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Posted by Cottidianos
on
00:20
Segunda-feira,
07 de novembro
Pelos campos há
fome em grandes plantações
Pelas ruas
marchando indecisos cordões
Ainda fazem da
flor seu mais forte refrão
E acreditam nas
flores vencendo o canhão
Vem, vamos
embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a
hora, não espera acontecer”
(Pra Não
Dizer Que Não Falei Das Flores – Geraldo Vandré)
Faltam
jardins nas grandes cidades. Talvez por isso elas estejam tão violentas. Indo mais
além, está faltando jardins no mundo, e quem sabe, por isso o mundo esteja tão
violento. O jardim nos traz a ideia do cuidado, do cultivo que faz brotar a
bela e perfumada flor. A mão que cuida de um jardim é cheia de sensibilidade. O
coração daquele que semeia uma semente é cheio de esperança. E, se há escassez de jardins, por certo há falta de
jardineiros...
Porém, como
cultivar jardins numa sociedade imediatista e consumista? Há que se arranjar
algum jeito, pois onde não há cultivo de flores, brota matagal ou deserto, gera
exclusão.
E
a exclusão se dá das mais variadas formas e pelos mais variados motivos.
Todos
os dias, diante da enxurrada de notícias que nos é trazida pelos meios de comunicação,
é impossível não tomar conhecimento da crise de refugiados que se intensifica a
cada ano. La eles fogem das instabilidades políticas, do terrorismo, e das
guerras civis que tiram a vida de muitos inocentes. É o absurdo humano roubando
sonhos e vidas.
Em
meio a tudo isso, o mundo acompanha com apreensão o resultado das eleições
norte-americanas, pois querendo ou não, a America ainda comanda os destinos do
mundo. Dependendo de quem seja eleito por lá, as políticas imigratórias ainda
farão sofrer muito mais gente. Talvez sejam erguidos muros em honra ao egoísmo,
e, quando se constroem muros que edificam elas ajudam a tornar o mundo melhor,
mas quando se ergue muros que separam os sonhos, o resultado é inverso.
É assim
no mundo. É assim na cidade de Campinas, pequeno recorte de uma realidade das
grandes cidades brasileiras. Ande-se pelas ruas de Campinas, principalmente
pelas ruas da região central, e o que se vê são marquises e ruas apinhadas de
mendigos e moradores de rua.
A
maioria das pessoas passa a pé, ao lado deles, e fingem não ver. Outras passam
de carro, e fecham os vidros, com medo de estarem diante de um violento. Abre-se
o sinal e elas aceleram. Partem sem ao menos perceber que a violência não está
na pessoas, mas no sistema econômico que as exclui do banquete da vida. Não
percebem que a violência está nos políticos que pactuam e compactuam com desonestos
esquemas de corrupção, que geram pobreza. Se pensássemos melhor, fecharíamos os
vidros dos carros, e transitaríamos pelas ruas ignorando quem traz esse tipo de
violência à sociedade.
O Psicólogo
Social, Michel Cabral, andando pelas ruas de Campinas, percebeu a cruel
realidade dos moradores de rua, e a transformou em texto reflexivo, agora
compartilhado por esse blog. Michel é Graduado em Psicologia pela PUC-Campinas
(2009-2013), e Especializando em Pedagogia Social pelo UNISAL. É autor do blog http://cabralmichel.blogspot.com.br/.
***
Laços
apodrecidos e a vida pelas ruas
Michel Cabral
Um
fenômeno presente nas principais metrópoles é o das Pessoas em Situação de Rua,
que são caracterizados como pessoas sem uma moradia convencional, de vínculos
familiares rompidos ou fragilizados, de laço comunitário enfraquecido e de
extrema vulnerabilidade social.
Em uma cidade como Campinas-SP é fácil pelas
ruas do centro se deparar com uma pessoa deitada em alguma escadaria ou nas
"barracas de papelão e lona" encontrar com um ser humano passando por
essa situação.
Trabalhando há 2 anos com esse segmento na
política pública de assistência social, desenvolvi uma visão acerca dessa
problemática e procuro nesse texto compartilhar com as pessoas que tem a
necessidade de embasar suas reflexões acerca de um assunto delicado e que
requer delicadeza no trato.
Há duas dimensões para se pensar a questão,
sendo a primeira superestrutural, que se refere a forma como a sociedade se
organiza, o sistema econômico e social, a cultura colonial que somos herdeiros,
o senso de comunidade fragilizado e o capitalismo de forma geral; em um segundo
momento há questões infraestruturais, que reflete aspectos da vida diária, da
própria subjetividade do sujeito e dos relacionamentos. Ambas dimensões existem
de uma maneira dialética, uma alimentando e construindo a outra, sem poder
dissociá-las na reflexão.
O sujeito observado andando pelas ruas do
centro de Campinas revela elementos "cruéis" de uma sociedade
capitalista, onde o direito à uma vida digna é apenas discurso de campanha
eleitoral e no calendário da agenda política se sobrepõe a lógica do lucro.
Também observa-se a ausência do direito à moradia e o direito ao trabalho e
renda, ainda mais em tempos de crise econômica em que o sistema dá indícios de
seu esgotamento e acalora ações de caráter higienista e desumano. Não mais
importante, o fato de existir uma pessoa dormindo na calçada expõe que não há
comunidade no seu entorno, no máximo um agrupamento de indivíduos também
lutando por sua sobrevivência e ignorando o fato que compartilham junto com o
morador de rua da fragilidade de laços comunitários.
A forma como nos relacionamos cotidianamente e
edificamos essa sociedade, são as bases para a miséria e a vulnerabilidade que
a humanidade enfrenta. Visualizar no outro apenas o meio para a satisfação dos
nossos desejos; desconsiderar a convivência como criadora/mantenedora de saúde
mental; viver (será?) no individualismo, imediatismo e puro materialismo; e a
falta de diálogo, são ingredientes necessários para a pauperização de nossa
existência.
As pessoas que fazem da marquise a sua casa,
são expressões de uma polis doente, onde o amor de conviver e se preocupar com
o outro é secundário. Talvez por isso, brota o comportamento do abuso de álcool
e outras drogas na rua, para se anestesiar do organismo doentio e esquecer que
faz parte dele.
Em meio a essas reflexões escuto: - Mas são
pessoas perigosas, agressivas e violentas - branda a senhora no saguão do
prédio. Na falta de paredes e um teto, conseguimos observar a violência de um
homem que tenta bater no outro; na ausência de privacidade nos deparamos com
uma briga verbal; o senhor que passou o dia se esgueirando da GM, senta-se sob
a porta de uma loja e como qualquer ser humano, ainda mais sem ter alguém para
conversar, desabafa em voz alta sua tristeza, raiva e chateamento pela
situação: - Vão tudo tomar no cú, eu mato um por um, não aguento mais, caramba.
A senhora do saguão do prédio não precisa se preocupar de ser classificada de
violenta, a privacidade da sua casa impede das pessoas ouvirem alguma ameaça,
ofensa ou coisa pior verbalizada em seus aposentos.
É no viver (?) automático que vamos perdendo a
nossa humanidade; é na falta de diálogo que os laços comunitários vão
apodrecendo; e a realidade imperiosa de uma sociedade falida que vem bater a
nossa porta e lembrar que se não fosse pelos limites burocráticos de um CEP,
uma escritura, conta bancária, diploma, paredes e portão, conseguiríamos
observar que o mesmo problema que aflige as pessoas em situação de rua, vez ou
outra, vem nos visitar dentro de casa.
É nessa hora que eu me lembro que preciso
cuidar dos pequenos "jardins de gente" que faço parte, de outros não
poucos que existem e lutar para fazer florescer outros pequenos "jardins
de gente" que previnem o apodrecimento dos laços comunitários. E ter a
esperança de quem batalha no mundo das ideias e da prática, de que um dia, a
rua apenas seja local de passagem para os seres humanos e não local de
"moradia".
2 Comments
7 de novembro de 2016 às 12:19
Primeiramente obrigado pelo compartilhamento e vamos amadurecer a ideia de escrever um texto juntos sobre ciclismo?
Sinceramente, gostei muito da introdução que vc fez e da ideia do cultivo de um jardim.
Abraços
Michel, eu é que agradeço por você ter cedido essa reflexão à este blog. Quanto ao texto sobre ciclismo, acho uma boa ideia, afinal, nem só de políticas, sociologias, e psicologias vive o homem, mas também das saudáveis energias que o esporte traz. Desafio lançado, é desafio aceito.
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Por esse meio, terminam também as antigas disputas sobre a participação dos animais na lei natural; porque é claro que, desprovidos de luz e liberdade, não podem reconhecer essa lei; mas, unidos de algum modo à nossa natureza pela sensibilidade de que são dotados, julgar-se-á que devem também participar
do direito natural e que o homem está obrigado, para com eles a certa espécie de deveres. Parece, com efeito, que, se sou obrigado a não fazer nenhum mal a meu semelhante, é menos porque ele é um ser racional do que porque é um ser sensível,
qualidade que, sendo comum ao homem e ao animal, deve ao menos dar a um o direito de não ser maltratado inutilmente pelo outro.
(Discurso Sobre a Origem da Desigualdade Entre Os Homens)
do direito natural e que o homem está obrigado, para com eles a certa espécie de deveres. Parece, com efeito, que, se sou obrigado a não fazer nenhum mal a meu semelhante, é menos porque ele é um ser racional do que porque é um ser sensível,
qualidade que, sendo comum ao homem e ao animal, deve ao menos dar a um o direito de não ser maltratado inutilmente pelo outro.
(Discurso Sobre a Origem da Desigualdade Entre Os Homens)
Sobre a desigualdade Social
"Nós vivemos na parte do mundo mais desigual. A distribuição desigual de bens continua, criando uma situação de pecado social que clama ao céu e limita as possibilidades de uma vida mais plena a muito de nossos irmãos" .
Discurso do Papa Francisco na reunião de Bispos Latino Americanos, em 2007
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Que os homens armaram pra me convencer
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Que já vem malhada antes de eu nascer
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Brasil
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Pra gente ficar assim
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O nome do teu sócio?
Confia em mim
Não me convidaram
Pra essa festa pobre
Que os homens armaram pra me convencer
A pagar sem ver
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Que já vem malhada antes de eu nascer
Não me sortearam
A garota do Fantástico
Não me subornaram
Será que é o meu fim?
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Na taba de um índio
Programada pra só dizer "sim, sim"
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Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
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O nome do teu sócio?
Confia em mim
Grande pátria desimportante
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Eu vou te trair
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Que já vem malhada antes de eu nascer
Não me ofereceram
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Fiquei na porta estacionando os carros
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Chefe de nada
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