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Deuses, atletas, e monstros
Posted by Cottidianos
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00:19
Terça-feira,
16 de agosto
“Tu
me fizeste uma das tuas criaturas
Com
ânsia de amar
Águia
pequena que nasceu para as alturas
Com
ânsia de voar
E
eu percebi que as minhas penas já cresceram
E
que eu preciso abrir as asas e tentar
Se
eu não tentar não saberei como se voa
Não
foi a toa que eu nasci para voar”
(Águia
Pequena – Pe. Zezinho)
Meu
Deus! Eles invadiram Campinas!
Gostaria
de começar esta postagem, falando de uma experiência que tive domingo (14) por
volta das sete e meia da noite.
Porém,
começo pelo sábado (13), quase ao fim da tarde. Andava eu de bicicleta pelas
ruas da cidade. Estava voltando para casa, quando passei pela Praça do Centro
de Convivência, centro de Campinas. Por lá havia várias pessoas circulando em
volta. Estranhei um pouco. Geralmente, há algumas pessoas pelo Centro de
Convivência, mas não tantas quanto havia naquele sábado. Tudo bem. Fui para
casa tranquilamente.
No
domingo, no início da noite, precisei ir ao supermercado comprar alguns
produtos. Novamente teria que passar pelo Centro de Convivência. E, novamente,
havia muita gente circulando pela praça. E, novamente, estranhei.
Pensei,
comigo: “Porque há tantas pessoas na praça? Houve ou haverá algum evento?"
Não parecia haver nenhum, pelo menos nem sinal de que havia algum. Quando já
estava na metade da praça, encontrei com alguns um casal de amigos, e mais uma
amiga deles que apenas acabavam de chegar. Parei. Cumprimentei-os. E iniciamos
um dialogo que não foi muito longo. Durante esse breve diálogo, um deles
comentou: “Você viu quanta gente caçando Pokemons”?
Só
então “caiu a ficha”, ou seja, tomei consciência do que realmente acontecia
naquela praça. Fiquei realmente impressionado com aquela cena. Pessoas passando
de um lado para outro. Jovens, adultos, e crianças, de olhos vidrados nas telas
de seus dispositivos eletrônicos. Tentavam capturar algumas das criaturinhas
manias do momento: os tais Pokémon Go.
Ainda
nesse breve e produtivo dialogo com os amigos, a esposa do meu amigo comentou:
—
Pelo menos as pessoas voltaram às praças.
Ao
que meu amigo retrucou:
—
É voltaram, mas cada um no seu mundo. Não tem mais aquela coisa da conversa, do
bate-papo entre amigos.
Despedimos-nos.
Segui rumo ao supermercado. Eles, que não caçavam Pokémons, seguiram seu
passeio pelo Centro de Convivência.
Na
volta do supermercado, ainda parei e olhei para aquela pitoresca cena... E
enquanto retomava a caminhada, fiquei pensando no comentário do meu amigo, e
dei-lhe razão. Todos estavam ali reunidos, mas não estavam juntos. Não se
olhavam nos olhos. Nem se diziam olá. Nem se sorriam uns aos outros. Concentrados.
Sérios. Passavam de um lado a outro em busca das pequenas quimeras virtuais. Enquanto
rumava para casa, pensei: “Pelo menos, na praça, eles não correm o risco de
serem atropelados, ou darem com o nariz no chão”, e segui o caminho um pouco
mais tranquilo.
Agora
falando de jogo sério, desses que fazem bem ao corpo e à mente, e que,
diferentemente da frieza do mundo virtual, mexem com nossos sentimentos e
emoções.
Os
Jogos Olímpicos continuam nos proporcionando momentos belíssimos. Se me
pedissem para substituir a palavra esporte por outra, eu, certamente,
escolheria a palavra superação. Pois dentro do esporte,
principalmente dentro dos esportes olímpicos, o atleta não corre contra um
adversário, não luta contra um adversário, não supera um adversário.
Nos
Jogos Olímpicos, o principal adversário do atleta é ele mesmo. Nos meses, ou
anos de treinamento, o atleta tem que superar a dor, esquecer o cansaço. São cinco,
seis, oito, dez — às vezes até mais que isso — de treino árduo, pesado. É o
corpo sendo levado ao seu limite máximo. Tudo isso apenas com a capacidade
natural do ser humano. Sem fazer uso de substâncias que alterem o metabolismo
corporal e dê ao atleta uma força que não é dele.
Temos
tido a oportunidade de ver a atuação de monstros sagrados do esporte, alguns
dizem lendas, outros preferem dizer mitos. Poderíamos também dizer que os
deuses do Olimpo baixaram no Rio com toda a força e poder que lhes é peculiar,
e nós, pobres mortais, ficamos a olhar, e a aplaudir, admirados.
Veio
o filho de Zeus, deus dos raios, relâmpagos e trovões. E o nome do filho de
Zeus é Bolt. Usain Bolt quando dispara nas pistas nem o seu próprio irmão, o
raio, consegue alcançá-lo.
Ontem
o Jamaicano fez história. O mundo parou para ver esse momento. O raio escreveu
seu nome na história do esporte ao conquistar pela terceira vez a prova mais
importante de uma Olimpíada: os 100 metros rasos. Pense rápido: O que você
consegue fazer em 10 segundos, ou melhor, menos que isso, 9,81 segundos. O que
você consegue fazer nesse tempo? Piscar o olho, talvez. Ou dizer uma palavra,
desde que não seja paralelepípedo, pois aí o tempo é maior. Nesse curtíssimo
espaço de tempo, Bolt consegue fazer história. Bolt conquistou a medalha de
ouro nos jogos de Pequim, em 2008, Londres, em 2012, e agora no Brasil.
E a
vibração no estádio lotado para ver o astro? Parecia que ele corria em casa, de
tanto que o público no estádio — formado não apenas por brasileiros, mas por gente
de todas as partes do mundo — gritava seu nome. Bolt quando corre parece mais é
estar se divertindo.
O
Rio também teve a honra de receber o filho de Poseidon, o deus das águas. Michael Phelps é o nome dele. O maior atleta das
histórias dos Jogos Olímpicos em todos os tempos. E esse legítimo filho de Poseidon
quis sucumbir aos monstros que atacam os humanos. Nos jogos de Londres, em
2012, o astro, já vitorioso, anunciava que iria se aposentar. Apesar das
medalhas de ouro no peito, estava frustrado, e dizia que não via mais sentido
em continuar no esporte. Conheceu a tristeza e a depressão. Porém, como
herdeiro dos bravos guerreiros do Olimpo, deu a volta por cima e afastou para
longe de si esses incômodos monstrinhos para ressurgir glorioso nas piscinas do
Brasil.
Com
uma coleção de invejáveis 23 medalhas de ouro, ele diz que vai se aposentar.
Mas em se tratando de Phelps, tudo é possível. Afinal, não disse uma vez que
iria abandonar a toca e os óculos? Sem dúvida, o americano Phelps é o filho preferido
de Poseidon.
Os
deuses não poderiam também deixar de enviar uma representante das ninfas, fadas
sem asas e tão leves como as plumas. Simone Bailes é o nome dela. A moça chegou
de mansinho, devagarzinho, e conquistou corações. Chegou com tudo para
brilhar... E brilhou. Como é gostoso ver as apresentações perfeitas da
americana. A gente fica ali olhando, olhando, olhando, e pensando: “Como que
uma pessoa consegue fazer tudo isso com o corpo?" Dá vontade de ver e
rever a apresentação dela. Realmente, uma fada sem asas.
Para
o Brasil também nos foi enviada uma guerreira, filha de Ares, deus da guerra e
das lutas. Rafaela Silva, medalha de ouro no Judô é o nome dela. Mulher,
brasileira, vinda das favelas, Rafaela merece mesmo o nome de guerreira. Se já
é difícil conquistar uma medalha de ouro quem teve berço de ouro e os melhores
equipamentos para treinar, imaginem que teve que treinar com equipamentos
velhos e ultrapassados. Nascida na favela carioca, Cidade de Deus, a jovem é um
desses exemplos de uma vida transformada pelo esporte.
Nos
Jogos de Londres, em 2012, Rafaela foi eliminada nas oitavas de final. Mas o
golpe maior não veio dessa luta. O golpe maior veio quando ela chegou ao hotel
e abriu a caixa de e-mails. Ali estavam centenas de mensagens racistas e de
ódio por ela ter sido eliminada. A jovem foi ao fundo do poço. Também conheceu
a tristeza, a depressão, e a vontade de parar de lutar. Mas como toda filha de
um bom guerreiro ela também foi à luta contra esses monstrinhos sem
importância, e conquistou o brilho do ouro.
Neste
curto espaço, e com o pouco tempo que tenho, não dá para falar de todos os
ouros, pratas e bronzes, que certamente, merecem nossa admiração, mas fica aqui
registrado, meu respeito e minha admiração por esses enviados do Monte Olimpo, que
nos ensinam que tudo é possível, basta querer... E treinar, e treinar, e
treinar, incansavelmente.
Voltando
aos pokemons.
Antes
de sair por aí, sem norte e sem rumo, caçando pokemons, empreenda uma caçada
interior e vença os monstros que o impedem de ser mais forte, mais livre, mais
vencedor. Antes de querer vencer os
pokemons, vença a si mesmo. Afinal, você é seu maior adversário.
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