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Salve o Dia da Consciência Negra! Salve Zumbi dos Palmares!
Posted by Cottidianos
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00:18
Quinta-feira,
20 de novembro
“A raça negra nos deu um povo”
(Joaquim Nabuco)
Em
20 de novembro faz-se memória a um fato que evoca, ao mesmo tempo, tristeza e
alegria. Tristeza pelo fato de, neste dia, no longínquo ano de 1695, as tropas
leais ao governo, lideradas por Domingos Jorge Velho, conseguiam calar a voz de
Zumbi dos Palmares. O projeto de Zumbi tem um quê de Romantismo, se considerarmos
a fuga da realidade — uma das características dessa escola literária. Afinal, o
que representou o quilombo de Palmares, senão uma fuga da realidade cruel e
opressora das senzalas, imposta pelos senhores da casa grande? O que buscavam
os quilombolas senão o idílico sonho da liberdade em meio às matas e serras de
deslumbrante beleza natural?
O
dia em questão evoca alegria pelo fato de que em meio às dificuldades, Deus
sempre suscita líderes, que, tal qual Moisés, conduzem o povo oprimido através
do Mar Vermelho, em direção a terra da liberdade, onde corre leite e mel. Em
meio a um sistema escravista cruel e opressor, Zumbi foi um desses líderes
abrindo caminhos e veredas em meio a densa floresta, e ali formando comunidades
de escravos fugidos das fazendas.
Esse
ano, chegamos ao dia 20 de novembro, dia de rememorar lutas, afirmar ações e
desenvolver reflexões, atravessando enorme escândalo envolvendo desvio de
dinheiro de um dos nossos maiores patrimônios: A PETROBRÁS. Quanto dinheiro
roubado aos cofres da nação e quanta falta ele faz em áreas como saúde,
educação, saúde e segurança... Observando todos esses fatos e denúncias,
fica fácil entender tantos problemas enfrentados nas áreas citadas. Isso causa
aos brasileiros honestos, um sentimento de vergonha e decepção em relação a
essa situação, e em relação, tantos aos políticos que conduzem os destinos de
nossa nação na área pública, quanto os empresários na área privada.
O
momento presente seria o ideal para que surgissem novos Zumbis, fundadores de novos
quilombos, e para lá levassem políticos e empresários sérios e honestos e, a
partir desse lugar ideal, reconstruíssem a nação que, verdadeiramente,
queremos: Um Brasil mais justo e mais humano.
Abaixo,
compartilho com vocês um artigo do escritor, sociólogo e geógrafo
brasileiro, Demetrio Magnoli. Demetrio escreveu o artigo para o jornal Folha de São Paulo, em 11 de maio de
2006. No artigo, o autor faz criticas aos revisionistas. Em sentido positivo, o
revisionismo é um movimento de intelectuais que busca corrigir distorções
contidas em fatos históricos, nesse sentido o revisionismo se caracterizaria
por uma busca de verdades, ao desfazer ambiguidades contidas em fatos históricos.
Os revisionistas, porém podem agir de forma pejorativa quando ignoram,
propositalmente, determinados fatos e personagens, diminuindo-os em importância.
É a crítica que Demetrio faz aos que associam a Lei Áurea a conclusão de um
projeto elitista, cujo objetivo era a implantação do capitalismo no Brasil, e
também a atribuem a um ato humanitário da Princesa Isabel, desconsiderando,
dessa forma, fatos e personagens importantes para a concretização do projeto abolicionista.
A
abolição da Abolição
Demetrio Magnoli
Celebra-se
a queda do Império no 15 de Novembro, a data da proclamação da República, em
1889. Mas, de fato, o Império faleceu um ano e meio antes, no 13 de Maio de
1888, e seu atestado de óbito foi a Lei Áurea, assinada pela princesa Isabel. O
13 de Maio deveria ser comemorado nas ruas como uma festa popular em homenagem
aos personagens públicos e aos milhares de heróis anônimos que conduziram a
primeira grande luta social de âmbito nacional no Brasil e derrotaram a
dinastia e a elite escravista. É uma tragédia que essa data tenha sido
praticamente enterrada sob a narrativa revisionista fabricada na linha de
montagem da "história dos vencidos".
Celebrou-se
em 1971, pela primeira vez, o 20 de novembro, dia do assassinato de Zumbi dos
Palmares, no longínquo 1695. Zumbi foi um Espártaco da América portuguesa, e
teria sido uma boa idéia juntar o Dia da Consciência Negra ao 13 de Maio, numa
dupla celebração anual. Em vez disso, procedeu-se à difamação da Abolição. Os
revisionistas escrevem, em síntese, que a Lei Áurea foi a conclusão de um
programa das elites, pontuado pelas leis do Ventre-Livre e dos Sexagenários,
para a plena implantação do capitalismo no Brasil.
A
interpretação combina, pateticamente, um vulgar determinismo econômico com a
reativação da narrativa imperial que atribuiu a Lei Áurea a um impulso
humanitário da princesa. Mas a sua finalidade é apagar do registro histórico os
artigos e discursos de Joaquim Nabuco, de José do Patrocínio, de Antônio Bento,
de Silva Jardim, do ex-escravo Luís Gama e de tantos outros. É obliterar os
nomes das sociedades abolicionistas, com seus jornais e heróicos estratagemas
que permitiram fugas de milhares de escravos das fazendas.
Os
revisionistas passam a borracha na saudação de Raul Pompéia aos escravos
rebelados: "A idéia de insurreição indica que a natureza humana vive. A
maior tristeza dos abolicionistas é que essas violências não sejam freqüentes e
a conflagração não seja geral". Eles condenam ao limbo os jangadeiros
cearenses que se recusaram a transportar aos navios os escravos vendidos para
outras províncias, os tipógrafos que não imprimiram panfletos
anti-abolicionistas, os ferroviários que escondiam os negros fugidos em vagões
ou em estações de trem.
A
Abolição foi uma luta popular moderna, compartilhada por brasileiros de todos
os tons de pele. A sua simbologia incita à revolta contra as humilhações
impostas por traficantes e policiais às comunidades das favelas e inspira a
exigência de que todos tenham direito a escolas e hospitais públicos de
qualidade. Mas não sustenta as políticas neo-racistas que pretendem classificar
e separar as pessoas pela cor da pele, dissolvendo no seu ácido os conceitos de
cidadania e direitos universais.
Zumbi
não viveu no Brasil, mas na formação social de um enclave colonial-mercantil
português. Na luta gloriosa e desesperada que liderou, não existia a
alternativa de mudar o mundo, mas apenas a de segregar os seus num outro mundo,
que foi Palmares. Os revisionistas que fingem celebrar a memória de Zumbi
praticam um seqüestro intelectual, despindo a narrativa de seu contexto
histórico para fazer do quilombo uma metáfora do seu programa atual de
separação política e jurídica das "raças". Esse é o motivo pelo qual
decidiram abolir a Abolição.
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