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Uma presidente reeleita e um país que se dividiu em intenções de votos
Posted by Cottidianos
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Terça-feira,
27 de outubro
Terminou
neste domingo uma das campanhas mais emocionantes, mais disputadas e mais cheia
de altos e baixos, desde 1989, quando Luís Inácio Lula da Silva (PT) e Fernando
Collor de Mello (PSDB), protagonizaram uma disputa ferrenha pela presidência do
país. Naquela ocasião, Fernando Collor, venceu as eleições com 53,03% dos
votos, o que equivalia a 35.089.998 e Lula obteve 46,97%, equivalentes a 31.076.364 votos.
Naquela
época, vivíamos uma situação de democracia incipiente. Acabávamos de sair do
jugo da mão opressora da ditadura militar. Era a primeira eleição direta após
os anos de chumbo. Vinte e dois candidatos concorreram ao pleito
que acabou se definindo em torno de dois nomes principais: Fernando Collor e
Lula. O primeiro era a grande novidade das eleições e candidatou-se pelo PRN,
um partido pequeno, quase desconhecido da maioria dos brasileiros, mesmo assim, começou a liderar as pesquisas já em abril daquele ano. Collor vinha com um
discurso agressivo contra o governo de José Sarney, que havia herdado o cargo
de presidente, após a morte de Tancredo Neves, que por sua vez, havia sido
eleito através de eleições indiretas. O jovem político do PRN construiu a
imagem de político jovem, arrojado, independente, empreendedor. Ganhou a
alcunha de “Caçador de Marajás” e o Brasil viu surgir um fenômeno eleitoral.
O
candidato do PT, Luís Inácio Lula da Silva, era dirigente sindical e tinha
atuação muito forte nessa área, principalmente, em São Bernado do Campo e
região. Havia concorrido às eleições para o governo de São Paulo em 1982 e
havia sido derrotado. Em 1986, elegeu-se deputado federal, pelo estado de São
Paulo, sendo o mais votado naquele ano.
Assim
que Collor assumiu, os brasileiros viram que eleger o Caçador de Marajás, não
tinha sido uma boa ideia. O novo presidente confiscou o saldo das contas de
poupança bancárias com o objetivo de conter a inflação. A medida, altamente
impopular, destruiu a vida de muita gente. Em 29 de dezembro de 1992, Fernando
Collor renunciou, após um processo de impeachment, cuja investigação levou
vários meses. O presidente renunciou na tentativa de escapa a cassação do
mandato, mas de nada adiantou, pois os senadores, em votação quase unânime,
cassaram seus direitos políticos por oito anos.
No
que ficou conhecido como “caso PC Farias”, foi revelado que havia, por parte do
governo, lavagem de dinheiro no exterior. Também vieram à tona, denuncias de
empréstimos fraudulentos para financiar a campanha de 1989, bem como desvio de
dinheiro para pagar despesas pessoais do presidente. Tudo isso, através de
empresas de fachada operadas por Paulo Cesar Farias. Analisando hoje, o que
acontece nas cavernas de Brasília, os atos fraudulentos praticados por Collor
de Melo, tornam-se “brincadeira de criança”.
Tal
como a eleição deste ano de 2014, a eleição daquele ano de 1989, que resultou
na eleição de Collor, teve direito a segundo turno, sobe e desce nas pesquisas
e ataques pessoais.
A
campanha que se encerrou com a votação em segundo turno, neste domingo, teve um
script bem-parecido com a eleição de 1989, com direito a uma pitada de
tragédia, com a morte de Eduardo Campos e seus assessores, em agosto. A ascensão
e queda de Marina foi outro fator marcante e que embaralhou as cartas do jogo político.
O advento
do horário de verão, iniciado no domingo (19), nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste,
ajudou a tornar ainda mais em expectativa esse momento. Os números da eleição
presidencial só podiam ser conhecidos depois de todos os estados finalizarem a
votação. Imaginava-se que quando os resultados começassem a ser divulgados já
fosse possível saber quem era o candidato eleito. Mas quem disse que foi assim.
Às oito horas da noite, em ponto, estava eu em frente a TV, querendo saber quem tinha sido eleito. Enfim,
os números começaram a ser divulgados e, para surpresa de todos, a diferença
entre os dois candidatos era minima e não dava para saber quem iria subir a
rampa do planalto, embora Dilma apresentasse ligeira vantagem.
Ficou
aquela briga de números, e só foi estabelecido um veredicto quando já tinham
sido apuradas cerca de 96% das urnas. Dilma Rousseff obteve um total de 54.501.118
votos, perfazendo a somatória de 51,64% do total de votos apurados. Aécio Neves
apareceu em segundo lugar, com um total de 51.041.155, somando 48,36% do total.
Festa
no norte e nordeste e tristeza no sul e sudeste. Digo alegria em uns e tristeza
em outros, pois o mapa do Brasil ficou nitidamente dividido. Dilma obteve
vitória nos estados do norte e nordeste — sendo que a vitória no Nordeste foi
esmagadora — e Aécio no Sul e Sudeste. Analistas políticos dizem, e eu concordo
plenamente, que o nordeste brasileiro e o estado de Minas Gerais, berço
político de Aécio Neves, foram um divisor de águas nessa campanha, responsável
pela vitória de Dilma.
Por
darem a vitória a Dilma Rousseff, os eleitores dos estados nordestinos foram
bastante atacados nas redes sociais com expressões que beiravam o preconceito. Aqui,
como nordestino que sou, saio em defesa do povo do
nordeste. Acho que vivemos em
uma democracia e as pessoas têm todo o direito de expressarem suas opiniões. Se
há que eleger algum culpado nessa história, que sejam os que lavaram as mãos, e
assim o fazendo, agiram como pilatos, omitindo-se. Falo dos 30.137.479
eleitores eleitores que se abstiveram de votar e dos que se deram ao trabalho
de sair de casa para votar em branco ou nulo. Os pilatos brasileiros perfizeram
um total de 37.707.979. Quanto voto inútil que poderia ter mudado a eleição!
Portanto, não é nos nordestinos em quem se deve colocar a culpa pela vitória do
PT.
Claro,
os eleitores da presidente Dilma, em todos os recantos do país, se regozijaram.
Passada
a campanha, é hora de pensar no Brasil. No discurso que fez por ocasião da
reeleição, Dilma sinalizou com a proposta de diálogo que proporcione a
governabilidade. Um presidente, ou presidenta, não governa sozinho. Precisa do apoio
dos deputados, senadores, e governadores.
A
presidente reeleita terá bastante trabalho e ocupação. Em meio a uma economia
em crise, é preciso retomar o crescimento do país. Além disso, e dos dados
referentes a educação, desmatamento, e economia que foram colocados debaixo do
tapete para não atrapalhar o desempenho da presidente na campanha, ainda há as denúncias
do escândalo na Petrobrás.
Ficamos
nós, brasileiros, em meio ao fogo cruzado, esperando que tudo dê certo e que o
barco não naufrague.
Quanto
a mim, enquanto cidadão pertencente a essa nação verde e amarela, só me resta
desejar que Dilma Rousseff faça um bom governo e parabenizá-la pela vitória.
Parodiando
o poeta Cazuza, eu diria, que, se os meus heróis não morreram de overdose de
drogas e álcool, eles, com certeza, estão experimentando uma overdose de poder…
E estão gostando disso exageradamente… E overdose mata de qualquer modo seja o
corpo, seja o ideário.
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