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João Vitor e Tatiana Solanco: Destinos que se cruzam nos caminhos da vida - Parte 1
Posted by Cottidianos
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00:28
Quarta-feira, 03 de setembro
“Ontem
um menino que brincava me falou
Que
hoje é semente do amanhã...
Para
não ter medo que este tempo vai passar...
Não
se desespere não, nem pare de sonhar
Nunca
se entregue, nasça sempre com as manhãs...
Deixe
a luz do sol brilhar no céu do seu olhar!
Fé
na vida Fé no homem, fé no que virá!
Nós
podemos tudo,
Nós
podemos mais
Vamos
lá fazer o que será”
(Semente
do amanhã – Gonzaguinha)
http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2014/04/mulher-decide-emagrecer-20-quilos-para-doar-figado-a-crianca-com-cancer-em-santa-catarina-4473455.html |
Na
noite deste domingo (31), o Fantástico,
revelou ao Brasil, uma história inspiradora. João Vitor, um menino de quatro
anos, tinha um tumor maligno no fígado. Não havia outro meio de ele sobreviver
a não ser um transplante. A única doadora na família que era compatível estava
grávida e não podia doar o fígado. Os dias passavam a chance de João sobreviver
àquela fatalidade se tornavam mínimas. Para se ter uma ideia da luta que o
menino teria que enfrentar: Estatísticas da Associação Brasileira de
Transplantes nos fazem saber que, no primeiro semestre desse ano, foram
realizados 852 transplantes de rim no país. Desse total, apenas 72 foram de
doadores vivos. Conseguir doadores entre os próprios familiares é ainda mais
raro, pela questão da compatibilidade. Desse total de 852 transplantes citados
acima, apenas nove se deram por doadores da família do paciente que eram
compatíveis. Como se vê, as chances de sobrevivência do garoto eram mínimas.
Tatiana,
uma dona de casa, casada, mãe de um menino de quatro anos e que não tinha o
menor vínculo afetivo com o garoto, nem com a família dele, assumiu a causa.
Uma dificuldade, porém se interpôs ao desejo de ajudar: Ela estava acima do
peso, com 103 quilos. Os médicos disseram que ela teria que emagrecer cerca de
30 quilos em poucos meses... E não poderia tomar remédios para emagrecer, fazer
cirurgia de redução de estomago, dietas malucas, nem qualquer coisa parecida.
Todo o processo de emagrecimento teria que se dar de forma natural. Os dois,
Tatiana e João empreenderam então, uma luta contra o tempo; Tatiana para
emagrecer, e João para manter-se vivo até que esse objetivo fosse cumprido.
Baseado
nessa bela e comovente história apresentada pelo Fantástico, apresento a vocês o texto abaixo.
Era
fins de dezembro de 2013. A pequena Igreja Batista do Alto do Ariríu estava
lotada de fieis. Todos queriam agradecer as graças recebidas durante o ano que
findava e pedir forças para iniciar o ano vindouro. Os fieis foram recebidos
pela equipe de acolhida com bastante entusiasmo. Os cânticos fervorosamente entoados
por toda a Igreja ajudavam a elevar ainda mais o espírito. A pequena e
acolhedora comunidade era comandada pelo pastor Pedro Solonca Junior, 38 anos,
com a valorosa colaboração de sua mulher, Tatiana Solonca, 33 anos. Tatiana
estava um pouco acima do peso. Pesava 103 quilos. Já tentara por diversas
iniciar um regime, mas o plano de emagrecer sempre fracassava, ficava pela
metade. Por esse motivo, sentia um pouco de dificuldade de ajudar o marido nas
atividades presbiteriais, mas ajudava assim mesmo. Não fosse ela esposa do
pastor, nem seria notada pelos irmãos que frequentavam a Igreja. O fato de
estar acima do peso trazia-lhe fazia com que procurasse se esconder, talvez
essa atitude contivesse certo sentimento de inferioridade. A força para viver vinha,
em grande parte de Pedro, filho do casal, de quatro anos de idade.
Sempre
com grande entusiasmo e fervor, o pastor se dirigiu ao púlpito e de lá falou
aos fiéis:
—
Meus irmãos e minhas irmãs, as palavras de Jesus Cristo são um alento para
nossa caminhada, nela encontramos um mapa, entrando no campo das novas
tecnologias, podemos dizer que a palavra de Deus é um GPS que nos ajuda e nos
conduz, de forma segura, pelos caminhos da vida. Essa palavra também é um guia
de conduta precioso e aquele que a seguir com fé, será como aquele homem que
diz ao monte: “Lança-te ao mar e isso acontece”. Não porque o homem seja
poderoso, mas porque nele habita a força de Deus... E um homem com o coração
repleto de amor à Deus, pode enfrentar qualquer maré bravia sem desanimar.
Peço
aos queridos irmãs e irmãs que abram a Bíblia no livro de Lucas, capítulo 10,
versículos de 25 a 37. Esta será a nossa reflexão de hoje.
Certa ocasião, um perito na lei
levantou-se para pôr Jesus à prova e lhe perguntou:
— Mestre, o que preciso fazer para
herdar a vida eterna?
—
O que está escrito na Lei? Como você a lê? Perguntou Jesus.
Ele respondeu:
— Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o
seu coração, de toda a sua alma, de todas as suas forças e de todo o seu
entendimento e ame o seu próximo como a si mesmo.
Disse Jesus:
— Você respondeu corretamente. Faça isso
e viverá.
Mas ele, querendo justificar-se,
perguntou a Jesus:
— E quem é o meu próximo?
Em resposta, disse Jesus:
— Um homem descia de Jerusalém para
Jericó, quando caiu nas mãos de assaltantes. Estes lhe tiraram as roupas,
espancaram-no e se foram, deixando-o quase morto. Aconteceu estar descendo pela
mesma estrada um sacerdote. Quando viu o homem, passou pelo outro lado. E assim
também um levita; quando chegou ao lugar e o viu, passou pelo outro lado. Mas
um samaritano, estando de viagem, chegou onde se encontrava o homem e, quando o
viu, teve piedade dele. Aproximou-se, enfaixou-lhe as feridas, derramando nelas
vinho e óleo. Depois o colocou sobre o seu próprio animal, o levou para uma
hospedaria e cuidou dele. No dia seguinte, deu dois denários ao hospedeiro e
lhe disse: 'Cuide dele. Quando eu voltar, pagarei todas as despesas que você
tiver'.
— Qual destes três você acha que foi o
próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?
— Aquele que teve misericórdia dele,
respondeu o perito na lei.
Jesus lhe disse:
— Vá e faça o mesmo.
Na
pregação, o pastor procurou ressaltar que para viver como Jesus viveu é preciso
traduzir o amor em ações concretas. Não basta ser um teórico da Bíblia, esses
existem por aí aos milhares, porém é necessário, mais que ler a Bíblia,
vivenciar e colocar em prática os seus ensinamentos. Observem meus irmãos,
dizia o pastor, que o personagem central da história contada por Jesus é o homem
que caiu nas mãos de assaltantes e fica a necessitar de ajuda. Jesus insere
ainda três personagens que cruzarão o caminho desse homem. Um sacerdote, um
levita e um samaritano. Os dois primeiros, conhecedores da palavra, deveriam,
pelo seu ofício, transmitir bons exemplos a comunidade. Entretanto, ao verem o
homem caído à beira da estrada, passam bem longe, desviam o caminho. O terceiro?...
O terceiro era um samaritano, povo pecador e considerado de segunda categoria
na escala social. Pois eu digo a vocês, que foi justamente esse homem pecador
que socorreu quem necessitava de ajuda. Essa atitude nos mostra que a
misericórdia não conhece cor, nem religião, nem credos, nem laços familiares. O
meu próximo é aquele que precisa de ajuda naquele momento.
Terminada
a pregação o pastor Pedro Solonca, abriu os microfones à Igreja para os
testemunhos e os pedidos de oração, como costumava fazer sempre. Maria Eloina
de Freitas, sentada nos últimos bancos da Igreja, levantou-se atravessou a fila
cadeiras brancas que dividia o pequeno templo em duas partes, e dirigiu-se ao
microfone. Não era mulher instruída, mas falava com certa desenvoltura, no
olhar carregava certa tristeza. Fazia pouco tempo que se congregava naquele
local e sentia-se muito bem ali.
—
Boa noite! Disse ela, iniciando o dialogo com os demais irmãos ali reunidos.
Quero agradecer a Deus por todas as graças que ele tem me dado e também pelas
muitas dificuldades que tenho atravessado. Elas apenas servem para fortalecer a
minha fé. Eu tenho um neto de 4 anos, que se chama João Vitor, por quem eu
tenho muito amor. João Vitor é minha joia preciosa. É meu diamante. Fui eu quem
criou o menino desde que ele nasceu. A minha filha, mãe dele, teve que ir
trabalhar em outra cidade um pouco mais distante e, por esse motivo, eu me
encarreguei de cuidar dele.
Tudo
corria bem até os dois anos de idade. Ele era um menino forte e saudável.
Corria e brincava embalado pela alegria que envolve cada criança, esteja ela
num casebre ou num palácio. Um dia o menino começou a passar mal. Não conseguia
brincar direito com as outras crianças. Bastava uma pequena corrida e o menino
logo se cansava. Levei-o ao médico. O médico fez alguns exames e depois de
prontos me chamou na sala dele. Pela expressão que havia em seu rosto, logo
percebi que algo muito grave acontecia com meu neto. Procurando as palavras
certas, o médico me disse aquilo que eu não queria ouvir: Meu querido João
Vitor estava com um tumor maligno no fígado.
Diante
dessa trágica notícia eu desmaiei. Só me recuperei depois que me deram de beber
um copo d’água. Ao saber da notícia, minha filha, Juliana Aparecida dos Santos
voltou para me ajudar a cuidar do garoto. Desde então, temos vivido uma rotina
cansativa entre a nossa casa e o hospital. O menino pesava 14 quilos antes da
doença. Hoje ele está pesando sete quilos. Por causa de o tumor esta localizado
em uma região muito delicada, os médicos não conseguem retirá-lo. A única
chance de salvar a vida dele seria um transplante de fígado, porém, a única
pessoa de nossa família que era compatível, era uma tia de João Vitor. Ela até
se propôs a ajudar, mas descobriu que estava grávida e, na condição de grávida,
é impossível fazer o transplante.
Por
esse motivo estou aqui hoje, na presença, primeiramente de Deus, e depois na
presença de vocês, para pedir que orem muito por meu neto, para que ele, em sua
pouca idade, tenha forças para suportar tanto sofrimento... E quanto sofrimento
meu neto tem passado, disse ela pesarosa. Já foram muitas as sessões de
quimioterapia. Um dia ele esta bem. Outro está mal. Mas sempre se mostra uma
criança forte e carinhosa para com todos. Peço também que orem por mim, para
que eu tenha forças para lutar ao lado dele, por ele. Eu acredito muito que
Deus vai fazer o milagre.
***
Terminado
o culto os fieis foram para suas casas. Timidamente, Tatiana se aproximou de
Maria de Freitas, a mulher que havia pedido orações pelo neto.
—
Ouvi a sua história e a de seu neto e fiquei muito comovida. Tenho um filho da
mesma idade e não sei o que faria se uma situação semelhante acontecesse com
ele. Seria capaz de dar a minha vida por ele, disse Tatiana.
—
Tínhamos esperança de que o transplante de fígado resolvesse o problema, mas
como falei para a senhora, a tia dele não pode doar o órgão pelo fato de estar
grávida e isso poderia por em risco a gravidez dela. Eu já não sei mais o que
faço. Dói-me o coração ver o meu neto definhar a cada dia um pouco. Temo ficar
sem ele, respondeu Maria.
—
E se eu doasse parte de meu fígado ao seu neto?
—
A senhora seria capaz de fazer isso? Perguntou surpresa a mulher.
—
No momento, não vejo outra saída.
—
Mas a senhora nem o conhece, nem conhece minha família. Não temos nenhum
vinculo.
—
Não tínhamos. Porque, a partir de agora, nós temos não apenas um vínculo, temos
uma luta para vencer.
Com
os olhos marejados de lágrimas a avó de João Vitor e a mãe de Pedro se
abraçaram.
—
Muito obrigado! Muito obrigado, mesmo!
—
Só tem um problema. É necessário fazer os exames para ver se sou uma doadora
compatível com seu neto.
—
Faremos o que for possível. Iremos aonde tiver que ir. Disse Maria com ar de
determinação. Deus há de ajudar.