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Uma mudança sem que se mude coisa alguma
Posted by Cottidianos
on
00:43
Quarta-feira,
31 de agosto
Ainda
esperando o resultado final do julgamento do impeachment no senado, e sem tempo
de escrever algo, na postagem de hoje, apenas compartilho editorial do jornal
El Pais Brasil, de autoria de David Alendete, Director Adjunto de El País.
***
Sem
passar a limpo
Nasce
no Brasil um novo Governo que não tem a legitimidade das urnas
28
AGO 2016
Parece
ter se instalado um consenso entre a elite política e empresarial do Brasil.
Esta semana marca um antes e um depois na história do país. Com Dilma Rousseff
fora do Governo de forma definitiva, a crise política se resolverá, criando as
condições propícias para uma melhora econômica, que estancará a escalada de
inflação e desemprego. Muito poucos se atrevem a contestar publicamente que os
problemas vão acabar com a ratificação em seu posto do presidente interino
Michel Temer e sua legião ministerial de 22 homens brancos de meia-idade.
Durante
dois anos, desde que conseguiu a reeleição com 54,5 milhões de votos, Rousseff
se transformou, aos olhos da opinião pública, na causa de todos os males que
assolam o Brasil. Não importa qual crise nacional seja considerada, a
presidenta é responsabilizada por praticamente todas, desde a corrupção de
ministros e partidos políticos até a galopante crise econômica e a epidemia do
zika vírus.
As
concentrações de detratores da presidenta, com seu lema “tchau, querida”,
tornaram-se elemento fixo em São Paulo, sendo suas barracas tão presentes
quanto os arranha-céus e as antenas da Avenida Paulista. E conseguiram. Depois
de tantos protestos, panelaços e sessões-maratona no Congresso, finalmente
Rousseff está à beira de deixar a Presidência, algo que ela parece ter
admitido, apesar de tudo. Já se comenta em Brasília que ela avalia fazer uma
viagem particular à Europa quando sua deposição se tornar definitiva.
O
que acontecer no primeiro dia da presidência definitiva de Michel Temer já não
poderá ficar no plano dos desejos. Seu partido está encurralado pelos mesmos
escândalos de corrupção que o Partido dos Trabalhadores, de Rousseff. Três
ministros de seu gabinete – criado em maio – pediram demissão quando se viram
citados no caso de corrupção da Petrobras. O próprio Temer foi mencionado na
investigação. Uma nova era no Brasil? Perguntem isso à metade dos legisladores
em exercício, que têm causas pendentes na Justiça.
Não,
na nova presidência definitiva de Temer não terá desaparecido por mágica a
corrupção; nem a falta de demanda internacional de matérias-primas; nem a
enorme dívida pública e privada de empresas e famílias. Vou além, atrevendo-me
a prever que também não terão se esfumado os eleitores tradicionais do PT em
seus feudos do Nordeste, ou os 40 milhões de pessoas que o partido tirou da
pobreza extrema em seus 13 anos no poder. É provável que todos esses eleitores,
num país em que o voto é obrigatório, tenham algo a dizer daqui a dois anos,
quanto Temer precisará se submeter não ao julgamento dos protestos nas ruas, e
sim ao da verdadeira legitimidade, que nesse caso somente as urnas dão.
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