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Águas que apagam as chamas
Posted by Cottidianos
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00:40
Quinta-feira,
25 de agosto
“Oh, mãe Oxum! Minha mãe Oxum!
Ora
iê, iê ô! Ora iê, iê ô!
Oh,
mãe Oxum! Minha mãe Oxum! Ora iê, iê ô!
De
tuas mãos, nasce o amor”
(Oxum – Ana Flávia)
Um
dois momentos lindos da festa de encerramento das Olimpíadas foi a apresentação
da cantora baiana, Mariene de Castro, debaixo de uma chuva artificial, cantando
a bela canção, Pelo Tempo que Durar,
de Marisa Monte e Adriana Calcanhoto. A chuva caindo fininha... O fogo olímpico
se apagando para renascer do outro lado do mundo... Mariene cantando com voz
suave e encantadora ... Pareceu-me a mim mesmo, como se fosse mãe Oxum,
banhando-se nas águas divinas e puras das cachoeiras de Aruanda...
Foi
um momento de glória para Mariene, para o Brasil, e para o mundo. Enquanto a
baiana cantava, banhada pelas águas artificiais, e também naturais, visto que
no Rio choveu durante o dia inteiro, as águas apagavam a tocha olímpica. Aos poucos,
ela foi diminuindo, diminuindo, até que se extinguiu por completo.
Dilma
Rousseff, ao contrário da deusa baiana, vive um momento que se situa do lado
oposto ao da glória. Dilma vive, há meses, seu inferno astral, que promete
chegar ao seu momento decisivo na semana que vem no mais tardar, no alvorecer
de setembro.
Em
tese, o julgamento decisivo da presidente afastada começa somente na semana que
vem, porém, na prática, já nesta quinta-feira, começam a serem ouvidas as
testemunhas. São duas de acusação e seis de defesa. As testemunhas de acusação
falam primeiro, e, em seguida, as de defesa, em um processo de julgamento
comandado pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo
Lewandovisk.
Uma
vez iniciada a sessão, ela não poderá ser interrompida, porém, como ninguém é
de ferro para aguentar tanta falação, e tanta argumentação, estão previstas
algumas pausas, as quais deverão ocorrer entre 13h e 14 horas, e entre as 18h e
19 horas. Após esses duas pausas, o presidente poderá determinar novas pausas,
de meia hora, a cada quatro horas, ou conforme exigirem as circunstâncias. As testemunhas ficarão isoladas em quarto de
hotel à disposição dos senadores, e a fase de oitiva das testemunhas, ficou
acertado entre os senadores, que deverá ser concluído até domingo à noite.
Em
relação ao tempo, ficou definido que cada senador terá direito de ouvir as testemunhas
por seis minutos. Já os advogados de defesa e de acusação terão um tempo maior,
que foi estipulado em dez minutos.
Essa
é a primeira etapa do julgamento.
A segunda
começa na segunda, às 9 horas da manhã. Na ocasião, será dada a oportunidade de
a presidente dirigir sua palavra aos senadores. Dilma já confirmou sua
participação e deverá dispor de cerca de 30 minutos para que expressar a sua
defesa, porém o tempo pode ser prorrogado, caso o presidente da sessão, Ricardo
Lewandovisk assim o decida.
Todos
os senadores, caso queiram, podem fazer perguntas à presidente, e cada um disporá
de um tempo de cinco minutos para isso. Tempo igualmente reservado para
acusação e defesa. Se todos os senadores resolverem inquirir a presidente, a
participação dela na sessão pode se estender por sete longas e exaustivas
horas.
Passado
esse longo calvário para todos: presidente da sessão, senadores, advogados de defesa
e de acusação, e para a própria presidente afastada, inicia-se a fase de discussão
do mérito da denúncia. Essa fase será aberta com os debates orais entre
acusação e defesa. Os advogados tanto de defesa quanto de acusação terão cerca
de uma hora, uma hora e meia para fazer uso da palavra, e mais uma hora para
réplica e tréplica.
Após
o debate entre acusação e defesa, os senadores, que obedecerão a uma ordem
determinada de inscrição na lista de oradores, terão direito a um tempo que
será de dez minutos para uso da tribuna.
Passada
essa fase, é chegada a hora da votação final do processo de impeachment, fato
que está previsto para ocorrer dia 30 deste mês, e cujo horário será maleável,
e de acordo com o andamento da sessão.
Antes
de ser aberta a votação, é feita pelo presidente da sessão de julgamento,
Ricardo Lewandovisk, a leitura de um relatório contendo o resumo das provas e
dos fundamentos da acusação e da defesa. Quatro senadores, dois favoráveis á
acusação contra a presidente, e dois contrários, terão cinco minutos cada um para
se manifestar.
Em
votação nominal e através do painel eletrônico, a presidente será
definitivamente afastada da presidência, caso, pelo menos 54 senadores deem
voto favorável a sua cassação. Confirmado esse número, Michel Temer, presidente
interino, assumirá a cadeira presidencial. Caso não seja confirmado os votos
requeridos para o afastamento, a presidente voltará ao cargo.
Cometeu a acusada, a senhora Presidente da
República, Dilma Vana Rousseff, os crimes de responsabilidade correspondentes à
tomada de empréstimos junto à instituição financeira controlada pela União
(art. 11, item 3, da Lei nº 1.079/50) e à abertura de créditos sem autorização
do Congresso Nacional (art. 10, item 4 e art. 11, item 2, da Lei nº 1.079/50),
que lhe são imputados e deve ser condenada à perda do seu cargo, ficando, em
consequência, inabilitada para o exercício de qualquer função pública pelo prazo
oito anos?
Essa
é a pergunta a qual os senadores deverão responder, e que decidirá o destino de
Dilma Rousseff.
Assim
que se obtiver o resultado definitivo, ele será publicado. Somente após isso, Lewandovisk
poderá então fazer a leitura da sentença, que, para ser eficaz, deverá ser
assinada por todos os senadores, e de conhecimento dos advogados de defesa e de
acusação. Após todos esses tramites legais, Michel Temer será comunicado da
decisão, seja ela qual for.
As
lágrimas que, sob o doce canto da baiana Mariene de Castro apagaram a tocha
olímpica representavam lágrimas de alegria, ao fim de um evento glorioso. Caso Dilma
seja, de fato, afastada da presidência, as lágrimas que apagarão o seu sonho de
presidente serão lágrimas de tristeza que encerrarão um governo medíocre.
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