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Conquistas sociais: Nossos vizinhos latino-americanos avançam, e nós retrocedemos
Posted by Cottidianos
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00:13
Segunda-feira,
09 de novembro
O
Brasil atravessa, sem dúvida, uma grave crise econômica, que, como uma
avalanche, atinge todos os setores da sociedade brasileira. Sabemos que tudo
isso tem origem em um governo ineficiente, que não soube controlar suas contas,
e saiu por aí, gastando a torto e à direito, sem medir as futuras consequências
desses atos para a população. A
corrupção é outro ingrediente de peso que abala a credibilidade do país e
afasta os investidores estrangeiros.
Entretanto,
a sociedade brasileira não tem atentado para outra crise, igualmente grave, que
vem se desenvolvendo nas bases de nossa política, e para a qual não temos
voltado nossos olhos para sua real dimensão, que é o conservadorismo de nosso Congresso.
O número da bancada evangélica em nossas casas legislativas, cresce a cada ano.
A princípio, isso pode parecer um fato louvável, porém se volvermos nosso olhar
por sobre os ombros para as páginas da história, veremos que, nos momentos em
que o casamento entre e igreja e estado foi mais harmonioso, o retrocesso nas
conquistas sociais e religiosas foi gigantesca.
É
bom olharmos para as páginas do passado e aprender com os erros, mas nem
precisaríamos, basta olhar com mais atenção o momento presente, e ver quantos
absurdos crimes estão sendo cometidos em nome da fé, e quanto retrocesso
provocam os fundamentalistas e reacionários.
Se
os “homens da Bíblia”, tivessem, tivessem, realmente, um projeto de fé, um
projeto social que fosse, ao menos, parecidos com os projetos e ideais do
mestre Jesus, de quem tanto falam, não haveria o menor problema em ver a multiplicação
deles nas bancadas de nossas casas legislativas, mas vemos nos projeto
apresentado por esses “piedosos” senhores, não um projeto de fé, mas um projeto
de poder, de enriquecimento ilícito, como não me deixa mentir a figura do
presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Porém, ao invés de lutar pelos pobres e
marginalizados, como fazia o homem de Nazaré, a bancada evangélica, alia-se aos
ricos e poderosos, que não estão nem aí para os interesses dos pobres e
marginalizados.
Um
exemplo desse retrocesso é o projeto de lei apresentado pelos deputados
evangélicos que dificulta, em muito, a vida das mulheres que foram vítimas de
estupro. O Brasil já é um dos países do mundo com leis mais rígidas quando se
trata de aborto, porém a bancada evangélica que endurecer ainda mais essa lei,
ao caminhar para uma proibição do aborto também nos casos em de estupro, e de
problemas de má formação do feto, devidamente comprovado pela medicina. “O que
Eduardo Cunha e seus asseclas propõem é a condenação da vítima e a ampliação da
impunidade dos agressores. Os parlamentares alegam agir em defesa de valores
tradicionais da família brasileira. Resta saber quem protegerá a sociedade da
“fúria santa” dos nossos legisladores”, afirma o jornalista Luiz Rufatto, no
artigo, Rumo ao obscurantismo, publicado
no dia 04 de novembro, no jornal, El País Brasil.
Abaixo,
compartilho matéria, O Brasil retrocedesocialmente enquanto a América Latina avança, publicada, ontem (8), no site
do jornal El País Brasil. A matéria, de autoria de Antonio Jiménez Barca, fala
de avanços de nossos pares latinos americanos e de nossos retrocessos.
***
O
Brasil retrocede socialmente enquanto a América Latina avança
ANTONIO
JIMÉNEZ BARCA São Paulo 8 NOV 2015
Esta
semana, a Suprema Corte de Justiça mexicana deu os primeiros passos para
legalizar o consumo de maconha; há alguns dias, a Colômbia aprovou a adoção
para casais homossexuais. Em 22 de outubro, o Chile realizou sua primeira união
homossexual. A América Latina avança cada vez mais abertamente no sentido de
conquistas sociais. O Brasil, ao contrário, afundou em uma crise política e
econômica que se retroalimenta periodicamente, e assim perde o rumo e retrocede
nessas mesmas conquistas sociais a passos largos, à base de projetos de lei
propostos pela ala ultraconservadora do Congresso. O Governo de Dilma Rousseff,
do Partido dos Trabalhadores (PT), anulado, incapaz de levar adiante sozinho
suas próprias medidas de ajuste, assiste impassível à mudança.
Um
exemplo: o Parlamento brasileiro aprovou na semana passada colocar em andamento
um projeto de lei que restringe os direitos das mulheres estupradas na hora de
abortar ou que, pelo menos, os dificulta. A iniciativa, que ainda deve ser
aprovada pelo Senado, foi criada pelo conjunto de deputados evangélicos
comandados pelo ultraconservador membro da igreja evangélica – e acusado de
corrupção pela Justiça – Eduardo Cunha, presidente da Câmara. Atualmente, o
aborto é legal no Brasil em casos de estupro, se a gravidez traz riscos para a
mulher ou em casos de más-formações cerebrais no feto. E uma mulher estuprada
no Brasil pode ir a ambulatórios onde, depois de passar por uma série de
entrevistas, os médicos prescrevem a pílula do dia seguinte se ainda houver
tempo ou, se já estiver grávida, indicam o aborto. Tudo isso se complica com a
nova lei, que prevê que essa mesma mulher deverá passar antes por uma delegacia
e denunciar o fato, além de se submeter a um exame médico antes. Há ativistas
que sugerem que a medida, além disso, é uma tentativa encoberta de restringir o
acesso das mulheres à pílula do dia seguinte, no sistema público de saúde. Teme-se
que esse seja um primeiro passo para, posteriormente, proibir a venda do medicamento
nas farmácias.
A
guinada retrógrada brasileira não acaba aqui. Outro grupo de parlamentares
aprovou semana passada outro projeto de Lei que dá poderes às igrejas católica
e evangélica para ir ao Supremo Tribunal e impugnar leis consideradas, segundo elas,
inconstitucionais. Ou, mais especificamente, “que interfiram direta ou
indiretamente no sistema religioso ou no culto”. Até agora essas prerrogativas
eram reservadas, entre outras instituições, à presidência da República, e ao
Congresso e ao Senado. A iniciativa veio também dos ativos e inevitáveis
deputados evangélicos, de partidos diferentes unidos sob um credo comum e uma
tendência ultraconservadora comum. São 75 em uma Câmara de 513 deputados.
Parecem poucos, mas é só aparência, já que o Parlamento brasileiro, por sua
própria natureza, é uma Câmara hiper-fragmentada na qual abundam as alianças e
contra-alianças de partidos minoritários e ínfimos. O PT, partido do Governo,
por exemplo, só tem 64 deputados.
Além
disso, esses parlamentares evangélicos não só estão nessa cruzada retrógrada e
militante. Fazem parte de um grupo mais amplo, de mais de duas centenas de
deputados, denominados de “BBB”, sigla para Boi, Bala e Bíblia. São
parlamentares que representam, respectivamente, os donos de fazendas e criadores
de gado favoráveis ao desmatamento das florestas para que sirvam de pasto, aos
lobbies das empresas de segurança e de armas e aos que - por sua conta – querem
velar pela moral religiosa da sociedade. Os primeiros conseguiram desbloquear
recentemente um velho projeto de lei paralisado desde 2000 que, realmente,
restringe as terras destinadas aos índios. Os deputados da Bancada da Bala, por
sua vez, continuam tramitando uma lei para liberar as armas que, se aprovada – e
tem grandes possibilidades – permitirá que profissionais tão variados quanto
caminhoneiros, taxistas e deputados, entre outros, possam andar armados nas
ruas sem muita complicação burocrática, com uma autorização menos restritiva do
que a que se emprega para tirar a carteira de motorista. Os deputados
evangélicos, na sintomática contramão do que acontece atualmente nos países
latino-americanos, colocaram em andamento um projeto de lei que tem por
objetivo restituir exclusivamente às uniões formadas por um homem e uma mulher
a categoria legal de casamento. Com isso, tentam fazer com que os casamentos de
homossexuais, atualmente legais no Brasil, deixem de ter direitos em termos de
heranças, custódia dos filhos ou na hora de compartilhar seguros de saúde.
Por
trás de toda essa virada ultraconservadora, como elemento aglutinante, está o
polêmico presidente da Câmara, Eduardo Cunha, acusado pela Justiça de manter
contas milionárias na Suíça alimentadas por subornos vindos do poço sem fundo
da corrupção que durante anos foi a petroleira pública Petrobras. Cunha precisa
de todos esses parlamentares mais ou menos afins para não se ver apeado de um
poder que se restringe a cada dia, não perder sua condição de privilegiado pelo
foro parlamentar e não acabar em um tribunal ou na cadeia.
Cunha
sempre negou – inclusive em uma solene comissão parlamentar– ter contas na
Suíça. Agora, depois das evidências incontestáveis apresentadas pela Justiça,
afirma, em uma surpreendente e um tanto surreal entrevista publicada sábado,
dia 7 de novembro, pela Folha de S. Paulo, que as referidas contas estão em seu
nome mas pertencem a um “trust”, do qual ele é só “usufrutuário em vida”. E
acrescenta que nunca soube que uma dessas contas recebeu em 2012 um suculento
depósito de 1,3 milhões de francos suíços (4,8 milhões de reais) vindos de um
dos implicados na trama da Petrobras.
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