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Um discurso para formandos da universidade de Stanford... E uma lição de vida para todos nós
Posted by Cottidianos
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Quarta-feira,
17 de junho
“Coração de estudante
Há
que se cuidar da vida
Há
que se cuidar do mundo
Tomar
conta da amizade
Alegria
e muito sonho
Espalhados
no caminho
Verdes,
plantas, sentimento
Folha,
coração, juventude e fé”
(Coração de estudante – Milton Nascimento,
Wagner Tiso)
O
menino Steve Jobs soube, desde o início, que era filho adotivo. Os pais
adotivos optaram por lhe contar a verdade desde pequeno. Ele só não sabia a
dimensão que uma palavra mal colocada em relação a esse assunto poderia causar
no emocional de uma criança. Soube disto da pior forma possível. Ele estava com
seis ou sete anos, e brincava no verde gramado de sua casa com uma menina, sua
vizinha. Steve falou para a amiguinha: “Sou filho adotivo”. A menina viu nisso
uma forma de rejeição e, ingenuamente, perguntou: “Então seus pais verdadeiros
não queriam que você ficasse com eles?” Essa pergunta foi o suficiente para
perturbar a mente do pequeno Steve. Ele levantou-se chorando e correu para casa.
Ao saber o que havia ocorrido momentos antes, os pais adotivos ficaram muito sérios,
e disseram, bem devagar, articulando bem as palavras: “Nós, especialmente,
escolhemos você”. A palavra, especial, pronunciada com tanto amor,
imediatamente fez cessar as lágrimas do garoto.
A
vida do milionário Steve Jobs, nunca foi fácil. As coisas não caíram do céu
diretamente para as mãos dele. Ao contrário, ele teve que lutar muito para
conseguir que seus sonhos se realizassem. Ele enfrentou a falta de recursos
materiais, humilhações, decepções, ingratidões, como todos nós também
enfrentamos. Mas uma coisa Steve tinha de especial: Ele tinha amor pelo que
fazia, e quem tem amor pelo que faz, procura fazê-lo com esmero. Além disso,
ele acreditava que as coisas dariam certo. Em algum momento, elas dariam certo.
Diz
um ditado popular que “Deus escreve certo por linhas tortas”. Acho que foi isso
que ele fez na vida de Steve Jobs, mesmo sem que ele percebesse isso. Quando
tudo parecia dar errado na vida, na vida dele, na verdade, elas estavam dando
muito certo. É obvio que com a visão limitada que tem todo ser humano em
relação ao próprio futuro, Steve não percebia isso, mas Deus, como bom
escritor, estava, silenciosamente, conduzindo tudo, cada linha, cada palavra,
cada letra.
A mãe
biológica de Jobs resolveu entregá-lo para adoção, mas as forças invisíveis,
lhe preparam um lar e pais que muito o amaram. Não tinha dinheiro suficiente
para manter-se na faculdade, e teve que abandonar os estudos, mas mesmo nessa
situação adversa, colheu ferramentas que usaria com maestria em sua obra prima.
Aos
20 anos, ao lado de Steve Wozniak e fundou a Apple. Tornou-se milionário aos 25
anos. Aos trinta anos, foi expulso da empresa que ajudara a fundar por alguém
em quem muito confiava. Os ventos do destino o levaram de volta a Apple e
ajudaram a salvar a empresa da falência.
Ele
enfrentou a luta contra o câncer no pâncreas. Venceu. O câncer voltou. Dessa vez,
a doença venceu e levou Steve desse mundo, no dia 11 de outubro de 2011.
Olhando
para a história de vida de Steve Jobs, tão cheia de altos e baixos, fico a
pensar: Será que Deus também não escreveu certo por linhas tortas ao levar
Steve de volta para casa? Será que Ele não tinha planos melhores para Steve nas
altas moradas celestiais? Como os planos do altíssimo são insondáveis, fico
apenas nos questionamentos e conjecturas.
Abaixo,
compartilho um belo discurso de Steve Jobs, pronunciado para uma turma de
formandos da universidade americana de Stanford.
Era
um belo e ensolarado dia 12 de junho do ano de 2005. Steve Jobs, então
presidente da Apple Computer e da Pixar Animation Studios, falava, em cerimônia
realizada ao ar livre, aos formandos daquela instituição.
Mais
do que um discurso, as palavras de Steve são uma lição de vida e merecem ser
ouvidas com carinho por todos nós.
***
Discurso
de Steve Jobs na universidade de Stanford, nos Estados Unidos, em junho de
2005.
É
uma honra estar com vocês hoje nesta formatura de uma das mais excelentes
universidades do mundo. Verdade seja dita, eu nunca me formei na faculdade.
Esta foi a vez na vida que eu cheguei mais perto de uma formatura de faculdade.
Hoje eu gostaria de contar para vocês três histórias da minha vida. É isso, não
é grande coisa. Só três histórias.
A primeira
história é sobre ligar os pontos.
Eu
deixei a Reed College depois dos primeiros seis meses, mas continuei assistindo
as aulas por mais dezoito meses antes de eu sair realmente. Então porque eu
saí?
Começou
antes de eu nascer. Minha mãe biológica era uma jovem e solteira estudante de
faculdade, e ela decidiu me colocar para adoção. Ela achava muito fortemente
que eu deveria ser adotado por pessoas formadas. Então tudo estava preparado
para que, quando eu nascesse, fosse adotado por um advogado e sua esposa. Quando
eu apareci eles decidiram no último minuto que, na verdade, eles queriam uma
menina. Então meus pais adotivos que estavam numa lista de espera receberam uma
ligação no meio da noite, perguntando: “Nós temos um garoto inesperado, vocês o
querem?” Eles disseram: “é claro!” Minha mãe biológica, descobriu mais tarde que
minha mãe adotiva nunca se formou na faculdade e que meu pai adotivo nunca se
formou no colégio, no ensino médio. Ela se recusou a assinar os papeis finais
da adoção. Ela só cedeu alguns meses depois quando meus pais adotivos
prometeram que, um dia, eu iria para a faculdade. Esse foi o começo na minha
vida.
Dezessete
anos depois eu fui pra faculdade. Mas ingenuamente eu escolhi uma faculdade
quase tão cara quanto Stanford, e todas as economias dos meus pais de classe
operária, estavam sendo gastas na minha educação superior. Depois de seis meses
eu não via valor em nada do que aprendia. Eu não tinha ideia do que queria fazer
com minha vida, e nenhuma ideia de como a faculdade poderia me ajudar a
descobrir. E lá estava eu, gastando todo o dinheiro que meus pais economizaram
durante suas vidas inteiras. Então eu decidi sair e confiar que tudo ia acabar
dando certo. Era bem assustador naquela época, mas olhando para trás foi uma
das melhores decisões que eu já tomei. Assim que eu saí, eu parei de assistir
as aulas obrigatórias que não me interessavam, e comecei assistir as q pareciam
interessantes.
Nem
tudo foi tão romântico. Eu não tinha um dormitório, então eu dormia no chão do
quarto dos amigos. Eu devolvia garrafas de coca-cola aos depósitos por cinco
centavos para poder comprar comida, e eu andava onze quilômetros através da
cidade toda noite de domingo para pegar uma boa refeição semanal no templo Hare
Krishna. Eu amava aquilo. E muito do que eu encontrei seguindo minha
curiosidade e intuição se mostrou de valor incalculável mais tarde. Deixe-me
dar um exemplo.
O
Reed College, naquele tempo oferecia, quem sabe, o melhor curso de caligrafia do
país. Por todo o campus, cada pôster, cada etiqueta em cada gaveta apresentava
uma bela caligrafia manual. Por eu ter saído e não ter que assistir as aulas
normais, eu decidi aprender caligrafia pra aprender. Eu aprendi sobre tipos com
e sem serifa, sobre a variação do espaço entre diferentes combinações de
letras, sobre as características que tornam uma tipografia importante. Era
bonita, histórica, artisticamente sutil, de uma maneira que a ciência não podia
capturar. E eu achei aquilo fascinante.
Nada
disso tinha sequer uma esperança de aplicação prática em minha vida. Mas dez
anos depois, quando nós estávamos projetando o primeiro computador Macintosh eu
me lembrei de tudo aquilo. E nós colocamos tudo no Mac. Foi o primeiro computador
com uma tipografia bonita. Se eu nunca tivesse entrado naquele simples curso da
faculdade, o Mac nunca teria múltiplos tamanhos de letras ou fontes proporcionalmente
espaçadas, e já que o Windows copiou o Mac, provavelmente, nenhum computador
pessoal teria. Se eu nunca tivesse deixado a faculdade eu nunca teria entrado
na aula de caligrafia e os computadores pessoais poderiam não ter a maravilhosa
tipografia que eles têm. Claro que era impossível à mim, conectar os pontos
quando eu estava na faculdade, mas ficou muito, muito claro, olhando para trás
dez anos depois.
Repito:
você não pode conectar os pontos olhando adiante, você só pode conectá-los
olhando para trás. Então você tem que confiar que os pontos, de algum jeito,
vão se conectar no futuro. Você tem que confiar em alguma coisa: seu Deus,
destino, carma, seja o que for. Porque acreditar que os pontos vão se ligar em
algum momento vai te dar confiança para seguir seu coração, e mesmo que ele te
leve para um caminho diferente do que o previsto, isso fará toda diferença.
Minha
segunda história é sobre amor e perda.
Eu
fui sortudo, encontrei o que eu amava fazer cedo na vida. Woz e eu começamos na
garagem dos meus pais quando eu tinha vinte anos. Nós trabalhamos duro, e em
dez anos, a Apple cresceu de duas pessoas e uma garagem, para uma empresa dois
bilhões de dólares com mais de quatro mil empregados. Nós acabávamos de lançar
nossa maior criação — o Macintosh — um ano antes, e eu ainda não completara trinta
anos.
Então
eu fui demitido. Como você pode ser demitido de uma empresa que você criou?
Bem, conforme a Apple crescia, nós contratamos alguém que eu achava muito
talentoso para dirigir a empresa comigo. No primeiro ano as coisas saíram bem,
mas então nossas visões de futuro começaram a divergir e, terminamos rompendo.
Quando isso aconteceu, nosso quadro de diretores ficou do lado dele. Então, aos
trinta anos eu estava fora, e muito escandalosamente fora da empresa. O que
tinha sido todo o foco de toda a minha vida adulta se foi, e isso me destruiu.
Eu
realmente não sabia o que fazer por alguns meses. Senti que tinha decepcionado
a geração anterior de empreendedores, e tinha deixado cair o bastão no momento
em que ele estava sendo passado para mim. Eu encontrei David Packard e Rob
Noyce e tentei me desculpar por ter estragado tudo daquela maneira. Foi um
fracasso público, e até mesmo pensei em deixar o Vale do Silício. Mas alguma
coisa, lentamente, começou a nascer em mim. Eu continuava amando o que eu
fazia. As coisas que aconteceram com a Apple não mudaram isso em nada. Eu havia
sido rejeitado, mas continuava amando. Foi quando decidi começar de novo.
Não
enxerguei isso na época, mas ser demitido da Apple foi a melhor coisa que
poderia ter me acontecido. O peso de ser vitorioso foi substituído pelo vazio
de se um iniciante outra vez, sem muita certeza sobre nada, e isso me deu
liberdade para começar um dos períodos mais criativos de minha vida. Durante os
cinco anos seguintes, criei uma empresa chamada NeXT, outra empresa chamada
Pixar, e me apaixonei por uma mulher maravilhosa que se tornou minha esposa. A
Pixar fez o primeiro filme animado por computador, Toy Story, e é o Studio de animação
mais bem sucedido do mundo. Em uma inacreditável guinada nos fatos, a Apple
comprou a NeXT e eu voltei à empresa, e a tecnologia que desenvolvemos nela
está no coração do atual renascimento da Apple. Laurene e eu temos uma família
maravilhosa.
Tenho
certeza de que nada disso teria acontecido se eu não tivesse sido demitido da
Apple. Foi um remédio horrível, mas eu entendo que o paciente precisava dele. Se,
às vezes, a vida bate com um tijolo na sua cabeça, não perca a fé. Estou
convencido de que a única coisa que me permitiu seguir adiante foi o meu amor
pelo que fazia. Você tem que descobrir o que você ama. Isso é verdadeiro tanto para
o seu trabalho quanto para a vida afetiva. Seu trabalho vai preencher uma parte
grande de sua vida. E a única maneira de fazer o que você acredita é fazer um
ótimo trabalho, e a única maneira de fazer um excelente trabalho é amar o que faz.
Se você ainda não encontrou, continue procurando. Não se acomode. Assim como
todos os assuntos do coração, você saberá quando encontrar. É, como em qualquer
grande relacionamento: Só fica melhor e melhor á medida que os anos passam.
Então continue procurando até você achar. Não sossegue.
Minha
terceira história é sobre a morte.
Quando
eu tinha dezessete anos, eu li uma citação mais ou menos assim: se você viver
cada dia como se fosse o último, algum dia, provavelmente, vai acertar. Aquilo
me impressionou e, desde então, nos últimos 33 anos, eu tenho me olhado no
espelho cada manhã e me perguntado a mim mesmo: se hoje fosse o último dia da
minha vida, eu ia querer fazer o que eu vou fazer hoje? E sempre que resposta
foi não por vários dias seguidos eu soube que eu tinha que mudar alguma coisa.
Lembrar
que eu logo vou estar morto é a ferramenta mais importante que eu já encontrei
para me ajudar a fazer grandes escolhas na vida, porque quase tudo, toda expectativa
exterior, todo orgulho, todo medo de dificuldades ou falhas, estas coisas
simplesmente somem em face da morte, deixando apenas realmente o que é
importante. Lembrar que você vai morrer é a melhor maneira que eu conheço para
evitar armadilha de achar que tem algo a perder. Não há razão para não seguir o
que seu coração diz.
Mais ou menos há um ano, eu recebi um
diagnostico de câncer. Eu fiz uma ressonancia às sete e meia da manhã, e ela
mostrou, claramente, um tumor no meu pâncreas. E eu nem sabia o que era um
pâncreas. Os médicos me disseram que era quase certeza, um tipo incurável de
câncer, e que eu não devia esperar viver mais que três a seis meses. O médico
me aconselhou a ir para casa e colocar meus negócios em ordem, o que no jargão
médico, significa: “prepare-se par morrer”.
Significa
tentar dizer aos seus filhos, em poucos meses, tudo o que pensou que teria os
próximos dez anos para lhes dizer. Significa ter certeza de que tudo está no organizado
para que a família sofra o mínimo possível. Significa dizer adeus.
Eu
passei o dia inteiro com aquele diagnóstico o dia inteiro. Depois, naquela
noite eu fiz uma biopsia, em que eles enfiaram um endoscópio na minha garganta,
através do meu estomago e, dentro dos meus intestinos, colocaram uma agulha no
meu pâncreas e pegaram algumas células do tumor. Eu estava sedado, mas minha
esposa, que estava presente, me disse que, quando eles viram as células no microscópio,
os médicos começaram a chorar, porque descobriram que era uma forma muito rara
de câncer pancreático, mas que seria curável através de cirurgia. Eu fiz a
cirurgia, e hoje eu estou bem.
Isso
foi o mais perto que eu cheguei de encarar a morte, e eu espero que passem
algumas décadas sem que a situação se repita. Tendo sobrevivido, hoje eu posso
dizer isso a vocês com um pouco mais de certeza do que quando a morte era um
conceito útil, mas puramente intelectual: Ninguém quer morrer. Mesmo as pessoas
que querem ir para o céu não querem morrer pra chegar lá. E mesmo assim a morte
é o destino comum a todos nós. Ninguém nunca escapou dela. E é certo que seja
assim, porque a morte é, muito provavelmente, a melhor invenção da vida. É o
agente de mudança da vida. Ela remove o velho do caminho e abre espaço para o
novo. Por enquanto vocês são o novo. Mas algum dia não muito distante, vocês,
gradualmente, vão se tornar velhos e sair do caminho. Desculpem-me por ser tão
dramático, mas essa é a verdade.
O
tempo de que vocês dispõem é limitado. Então não o desperdicem vivendo a vida
de outra pessoa. Não se deixem aprisionar por dogmas — isso significa viver sob
os ditames do pensamento alheio. Não deixe o ruído da opinião alheia sufocar
sua voz interior. E mais importante: Tenha coragem de seguir o coração e a
intuição de vocês. Eles, de alguma forma, já sabem o que você realmente quer se
tornar. Tudo o mais é secundário.
Quando
eu era jovem, havia uma maravilhosa publicação chamada, The Whole Earth Catalog
(O Catalogo de Toda a Terra), que era uma das bíblias de minha geração. Foi
criada por um sujeito chamado, Stewart Brand, não muito longe daqui, em Menlo Park,
e ele deu vida à publicação com seu toque poético. Isso foi no final dos anos
60, antes dos computadores pessoais e da editoração eletrônica, então tudo era
feito com máquinas de escrever, tesouras e câmeras polaroids. Era como o Google
em papel, trinta e cinco anos antes de o Google aparecer. Era um projeto idealista
e repleto de recursos elegantes e ideias brilhantes.
Stewart
e sua equipe publicaram várias edições de O Catalago de Toda a Terra, e então quando
a ideia havia esgotado suas possibilidades, eles publicaram uma edição final.
Era meados dos anos 70, e eu tinha a idade de vocês. Na quarta capa da edição
final, havia uma fotografia do amanhecer em uma estradinha de terra, do tipo
que você podia ficar pegando carona, se você fosse um aventureiro. Abaixo da
foto estavam as palavras: “Permaneçam famintos. Permaneçam tolos”. Era a
mensagem de despedida deles. Permaneçam famintos. Permaneçam tolos, foi o que
eu sempre desejei para mim mesmo. É o que eu desejo a vocês em sua formatura e
em seu novo começo.
Muito
obrigado a todos vocês.
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