mas eram os costumes da época. Eram barreiras que
eles tentavam ultrapassar. Uma das
letras de músicas da época, chamada, Biquini de Bolinha Amarelinha, conta a
história de uma moça, chamada Ana Maria, que foi à praia, entrou em uma cabine,
e vestiu um biquíni pela primeira vez. A vontade de usar o biquíni era grande, afinal
a peça havia ficado sensacional no corpo dela, mas a vergonha de usá-la era
maior. Ana Maria ficou com vergonha dos olhares que os rapazes lhe lançariam, e
por fim desiste de usar o biquíni sensual. Coitada da Ana Maria, vivendo
dilemas como esses! Mas lembremos que os costumes da época ainda eram muito
conservadores, e perdoemos a Ana Maria.
Escrevi
esse texto em 2010, quando escrevia como colaborador para o blog, Retratos e Canções, de autoria de Eliel Silva. Espero que apreciem esse passeio por esse
importante cenário da música brasileira. Apesar de já terem se passado tantos
anos, a Jovem Guarda permanece. Músicas da época estão sendo constantemente
regravadas, e seus arranjos sempre atualizados.
***
JOVEM
GUARDA – 1ª Parte - (O Programa Televisivo)
Tarde
de verão em Pipa, um dos destinos turísticos mais charmosos do litoral
potiguar. Naquele pedaço de céu e mar, uma das praias que mais fascinam os
visitantes é a Praia do Amor. Clima quente. Águas mornas. Que delícia afundar
os pés naqueles quilômetros e quilômetros de tapete fofinho e macio formado
pelas finas e brancas areias beira-mar! As ondas que avançam furiosas logo se
transformam em dóceis cãezinhos a lamber os pés de quem caminha pela beira da
praia. Sob a brisa mansa, casais de namorados trocam beijos e carícias sob um
deslumbrante céu azul. Uma sensação indescritível de liberdade. Mistura de
realidade e fantasia.
Mas
e daí? O que isso tem a ver com o tema em questão? Você deve estar se
perguntando. É que se a Jovem Guarda fosse recorte de tempo de alguma estação
do ano seria exatamente isso: Uma tarde quente de verão em uma das praias do
belíssimo litoral brasileiro. Quente, envolvente, romântica, alegre, descontraída.
Afinal
o que foi essa tal de Jovem Guarda? A resposta é simples: A Jovem Guarda foi
uma mistura explosiva de movimento musical com programa televisivo, feito sob
medida para o público jovem. O programa de TV, por sua vez, deu nome ao
movimento. O elenco dessa festa de arromba já vinha sendo montado havia algum
tempo. O Jovem Guarda, com maestria, apenas distribuiu os papéis, abriu a cortina
e fez do espetáculo um sucesso absoluto.
Para
os amantes do futebol, como é gostoso recostar-se ao sofá... Controle remoto na
mão... E, com alegria, assistir aos jogos de domingo na TV. Em 1965, as tardes
dominicais na TV andavam meio em baixa. Haviam tirado o doce da boca das
crianças, digo, dos marmanjos.
Nos
dias atuais, a relação entre os clubes de futebol e as emissoras que transmitem
os jogos dos campeonatos estaduais e do campeonato brasileiro é bastante
vantajosa para ambos os lados. Naquele ano, as coisas não eram bem assim. A relação
entre clubes esportivos e emissoras de TV andavam meio estremecidas. Tanto que
os clubes de futebol de São Paulo, sentindo uma queda na arrecadação, proibiram
as transmissões televisivas dos jogos.
Resultado!
Transmissões esportivas proibidas. Televisões desligadas aos domingos à tarde.
Quem perdendo foram as emissoras de TV, que sentiram a audiência despencar nos
domingos à tarde, principalmente o canal 7, TV Record, que era quem liderava a
audiência no horário. Em um aspecto a situação é igual aos dias atuais; quanto
mais audiência, mais anunciantes, e quanto mais anunciantes, mais dinheiro em
caixa. É compreensível, pois, a preocupação da Record.
Para
recuperar a audiência o modo encontrado foi pensar um programa musical
destinado ao público jovem. Para comandar a atração, inicialmente pensou-se nos
nomes carismáticos como os de Roberto Carlos, que vinha fazendo sucesso com
algumas músicas, e Celly Campello que havia feito enorme sucesso em 1959, com o
LP, Estúpido Cúpido, chegando a ser eleita Rainha da Juventude. Celly, que
havia abandonado a carreira para se dedicar ao casamento, não voltou atrás em
sua decisão de dedicar-se à família. Fechou-se, então, o contrato com os nomes
de Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa. Sugeriu-se como nome do programa
“Festa de Arromba”, que era o título de uma música do Erasmo que vinha estourando
nas rádios. “Mas a música está fazendo sucesso agora, e daqui a um ano, como
fica o nome do programa?” Foi um dos questionamentos surgidos quanto ao título
do programa.
Chegou-se,
afinal, ao nome Jovem Guarda. E assim ficou decidido. Sem patrocinador, fica
difícil colocar no ar qualquer programa. Definido o nome da atração e o dos
apresentadores era preciso correr atrás dos anunciantes. E não foi fácil. As
empresas consultadas temiam associar suas marcas à um programa de juventude.
Temiam ligar seus nomes, a um artista iniciante chamado, Roberto Carlos. A
solução encontrada pela empresa de publicidade Malgadi, Maia & Prosperi,
foi criar uma marca de produtos a partir do nome de uma música de Roberto que
fazia sucesso. Criou-se a marca “Calhambeque” que envolvia diversos produtos.
O
diretor Carlos Manga, um dos três diretores do programa, ao ouvir uma prova de
acetato com a música, Splish, Splash,
ironizou “Isso é um cantor? E isso é uma música, ah, tá bom!” Quando conheceu
Roberto pessoalmente viu que estava diante de um cara iluminado e cheio de
generosidade e talento.
Ninguém
imaginava que aquele programa, montado às pressas para preencher uma brecha na
grade de programação, se tornaria um
tremendo sucesso e marcaria toda uma geração. Lançaria moda. Mudaria hábitos e
comportamentos.
No
penúltimo domingo de agosto de 1965, às 16h30min, na TV Record, São Paulo,
começava um sonho jovem. Em casa, telespectadores atentos não desgrudavam os
olhos da TV. No palco, três jovens talentosos, comandavam atrações pra lá de
boas. No auditório lotado... Fãs a beira da histeria. Choravam, gritavam,
pulavam. Uma surpresa e tanto para os três jovens apresentadores, em início de
carreira, de classe média, do subúrbio do Rio. O primeiro programa foi apenas
uma prévia do que estava por vir... E veio gente talentosa, que sabia agitar
uma festa. Pelo palco do programa passaram, Renato e seus Blue Caps, Eduardo
Araújo, Silvinha, Trio Esperança, Sérgio Reis, Os Vips, Ronnie Von, Martinha,
Demetriús, Leno e Lilian, Golden Boys, Rosemery, Jerry Adriane e tantos outros.
Até gente da Bossa Nova passou por lá, como por exemplo, Elis Regina e Wilson
Simonal. Foram três anos de sucesso, sonho e magia. Jovens tardes de domingo
regadas à muita alegria, e ao som contagiante de rocks e baladas românticas.
Mas o que foi bom durou pouco. Em janeiro de 1968, já desenvolvendo uma
carreira internacional, com uma agenda lotada de shows, e envolvido nas
filmagens de Roberto Carlos em Ritmo de
Aventura, gravação de discos e curtindo o amor de Nice, com que veio a se
casar ainda naquele ano, Roberto encerrou sua participação no Jovem Guarda. O
último programa com a participação dele foi cheio de emoção. Foi planejado para
ser um momento de despedida, mas um momento alegre. O roteiro não saiu como o
esperado. O que se viu foram lágrimas por toda parte, em casa, no palco, e no
auditório. Apesar do talento de Erasmo e Wanderléa, Roberto, na verdade, era o
grande comandante daquele barco. Quando Roberto apresentou Erasmo e Wanderleia,
como os novos comandantes da atração, houve vaias na plateia.
Enfim,
Roberto Carlos deixou o programa, as músicas agitadas da Jovem Guarda, e optou
pela música romântica. Erasmo e Wanderléa ainda tentaram, bravamente, manter o
programa no ar. Mas sem a presença de Roberto as coisas ficaram difíceis. A
emissora sentiu uma queda na audiência e o programa foi retirado do ar.
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