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O Brasil corre contra o tempo para fazer bonito no Mundial de 2014
Posted by Cottidianos
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21:50
Quarta-feira,
22 de janeiro
Imagem: http://sociologiacienciaevida.uol.com.br/ESSO/Edicoes/43/artigo271724-1.asp |
Nunca
fui bom jogador de futebol. Para falar a verdade, não jogava nada bem. No
jargão futebolístico, eu era um “perna-de-pau”. Mesmo assim, me aventurava a
jogar nos campinhos de futebol de minha pequena e querida comunidade de Capela,
na cidade de Ceará-Mirim, no Rio Grande do Norte.
Naqueles
campos de futebol, onde a rapaziada se divertia, eu e meus amigos, Dinho,
Milso, Délio, Careca, Nildo, Caio, Nininho,
Junior Silveira, Junior Bobinha, Nenen, Jairo, Minho e outros garotos,
jogávamos pelos simples prazer de jogar.
Entretanto, a tarefa era encarada com seriedade. Digamos que era uma
brincadeira séria. Como nos divertíamos naqueles campos de futebol, rodeados
pelos verdes das matas e pelas plantações de cana-de-açúcar que, naquela época,
era a base da economia de nossa região. Não recebíamos nenhum pagamento por aqueles
jogos. Não precisávamos usar uniformes. Para diferenciar uma equipe de outra,
usávamos o seguinte artifício: uma equipe jogava vestido com camisas e a outra
equipe sem camisas. Também não havia entre nós, preocupações em relação à fama
e ao sucesso, características inerentes ao mundo do futebol atual. Essa festa
toda, claro, era durante as tardes da semana, pois, no domingo jogava o São
Miguel, o Internacional e o Bragantino, times da comunidade com um perfil mais
profissional, jogavam com equipes de outras comunidades, organizavam
campeonatos e tudo o mais. Nem é preciso dizer que, no domingo, eu era apenas
um simples espectador.
Esse
jeito simples e gostoso de jogar futebol, que ainda hoje, empolga a garotada
pelos campos do país, difere em muito do futebol profissional jogado pelos
grandes clubes e pelos grandes astros dessa modalidade esportiva. No caso do
futebol profissional, é necessário ter estádios bem construídos, confortáveis,
capaz de acolher a massa de torcedores que acorrem aquele espaço. Enfim, é
preciso haver uma infraestrutura bem montada que leve o torcedor e o traga de
volta do estádio em perfeitas condições de segurança, conforto e bem estar.
Para que o espetáculo do futebol aconteça é necessário muito profissionalismo,
eficiência e responsabilidade. Para um país que sedia uma Copa do Mundo, então,
essas exigências são dobradas.
Esse
ano de 2014, a pátria mãe gentil terá dois campeonatos a vencer: um acontecerá
dentro de campo, e refere-se às características qeu tornaram o Brasil conhecido
como o país do futebol. O outro é o que ocorre fora dos campos e se desenvolve
no campo da infraestrutura e dos serviços oferecidos. Nessa modalidade, o país
do futebol tem levado alguns cartões vermelhos da Fifa (Federação Internacional
de Futebol). Acabou de receber mais um essa semana.
Imagem: http://www.portal2014.org.br/noticias/12770/FIFA+VISITA+ARENA+DA+BAIXADA+NESTA+TERCAFEIRA.html |
Terça-feira
(21) o secretario-geral da Fifa, Jérôme Valcke, esteve visitando as obras da
Arena da Baixada, em Curitiba. Ao ver quão grande eram os atrasos na
remodelação do estádio, ficou decepcionado. Desde o início das obras houve
impasses provocados por problemas de financiamento. A previsão era de que 70%
do financiamento viesse do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES). Esse repasse de verbas públicas foi suspenso, em Julho de 2013, pelo
Tribunal de Contas do Estado do Paraná. O Tribunal encontrou irregularidades
nos orçamentos das obras e falta de clareza quanto à data base para a
atualização do orçamento.
Diante
do cenário que encontrou, Jérôme Valcke agiu de modo severo. Marcou uma nova
visita para a Arena da Baixada em 18 de fevereiro e, em não estando as obras
bem adiantadas, a cidade de Curitiba
pode ser excluída do Mundial. Na cidade, estão previsto quatro jogos da
primeira fase do Mundial. São eles: Irã x Nigéria, Honduras x Equador,
Austrália x Espanha e Argélia x Rússia.
Criticas
também vieram do presidente da Fifa, Joseph Blatter. Este mês, em entrevista ao
jornal suíço 24 heures ele disse que
o Brasil começou de maneira tardia os preparativos para a Copa de 2014. Segundo
Blatter, o país foi o país que mais teve tempo para se preparar –sete anos – e
o que mais atrasou a preparação de mundiais, desde que ele assumiu a
presidência da entidade. Agora, enquanto escrevo este artigo me vem à memória o
momento em que o Brasil foi escolhido para ser sede do Mundial de 2014. Naquela
ocasião, temíamos que ocorresse exatamente isso que ocorre agora. Não que
estivéssemos torcendo contra, claro que não! Mas é que, sabedores de como
funcionam as coisas por aqui, já prevíamos todo esse cenário. O que nos resta
agora é implorar a ajuda divina para que tudo corra bem.
Imagem: http://nominuto.com/noticias/copa-do-mundo/arena-das-dunas-sera-inaugurada-hoje/106114/ |
Graças
a Deus, nem tudo são problemas. Hoje à tarde, a Presidente Dilma inaugurou em
Natal, a bela capital do Rio Grande do Norte, a Arena das Dunas. O Estado do Rio Grande do Norte fica na
esquina do Continente Americano e se diz de lá, que é a “Terra do Sol” e também
que é o lugar onde o “vento faz a curva”. A Arena das Dunas também receberá
quatro jogos, a saber: México x Camarões, Gana x Estados Unidos, Japão x
Grécia, Itália x Uruguai. Com o de Natal, já são sete os estádios a ficarem
prontos. O estádio da capital potiguar custou R$ 423 milhões e tem capacidade
para receber 42 mil torcedores. Antes da inauguração, um grupo de 300
manifestantes se reuniu em frente ao estádio e protestou contra os gastos na
Copa. Pode ser que esse tipo de manifestação ocorra durante a realização da
Copa, mas acredito que isso não atrapalhe a realização dos jogos. O povo
brasileiro já mostrou durante os protestos feitos na Copa das Confederações, no
ano passado, que sabe muito bem separar
uma coisa da outra.
Voltando
ao secretário da Fifa. Não é de hoje que Jérôme Valcke critica os organizadores
pelo andamento nos procedimentos para a realização do Mundial. Na Copa do Mundo
de 2010, na África do Sul, um mês antes de começar o Mundial ele já fazia
criticas aos preparativos para Copa de 2014 e cobrava urgência na execução das
obras nas 12 cidades sedes. “Muitos prazos já expiraram e nada aconteceu. O
Brasil não está no caminho certo”. Dizia ele na ocasião.
Em
março de 2012, Valcke fez novas críticas, dessa vez em tom mais agressivo.
Nessa ocasião ele disse que as coisas no Brasil não estavam andando e que os
organizadores deveriam levar um chute no traseiro. Além disso, ele já se
mostrava preocupado com o problema dos hotéis e dos transportes.
Por
falar nisso outro fator preocupante, é justamente, a questão dos
aeroportos. Faltando pouco mais de
quatro meses para a Copa do Mundo, as obras de melhorias nos aeroportos de
Salvador e Fortaleza estão com bastante atraso. Em Fortaleza, onde há uma
semana, os trabalhadores estão em greve por questões salariais, a primeira fase
de ampliação do terminal de passageiros deveria ficar pronta em março. Eu disse
deveria, pois, pelo andar da carruagem, essas obras não ficarão prontas a tempo
para a Copa do Mundo. Quem sabe, em 2017 fiquem prontas, não é mesmo? Em
Salvador, o cenário é, mais ou menos, o mesmo. Uma etapa das obras de melhoria
no aeroporto será concluída até o fim do mês. A segunda etapa ficará para
depois da Copa. A Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) aumentou,
significativamente, o número de vôos. A questão é saber se os aeroportos
brasileiros estão preparados para tamanha demanda.
Essa
é a segunda Copa do Mundo que será disputada no Brasil. A primeira, em 1950,
foi fácil. O Brasil era um país que estava se construindo e tudo era mais
fácil. As partidas foram disputadas em seis cidades: Rio de Janeiro, São Paulo,
Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba e Recife. Hoje, esse número dobrou serão
doze as cidades sedes: Brasília, Belo Horizonte, Cuiabá, Curitiba (?),
Fortaleza, Manaus, Natal, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São
Paulo.
Para
terminar e, complementando esse assunto, cito trecho da revista Veja, edição 2354, de 1º de Janeiro de
2014, em reportagem assinada por Sérgio Rodrigues: “.. na Copa do Mundo do Brasil, o
Brasil vai se encontrar com o Brasil – país onde se joga o futebol mais
vitorioso e festejado do mundo com o
país que é pereba na infraestrutura, perna de pau na educação, consistente na
desigualdade social e matador na corrupção. Nenhum dos dois é mentira, mas,
naturalmente, se estranham no espelho. Isso torna a Copa de 2014 única: aquela
que, mesmo ganhando, corremos o risco de perder. Pela primeira vez, vencer nos
gramados não será suficiente. De forma incomparavelmente mais desafiadora do
que em 1950, quando o mundial da Fifa era um certame paroquial comparado à
superprodução de hoje, será preciso vencer nos aeroportos, nos hotéis, nos
táxis, nas filas diante dos estádios e na segurança – em resumo, na organização
– um jogo em que o placar já foi aberto e nos é amplamente desfavorável, com
obras atrasadas, promessas que nunca saíram do papel, orçamentos estourados e
desculpas estropiadas...”
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