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Noite de trevas na Cidade Luz
Posted by Cottidianos
on
00:29
Domingo,
15 de novembro
“Não é forte
quem derruba os outros;
forte é quem
domina a sua ira”.
Maomé, 82
Na
quinta-feira (12), haveria um jogo amistoso entre Brasil e Argentina, que seria
transmitido às dez da noite, pela TV Globo. O jogo não ocorreu, pois caiu um
forte temporal na Argentina e o estádio onde seria realizado o jogo mais
parecia uma piscina do que um campo de futebol. Então, para segurança dos
jogadores, e dos poucos torcedores que foram ao estádio, os dirigentes de
futebol decidiram adiar o jogo para o dia seguinte, sexta-feira (13). Não vou
falar do jogo, pois os jogos da seleção brasileira tem sido tão mornos, que não
empolgam o torcedor.
Acho
isso estranho, pois os jogadores, a maioria deles, são astros do futebol, e
jogam em times de grande expressão mundial, times com excelentes estruturas, e
que disputam excelentes campeonatos. Pois bem, no exterior os jogadores dão
show de bola, mas... Quando vestem a camisa da seleção jogam um futebolzinho
mixuruca. Talvez já tivessem jogando assim faz tempo e o pesadelo dos 7 x 1 contra a Alemanha tenha sido uma consequência desse péssimo desempenho. Os
sete gols sofridos contra a Alemanha foram doloridos, mas talvez, tenha nos
ajudado a enxergar uma realidade que antes não víamos, ou fingíamos não ver: a
de que o futebol brasileiro vai de mal a pior.
Pois
bem, ontem, quando cheguei em casa, já passava das onze e estava sendo jogado o
segundo tempo da partida, que é uma das maiores rivalidades do mundo do
futebol, Brasil x Argentina. Liguei a TV, a Argentina estava ganhando o jogo
por 1 x 0. Até agora, tudo normal, pensei. Mais alguns minutos e o Brasil
empatou o jogo. Sabe aquela coisa, fez um gol, mas não convenceu? Foi bem
assim.
Ao
final do jogo, o narrador, Galvão Bueno, falava emocionado de uma grande tragédia
que havia acontecido, e que expressava solidariedade às vítimas e coisa e tal. Depois
fez mais algum comentário e voltou a tocar no assunto da tal tragédia. E eu ouvindo,
querendo saber o que foi, onde foi, como foi, mas o narrador não falava nada
disso. E eu já irritado com ele. Sabe aquela de “se pudesse voava na garganta
dele”? Por fim, ele disse que o Jornal da Globo, traria mais detalhes do caso.
Ansioso,
grudei no sofá e colei os olhos na TV, afinal, estava muito curioso para saber
o que de tão grave havia acontecido, e onde. Entrou o Jornal da Globo, e o
apresentador, William Waack, satisfez a minha inquietação, apresentando o
horror que havia ocorrido na França. Durante todo o telejornal que vai ao ar
aos finais de noite, eu custava a acreditar naquela barbárie. Confesso que, por
vezes, meus olhos se encheram de lágrimas. Acabar com vida de tantos inocentes,
de modo tão trágico, é algo que não consigo entender. Invocar o nome de Ala
para justificar crimes, menos ainda. Isso parece muito coisa de um passado
medieval, do que de um século autoproclamado moderno.
Durante
todo o telejornal, vi um apresentador, extremamente, emocionado. Claro, uma
emoção contida, até para poder passar a notícia com clareza, mas sentimento,
ninguém disfarçar. Percebi também certa revolta nos correspondentes
internacionais que, do exterior, nos abasteciam com mais informações.
Desde
a noite de ontem, quando ocorreram os atentados que transformaram em trevas a
Cidade Luz, a TV brasileira, os jornais e os sites dão ampla cobertura ao fato.
Estou acompanhado o fato pela Globo, então falo baseado no que vejo nessa TV:
Todos os apresentadores, todos, sem exceção, trazem-nos a notícia com grande
tristeza e pesar, seja no olhar, na voz, ou nas atitudes.
Não
vou aqui falar da tragédia em si. Acho que vocês, assim como eu, também devem
estar bastante chocados, e acompanhando a sucessão de acontecimentos divulgados
pela mídia.
Ontem,
quando deitei a cabeça no travesseiro, ainda estava chocado, e as imagens
terríveis me vinham à mente. Pensei: “Se eu, que estou a milhares de quilômetros
de distancia do local dos fatos, imagine os franceses...”.
Algumas
indagações rodam minha mente. Elas vêm e vão, tornam a aparecer, mas não encontro
resposta a elas.
Há
dois anos o ex-analista da NSA sacudiu a imprensa mundial ao revelar, através
dos jornais, The Guardian e The Washington Post, detalhes sobre
programas secretos desenvolvidos por agências americanas de vigilância e espionagem
mundial. O caso irritou alguns líderes mundiais.
Ora,
se o governo americano e demais agências de espionagem de outros países, são
capazes de tamanho alcance de informação, a ponto de espionar chefes de estado,
de interceptar mensagens, e de tantas outras proezas na parafernália do mundo
eletrônico, porque então não são capazes de detectar e desarticular os tão
metodicamente articulados planos dos terroristas?
Porque,
em pleno século da informação, tantos jovens são atraídos para essas armadilhas
medievais, que apenas espalham medo, terror e barbárie em povos de todo o
mundo?
Porque
os governos, todos os governos do mundo, não se unem contra essa ameaça?
Será
que, realmente, esses terroristas pensam que estão agindo em nome de Ala? Mas
que Deus se contentaria em ver sangue inocente derramado?
Por
que não é possível aos homens viver em paz, sem guerras, sem barbáries?
Estamos
perdendo a racionalidade?
Confesso
que não tenho respostas para estas perguntas e isso me inquieta. Apenas faço
votos de que o terror não seja forte o suficiente para vencer a democracia. Que
o ódio não seja suficiente para vencer o amor. Que os jovens sigam o caminho da
luz, e não o caminho das trevas.
É isso,
por hoje.
Somos
todos Paris.
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