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Caldeirão fervente
Posted by Cottidianos
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00:08
Segunda-feira,
29 de agosto
Na
brincadeira de gato e rato, o gato está encurralando o rato. O primeiro animal
deve agir com bastante prudência em relação ao segundo, uma vez que o bicho não
é um bicho qualquer, é um bicho grande, poderoso. Qualquer descuidado o gato é
que pode ser apanhado na ratoeira. Além de grande e poderoso, o rato também é
ardiloso. O bicho é tão esperto que, até hoje, ele não conseguiu ser apanhado
em nenhuma armadilha, mesmo tendo sido a grande maioria dos seus amigos mais
próximos apanhados nela.
Esta
semana, a Polícia Federal indiciou o ex-presidente Lula, e a mulher dele, Marisa
Letícia. O motivo? As tais reformas no luxuoso apartamento de cobertura, na
belíssima praia do Guarujá, litoral paulista. A investigação centrou-se no fato
de que o casal teria recebido vantagens ilícitas da empreiteira OAS, para
custear a reforma do apartamento. Colocando-se em valores essas vantagens
ilícitas, a quantia é bem considerável: R$ 2, 4 milhões de reais. Uma boa
quantia para se gastar em reformas, não? Claro, não é uma reforma qualquer. Falo
de uma reforma em um triplex, em uma cobertura á beira-mar, no Edifício Solaris,
em uma das regiões mais valorizadas do interior paulista.
No
sábado (27), o jornal Folha de São Paulo, trouxe reportagem fundamentada em
depoimento revelado pela revista Veja, na qual afirma que, segundo delação
premiada do empreiteiro, Leo Pinheiro, o apartamento triplex no Guarujá, seria
abatido das propinas que a OAS tinha de pagar ao PT em obras da Petrobrás.
O indiciamento
será então remetido ao Ministério Público para que este acate ou não o pedido
de indiciamento. Entretanto, ao que parece, o processo é robusto em provas e
depoimentos. Será muito difícil que o MP não acate esse pedido.
Corrupção.
Lavagem de dinheiro. Falsidade ideológica. Esses são os crimes dos quais Lula é
acusado. Corrupção e lavagem de dinheiro são os crimes que pesam sobre Marisa.
Ainda
nesse indiciamento, Lula é acusado também de receber vantagens ilícitas da
Granero Transportes. Segundo mostraram as investigações policiais, a empresa teria
armazenado bens do casal, entre os anos de 2011 e 2016.
E porque
essa troca de gentilezas? Uma pista: a OAS recebeu muitas benesses advindos do
esquema criminoso da Petrobrás. Também não duvido nenhum pouco de que a Granero
também tenha recebido benesses.
Como
já ressaltei, o relatório é robusto em provas. Uma delas é a série de mensagens
trocadas entre Leo Pinheiro e Paulo Gordilho. Pelo conteúdo das mensagens
infere-se que eles tratavam da reforma do tal luxuoso apartamento. Eles falam
de dois imóveis, sendo um deles, claramente, identificado como a reforma do
citado apartamento, o outro provavelmente, o sítio em Atibaia.
Lembrem-se
de que, quando Lula foi levado coercitivamente para prestar depoimento, o
ex-presidente negou conhecer Paulo Gordilho.
Entretanto, o inquérito revela fotos do presidente ao lado do engenheiro
da OAS, e da filha dele. Em uma das mensagens, inclusive, Paulo diz estar indo
em um churrasco no sítio de Lula, em Atibaia. Leo Pinheiro também estaria lá.
Lula
também está enrolado em outros dois inquéritos. Um deles é as vantagens recebidas
de empreiteiras, e outro a questão das palestras milionárias que Lula realizava
através de seu instituto.
É sob
o peso de todas essas acusações que o presidente estará em Brasília, defendendo
a presidente, Dilma. Ainda que essa defesa seja feita nos bastidores do Senado,
é fato que Lula chega por lá bastante fragilizado.
Por
falar em Senado, falamos automaticamente em impeachment.
Está
previsto para a manhã desta segunda a defesa da presidente Dilma no plenário do
Senado. O que dirá ela a fim de convencer os senadores de que é inocente das
acusações que lhe são imputadas. Afinal, os argumentos que ela tem usado até
agora, são tão vazios quanto vazia foi uma das propostas de estocar vento.
Estocar vento. Acham que estou exagerando, ou sendo engraçado. É a mais pura
verdade.
Foi
em uma entrevista coletiva por ocasião de sua passagem pela ONU, em 27 de
setembro do ano passado. Falava-se da chamada “Agenda 2030”. Dilma falava da
influência das hidrelétricas na energia brasileira, nesse contexto a presidente
destacou que a energia eólica seria mais útil se fosse possível estocar vento. Fechando
a questão ela disse:
Dando um outro exemplo: até agora, a
energia hidrelétrica é a mais barata, em termos do que ela dura com a
manutenção e também pelo fato da água ser gratuita e da gente poder estocar. O
vento podia ser isso também, mas você não conseguiu ainda tecnologia para
estocar vento.
Então, se a contribuição dos outros
países, vamos supor que seja desenvolver uma tecnologia que seja capaz de na
eólica estocar, ter uma forma de você estocar, porque o vento ele é diferente
em horas do dia. Então, vamos supor que vente mais à noite, como eu faria para
estocar isso? Hoje nós usamos as linhas de transmissão, você joga de lá para
cá, de lá para lá, para poder capturar isso, mas se tiver uma tecnologia
desenvolvida nessa área, todos nós nos beneficiaremos, o mundo inteiro.
Não
sei se a presidente, naquela ocasião, quis ser engraçada, entretanto, parecia
falar sério, nesse caso, a afirmação beira mais o ridículo que o engraçado.
Prossigamos.
Em
16 de agosto, a presidente afastada divulgou uma carta, chamada de, Mensagem ao senado e ao povo brasileiro,
em trecho da carta, Dilma afirma:
Na jornada para me defender do
impeachment me aproximei mais do povo, tive oportunidade de ouvir seu
reconhecimento, de receber seu carinho. Ouvi também críticas duras ao meu
governo, a erros que foram cometidos e a medidas e políticas que não foram adotadas.
Acolho essas críticas com humildade e determinação para que possamos construir
um novo caminho.
É uma
pena que Dilma tenha tido tanto tempo, para perceber isso. Agora, me parece
tarde demais. No geral, as argumentações de Dilma nesta carta são muito fracas,
por isso, duvido muito que ela venha a fazer nesta manhã de segunda, 29 de
agosto, um discurso convincente.
Ainda
falando no cenário impeachment que acontece no senado, na quinta-feira, primeiro
dia das sessões de julgamento, houve um grande blá-blá-blá, isso para não dizer
baixaria. A senadora Gleise Hoffman exaltada, disse que, ninguém naquele
ambiente tinha moral para julgar a presidente. Armou-se uma grande confusão
entre os senadores. Lewandovisk, presidente da sessão de julgamento, teve que
interromper a sessão.
Logo
Gleise Hoffman a gritar a favor da moralidade. Ela e o marido, Paulo Bernardo,
os dois acusados de falcatruas e envolvimento em esquemas ilícitos na
Petrobrás. O marido dela, inclusive, é acusado de roubar R$ 100 milhões de funcionários
públicos no esquema dos empréstimos consignados. Lembrando que Paulo Bernardo
foi ministro do Planejamento durante a gestão do ex-presidente Lula.
No
dia seguinte, sexta-feira, 26, prosseguiram os debates acirrados, ou melhor, as
acusações acirradas. Um detalhe em toda essa confusão. Também com ânimo
exaltado, o presidente do Senado disse:
Ontem a senadora Gleisi chegou ao cúmulo
de dizer que o Senado Federal não tinha moral para julgar a presidente da
República. Como uma senadora pode fazer uma declaração dessa? Exatamente uma
senadora que há 30 dias o presidente do Senado Federal conseguiu no Supremo
Tribunal Federal desfazer o seu indiciamento e o do seu esposo que havia sido
feito pela Polícia Federal. Isso não pode acontecer, é um espetáculo triste que
vocês estão dando para o país.
Perdido
naquele caldeirão fervente de ânimos exaltados, a frase parece passar
despercebida, mas se levada a outro contexto e em análise mais detalhada, se
for verdade o que Renan disse, isso representa um fato da mais alta gravidade.
É por
aí que vemos como é podre a nossa política, e quão vis são os políticos que
estão nos postos chaves em nossa nação.
É fato
improvável que Dilma volte a ocupar a cadeira presidencial.
Em
setembro, também é muito pouco provável que não tenhamos Temer como presidente
de fato e de direito.
E o
futuro para nós brasileiros continuará incerto, pois a julgar pelas atitudes de
Temer, não teremos grandes mudanças, mudanças significativas. Temer continuará
a esconder-se na sombra dos poderosos, amedrontado por eles, ou ameaçado por
eles, quem saberá.
E ainda
tem o fantasma do vil Eduardo Cunha a assombrá-lo, e a nos assombrar...
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