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Laudato Si: Uma extensa encíclica que pede ações rápidas
Posted by Cottidianos
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00:28
Sábado,
20 de junho
“Senhor, fazei de mim um instrumento da vossa
paz.
Onde
há ódio, que eu leve o amor.
Onde
há ofensa, que eu leve o perdão.
Onde
há discórdia, que eu leve a união.
Onde
há dúvida, que eu leve a fé.
Onde
há erro, que eu leve a verdade.
Onde
há desespero, que eu leve a esperança.
Onde
há tristeza, que eu leve a alegria.
Onde
há trevas, que eu leve a luz”
(Oração de São Francisco)
O movimento ecológico mundial já percorreu um longo
e rico caminho, tendo gerado numerosas agregações de cidadãos que ajudaram na conscientização.
Infelizmente, muitos esforços na busca de soluções concretas para a crise
ambiental acabam, com frequência, frustrados não só pela recusa dos poderosos,
mas também pelo desinteresse dos outros. As atitudes que dificultam os caminhos
de solução, mesmo entre os crentes, vão da negação do problema à indiferença, à
resignação acomodada ou à confiança cega nas soluções técnicas. Precisamos de
nova solidariedade universal,
Diz
o Papa Francisco na encíclica Laudato Si (Louvado sejas) anunciada ao mundo
nesta quinta-feira (18), ao meio dia, no Vaticano. O planeta recebeu o
documento com grande interesse e expectativa. Afinal, é a primeira vez que um
Papa escreve uma encíclica abordando o tema das mudanças climáticas e sua
influência em nosso mundo.
Quando
lançamos um olhar e vemos quantas mudanças climáticas tem ocorrido no globo
terrestre, mudanças essas que acendem um sinal vermelho, e nos alerta de que
algo precisa ser feito, e com urgência, se ainda queremos habitar essa
maravilhosa Terra. Sim, porque se não forem adotadas medidas rápidas e
eficazes, o planeta permanecerá. De um modo ou de outro, ele permanecerá. Nós
humanos, não.
Tomemos
por exemplo a água: Um bem tão precioso, e que achávamos que era infinito, hoje
vemos que a coisa não é bem assim. Ano passado/início desse ano, passamos um
susto grande com o nível dos rios e reservatórios de água, baixando e baixando,
cada vez mais. O quadro melhorou um pouco, mas ainda não dá para relaxar e
continuar a gastar água do jeito que gastávamos. Outras regiões brasileiras
também enfrentam o mesmo problema.
Lançando
um olhar mais abrangente por sobre o planeta, vemos escassez de água na Califórnia,
Estados Unidos, África, Oriente Médio, sul da Ásia e muitos outros. Grande parte
da constituição de nosso corpo é formada por água. Precisamos dela para absolutamente
tudo. Ou seja, o que faremos se ela vier a faltar?
Acho
que o Papa Francisco foi muito feliz ao lançar essa encíclica, chamando a
atenção para problemas tão graves, e de interesse de todos os credos e religiões.
É preciso que todas as nações se unam em torno da causa, afinal é a raça humana
que ameaça o planeta e é ela própria quem mais sofre as consequências dessa
ameaça.
Ainda
na quinta-feira, navegando pelo site do jornal americano, The New York Times, me
deparei com um artigo, muito bem escrito pelos jornalistas Jim Yardley e Laurie
Goodstein, falando a respeito da encíclica papal.
Confesso
para vocês que não domino a língua inglesa, mas a curiosidade me faz dar uma
olhada no site, de vez, em quando. Mesmo com essa dificuldade linguística,
resolvi traduzir a matéria e compartilhá-la com vocês. Portanto, se você, que
acompanha o blog e domina o idioma inglês, encontrar alguma inconformidade,
peço desculpas.
***
O
Papa Francisco, em extensa encíclica, chama para uma rápida ação em relação às
mudanças climáticas.
Por Jim Yardley e Laurie Goodstein
Nesta
quinta quinta-feira, o Papa Francisco convidou a uma radical transformação na
política, economia e estilo de vida individual para enfrentar a degradação
ambiental e as mudanças climáticas, em sua tão esperada encíclica papal,
misturando severas criticas ao consumismo e ao desenvolvimento irresponsável, à
um apelo por uma rápida e unificada ação global.
A
visão de Francisco, esboçada nas 184 páginas da encíclica, é radical em ambição
e alcance: Ele descreve a implacável exploração e destruição do meio ambiente,
pelos quais ele culpa a apatia, a desenfreada busca pelo lucro, excessiva
crença na tecnologia e falta de visão política. As vítimas mais vulneráveis são
as pessoas mais pobres do planeta, que estão sendo desalojadas e desprezadas,
declarou ele.
O
primeiro Papa do desenvolvimento mundial, Francisco, um argentino, usa a
encíclica — intítulada, “Laudato Si’, ou “Louvado seja” — para ressaltar a
crise provocada pelas mudanças climáticas. Ele coloca a maior parte da culpa
nos combustíveis fósseis e na atividade humana enquanto causa de uma destruição
sem precedentes do ecossistema, com sérias consequências para todos nós, se uma
ação rápida não for tomada. Os países industrializados e desenvolvidos são os
principais responsáveis, e são obrigados a ajudar as nações mais pobres a
enfrentar a crise.
“Mudança
climática são um problema global com graves implicações ambientais, sociais, econômicas,
distributivas e políticas”, escreveu ele. “Ela representa um dos principais
desafios enfrentado pela humanidade nos dias atuais”.
O
Vaticano lançou a encíclica ao meio dia desta quinta-feira, seguida de uma
coletiva de imprensa ansiosamente aguardada em meio a um interesse global
generalizado. Os funcionários do Vaticano ficaram indignados após o vazamento
de um esboço da encíclica ter sido publicado por uma revista italiana online,
na segunda-feira — um desses esboços correspondia quase fielmente ao final do
documento original. O vazamento levou a especulações de que os opositores de
Francisco dentro do Vaticano querem constrangê-lo e prejudicar a fase de
execução do projeto.
Mas,
nesta quinta, religiosos, ambientalistas, cientistas, funcionários escolhidos,
e corporações executivas ao redor do mundo estavam aguardando o lançamento
oficial da encíclica com suas
programações e posteriores coletivas de imprensa ou preparando declarações para
discuti-la. O interesse da mídia é enorme, em parte, por causa da popularidade
mundial de Francisco, mas também porque foi a primeira vez que um Papa escreve
uma encíclica sobre danos ambientais — e por causa da desafiadora aliança
proposta por ele entre ciência e fé.
“A
humanidade enfrenta um desafio crucial que requer o desenvolvimento de políticas
adequadas, que, além disso, estão sendo constantemente discutidas na agenda
global”, disse o cardeal Peter Turkson esta manhã, durante a entrevista
coletiva no Vaticano. “Certamente, Laudato Si’ pode e deve ter impacto sobre
importantes e urgentes decisões a ser tomadas nessa área”.
Na
coletiva de imprensa, o cardeal Turkson disse que Francisco já tinha percebido
que a humanidade tem desempenhado um papel na mudança climática. Ele disse que
havia “aquecido o debate” sobre o tema e que Francisco não estava tentando
intervir nisso.
Francisco
tem deixado claro que ele espera que a encíclica influencie o dinamize a
política econômica e inicie um movimento global. Ele chama as pessoas comuns a
pressionarem os políticos por mudanças. Bispos e padres ao redor do mundo estão
ansiosos para liderar as discussões sobre a encíclica nas missas de domingo.
Mas Francisco também está tentando atingir um público bem maior quando, na
primeira página do documento ele pede “para endereçá-la a cada pessoa que habita
neste planeta”.
Antes
mesmo da publicação, a postura inflexível de Francisco contra a destruição
ambiental, e sua demanda por uma ação global, já tinha emocionado muitos
cientistas. Em semanas recentes, defensores das políticas de combate às
mudanças climáticas manifestaram a esperança de que Francisco empreste uma
“dimensão moral” ao debate, porque argumentos científicos atraentes são
diferentes de levar as pessoas a agir.
“Dentro
da comunidade cientifica, há quase um código de honra: o de que você nunca poderá
ultrapassar a linha vermelha entre a pura análise e questões morais”, disse
Hans Joachim Schellnhuber, fundador e presidente do Potsdam Institute for
Climate Impact Research (Instituto Potsdam para Pesquisa do Impacto de
Alterações Climáticas) e líder dos cientistas climáticos europeus. “Mas agora
estamos em uma situação na qual nós temos que pensar sobre as consequências de
nossa visão de sociedade”.
...
Os
governos agora estão elaborando planos de mudanças internas do clima, antes da
reunião de cúpula das Nações Unidas sobre o clima, em dezembro, em Paris. O
objetivo do encontro é concluir o amplo acordo global, no qual, cada nação
compromete-se a legalizar novas políticas para diminuir a emissão de gases de
efeito estufa. Muitos governos já apresentaram planos, incluindo os maiores
emissores como o Brasil, que também tem uma extensa população católica. A
encíclica é vista como empurrão nada sutil para a ação, ela fornece suporte
para líderes enfrentarem situações difíceis, mesmo em países com grande número
de católicos.
“Ela
dá muita cobertura a líderes políticos e econômicos nesses países, enquanto
eles tomam decisões sobre a política de mudança climática”, disse Timothy
Wirth, vice-presidente da United Nations Foundation (Fundação das Nações Unidas).
Teólogos
católicos dizem que o tema principal da encíclica é a “ecologia integral”, que
une cuidado com o meio ambiente com a noção já bem desenvolvida na doutrina
católica — a de que desenvolvimento econômico para ser bom e justo deve levar
em conta a necessidade dos seres humanos de coisas como liberdade, educação e
trabalho significativo.
“A
ideia básica é a de que, para amar a Deus, você tem que amar seus semelhantes,
e você tem que amar e cuidar do restante da criação”, disse Vicent Miller, que
ocupa uma cadeira em teologia católica e cultura, na Universidade de
Dayton, uma faculdade católica, em Ohio.
“Isto dá a Francisco uma base muito tradicional para a inclusão da questão
ambiental no centro da fé cristã”.
“Os
críticos dirão que a igreja não deve se ensinar política, a igreja não deve
ensinar política. E Francisco diz, ‘Não, estas coisas são o coração da doutrina
católica”.
Francisco
tem torcido o rosto para os críticos, em parte para sustentar seus argumentos,
em parte para dar ênfase à universalidade de sua mensagem. Ele, regularmente,
cita passagens de seus dois predecessores, os Papas João Paulo II e Bento XVI,
ele tem até mesmo citado com destaque, seus aliados religiosos, o Patriarca
Bartolomeu I de Constantinopla, líder cristãos ortodoxos do mundo oriental. Ele
também cita o místico mulçumano, Ali al-Khawas.
Francisco
começa a encíclica com um hino de São Francisco de Assis, um frade do século
XIII, que é o santo patrono dos animais e do meio ambiente. O Papa Francisco
cita o Gênesis, livro da Bíblia, para sustentar seus argumentos teológicos,
ainda que certas passagens irritem alguns cristãos, ele critica aqueles que
citam o Gênesis para mostrar que o homem tem o “domínio” sobre a terra e, por
essa razão, direitos ilimitados sobre seus recursos. Alguns crentes tem usado
esta passagem bíblica para uma interpretação pessoal de “dominação” que
justifiquem suas práticas tais como mineração e pesca com redes.
“Esta
não é a correta interpretação da Bíblia como a entende a igreja”, escreve
Francisco. A Bíblia ensina aos humanos a “cultivar e guardar” o jardim do
mundo, ele disse: “Cultivar, quer dizer lavrar ou trabalhar um terreno,
enquanto “guardar” significa cuidar, proteger, preservar e velar”.
Sua
repreensão mais forte é uma ampla crítica a política econômica com fins
lucrativos e a influência desmedida da tecnologia na sociedade. Ele exalta o
progresso alcançado pelo crescimento econômico e tecnológico, os avanços
extraordinários na medicina, ciência e engenharia. Mas acrescenta: “Nosso
imenso desenvolvimento tecnológico não tem sido acompanhado de um
desenvolvimento humano responsável, valores e consciência”.
O
tema central para Francisco é a ligação entre os pobres e a fragilidade do
planeta. Ele rejeita a crença de que a tecnologia e “influências econômicas” resolverão
o problema ambiental ou “que os problemas da fome global e da pobreza serão
solucionados com o simples crescimento do mercado”. Ele cita as finanças como
tendo uma distorcida influência sobre políticas apelos aos governantes por
ação, regulação internacional e um despertar cultural e espiritual para
“recuperar a vida em profundidade”.
Dentre
amplos temas, Francisco também fala sobre o grande alcance de temas
específicos; Planejamento urbano (melhores áreas para os pobres); economia
agrícola (advertindo contra o alcance das enormes agroindústrias que expulsam
os fazendeiros e seus familiares de suas próprias terras); para a conservação
da biodiversidade (pedindo que sejam protegidas bacias fluviais da Amazônia e
do Congo), e oferece até mesmo pequenas passagens de mídia e arquitetura.
“Uma
enorme acusação eu vejo nessa encíclica é a de que as pessoas perderam a
compreensão dos objetivos fundamentais e corretos a respeito de tecnologia e
economia”, disse Christiana Z. Peppard, uma professora assistente de Teologia,
ciência e ética, na Fordham University, em Nova York. “Nós estamos focados em
padrões consumistas de curto prazo e temos permitido que padrões econômicos e
tecnológicos digam-nos o que deve ser nossos valores”.
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