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Doping político
Posted by Cottidianos
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00:10
Quinta-feira,
11 de agosto
No
momento em que começo a escrever este artigo, coincidentemente, começo a ouvir
o som do Hino Nacional Brasileiro, e o público, no Estádio Fonte Nova, em
Salvador, Bahia entoá-lo com fervor. Em campo, a seleção brasileira, e a
seleção dinamarquesa, em partida válida pelos Jogos Olímpicos. Vocês tem
percebido que tenho evitado falar de futebol, e, principalmente, falar de
seleção brasileira. E porque não o faço? Desmotivação é a palavra, o motivo. Desde
aquele fatídico 7 x 1 para a Alemanha, tenho perdido o interesse por partidas
da seleção brasileira. E porque o desinteresse?
Ora,
caro leitor, vejo uma geração de jogadores absolutamente descompromissada com o
futebol brasileiro. Jogando um futebol de várzea a seleção não encanta ninguém.
Desde aquela surra que a seleção brasileira levou dos alemães, até pensei que
algo pudesse melhorar. Ah, ledo engano. O futebol brasileiro parece caminhar
cada vez mais para o fundo do poço. Os jogadores da seleção brasileira parecem
estar muito mais comprometidos com seus clubes europeus, e com seus
patrocinadores, do que com a camisa verde e amarela.
Em
2015, o Brasil foi eliminado da Copa América pelo Paraguai nas quartas de
final. Neste ano de 2016, o Brasil deu outro vexame na Copa América Centenário,
quando perdeu para a seleção peruana por 1 x 0, e foi eliminada ainda na
primeira fase da competição. O mais ridículo é saber que na competição estavam
times de “grande” tradição futebolística de “enormes” conquistas no futebol,
como por exemplo, Equador, Haiti, e Peru.
Estamos
em 2016 e o Brasil disputa os Jogos Olímpicos. O desempenho da seleção tem
sido, mais uma vez, vergonhoso. A seleção joga suado por classificação para a
próxima fase da competição.
Foi-se
o tempo em que a seleção brasileira amedrontava os adversários. Hoje, aquele
leão que amedrontava, hoje não passa de um gatinho amedrontado. E não estranhe,
caro leitor, se os jornais estamparem, qualquer dia desses, que a seleção brasileira
não conseguiu se classificar para a próxima Copa do Mundo. Do jeito que as
coisas andam isso não é nenhum pouco difícil.
Ainda
falando de Rio 2016. O ouro tem jorrado abundante no coração, e ao redor do
pescoço do gênio das piscinas, do Pelé da água. Michael Phelps é o nome dele. O
homem é uma máquina de fabricar medalhas olímpicas, sendo a sua especialidade,
as de ouro. Salve Phelps! Grande cara! Grande campeão!
Quando
vi as manchetes de jornal estamparem as manchetes “Michael Phelps vai parar”, e
depois “Phelps vai retornar”. Pensei: “porque ele parou, voltou, e decidiu vir
ao Rio”? Então quando vi o mito beijando o filho recém-nascido após a conquista
de mais uma medalha de ouro. Então compreendi por que a fera havia voltado.
Saindo
dos campos e piscinas olímpicos, vamos para um campo menos glamouroso e mais
lamacento, que é o nosso viciado cenário político.
Hoje,
ontem (10), o Senado aprovou o relatório da Comissão Especial de Impeachment de
Dilma Rousseff, pelo placar de 59 votos a favor, e 21 contra. O ato autoriza o
julgamento de uma presidente afastada por crimes de responsabilidade fiscal. A partir
de hoje Dilma é ré em processo que apura o crime citado anteriormente. A partir
de agora, os autores da denuncia apresentarão a tese de acusação, que nada mais
é do que uma análise detalhada dos crimes atribuídos à presidente. O prazo para
apresentação da tese de acusação é de 48 horas.
Após
a apresentação dessa tese, a defesa da presidente terá o mesmo prazo para
oferecer o contrário. A previsão é de que a sessão de julgamento em plenário do
Senado ocorra em fins deste mês.
É emblemático
que as duas principais figuras do Partido dos Trabalhadores se tornem réus em
períodos datas tão próximas. Em fins do mês anterior, o ex-presidente Lula,
enquanto se dirigia à ONU, dizendo-se vítima de perseguição política, se tornou
réu em processo relacionado à Lava Jato, no qual é acusado de obstrução de
justiça.
O que
será do PT tendo os seus pilares fortemente abalados? Eu, particularmente,
lamento que dois líderes políticos da envergadura de Lula e Dilma, com uma
história tão forte de luta, tenham amassado, rasgado, e jogado suas biografias
no lixo. Hoje, Lula poderia ser um homem altamente popular. Não digo que não seja,
ainda é, mas a imagem dele está muito arranhada, e quando confrontada no espelho,
está opaca. A imagem de Dilma idem.
Considero
o processo de impeachment de Dilma um caminho irreversível. Primeiro porque a
tendência é de que se mantenha o resultado obtido na votação de ontem no
Senado. Segundo, apesar de julgarem o crime de responsabilidade da presidente
afastada, os senadores, evidentemente, não deixam de olhar em volta e analisar
o quadro geral da obra.
O quadro
geral à volta de Dilma não é nada animador. O jogo de xadrez para ela e para o
PT está cada vez mais complicado.
Outra
peça importante do tabuleiro que virou réu foi o ex-ministro do Planejamento no
governo Lula, Paulo Bernardo. Ele e mais 12 investigados foram tornados réus no
inicio deste mês. Isso enfraquece ainda mais a articulação favorável á Dilma no
Senado. Por quê? Paulo Bernardo é marido da Senadora Gleise Hoffmam, do PT do
Paraná, e Gleise é uma das defensoras ferrenhas de Dilma naquele espaço, e, com
o marido na condição de réu, a senadora perde muito de sua força política.
Outra
peça encurralada é o próprio ex-presidente Lula — que para a alta cúpula do PT,
ainda é chamado de presidente — que além de réu no processo por obstrução de
justiça, ainda é investigado na Operação Zelotes que apura a compra de um
apartamento triplex no Guarujá, e de um sítio em Atibaia, imóveis que Lula e família
negam pertencer a eles. Lula também é investigado em outra denuncia por tráfico
de influência.
A rainha
também está encurralada, e de mãos atadas. Os marqueteiros da campanha dela, João
Santana e Mônica Moura, e admitiram ter mentido no interrogatório que deram à
Polícia Federal, em fevereiro, quando foram detidos. O casal admitiu
recentemente, que recebeu R$ 4,5 milhões, por meio do operador de propinas, e
doleiro, Zwi Scorniki. Com isso, a presidente, que até então figurava como “João-sem-braço”
em meio a todo esse lamaçal, fica mergulhada nele. Claro, a presidente afastada
nega qualquer envolvimento, e diz não saber de nada.
Sai
Temer e entra Dilma e o lamaçal continua.
A
delação mais esperada dentre todas as delações premiadas da Lava Jato, a de
Marcelo Odebrecht, aponta que o presidente interino não está isento de culpa em
todos esses escândalos.
Segundo
informações divulgadas pela revista Veja, em maio de 2014, reuniram-se para um
jantar no Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente da
República, Michel Temer, o deputado Eliseu Padilha, atual ministro-chefe da
Casa Civil, e Marcelo Odebrecht. Conversa vai, conversa vem, Temer pediu “apoio
financeiro” ao empresário do ramo de empreiteiras.
Marcelo,
empresário “generoso” prometeu colaborar. Esse “apoio financeiro” se deu em
dinheiro vivo, derramado na campanha de 2014. 10 milhões de reais repassados ao
PMDB. Outro que aparece em delações premiadas como sendo beneficiário de dinheiro
provindo de esquemas ilegais é José Serra, atual ministro das Relações
Exteriores. Segundo delação premiada de Marcelo Odebrecht, Serra teria recebido
R$ 23 milhões da empreiteira para sua campanha presidencial em 2010.
Pelo
visto não há jogo limpo quando se trata de política brasileira. Se política no
Brasil fosse esporte e os políticos tivessem que passar por um exame
antidoping, certamente, seriam todos banidos da modalidade que praticam.
Voltando
ao jogo da seleção, em Salvador, finalizei esse texto, no momento em que o jogo
da seleção brasileira com a dinamarquesa chegou ao seu final. Vitória do
Brasil. 4 x 0. Foi um bom jogo, mas não mudo minha opinião. Em se tratando de
seleção brasileira estou igual a São Tomé: Só acredito vendo.
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