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E agora, Anderson Silva?

Posted by Cottidianos on 11:40
Segunda-feira, 13 de janeiro

O que é rápido bastante, Fernão? Você que está impaciente para ser perfeito. O que é a velocidade perfeita? Mil quilômetros por hora? Isso é um limite. Um milhão de quilômetros por hora? Isso é um limite. A velocidade da luz? Isso também é um limite. Todos esses são limites. Velocidade perfeita não e se mover rápido. Velocidade perfeita é estar presente”.
(discurso de Chiang, mestre de Fernão Capelo Gaivota, no belíssimo filme Filme Fernão Capelo Gaivota, rodado em 1973, (Jonathan Livingston Seagull, título do original em inglês))

Imagem: http://www.tribunadabahia.com.br/2013/02/20/anderson-silva-esta-disposto-encarar-georges-pierre-diz-presidente-da-ufc

Dia 28 de dezembro de 2013, a luta revanche entre o brasileiro Anderson Silva e o americano Chris Weidman terminou de forma inesperada, com Anderson, quebrando, de forma grave, a perna esquerda. As perguntas: Como está Anderson depois da luta? Como ele está se sentindo? Voltará a lutar? Certamente devem ter sido feitas por milhões de pessoas em todo o mundo. Essas e outras perguntas foram respondidas ontem, noite de domingo, durante uma entrevista do lutador brasileiro, residente em Los Angeles/USA, ao programa Fantástico, da Rede Globo de Televisão. A entrevista foi concedida à repórter Renata Ceribelli. Renata, junto com Tadeu Schimidt e Zeca Camargo, era apresentadora do Fantástico até o ano passado, quando houve uma mudança nos quadros do programa: Zeca Camargo, passou a apresentar o Vídeo Show, programa de entretenimento que vai ao à tarde, e Renata foi designada para ser correspondente especial da Globo, nos Estados Unidos. No lugar de Renata Ceribelli entrou Renata Vasconcelos, que era da apresentadora do jornal Bom Dia Brasil.
Ontem foi a estréia da nova correspondente da emissora nos Estados Unidos. E ela começou em grande estilo: foi até a casa de Anderson, em Los Angeles e fez as perguntas que todo mundo gostaria de fazer. Durante a entrevista, um fato que me chamou muito a atenção foi o apoio que a família do lutador tem dado a ele. Anderson não está sozinho durante a entrevista. Está rodeado da esposa e dos filhos. É comovente quando Anderson fala do dia em que pediu para sair de carro com a esposa, pois sentia muita dor e não queria que os filhos sofressem com aquilo e, dentro do carro, pode chorar de dor, sem incomodar os filhos. Fiquei pensando em como é importante o apoio da família, dos amigos nos momentos mais difíceis de nossas vidas. Esse apoio funciona como as roldanas que vão buscar o balde no fundo do poço e o traz para cima, cheio da água da esperança. Nos momentos posteriores ao acidente o lutador de MMA poderia ter entrado em depressão, mas mostrou-se animado e expressou o desejo de voltar a lutar, desejo esse que não é compartilhado pela família. Se a esposa e os filhos pudessem interferir nessa decisão, o lutador não voltaria mais para as arenas do UFC.
Uma das dificuldades de Anderson têm sido as intensas dores que sente. Ele, por vontade própria, ou por recomendação médica, evita tomar remédios, que são muito fortes, para não correr o risco de ser tornar dependente desses mesmos remédios.
Enfim, parabéns a Renata pela bela entrevista e sucesso na sua nova missão nas terras do Tio Sam. Foi a primeira vez que Anderson falou à uma equipe de TV, depois do acidente.
A seguir transcrevo a entrevista do lutador Anderson Silva à jornalista Renata Ceribelli.


Fantástico: Licença, mandaram a gente entrar, estamos entrando. Que bom te ver!
Anderson Silva:Tudo bem?
Fantástico: Tudo bem. Quero saber de você. Está melhorando?
Anderson Silva: Estou melhorando. Não estou andando 100%, mas já estou dando uns passinhos com a muleta.
Fantástico: Ainda dói?
Anderson Silva: Dói muito, dói muito. É uma dor que eu não desejo para ninguém.
Fantástico: Você consegue dormir uma noite inteira?
Anderson Silva: Não. Desde que eu vim de Las Vegas, que eu sai do hospital, eu não consigo dormir a noite toda não. É muito difícil.
Fantástico: Anderson, quando você põe a cabeça no travesseiro pra dormir, quando você acorda, toda hora vem na sua cabeça a imagem daquele momento?}
Anderson Silva: Me passa um filme de tudo que aconteceu antes até eu chegar naquele momento do acidente.
Fantástico: E você está toda hora buscando explicação para o que aconteceu?
Anderson Silva: Estou. A todo momento eu estou tentando entender o porquê. Por que eu tinha que quebrar a minha perna. Por que eu tinha que estar passando por essa situação? Eu estou tentando entender qual é a mensagem que Deus está tentando me dar nesse momento.
Fantástico: O que está mais difícil? A recuperação física ou recuperação emocional?
Anderson Silva: Eu acho que a emocional está parelho ali com a física porque a emocional ainda eu tenho eles para me dar um suporte. Eu tenho a família para me dar o suporte.
A mulher, Daiane, e os cinco filhos - Kaoli, Kawana, João, Kalil e Gabriel - estão o tempo todo ao lado de Anderson.
Anderson Silva: Eles estão me dando a forca toda que eu preciso para me recuperar.
Anderson Silva: Está todo mundo cuidando do pai?
Filhos: Estamos. Ficamos jogando o joguinho que ele gosta.
Fantástico: Na hora que vocês veem que ele está ficando um pouco tristinho?
Filha: Começa a bagunça.
Anderson Silva: Exatamente!
Mesmo se distraindo com a família, ele já viu e reviu várias vezes a luta, e mostra para o Fantástico um ângulo da luta que ninguém ainda viu.
Fantástico: Você viu um erro seu?
Anderson Silva: Eu consegui ver alguns detalhes e erros técnicos que eu cometi ali na luta. Para que eu pudesse dar o chute perfeito nesse exato momento, eu tinha que ter desviado a atenção dele com um soco no rosto. Para que eu desviasse totalmente a atenção dele do movimento do chute. O que dá para perceber, Renata, é que ele está protegendo o chute da linha da cintura para cima. E ele levantou a perna dele instintivamente. Ele se desequilibrou. O chute foi forte ao ponto de ele se desiquilibrar.
Fantástico: Isso então derruba a tese do Weidman de que ele estava preparado, treinado pra receber aquele chute?
Anderson Silva: Eu acredito que se as pessoas perceberem esses detalhes técnicos, elas vão ver que foi uma coisa instintiva. Não era uma coisa que ele tinha treinado para fazer.
Fantástico: Quando você vê esse vídeo dói tudo de novo?
Anderson Silva: Não. Eu fico feliz de poder conseguir ter a humildade de ver aonde eu errei, e agora a minha preocupação é voltar.
Fantástico: E isso significa pedir uma nova luta com o Weidman?
Anderson Silva: Não.
Fantástico: Você não vai pedir?
Anderson Silva: Se o UFC achar que deve me dar uma nova oportunidade de lutar com ele, se eu me credenciar de novo para lutar com ele.
Fantástico: Você quer?
Anderson Silva: Eu quero poder fazer o que eu faço bem. Independente de ser com o cinturão ou não. Independente de ser com o campeão ou não, eu quero poder voltar a fazer o que eu faço bem, que é lutar.
Durante a entrevista, Anderson falou várias vezes do respeito que sente por Chris Weidman. Mas questionou a sua vitória.
Fantástico: Você considera que ele te venceu naquela luta?
Anderson Silva: Não. Eu acho que foi uma fatalidade que aconteceu. A regra é clara.
Fantástico: Se tivesse mais luta pela frente...
Anderson Silva: Eu tenho plena certeza que eu teria vencido ele.
Fantástico: Plena certeza?
Anderson Silva: Tenho plena certeza disso.
Fantástico: Dá para você dimensionar o tamanho da dor naquele momento?
Anderson Silva: Olha, Renata, eu vou te falar a dor, ela está sendo uma coisa muito insuportável. Quando eu olhei que minha perna estava quebrada eu fiquei apavorado...
Fantástico: Você deu um berro muito forte.
Anderson Silva: É e eu não conseguia saber se tinha sido fratura exposta ou não. Aí eu falava para o juiz que ficou ali comigo para que eles colocassem a minha perna no lugar o mais rápido possível, e a dor era uma coisa absurda.
Fantástico: Aonde que foi exatamente?
Anderson Silva: Bem no meio da canela. Aí eles colocaram um haste de titânio que entra pelo meu fêmur e vai até embaixo, e dois parafusos embaixo e um parafuso em cima.
Fantástico: Da maca até o hospital. Do que que você se lembra? O que você via, pensava?
Anderson Silva: Eu só pensava em uma coisa. Será que acabou? Será que eu vou voltar a andar? Será que eu estou bem?
Fantástico: Você ficou com medo de nem voltar a andar?
Anderson Silva: Eu fiquei. Porque vai passando várias coisas na cabeça.
Fantástico: Você ainda tem medo de não conseguir voltar a ser o Anderson Silva de antes?
Anderson Silva: Eu tenho medo de não poder colocar carga na minha perna de novo. Eu tenho 39 anos, 38, eu faço 39 agora em abril, mas esse é um medo que está ali correndo comigo no dia a dia na minha recuperação. Mas eu estou confiante que eu vou conseguir, que eu vou voltar.
Fantástico: Você está fazendo fisioterapia?
Anderson Silva: Ainda não comecei. Eu não consigo levantar, movimentar o calcanhar e tal, como eu movimento esse aqui. Eu acabei perdendo força, vou perdendo a musculatura da perna. Então tudo isso, até melhorar, até ficar 100%, pode ser que o médico diga: ‘não, olha, você pode voltar, está bom para voltar às atividades normais e você pode lutar’. Mas pode ser que o médico diga que não.
Fantástico: Nunca mais?
Anderson Silva: Ainda Pode ser que ele fale isso, eu tenho que me preparar para isso também. Eu estou confiante que vai dar tudo certo, que eu vou ficar bom e que eu vou voltar a lutar logo.
Fantástico: Diante de seu questionamento todo qual a melhor hora de parar?
Anderson Silva: É quando você se sente com essa necessidade de parar. Teu corpo te fala, tua mente te fala ‘agora é hora de parar’. Eu acho que ainda tenho muito para fazer dentro da luta e não tenho essa intenção de parar não.
Mas essa não é a opinião da família dele. Se depender da vontade da mulher e dos filhos, Anderson Silva não volta a lutar.
Kalil: Se ele parar ele vai ficar mais tempo comigo, com eles, com meus irmãos, com a minha mãe.
Fantástico: Então fica muito difícil para vocês acompanhar essa recuperação dele?
Kalil: Ver a dor, olhar ele assim é muito difícil.
Anderson Silva: Eles estão acordando todos os dias com os meus berros de dor, e está sendo uma coisa muito ruim para eles. Esses dias eu até pedi para a Daiane pra gente sair um pouco. Entrei no carro com dor mesmo, dei uma volta, fiquei dentro do carro chorando, para não acordar eles.
Fantástico: Dá para dizer qual foi o momento mais difícil desde o octógono até agora?
Anderson Silva: É ter voltado para casa machucado. Eu nunca tinha antes vindo pra minha casa machucado. Nem um corte, nada. Foi a coisa mais triste de chegar em casa e olhar para minha esposa, ver meus filhos e estar machucado. É uma coisa que me entristeceu muito e é uma coisa que mexeu muito comigo. Foi o pior momento da minha carreira até agora. Da minha vida e da minha carreira.
Fantástico: Foi o pior momento?
Anderson Silva: Foi o pior momento da minha carreira até agora. Da minha vida e da minha carreira.
Mas agora, tudo que o Anderson quer é olhar pra frente.
Anderson Silva: O que eu tenho para dizer para vocês é que eu vou voltar. Estou me fortalecendo a cada dia. Obrigado pela forca de vocês, obrigado pelo energia positiva. Em breve eu estou de volta e espero poder ainda dar muitas alegrias para vocês, lutando.





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