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Redução da maioridade penal: Problema ou solução?
Posted by Cottidianos
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00:38
Quarta-feira,
21 de janeiro
No
dia 05 de janeiro deste ano, Youssef Abou Chahin, assumia o posto de novo chefe
da Polícia Civil de São Paulo, no governo de Geraldo
Alckmin (PSDB). Logo que assumiu o comando da organização, o novo chefe de
polícia, colocou mais lenha na fogueira em relação a questão dos menores
infratores. “Os menores (de idade) hoje são 007: Tem licença para matar. Por
quê? Porque ele não vai preso. Fica na fundação casa por um período e (depois)
saí. Afirmou Youssef fazendo referência ao famoso agente 007.
A
frase, vinda da cúpula da segurança do Estado de São Paulo, soou como crítica
pesada ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e logo foi fortemente criticada
pelas entidades que trabalham com a defesa dos direitos humanos. Martin de
Almeida Sampaio, presidente da Comissão de Direitos Humanos, da Ordem dos
Advogados do Brasil, São Paulo, disse que a legislação brasileira que a
legislação brasileira não é branda. Segundo ele, o problema é que a polícia é
incompetente por não investigar os casos, e quando prende, não prende de forma
eficiente.
O
posicionamento do novo chefe da Polícia Civil de São Paulo afina-se com o
pensamento do governador, Geraldo Alckmin. O governador enviou um projeto ao
Congresso, propondo que a internação do menor infrator seja estendida para
oitos anos, desse modo, ao completar dezoito anos, estando ainda sob os
cuidados da Fundação Casa, os infratores continuariam presos em celas separadas
dos outros adolescentes que ainda não atingiram essa idade. Essa proposta
altera a lei atualmente em vigor que prevê um prazo de internação de três anos.
O
tema redução da maioridade penal é
altamente controverso e encontra divisões nos mais diversos setores da
sociedade.
O
dialogo abaixo foi exibido no programa Profissão Repórter no mês de agosto do
ano passado.
Em
sua opinião, quantos são os assassinatos cometidos na cidade de São Paulo por
adolescentes com menos de 18 anos de idade?
“Uns
80 por cento”, respondeu uma funcionária pública aposentada da Zona Leste e
amiga de uma mãe de menor infrator.
“90
por cento”, disse o empresário de uma construtora da Zona Oeste, vítima de um
assalto praticado por um adolescente.
“Mais
da metade”, disse uma colega jornalista de uma emissora de TV.
Em
seguida o programa exibiu o resultado de uma pesquisa que analisava 3.233
crimes de morte ocorridos no ano de 2005. Desse total, a pesquisa mostrava que 98,1%
(3.172) foram de autoria de adultos, e apenas 1,9% (69) de responsabilidade de menores.
Mas esses dados são de 2005? Alguém poderia argumentar. Porém, o programa mostrou
outra pesquisa referente ao ano de 2013. Essa pesquisa mais recente mostra que,
dentre 1.530 assassinatos ocorridos na cidade de São Paulo naquele ano, 94% dos
crimes foram praticados por pessoas com mais de dezoito anos de idade e apenas
6% foram praticados por menores.
Podemos
concluir da pesquisa que, querer transformar os menores infratores em vilões da
escalada da violência das grandes cidades, é apenas um pretexto para encontrar
culpados pela situação, uma espécie de bode expiatório.
Também
há o fato de que as nossas prisões estão superlotadas. Além disso, o sistema
carcerário brasileiro não consegue recuperar o elemento e, na grande maioria
das vezes, os detidos saem de lá pior do que entraram. Há também o fato de que,
apesar de detidos, bandidos, principalmente, os ligados ao tráfico de drogas,
continuam agindo de dentro das prisões, ordenando sequestros, assassinatos,
roubos, e toda espécie de crimes. Se as prisões não conseguem recuperar os
adultos e estão superlotadas, imagine o que aconteceria se a maioridade penal
fosse reduzida e os jovens tivessem que receber o mesmo tratamento que os
adultos.
Por
outro lado, sabemos que os traficantes aproveitam-se dessas penas mais brandas
impostas pela lei aos menores, e os colocam na linha de frente do crime. O que
fazer? Reduzir ou não reduzir a maioridade penal? Em minha opinião, o ideal
seria que tivéssemos um sistema punitivo que recuperasse, de fato, os menores
infratores. Porém, o que temos visto na Fundação Casa, antiga FEBEM, é uma
reprodução do que acontece nas cadeias e penitenciárias, com rebeliões,
revoltas e maus tratos. Dessa forma, como esperar que os menores retornem com
mentes sadias ao convívio social, se não recebem uma boa base educacional,
profissional e psicológica.
Como
veem, a situação é bastante delicada e há muito que se discutir e pensar no que
se vai fazer em relação a essa questão.
Youssef
Abou Chahin, chefe da Polícia Civil, concedeu uma entrevista ao jornal El PaisBrasil. Como já vos falei, Youssef defende um endurecimento na punição aos
jovens infratores e diz ainda que isso poderia ajudar a diminuir a
criminalidade. Ele cita ainda uma pesquisa realizada pelo Datafolha que indica
que 93% dos paulistanos se declararam a favor da redução da maioridade penal. A
sociedade estaria de fato preparada para discutir essa questão? Quanto as entidades
que lidam com a questão dos direitos humanos, elas são radicalmente contra a
medida. Segundo eles deveria primeiro tentar recuperar o jovem e trazê-lo ao convívio
social.
Abaixo,
compartilho com vocês a entrevista de Youssef Abou Chahin.
***
Delegado-geral
de SP: “Quem diz que menor não sabe o que faz é hipócrita”
A tropa de choque do governador
Geraldo Alckmin (PSDB-SP) que atua por mudanças na legislação de crianças e
adolescentes se reforçou com o novo chefe da polícia Civil de São Paulo. Mal
estreou no cargo há dez dias, o delegado Youssef Abou Chahin, de 51 anos, já
lançou contra os adolescentes: “São como 007, têm licença para matar”.
Dez
dias após a frase, criticada por entidades que atuam na área de direitos
humanos e da infância e juventude, Chahin mantém seu posicionamento. Ele diz
que, a longo prazo, a redução da maioridade penal poderia até diminuir a
criminalidade.
P. O senhor mal chegou na chefia da Polícia
Civil e já engrossa o coro do governador Alckmin com relação à mudanças na lei
sobre a maioridade penal. Por qual razão defende a mudança na lei?
R. No meu tempo de criança eu brincava de
carrinho, jogava futebol. Hoje em dia uma criança de três anos já sabe mexer no
iPhone, com cinco já sabe tudo de informática. Digo isso porque não dá para
comparar a criança de 30, 40 anos atrás com as de hoje. Não dá para dizer que
as crianças e os adolescentes de hoje não têm consciência, são todos
inimputáveis. Quem defende a ideia de que um menor de 16 anos, por exemplo, não
sabe o que está fazendo, está sendo hipócrita. Se você analisar nas ocorrências
policiais, se em uma quadrilha há um menor ele sempre será responsabilizado
pelos atos mais graves do grupo. Sempre foi ele quem atirou. Por que isso é
feito, mesmo que não tenha sido ele quem atirou? Porque a punição não existe.
P. Quando o senhor tomou posse, disse que o
menor de idade era como o 007, tinha licença para matar.
R. Sim. Foi uma frase forte e respeito os
que discordam. Posso estar errado, mas isso é o que a maioria da população
acha. Uma pesquisa do Datafolha, de 2013, diz que 93% da população é a favor da
redução da maioridade, eu estou com a maioria.
P. Como o senhor vê as críticas? Várias
entidades de direitos humanos reclamaram de seu posicionamento enquanto chefe
da polícia?
R. Vejo com naturalidade. Cada um tem sua
visão, eles têm as deles e eu tenho a minha. Eu trabalho como policial há 27
anos. Se eu for discutir jornalismo com o senhor, eu vou perder. Mas de polícia
eu entendo. Não nasci delegado-geral sentado em um gabinete. Fiquei muito tempo
na rua. Dei plantão, fui delegado de polícia no Garra, no DEIC no Grupo de
Operações Especiais. Na minha carreira, eu vi tudo. É como um médico que deu
plantão no Hospital das Clínicas. Eu falo pela minha experiência. Agora, essas
ONGs têm as experiências delas e eu respeito.
P. Em que momento o senhor percebeu que cresceu
a participação dos jovens no crime?
R. Quando eles perceberam que a pena era
ínfima. Não me recordo o ano preciso, mas sei que há muito tempo percebemos a
ação de menores em quadrilha, principalmente quando há a morte da vítima do
crime.
P. Mas o ideal não seria ressocializar esse
jovem e punir o adulto que o incluiu no bando?
R. Mas isso já ocorre. Nossa lei já prevê
a corrupção de menores e a punição por esse crime deveria ser mais dura, assim
como por outros. A nossa Lei de Execuções Penais deveria ser revisada. Cumprir
apenas um sexto da pena não educa ninguém. Tem muita coisa que precisa ser
feita com relação à legislação. Em nível policial, também e tem sido feito. A
legislação mais rígida ajudaria não só a polícia, mas também o Judiciário. O
juiz não solta criminosos, ele cumpre a lei.
P. Essa de declaração do senhor sobre a redução
da maioridade penal é sua ou foi um recado dado pelo governador Geraldo
Alckmin?
R.
Tenho personalidade. Eu falo o que eu acho. Pelo que sei o governador compactua
da mesma opinião, tanto é que apresentou um projeto no Congresso Nacional. Não
estou falando em nome do governo, nem da polícia. Quem está falando é o Youssef
Chahin. Falo baseado na minha experiência e nas últimas pesquisas que vi. Falo
também visando que o trabalho policial tenha resultados melhores.
P. O Estado tem enfrentado seguidos aumentos de
roubos. O senhor acha que a redução da maioridade penal deve diminuir os
índices criminais?
R. Talvez não em um primeiro momento.
Mas, depois, sim. Quando esses adolescentes perceberem que a cadeia (a punição)
que eles vão pegar é a mesma do adulto, vão começar a não aceitar determinadas
empreitadas, não vão mais cometer tantos crimes. Aí ajuda a reduzir a
criminalidade.
P. Em 2007, quando assumiu o Departamento de
Investigações Contra o Crime Organizado, o DEIC (em 2007), o senhor era sócio
da empresa de segurança privada Oregon, algo que não pode ser questionado do
ponto de vista ético, já que o senhor é um policial. Como está isso hoje, o
senhor está no comando dessa empresa?
R. Não tenho participação. Fui
sócio-cotista de uma empresa que fazia projetos de segurança, não era gerente,
não estava na linha de frente, e isso a lei permite. Não tinha participação só
nessa empresa. Tenho empresas de família. Eu entrei na polícia porque eu gosto
do que eu faço. Meu pai era empresário. Eu não precisava entrar na polícia para
viver. Quando prestei concurso não exigia atestado de pobreza. Para você ter
uma ideia, eu fui voluntário para o Exército por três anos. Sou instrutor de
tiros, de gerenciamento de crise, fiz cursos na Swat, a minha vida é a polícia.
E ainda te cito uma metáfora. Uma vez um empresário muito rico, vendo a Madre
Teresa de Calcutá fazendo curativos em leprosos ele disse: “Nossa, Madre, eu
não faria isso por dinheiro nenhum”. E ela respondeu: “Nem eu”. Eu gosto do que
faço, sou vocacionado. Mas não vivo de polícia.
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