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Celso Santebañes: A morte de um jovem que queria ser boneco
Posted by Cottidianos
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00:12
Domingo,
07 de junho
Ó beleza! Onde
está tua verdade?
William Shakespeare
Ela
é filha, digo, criação de Ruth Handler e o seu marido Elliot Handler. Eles a
conceberam, em 1959, nos Estados Unidos. Seu nome? Barbie. Lançada,
oficialmente, em 09 de março de 1959, em uma Feira Anual de Brinquedos, em Nova
York, em poucos anos a boneca saiu do anonimato e alcançou o estrelato,
participando de diversos filmes e campanhas publicitárias milionárias. Aos 56
anos, ela faz inveja a qualquer mulher, ao conservar-se naturalmente jovem,
bonita e elegante, e ainda influenciando o mundo da moda e da beleza. Barbie
descobriu aquilo que é objeto de anseio da humanidade desde longa data: o
elixir da longa vida. Pode-se dizer que Barbie é a mina de ouro da empresa de
bonecos, Mattel.
Não
convém a uma princesa viver sozinha. Pensando nisso, Ruth e Eliot, criaram um
boneco para ser o par romântico da Barbie, e lhe deram o nome de Ken. Ele
chegou as lojas em 1961. Bonito, elegante, e cheio de estilo, enfim um par
perfeito para a Barbie. Ken, rapidamente, também conheceu a fama e o sucesso.
Tanto
a Barbie, quanto o Ken foram inspirados nos filhos de Ruth e Eloit, Barbara e Kenneth
Handler. O verdadeiro Ken faleceu em 1994, vítima de um tumor no cérebro.
Assim
como a Barbie inspirou milhões de garotas a viver o ideal de uma beleza sem
máculas, Ken também inspirou muitos garotos ao redor do mundo, a viver um ideal
de beleza que não é próprio dos humanos. Essa busca por um ideal utópico de
beleza pode ser revelar uma grande armadilha, colocando um fim à vida daqueles
que, a todo custo, querem se parecer com brinquedos.
Ora,
sabemos que não existe, a mulher photoshop, ou o homem photoshop. As pessoas
estão sujeitas a ter marcas pelo corpo — sinais que o acompanham desde o
nascimento, ou adquiridos posteriormente. Umas são mais magras, outras mais
gordas, mais altas ou mais baixas. Com o tempo, aparecem os cabelos brancos, as
rugas, isso é um processo natural, faz parte da vida do homem desde sempre.
Muitos
querem uma beleza artificial e, para isso, enchem o corpo com enxurradas de
procedimentos cirúrgicos que, às vezes, podem destruir o corpo, ao invés de
torná-lo belo.
Celso
Pereira Borges, que adotou o nome artístico de Celso Santebañes, era um jovem
bonito, de 20 anos, cujo ideal de vida estava mergulhado no mar da
superficialidade. Ele possuía uma firme obsessão: Tornar-se igual a Ken, o
namorado da Barbie.
Quem
não se lembra do velho Gepeto e seu boneco de madeira, chamado Pinóquio? Gepeto
criou o boneco e a fada madrinha deu vida a ele. Passou por muitas peripécias e
quando mentia seu nariz crescia. O sonho do boneco era tornar-se um menino de
verdade. Isso na ficção. Na vida real, o sonho de Celso tomou rumo contrário. Ele
era um menino de verdade que queria ser boneco. Um boneco, esteticamente,
perfeito.
Celso
nasceu no dia 30 de agosto de 1994, na pequena cidade de Araxá, em Minas
Gerais, que, por coincidência, é terra de Dona Beija, mulher linda e sensual,
que mesmo analfabeta, tornou-se uma personagem influente na região, nos anos de
1800, encantando os homens e causando inveja nas mulheres, por causa de sua
estonteante beleza. As ideais avançadas de Beija em relação ao amor livre fizeram
com que ela bebesse do vinho do luxo e da riqueza, ao mesmo tempo em que comia
o queijo amargo da rejeição das famílias da época.
Celso
sempre gostou de bonecos. Na infância tinha uma prateleira cheia deles, e
gostava de se vestir como seus brinquedos. Os belos olhos azuis e seus traços
perfeitos o levaram para o mundo da moda. Ainda criança, começou a participar
de concursos de beleza. Quando tinha 15 anos, o famoso ator, Tony Ramos, esteve
em Araxá, realizando um concurso de novos talentos. Dentre os 400 candidatos
que se inscreveram, Celso ficou em primeiro lugar. Foi por essa época que
adotou o nome artístico de Celso Santebañes. Aos dezesseis anos, já trabalhando
como modelo, os amigos lhe deram de presente um Ken, para que ele reparasse na
semelhança que havia entre ele o boneco. Começo aí a obsessão.
Aos 16 anos, Celso deixa a pequena Araxá e parte para a cidade de São Paulo, em busca de fama e sucesso. Queria ser reconhecido por sua aparência. Também queria ser ator e modelo. Na capital paulista, a ideia fixa de se parecer cada vez com um boneco, só aumentava, e Celso dava asas ao seu sonho fantástico.
Aos 16 anos, Celso deixa a pequena Araxá e parte para a cidade de São Paulo, em busca de fama e sucesso. Queria ser reconhecido por sua aparência. Também queria ser ator e modelo. Na capital paulista, a ideia fixa de se parecer cada vez com um boneco, só aumentava, e Celso dava asas ao seu sonho fantástico.
Perseguindo
sua desvairada quimera, fez cirurgias plásticas no queixo, no nariz, maxilar. Colocou
silicone no peitoral, nas coxas. Além disso, fez diversas outras intervenções
estéticas. Com isso foi modificando cada vez mais o seu corpo, a custa de
muitos produtos químicos. Também aproveitou a vida em São Paulo para fazer
cursos de teatro e manequim.
As coisas pareciam estar dando certo. No
início de 2014, o sucesso chegou, e rápido. Mais rápido do que ele imaginava. Ganhou
o apelido de Ken humano. Foi a televisão. Apareceu em diversos programas em
rede nacional de TV. Os convites para ser presença VIP em festas, baladas e
peças infantis, foram se acumulando. A conta bancária aumentou. E tudo girava
como um moinho de vaidades: Quanto mais dinheiro, maiores as possibilidades de
modificar o corpo.
No
final de dezembro de 2014, a vaidade bateu a porta do jovem de 20 anos, aspirante
a boneco famoso, e cobrou seu preço. Uma conta muito alta.
Chegaram
as festas de Natal e Ano Novo, e o jovem decidiu passar esses momentos agradáveis
em Araxá, junto com a família. A cidade grande pode oferecer inúmeras
possibilidades de sucesso, mas cidade grande é verbo impessoal, e substantivo,
muitas vezes, frio. Pensando nisso, Celso, alegremente, aproveitava o momento
para ficar na intimidade da família, rever os amigos. Com o estouro do champanhe
na virada do ano, vieram promessas e votos de sucesso e felicidade.
No
dia 02, a vaidade que ameaçava bater do mineiro, cumpriu sua ameaça. Celso assustou-se
ao verificar a presença de hematomas nas pernas, no mesmo lugar onde fizera
aplicações de hidrogel, há quase quatro anos.
Foi
levado para um hospital, em Araxá. Feitos os exames, os médicos constataram que
as complicações de saúde de Ken humano, eram muito maiores e mais graves do que
ele supunha. O diagnóstico dos médicos apontou um tipo raro de leucemia,
denominada, Leucemia Linfoide Aguda Philadelphia positivo, e que não tinham
nenhuma relação com a aplicação de hidrogel.
Não
havendo no hospital em Araxá, infraestrutura suficiente para que fosse iniciado
o tratamento e as sessões de quimioterapia, a equipe médica resolveu
transferi-lo para o hospital das Clínicas de Uberlândia, no Triângulo mineiro.
Um
dia depois de dar entrada no hospital de Uberaba, o quadro clinico do jovem piorou.
Por três vezes ele desfaleceu, e sua pressão arterial caiu para zero. Seu quadro
de saúde se agravou a tal ponto, que ele chegou a ficar um mês em coma. Ficou quatro
meses internado em Uberaba. Após isso, apresentou uma melhora e voltou para
Araxá, a fim de continuar o tratamento em casa.
Entretanto,
no dia 29 de maio, seu quadro de saúde começou a se agravar novamente, e ele
teve que voltar ao hospital, passando a respirar com ajuda de aparelhos. Os médicos
concluíram que ele havia contraído uma pneumonia bacteriana.
No
dia 04 de junho, o Hospital de Clínicas de Uberlândia da Universidade Federal
de Uberlândia, divulgava a seguinte nota:
“É com pesar que o Hospital de Clínicas de
Uberlândia da Universidade Federal de Uberlândia informa que o paciente Celso
Santebañes, portador de Leucemia Linfóide Aguda Philadelphia positivo, faleceu
às 16h30 do dia 4 de junho de 2015 em decorrência de agravamento do quadro
clinico pela pneumonia na fase de imunossupressão da quimioterapia”.
A
nota colocou um ponto final na vida de um jovem bonito e talentoso, que colocou
a vaidade na lista número 1, dentre suas prioridades na vida.
Pinóquio
teve a ajuda de uma fada madrinha, que, com sua varinha mágica, o ajudou a
transformar-se em um menino de verdade. O jovem Celso não teve a mesma a sorte
de encontrar uma fada madrinha que o transformasse em boneco.