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Celebrando Francisco de Assis em meio à bela natureza de Souzas
Posted by Cottidianos
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Terça-feira,
07 de outubro
“Senhor,
fazei-me instrumento de vossa paz
Onde
houver ódio, que eu leve o amor
Onde
houver ofensa, que eu leve o perdão
Onde
houver discórdia, que eu leve a união
Onde
houver dúvida, que eu leve a fé
Onde
houver erro, que eu leve a verdade
Onde
houver desespero, que eu leve a esperança
Onde
houver tristeza, que eu leve a alegria
Onde
houver trevas, que eu leve a luz.”
(Oração
de São Francisco)
Participo
de dois corais: O Coral PIO XI, formado por vozes masculinas, e do Coral do
Clube Campineiro de Regatas e Natação, formado por vozes mistas. Não digo a vocês que sou um exímio cantor, mas
como o que importa em um coral é o conjunto, compareço aos ensaios e
apresentações. Com minha humilde contribuição, procuro, pelo menos, não
desafinar durante a execução das peças que apresentamos.
Estava
em uma dessas apresentações no Distrito de Souzas, com o Coral do Regatas. Era
dia 29 de setembro, à noite, e havíamos sido convidados para cantar numa exposição
coletiva, cujo título era Anjos, no
Ateliê Lisa França. Cheguei um pouco antes do grupo e fui percorrendo o
ambiente. Um lugar simples, mas de muito bom gosto, localizado no centro do
distrito. Já havia várias pessoas quando da minha chegada. Era servido um coquetel
com vinho, champagne e alguns petiscos.
Fui
percorrendo os olhos pelos quadros, esculturas retratando esses seres
encantadores que, acredito, estão o tempo perto de nós, nos protegendo, nos
guiando e nos iluminando. Acho que quando a gente acredita na sua existência,
facilitamos o trabalho deles.
Desci
uma escada que dava para outro ambiente do Ateliê. Lá me deparei com mais
imagens e pinturas de anjos. Uma delas, em especial, me chamou à atenção. Ao pé
da cama, estava uma criança de mãos postas em atitude de oração e, ao lado
dela, com atitude também piedosa e orante, estava o seu cãozinho de estimação. O
quadro era de uma artista chamada Jane, que também canta comigo no Coral. Achei
aquele quadro de uma sensibilidade tão grande... Fiquei a contemplá-lo por
algum tempo e depois segui minha exploração do ambiente. Tal qual uma casa
acolhedora, havia uma cobertura de telhas e um pequeno quintal, no qual havia
alguns pés de fruta e outras plantas que não deu para saber ao certo quais
eram, pois algumas estavam na penumbra. Após a cerca, podia-se ver, também na
penumbra, o Rio Atibaia.
Passando
entre os pilares de sustentação da cobertura do telhado, um cartaz me chamou a
atenção. Nele estava escrito: “XXVII DOMENICA DEL TEMPO ORDINARIO SAN FRANCESCO
d’ASSISI, patrono d’Itália – Messa pregata e cantata in Italiano”. Ilustrando o
cartaz havia a figura de um cara que eu admiro muito, chamado, Francisco de
Assis. A missa seria no domingo, dia 05 de outubro, mesmo dia das eleições, às
9h30 da manhã. “Eis uma bela maneira de iniciar um domingo no qual seriam eleitos
os representantes do país. Quem sabe, Francisco, em sua sabedoria, não desse
iluminação na hora de fazer as escolhas”, pensei comigo mesmo. Lembrando que estávamos
na segunda, 29 de setembro e, na sexta-feira, 04 de outubro, seria o dia
dedicado a Francisco na Igreja do mundo inteiro.
Penso
que Francisco de Assis, há muito, deixou de ser apenas uma figura chave da
Igreja Católica, pois seus ideais de amor a Deus, humildade, simplicidade, amor
à natureza, são comuns a várias denominações religiosas como o Espiritismo, a Umbanda,
o Catolicismo, o Protestantismo e quem mais deseje um mundo melhor e mais
humano.
Fizemos
a nossa apresentação no Ateliê Lisa França. Pela reação do público, tive a
impressão de que conseguimos nos integrar aquele ambiente, no qual a arte era o
prato principal. Saí de lá satisfeito com o resultado da cantoria. Na saída,
pensei ter visto um dos anjos na pintura exposta na parede, dar um sorriso de
aprovação... Ou terá sido imaginação minha?
Continuei
minhas atividades durante a semana, sempre pensando em ir á Souzas no domingo
de manhã. No sábado fez um dia bastante frio em Campinas... E à noite também.
Iria mesmo ao distrito de Souzas? Devido a sua localização geográfica, lá faz
bem mais frio que em Campinas...
Felizmente,
ao acordar no domingo pela manhã, o frio tinha ido embora e deixado apenas
resquícios de sua passagem. Resquícios esses que começavam a se desvanecer com
o alegre sol que já brilhava sobre o domingo esperançoso. Após um gostoso café
da manhã fui esperar o ônibus que me levaria até o distrito. No ponto de ônibus,
encontrei um conhecido que ia trabalhar em Joaquim Egídio — distrito de Campina
que faz divisa com Souzas. Ficamos conversando sobre política, afinal, aquele
era o assunto dominante do dia. Não demorou muito e o ônibus chegou. Enquanto a
confortável condução deslizava pela rodovia, aqui e acolá, parando para pegar
outros passageiros, ia ouvindo a rádio CBN. Queira fazer minhas orações, mas
também queria me manter informado e antenado com que o estava acontecendo ao
redor do país.
Após
cerca de vinte minutos, chegava ao distrito mais antigo da cidade de Campinas. Era
como se o tempo tivesse uma porta na qual eu tivesse atravessado. Saí da
agitação da cidade, das ruas abarrotadas de carros e de uma infinidade de altos
edifícios e, após alguns minutos, mergulhei na tranquilidade e no charme de uma
cidadezinha do interior.
Elevado
a categoria de distrito em 1911, ainda preserva as características de uma
cidade interiorana. Seus cerca de 20.000 habitantes ainda conseguem sentar nos
bancos da praça e prosear um pouco, ou sentar-se à mesa de um boteco de esquina
e tomar uma bebida quente... Ou gelada. Depende do gosto. Os paralelepípedos que
recobrem as ruas estreitas são como que um mosaico ligando passado e futuro. Os
pés que percorrem aquelas ruas de pedra, sem o saberem, percorrem anos e anos
de uma história envolta pelo verde da natureza e o azul do céu. No início do
povoamento, acorreram para as fazendas da região, muitas famílias estrangeiras,
inclusive famílias que vinha da Itália.
Desci
do ônibus no ponto que fica ao lado da praça principal. Ali estava havendo uma
feira de artesanato e muitas pessoas já estavam por lá. Algumas sentadas no
banco da praça, outras olhando as peças. As estreitas ruas já começavam a
encher-se de gente, de carros e de bicicletas.
Com
prédios históricos que datam do ano de 1911, o local é um centro de gastronomia
— possui excelentes restaurantes e boa comida —, ecologia e lazer. Suas belas
trilhas para passeios a pé ou de bicicleta, fazem da região, um dos lugares
preferidos dos ciclistas, que aproveitam os fins de semana para mergulhar na
natureza. Calcula-se que cerca de quinze mil pessoas passe pelos distritos de
Souzas e Joaquim Egídio aos fins de semana.
Atravessei
a praça, andei alguns metros e já estava na Igreja de Santana, local onde seria
celebrada a missa. O pequeno templo religioso fica localizado em frente a uma
pequena praça, deixando-o ainda mais com jeito de igreja de povoado.
Em
clima de paz, harmonia, e integração à natureza, entrei no templo. Peguei um
folheto que continha as leituras que seriam lidas durante o ato religioso e fui
sentar-me em um dos bancos que ainda tinha lugar vazio. Após fazer minhas
orações, fiquei observando as pessoas ao redor. Havia algumas com animais ao
colo. Outras seguravam bebes nos braços. Tudo condizia com o espírito do santo
que estava sendo homenageado. Francisco é considerado, em todo o mundo, o santo
protetor dos animais e seu espírito amoroso e puro, o aproxima das crianças.
A missa
— toda rezada e cantada em italiano, língua pátria de Francisco — estava sendo
celebrada pelo padre Rafael Capelato. As canções estavam sendo lindamente
entoadas pelo coral Tutti Cantanti, regido pelo maestro, Clayton Dias. Após a
missa, o padre celebrante, convidou aos que haviam trazido seus animais a irem
até a calçada da Igreja, onde ele faria a benção dos animais — alguns dono de
animais haviam preferido aguardar em frente à praça, uma vez que seus cachorrinhos
de estimação, eram de porte maior. Havia também coelhos, papagaios e gatos. Foi
bonito de ver todos ali em frente à pequena igreja; padre, fieis e animais,
todos, em harmonia, recebendo as bênçãos que vem do alto. Quisera Deus que
fosse sempre assim.
Ao
percorrer as ruas da cidade, de volta ao ponto de ônibus que me levaria
novamente ao centro de Campinas, observei os ciclistas em suas bicicletas,
saudavelmente ,exercitando seus corpos. Fiquei com vontade de estar ali com a
minha — Afinal, Souzas e Joaquim, também são meus lugares preferidos para andar
de bike. É uma verdadeira delícia percorrer aquelas verdes trilhas. Conformei-me,
entretanto, pois havia resolvido dedicar aquele domingo a celebrar um amigo que
viveu na Itália, há muito tempo atrás, e também, a exercer meu direito cidadão
de escolher os representantes políticos de meu país, coisa que fiz na parte da
tarde.
Enquanto
o ônibus rodava em direção a Campinas, acompanhava pelo rádio, a discussão
sobre a criação dos dois novos distritos: Campo Grande e Ouro Verde, que
estariam em votação, em plebiscito que seria realizado junto com as eleições
gerais, em Campinas. “Os distritos não
tem autonomia política, não tem autonomia administrativa, com relação, por
exemplo, com a questão da segurança, como já foi falado aí na rádio, com
relação a questão da saúde, etc. Mas a gente acredita que isso são
aperfeiçoamentos que podem passar a existir no futuro, com a união das pessoas
em torno do distrito. Elas podem começar a exigir mais atuação do poder público
no distrito”, dizia João Verde, urbanista da Puc-Campinas, em entrevista a
rádio CBN.
No
domingo à noite, após a abertura das urnas, ficamos sabendo que a população de
Campinas havia sido favorável á criação dos dois novos distritos. Com isso, as regiões
de Ouro Verde e Campo Grande, passaram da condição de bairro para a de
distrito. 54,15% dos eleitores foram favoráveis à criação do distrito do Ouro
Verde, e 53,84% ao do Campo Grande. Com essa aprovação através de plebiscito,
Campinas passa a ter seis distritos: Barão Geraldo, Joaquim Egídio, Sousas,
Nova Aparecida, além do Campo Grande e Ouro Verde.
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