0
Elvis Presley: Infância e juventude de uma voz que o mundo não esqueceu – Parte I
Posted by Cottidianos
on
23:13
Quinta-feira,
08 de janeiro
“Antes de Elvis não existia nada.
Nós
sempre quisemos ser maiores que Elvis
porque
ele era o maior.”
(John Lennon)
Hoje,
perplexo, o mundo se solidariza com a dor dos franceses pelas vítimas do
atentado terrorista ocorrido na data de ontem, contra a revista Charlie Hebdo. O
ato foi praticado por uma juventude ultrarradical que atenta contra a vida
humana e a liberdade imprensa. O atentado matou 12 pessoas, feriu um país
inteiro e deixou o mundo em estado de alerta.
Lembro-me
de um tempo, o qual eu não vivi, mas do qual ouvi muito falar, em que os jovens
eram marginalizados pelo seu jeito de cantar e dançar. Eram considerados
marginais e incomodavam a sociedade com sua postura irreverente. Ah, quanta
saudade sente o mundo da época em que viveram aqueles alegres transgressores!
Deem aos jovens o pão da cultura, da música, da arte, do esporte e,
principalmente, do amor, e eles não enveredarão pelos frios e sombrios caminhos
da maldade e do terror.
Esse
tempo do qual vos falei acima era o início dos anos 50, e foi nesse contexto
que surgiu no cenário musical americano, um jovem irreverente chamado Elvis
Presley.
Se
vivo estivesse, Elvis completaria hoje oitenta anos. Gostaríamos de tê-lo visto
envelhecer. Mas nossos planos e nossos destinos estão nas mãos de Deus. Apenas
traçamos o rumo de nossas vidas e seguimos em frente, mas de nossas próprias vidas,
sabemos apenas o dia de hoje. O amanhã é sempre uma caixa de surpresas.
Como
estaria Elvis hoje? Como seria o velho Elvis? Com certeza, não teria abandonado
sua grande paixão: a música. Essa estava no seu sangue desde pequeno.
Observando a história de Elvis percebemos que os misteriosos caminhos da vida sempre
o conduziram para o seu destino: o palco, de onde faria sua luz brilhar e
iluminar multidões com a força de suas canções.
O
texto a seguir é uma homenagem a esse grande e magnífico cantor, até hoje, 37
anos e cinco meses após sua morte, amado e querido em todos os recantos do
planeta.
O
tempo cronológico do texto está situado entre o nascimento, infância e
juventude, até o momento em que ele, junto com o guitarrista Scotty Moore e o
baixista Bill Black, põe os pés nos estúdios de Sam Phillips: estrada que o
conduziria ao estrelato.
A
qualquer plano espiritual onde espiritual onde estiver aquele menino que nasceu
no Mississípi e conquistou o mundo com sua potente voz, chegue a fumaça de
nossos incensos e nossos votos de FELIZ ANIVERSÁRIO!
***
Elvis
Presley: Infância e juventude de uma voz que o mundo não esqueceu – Parte I
Vernon Presley e Gladys Smith |
As
estrelas ainda luziam no firmamento na pequena East Tupelo, no estado do Mississípi,
na fria madrugada do dia 08 de janeiro do ano de 1935, quando, por volta das
duas horas, Vernon Elvis Pressely acordou com os gemidos da esposa, Gladys Love
Smith. A mulher acabava de entrar em trabalho de parto. Desesperado, Vernon
correu para a casa do irmão que morava próximo ao casal. Vester estranhou o
chamado do irmão àquela hora da madrugada. Abriu a porta e foi informado por
Vernon que Gladys estava sentindo as dores do parto. “Vamos chamar o Dr. Hunt.
Minha esposa está sentindo dores intensas. Como sabes, não tivemos condições de
pagar um seguro médico com direito a hospital e o parto vai de ter ser
realizado em casa mesmo”, disse ele. Ao saber da notícia Vester apressou-se em
chamar a mãe, Minnie. “Mãe, acorda! Vai ajudar a Gladys que está prestes a ter
os bebês. Saíram os dois e deixaram Gladys aos cuidados da parteira, Edna
Robson e da mãe de Vernon.
Dr.
Hunt, um respeitado médico da região, já beirando os 70 anos, era um apaixonado
pelo que fazia, tanto que o horário inconveniente e a péssima condição
financeira de seus clientes não o impedia de realizar suas funções. Vernon
acertou com ele, durante o trajeto, que, no momento, não tinha os dez dólares
para pagar os serviços, mas prometeu que pagaria em momento oportuno, condição
com a qual o médico concordou imediatamente.
Quando
o médico chegou, Gladys se contorcia em dores, mas ainda não havia dado a luz.
Dr. Hunt assumiu o trabalho. Eram quatro horas da manhã quando nasceu o
primeiro bebe. Um grande e profundo silêncio pairou sobre o quarto quando o
médico anunciou que Jesse Garon estava morto. Em uma fria madrugada de inverno,
chegou a morte quando se esperava a vida. Lágrimas escorreram pelas faces de
Gladys e Vernon. Porém, não era hora para desanimo quando uma segunda criança
estava a caminho. E ele chegou 35 minutos depois, pesando 2,670 quilos. Elvis
Aaron Pressley. Quando ouviu o choro do
bebe o coração do jovem casal ficou mais esperançoso, apesar de estarem
sentindo ainda a tristeza da perda do filho que nascera há cerca de meia hora
atrás. Devido à gravidade da situação, após o nascimento dos bebês, Gladys e o
recém-nascido foram levados a um hospital da cidade.
Quanto
a Jesse, como a família não tinha condições de lhe dar um sepultamento digno,
comprando um túmulo para ele, o jeito que teve foi acomodarem o pequenino corpo
sem vida em uma caixa de papelão, algo parecido com uma caixa de sapatos vazia
e o enterraram no cemitério Princeville, próximo de Tupelo. O corpo do menino
foi enterrado em uma cova sem identificação. O local exato do sepultamento
permanece desconhecido até os dias atuais.
Apesar
de terem escolhido o nome de Elvis Aaaron, o menino foi registrado como Elvis
Aron Presley, apenas com um “a” e Presley com um “s” apenas, diferentemente do
pai cuja assinatura era “Pressley”, com dois “ss”.
A
cidade em que viviam, chamava-se East Tupelo. Era muito pequena, e seus
habitantes não passavam de mil. Aos padrões de hoje, a cidadezinha era,
praticamente um povoado. Mais tarde, East Tupelo, seria agregada a cidade de
Tupelo, formando com esta um só município.
A
família Presley, assim como todos os habitantes da pequena cidade, era muito pobre.
Viviam em uma casa de dois cômodos, sem nenhum conforto. O cômodo da frente era
usado como quarto de dormir. Nele havia três janelas: uma na frente e duas
laterais, sendo uma de cada lado. No cômodo de trás ficava a cozinha onde eram
preparadas e servidas as refeições, e nele também havia três janelas. O padrão
de cores dessas residências eram o preto e o branco. Não havia variações de
cores. Havia uma lareira de tijolos com uma chaminé saindo pelo meio do telhado
pontiagudo. Também havia uma pequena varanda, na frente da qual as famílias se
reuniam aos fins de tarde para conversar. Um lance de quatro a cinco degraus
tornava mais fácil o acesso à varanda e, consequentemente, à entrada da frente
da casa. Sustentando a habitação havia pequenos pilares feitos de tijolo e
concreto que a protegiam de inundações. As cabanas, podemos chamar assim, eram
mais compridas que largas, medindo 9m por 5m. Eram conhecidas popularmente pelo
nome de shotgun house (casa
espingarda), e eram muito comuns nos estados do sul desde o fim da Guerra
Civil. Os moradores costumavam fazer piadas com as shotgun house dizendo que elas tinham esse nome porque se alguém
desse um tiro pela porta da frente a bala sairia direto pela porta de trás, sem
bater em nada. Nelas não havia água encanada.
Vernon
Presley não tinha emprego fixo e isso tornava ainda mais difícil a situação
financeira do casal. Tanto ele podia fazer serviços de pintor, como de
motorista, ou qualquer outro que aparecesse. Com isso, Gladys também tinha que
trabalhar para ajudar nas despesas de casa.
Gladys, Elvis e Vernon |
As
provações na vida do pequeno Elvis e do casal Presley não pararam por aí.
Tempos muito mais difíceis ainda estavam por vir.
Quando
Elvis tinha pouco mais de um ano, um tornado atingiu a região deixando um
rastro de cerca de 200 mortos. Felizmente, a família teve tempo de procurar
abrigo. Passada a fúria da natureza, eles tiveram uma grande surpresa. A casa
onde viviam estava intacta quando tudo em volta era morte e destruição. Vernon
e Gladys ergueram as mãos para o céu e, chorando, agradeceram a Deus pela
felicidade de não terem a casa destruída. Eles também choraram e pediram a Deus
pelos amigos que morreram na tragédia e pelos que ficaram desabrigados.
Naquele
mesmo ano de 1936 morria a mãe de Gladys, vítima de tuberculose. Os ventos do
destino pareciam estar contra ela: um ano antes Jesse Garon nascera morto,
depois a fúria do tornado e agora a morte da mãe. Os ventos do destino ainda
soprariam contra Gladys no ano seguinte.
Em
fins de 1937, o irmão de Gladys, Travis Smith, o marido Vernon Presley e um amigo
Lether Gable foram presos, acusados de falsificação. Os três haviam falsificado
um cheque cujo valor real era 18 dólares e eles alteraram para 28. No ano
seguinte foram condenados a quatro anos prisão na Penitenciária Estadual
Parchman Farm, sendo submetidos a trabalhos forçados na lavoura de algodão.
Um
ano antes de Elvis nascer, Vernon havia começado a trabalhar dirigindo um
caminhão entregando leite. Seu patrão, Olavo Bean era criador de bovino e
suíno, era um homem generoso, porém rigoroso com a conduta de seus
funcionários. Costumava emprestar dinheiro para que eles pudessem comprar a casa
própria. Os pagamentos eram feitos em forma de aluguel e, apenas quando o
funcionário quitava a última parcela, teria, efetivamente, a posse da casa. Foi
com 180 dólares emprestados pelo Sr. Bean, e com mais um pouco de dinheiro
dados pelo pai e pelo irmão que Vernon construiu a casa simples e humilde em
que viviam. A questão é que o cheque falsificado por Vernon pertencia seu
patrão, Oliver Bean. Sentindo-se traído, o Sr. Bean decidiu despejar Gladys e o
pequeno Elvis.
Desde
o nascimento, Gladys desenvolveu para com o filho um amor obsessivo. Talvez a
morte de Jessi Garon tenha provocado nela o sentimento de querer superproteger
Elvis. O fato é que ela não deixava o menino sozinho um instante sequer, mesmo
dentro da pequenina casa: onde ela estivesse, o filho tinha que estar junto.
Quando Vernon foi preso e Galdys teve que ir morar em casa de familiares, essa
relação de dependência entre os dois aumentou ainda mais.
A
situação na casa dos familiares também não era das melhores e os dois tiveram
que contar com ajuda e solidariedade da família e dos vizinhos para poder
sobreviver. Muitas vezes, tudo o que tinham à mesa do jantar era broa de milho
e algumas folhas de verduras. Pelo menos uma vez por semana eles comiam carne
de gado ou de galinha, mas para isso era preciso que deixassem de comprar
outras coisas.
Após
oito meses de prisão, Vernon recebeu uma agradável notícia: o governo resolvera
abreviar sua pena, talvez por bom comportamento. Após sair da prisão, Vernon
foi trabalhar em uma fábrica em Memphis e só voltava para casa aos finais de
semana. Essa situação era bem melhor do que estar encarcerado, entretanto,
Gladys e Elvis continuavam a passar a semana, praticamente, sozinhos.
A
música sempre foi presença constante na vida de Elvis. A única diversão da
família era ouvir rádio.
Gladys
falava muito sobre o irmão gêmeo que ele nunca conhecera. De certa forma, a
morte de Jesse afetou a vida de Elvis. Inconscientemente, talvez ele se
considerasse responsável pela morte do irmão. Imaginação ou fenômenos
espirituais, contam seus biógrafos que, aos 4 anos Elvis começou a ouvir a voz
do irmão. Jesse passou a ser para ele um amigo constante com que ele conversava
sempre. Um pouco mais tarde e ainda antes da fama, Elvis faria frequentes
visitas ao cemitério de Princeville, para conversar com o irmão. Talvez todos
esses conflitos expliquem a dupla personalidade de Elvis quando adulto: um
homem calmo e amável que, de repente, explodia em acesso de fúria. Gladys
não permitia que Elvis se aproximasse de locais que oferecessem algum tipo de
perigo com rios, lagos, cachoeiras. Até mesmo esportes ela não gostava que
Elvis praticasse. Quando já tinha mudado para Memphis, Elvis entrou para o time
de rugby da Humes High School. Pensou que a mãe fosse ficar orgulhosa. Ao
contrário, ela demonstrou muita preocupação e pediu que ele deixasse o time. No
dia seguinte, Elvis falou para o técnico Ruber Boyce, treinador dos Tigers:
“Desculpe, Sr. Boyce, mas não quero aborrecer minha mãe. Por isso sairei do
time”. Encerrava-se a carreira de uma semana no rugby. A mãe de Elvis era tão
superprotetora que levou o filho à escola até os quinze anos.
Quanto
a momentos de socialização e diversão a família tinha dois: a igreja e o rádio.
Um dos estilos musicais mais populares na região era a música country. Elvis
gostava de uma balada triste, chamada Old
Shep, da autoria de Red Foley. A canção conta a história de um garoto e seu
cachorro, que morre ao final.
Através
desses dois canais, igreja e rádio, a música entrou na vida de Elvis desde
muito cedo. Certo dia, o garoto estava com a família na igreja. Ele tinha cerca
de dois anos nessa época. O coral apresentava-se cantando os gospels sulinos. O
pequeno Elvis soltou-se da mão de Gladys e correu para perto dos cantores.
Ficou olhando para os integrantes do coral, tentando acompanhar a música junto
com eles e balançando o corpo ao ritmo da música.
Na
igreja, Elvis observava muito o comportamento dos pastores. Notou que, quando
os pastores começavam a pregação, falavam e gesticulavam e cantavam de maneira
tão frenética, que prendiam a atenção de todos. Também observava os quartetos
gospels, o modo como cantavam, como movimentavam o corpo. Inconscientemente,
assimilava todos aqueles movimentos. Tanto isso é verdade que muitos de seus
movimentos no palco lembravam aqueles gestos que havia visto quando criança, na
igreja e nas apresentações dos quartetos gospels.
Aos
10 anos, Elvis estudava na Consolidated, escola primária de East Tupelo. Era um
aluno extremamente tímido. Certo dia, a professora Olera Grimes, insistiu com
os alunos para que cantassem ou rezassem alguma prece. Fez isso por três dias
seguidos, porém, nenhum dos alunos se habilitava a realizar a tarefa pedida
pela professora. Não porque não soubessem cantar ou fazer preces, mas por causa
da timidez. Era preciso vencer essa barreira. A professora sabia disso, por
este motivo não obrigava nenhum deles a realizar a atividade.
No
terceiro dia, Elvis levantou seu braço tímido. Disse que conseguiria proferir a
oração. Levantou-se e fez uma prece e também cantou algumas canções que
conhecia. Porém, quando o menino cantou Old
Shep, a professora encheu os olhos de lágrimas. Ele entoava a canção com
tanto sentimento que ela, imediatamente, correu para a sala do diretor e lhe
pediu que fosse até a sala de aula para ver Elvis cantando. O diretor foi... E
ficou encantado com a voz do garoto. Após ouvi-lo cantar, não teve dúvidas:
inscreveu Elvis para cantar na Feira Agropecuária de Mississipi-Alabama, que
era realizada todo mês de outubro. Esta feira era repleta de atrações. Havia leilão
de gado, cavalo, concurso de beleza para eleger a misses dos estados de Mississipi e Alabama. As candidatas eleitas
disputariam, posteriormente, o título de Miss
América. Na feira também era realizado um concurso de talentos infantis.
Naquele ano de 1945, Elvis era o representante de East Tupelo, cantando Old Shep. O garoto teve que subir em uma
cadeira para poder alcançar o microfone. Não havia acompanhamento de
instrumentos. Os candidatos cantavam à capela. Essa exigência era para que
nenhum candidato fosse favorecido.
Elvis
obteve o segundo lugar no concurso e, como prêmio, ganhou 5 dólares e ingressos
para se divertir no parque de diversões da feira. O primeiro lugar ficou com
uma menina de 06 anos, que cantou Sentimental
Journey, um foxtrote, da autoria de Les Brown, que Doris Day gravou naquele
ano com grande sucesso.
O
concurso era transmitido por uma emissora local de Tupelo. Vernon não pode ir
ao evento, pois estava trabalhando. Porém, acompanhou tudo de longe, pelas
ondas do rádio e chorou ao ver a voz do filho querido interpretando a canção
com tanto sentimento.
Postar um comentário