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O mundo encantado de Dilma
Posted by Cottidianos
on
19:12
Sexta-feira,
26 de setembro
No
discurso que abriu a Cúpula do Clima, em Nova York, a presidente do Brasil
Dilma Rousseff, usou boa parte de seu discurso para fazer propaganda de seu
governo. É natural, que quisesse fazer uso desse recurso, afinal, estamos a
poucos dias de uma eleição na qual concorre à reeleição. Apenas estranhei o
fato de a presidente ir em mão contrária ao que pensa a comunidade
internacional, em relação aos adeptos do tão falado, Estado Islâmico. Penso que
ao defendê-los, de certa forma, a presidente brasileira legítima tal grupo
radical e suas atrocidades. A estadista direcionou suas criticas, em especial,
ao governo americano, mas esqueceu-se de lembrar que, mesmo nações adversárias
dos EUA, como a Rússia, por exemplo, não acham que o Estado Islâmico seja um
grupo com quem se possa manter um dialogo racional. Deixando-se de lado da
propaganda política do próprio governo — o qual, comparo as estórias de Alice no
País das Maravilhas — acho que Dilma deu um passo atrás no fortalecimento da
diplomacia brasileira.
Abaixo,
compartilho um editorial esclarecedor, sobre o assunto, publicado pelo jornal O
Estado de São Paulo, na data de ontem, 25 de setembro.
***
"O
mundo encantado de Dilma", (editorial
do Estadão)
Um
turista francês de 55 anos, chamado Hervé Goudel, foi decapitado na Argélia por
um grupo extremista que disse estar sob as ordens do Estado Islâmico (EI), a
organização terrorista que controla atualmente parte da Síria e do Iraque e lá
estabeleceu o que chama de "califado". Um vídeo que mostra a
decapitação de Goudel foi divulgado ontem, para servir como peça de propaganda
do EI - cujos militantes já decapitaram em frente às câmeras dois jornalistas
americanos e um agente humanitário britânico e estarreceram o mundo ao fazer
circular as imagens de sua desumanidade.
Pois
é com essa gente que a presidente Dilma Rousseff disse que é preciso
"dialogar".
A
petista deu essa inacreditável declaração a propósito da ofensiva militar
deflagrada pelos Estados Unidos contra o EI na Síria. Numa entrevista coletiva
em Nova York, na véspera de seu discurso na abertura da Assembleia-Geral da
ONU, Dilma afirmou lamentar "enormemente" os ataques americanos
contra os terroristas. "O Brasil sempre vai acreditar que a melhor forma é
o diálogo, o acordo e a intermediação da ONU", disse a presidente -
partindo do princípio, absolutamente equivocado, de que o EI tem alguma
legitimidade para que se lhe ofereça alguma forma de "acordo".
É
urgente que algum dos assessores diplomáticos de Dilma a informe sobre o que é
o EI, pois sua fala revela profunda ignorância a respeito do assunto,
descredenciando-a como estadista capaz de portar a mensagem do Brasil sobre
temas tão importantes quanto este.
O
EI surgiu no Iraque em 2006 por iniciativa da Al-Qaeda, para defender a minoria
sunita contra os xiitas que chegaram ao poder depois da invasão americana. Sua
brutalidade inaudita fez com que até mesmo a Al-Qaeda renegasse o grupo, que
acabou expulso do Iraque pelos sunitas. A partir de 2011, o EI passou a lutar
na Síria contra o regime de Bashar al-Assad. Mas os jihadistas sírios que estão
na órbita da Al-Qaeda também rejeitaram o grupo, dando início a um conflito que
já matou mais de 6 mil pessoas.
Com
grande velocidade, o EI ganhou territórios na Síria e, no início deste ano,
ocupou parte do Iraque, ameaçando a própria integridade do país. No caminho
dessas conquistas, o EI deixou um rastro de terror. Além de decapitar
ocidentais para fins de propaganda, seus métodos incluem crucificações,
estupros, flagelações e apedrejamento de mulheres.
"A
brutalidade dos terroristas na Síria e no Iraque nos força a olhar para o
coração das trevas", discursou o presidente americano, Barack Obama, na
Assembleia-Geral da ONU, ao justificar a ação dos Estados Unidos contra o EI -
tomada sem o aval do Conselho de Segurança da ONU. Em busca de apoio
internacional mais amplo - na coalizão liderada por Washington se destacam
cinco países árabes que se dispuseram a ajudar diretamente na operação -, Obama
fez um apelo para que "o mundo se some a esse empenho", pois "a
única linguagem que os assassinos entendem é a força".
Pode-se
questionar se a estratégia de Obama vai ou não funcionar, ou então se a ação
atual é uma forma de tentar remendar os erros do governo americano no Iraque e
na Síria (ver o editorial A aventura de Obama, abaixo). Pode-se mesmo indagar
se a operação militar, em si, carece de legitimidade. Mas o fato incontornável
é que falar em "diálogo" com o EI, como sugeriu Dilma, é insultar a
inteligência alheia - e, como tem sido habitual na gestão petista, fazer a
diplomacia brasileira apequenar-se.
Em
sua linguagem peculiar, Dilma caprichou nas platitudes ao declarar que
"todos os grandes conflitos que se armaram (sic) tiveram uma consequência:
perda de vidas humanas dos dois lados". E foi adiante, professoral:
"Agressões sem sustentação, aparentemente, podem dar ganhos imediatos.
Depois, causam enormes prejuízos e turbulências. É o caso, por exemplo, do
Iraque. Tá lá, provadinho, no caso do Iraque". Por fim, Dilma disse que o
Brasil "é contra todas as agressões" e, por essa razão, faz jus a uma
cadeira no Conselho de Segurança da ONU - para, num passe de mágica,
"impedir essa paralisia do Conselho diante do aumento dos conflitos em
todas as regiões do mundo".
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