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A luz da verdade x as trevas da mentira
Posted by Cottidianos
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00:18
Terça-feira,
23 de agosto
O que é a verdade?
Essa
foi a pergunta que o governador da Judeia, Pôncio Pilatos, nos átrios de seu suntuoso
palácio fez a Jesus, quando os judeus o entregaram para que fosse crucificado.
Jesus não deu resposta a essa indagação de Pilatos. Talvez por opção, talvez
porque Pilatos, ao fazê-la, saiu apressado para encontrar autoridades judaicas
que acusavam Jesus.
O que é a verdade?
Essa
é a pergunta que faço a vós, mais de dois mil anos depois daquela emblemática
conversa entre um humilde Galileu e um poderoso governador romano. Vocês também
têm a opção de ficarem calados, e após o silêncio formularem uma resposta breve
ou longa, ou também podem sair apressados ao encontro de alguém, ou ir fazer
alguma atividade qualquer.
Não
quero responder a pergunta que fiz a vocês, porém, metaforicamente, defino a
verdade como uma luz acesa em meio à escuridão. Feche os olhos e imagine-se em
uma sala escura. O que sente? Que sentimentos vêm a sua mente? Medo? Angústia?
Desespero? Em meio à escuridão você não sabe em que direção ir. Nem conhece
nitidamente as formas ao seu redor. Talvez consiga ver dos objetos que o rodeiam
apenas uma sombra vaga, distorcia. Tudo é confusão quando falta a luz.
É também
coisa do senso comum, mas que faz todo o sentido, dizer que a mentira é como
uma bola de neve, que quanto mais rola, maior fica. Não adianta correr atrás da
bola de neve despencando montanha abaixo, o estrago já foi feito. Daí por
diante, é só tormento na consciência de quem um dia, pegou uma pequena porção
de neve juntou-a nas mãos, improvisou uma bola, e a fez rolar montanha abaixo.
Há
quem diga que os mentirosos não tem consciência. Não é verdade, eles tem sim. E
por mais cara de pau que pareçam, bem lá no fundo, eles são presas de suas
próprias mentiras. No fundo de suas consciências eles vivem seu inferno
particular, com diabinhos espetando seus travesseiros enquanto tentam dormir em
noites agitadas pelo remorso.
No
nosso meio político tem muita gente nessa situação. Tem muito político e
empresário poderoso, sendo alfinetado pelos seus próprios demônios interiores. Há
os que vivem seu inferno particular porque roubaram, mentiram, trapacearam, e
há os que habitam esse mesmo inferno por ter sido omisso, ou omissa, pois a
omissão é prima-irmã da mentira, e com ela é conivente. Essas pessoas que,
aparentemente, eram donos de uma biografia tão bonita, de repente, as
descobrimos atrás das grades, ou em vias de ir para lá, ou ainda em vias de
perder seus altos cargos políticos — e pelos quais lutaram tanto, sem nenhum
pudor e critério — ou o prestígio de que desfrutavam junto à população.
Às
vezes paro e fico vendo as imagens daquelas pessoas, em reportagens na TV, e
fico pensando: “O que terá acontecido com elas?" O que terá dado errado em
suas vidas? Em quem momento de suas histórias elas resolveram ser representantes
do mal?
É compreensível
— embora não aceitável — que um menino da favela, sem as mínimas condições de
uma vida digna, e abandonado pelo poder público, entre no mundo do crime. Sociologicamente
isso é uma questão explicável.
Mas
uma pessoa que tem tudo do bom e do melhor, a tempo e a hora, por que envereda
pelos caminhos tortuosos do crime? Será que essas já eram suas próprias
naturezas e inclinações mesmo quando eram considerados heróis?
Sociologicamente, isso não é explicável.
Porém,
apesar de ter entrado, levemente, no campo político, comecei esse texto
pensando no nadador americano, Ryan Lochte.
O que
leva um jovem nadador, bem sucedido, que, dos jogos de Atenas, em 2004, até
este ano no Rio, ganhou 12 medalhas olímpicas, a inventar uma mentira? A dizer
que havia sido assaltado no Rio por policiais, quando, na verdade, havia se
entregado aos prazeres de Baco que, na mitologia romana, é o Deus do vinho? Não
seria mais fácil admitir haver sido um inconsequente e irresponsável, junto com
seus amigos também nadadores? Também nesse caso, a verdade teria sido a luz que
dissipa as trevas.
Entretanto,
como todos já são conhecedores, não foi bem isso o que aconteceu. O rapaz
inventou uma história fantasiosa e inverídica, falou às redes de televisão
americana, que por sua vez espalharam as palavras pelo mundo inteiro.
Resultado:
entrou em seu inferno particular. Os seus demônios interiores estão lhe
corroendo, espetando, e mesmo assim depois de tudo, ele ainda admite,
parcialmente, a irresponsabilidade que cometeu.
A
falta da verdade, além da vergonha que se experimenta, também pode trazer
consigo o prejuízo financeiro e econômico, e também a retirada de apoios
importantes.
No
caso de Lochte, segundo estimativas da revista Forbes, em longo prazo, o
prejuízo do atleta pode chegar a ser de R$ 5 a 10 milhões. Esse enorme prejuízo
na carreia do atleta se deve a retirada de apoio de quatro de seus principais
patrocinadores: Ralph Lauren, Speedo, uma marca de cosméticos e outra de
colchões. E pode ser que Lochte ainda perca mais parceiros importantes.
Com
certeza, as noites do jovem Lochte e de seus amigos de baderna — homens que
deveriam ser exemplo para os demais — não estão sendo nada tranquilas por lhes
faltar a luz preciosa da verdade.
Também
se deve dizer que o Brasil sentiu vergonha quando o americano disse ter sido
assaltado no Rio. Nisso, as coisas não se encaixam, pois deveríamos sentir
vergonha todos os dias então. Porque apesar da história inventada pelos
nadadores ter sido revoltante, ela não deixa de ter sido calcada em uma dura
realidade no seguinte sentido: os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos acabam.
Acabam-se os dias de sonho e de glória. As forças de segurança saem das ruas
cariocas, e a sombra perversa da realidade de violência volta a assombrar os
cariocas, bem como assombram qualquer grande cidade brasileira. Depois do
derramamento de dinheiro do governo federal no Estado do Rio de Janeiro, para
que tudo saísse a contento, como de fato saiu, o Estado volta aos seus
problemas financeiros e econômicos. E a roda da vida prossegue.
E,
se a mentira é treva a atrasar o nosso crescimento econômico, a fazer minguar o
nosso desenvolvimento educacional e cultural, sejamos, nós brasileiros, eu,
você, e todos nós, a acender, cada qual uma luz, em cada recanto deste nosso
querido Brasil, amada pátria, com a finalidade de afastar para longe de nós as
trevas da injustiça social que campeia em nosso país.
Uma
luz fundamental a ser acesa é o voto consciente. As eleições municipais se
aproximam, que sabe não seja hora de começar a prepararmo-nos para fazer
brilhar a luz da verdade?
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