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Teatro de marionetes
Posted by Cottidianos
on
18:26
Sábado,
27 de junho
“Vai, vai, vai começar a brincadeira
Tem
charanga tocando a noite inteira
Vem,
vem, vem ver o circo de verdade
Tem,
tem, tem picadeiro de qualidade
Corre,
corre, minha gente que é preciso ser esperto”
(O circo – Sidney Miller)
Na
quinta-feira (18), o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, reuniu-se com
líderes religiosos no auditório de seu instituto, o Instituto Lula, em São
Paulo. A conversa deu o que falar durante o restante da semana, e deixou
confusos os analistas políticos.
Lula
sacou sua metralhadora de críticas, e fez vários disparos. O que é de se
admirar é que esses disparos não foram contra nenhum grupo de oposição, mas sim
contra a presidente Dilma Rousseff.
O
ex-presidente comparou a queda de popularidade de Dilma, apontada pelas
pesquisas, ao volume morto dos reservatórios de água, nessa crise hídrica. “Dilma
está no volume morto, O PT está abaixo do volume morto, e eu estou no volume
morto”, disse. Ele afirmou ainda que a presidente deixou o governo mais
distantes dos pobres e defendeu que ela deveria percorrer mais o país: “Gilberto
sabe do sacrifício que é a gente pedir para a companheira Dilma viajar e falar.
Porque na hora que a gente abraça, pega na mão, é outra coisa. Política é isso,
o olhar no olho, o passar a mão na cabeça, o beijo”, disse ele.
Lula
disse aos religiosos que a última notícia boa que o PT tinha recebido foi a da
reeleição de Dilma, no dia 26 de outubro, e que, de lá para cá, só havia recebido más
notícias: “Primeiro: inflação. Segundo: aumento da conta de água, que dobrou.
Terceiro: aumento da conta de luz, que para algumas pessoas triplicou. Quarto:
aumento da gasolina, do diesel, aumento do dólar, aumento das denúncias de
corrupção da Lava-Jato, aquela confusão desgraçada que nós fizemos com o Fies
(Financiamento Estudantil), que era uma coisa tranquila e que foram mexer e
virou uma desgraceira que não tem precedente. E o anúncio do que ia mexer na
pensão, na aposentadoria dos trabalhadores”.
Nesse
momento, o ex-presidente afinou o seu discurso, com o discurso da oposição,
relembrando as promessas de campanha feitas por Dilma, e que não foram
cumpridas: “Eu não mexo no direito dos trabalhadores nem que a vaca tussa”. E
mexeu. Tem outra frase, Gilberto, que é marcante, que é a frase que diz o
seguinte: “Eu não vou fazer ajuste, ajuste é coisa de tucano”. E fez. E os
tucanos sabiamente colocaram Dilma falando isso (no programa de TV do partido)
e dizendo que ela mente. Era uma coisa muito forte. E fiquei muito preocupado”.
Ainda
durante o encontro com os religiosos, Lula afirmou não acreditar que tenha
havido mensalão, coisa já fartamente comprovada através de fatos e documentos: “Não
acredito que tenha havido mensalão. Não acredito. Pode ter havido qualquer
outra coisa, mas eu duvido que tenha havido compra de voto”.
Exceto as críticas de Lula à presidente, nada parece de fato ter mudado no partido,
nem no próprio Lula, a julgar a frase na qual ele diz não acreditar que tenha havido
mensalão. Além disso, os petistas continuam se envolvendo em escândalos de
corrupção, tesoureiros do partido continuam comandando operações fraudulentas. No
passado foi Delúbio Soares, no momento presente, João Vaccari Neto, ou seja,
mudam-se as peças no tabuleiro, mas não as práticas viciosas.
Obvio
as críticas de Lula, ecoaram no Palácio do Planalto, incomodaram Dilma
Rousseff, e causaram mal-estar no governo.
Aécio
Neves, candidato derrotado por Dilma Rousseff nas eleições de 2014, também se pronunciou
sobre o caso: “Acho que o presidente Lula, mais do que ataques à atual
presidente, sua criatura, tem que reassumir sua parcela de responsabilidade
pelo que vem acontecendo no Brasil. E não há como descolar uma coisa da outra:
o governo é o PT, o governo é Dilma, o governo é Lula. Foi assim nos momentos
positivos e será assim nesse momento de grandes dificuldades. Lamentavelmente,
essa obra é uma obra conjunta do ex-presidente Lula, da presidente Dilma, e,
obviamente, do PT — disse Aécio, derrotado por Dilma na eleição presidencial de
2014”.
O
fato é que há rumores de que Lula possa voltar a disputar as eleições
presidenciais em 2018. Sendo assim, não seriam todas essas críticas à Dilma,
apenas teatro de marionetes?
Essa
semana, em uma conversa sobre política, ouvi uma senhora dizer: “Se Lula se
lançar como candidato, voto nele novamente, pois o PSDB é partido de elite”.
Justificou ela, dizendo que quando o PSDB esteve à frente da Prefeitura
Municipal de Campinas, deixou abandonada as áreas mais pobres da cidade, e deu ênfase
ao trabalho em áreas mais nobres. Nacionalmente, o PSDB também tem essa fama de
ser elitista. Então se o partido de oposição quer alguma fatia desse bolo vai
ter que desconstruir essa imagem de que governa para os ricos.
Enquanto
isso, o PT navega num mar de lama, vê despencar o nível de credibilidade da
legenda... E o país atravessa uma grave crise econômica.
Abaixo,
compartilho texto escrito por Juan Arias, e publicado no site do jornal El PaísBrasil, na seção, Opinião.
***
O
plano oculto de Lula para voltar ao poder
Nas
últimas manifestações populares brasileiras, um humorista desenhou Lula
escondido no meio do povo, gritando “Fora Lula!”. Uma charge simbólica e
emblemática do que Lula está vivendo desde suas críticas inesperadas a Dilma e
ao seu partido, o PT, que ele fustigou tão enfaticamente quanto poderiam
fazê-lo os indignados da sociedade.
Por
essa razão, é grande a curiosidade em saber se Lula prepara alguma nova
estratégia, já que, como diz no jornal O Globo o catedrático Eugenio Giglio,
especialista em marketing político, “ninguém pode acusá-lo de ingenuidade”.
Os
meios de comunicação estão convidando analistas políticos a tentar desvendar um
possível plano oculto de Lula, o político com a maior capacidade de se
metamorfosear e tirar proveito dos tropeços e triunfos alheios, além de seus
próprios.
Para
entender a possível estratégia secreta de Lula é preciso destacar que, como
chamou à atenção o senador Cristovam Buarque, suas duras críticas ao Governo e
ao PT não encerraram um mea culpa dele. A culpa seria de quem traiu suas ideias
e não seguiu seus conselhos.
Quando
lhe foi útil, Lula soube “engolir” a oposição, que ficou muda e paralisada
enquanto ele governou como rei seguro de sua força popular
Quando
lhe foi útil, Lula soube engolir a oposição, que ficou muda e paralisada
enquanto ele governou como rei seguro de sua força popular e seu prestígio
internacional.
Hoje,
porém, está nascendo uma oposição nova que não é a oposição institucional dos
partidos, mas a da sociedade e das ruas. É uma oposição que, desta vez, ameaça
a força política de Lula e do PT e que pode criar problemas para os sonhos de
Lula de voltar ao poder em 2018.
O
que fazer? Há quem assegure que a manobra mais astuta de Lula em toda sua
trajetória política pode ser a de voltar à oposição e até de colocar-se à
frente desse novo protesto social para metabolizá-lo, apresentando-se como seu
líder. Com isso ele voltaria às suas origens de opositor implacável, papel que
exerceu durante a maior parte de sua vida.
Lula
possui um faro especial para detectar os humores da rua. Ele sabe que está
desgastado mas não morto; continua a acreditar que essa nova oposição, que
deseja e reivindica um país menos corrupto e corroído pela crise econômica,
ainda não tem um líder indiscutível com força suficiente para hastear uma nova
bandeira que desaloje a sua.
Que
solução melhor que apresentar-se como o novo Moisés, disposto a arrancar seu
povo das garras da crise para conduzi-lo a um novo período de bonança? Com suas
críticas a Dilma e ao Governo dela e as flechas lançadas contra seu próprio
partido, desse modo Lula se uniria à nova oposição que critica os políticos
tradicionais e corruptos.
Desta
vez Lula não precisaria combater a oposição, já que teria decidido
metamorfosear-se em opositor. Assim, é possível pensar que em 2018 os
brasileiros insatisfeitos, aqueles que participaram das manifestações contra
Dilma e o PT, dificilmente encontrarão outro líder melhor que esse que começou
a gritar como eles: “Fora Dilma!” e “Fora PT!”.
Lula
continua a acreditar que essa nova oposição, que deseja e reivindica um país
menos corrupto e corroído pela crise econômica, ainda não tem um líder
indiscutível.
Tudo
isso é o que se comenta neste momento entre os profetas que tentam interpretar
o novo Lula insatisfeito e irritado com os seus e que adverte que está
começando a perder sua força original, como o Sansão da Bíblia. Claro que
ninguém sabe ainda o que a opinião pública contestatária, que já convocou uma
nova manifestação nacional de protesto para o dia 16 de agosto, poderá pensar
dessa possível estratégia maquiavélica de Lula.
Sem
contar com a caixinha de surpresas do enigmático e severo juiz Moro, em cujas
teias Lula já deixou entrever que pode acabar enredado.
Em
meio à glória que o rodeava, um dia Lula chegou a comparar-se a Jesus, defensor
dos pobres. Mas há nos Evangelhos uma cena significativa que tem relação com
isso. Vendo que alguns começavam a abandoná-lo, Jesus perguntou aos apóstolos,
que eram seu proletariado ambulante, em sua maioria analfabetos: “Quereis vós também
retirar-vos?”. O fogoso Pedro se adiantou e respondeu por todos: “Não, a quem
iríamos nós? Tu tens as palavras da vida eterna”. (João, 6, 67).
Entretanto,
na hora em que o Mestre foi condenado à cruz, quando mais precisava de seu
apoio, os apóstolos fugiram, mortos de medo. Pedro chegou a dizer: “Eu nem
conheço tal homem”. (Mateus 26,72).
A
história, até a religiosa e literária, pode às vezes ser mestra e profeta.
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