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Nos céus do progresso, que nunca se apague o brilho das estrelas da nação Brasil
Posted by Cottidianos
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Quinta-feira,
11 de junho
“É uma nação
Dentro
de um grande país
Um
grande povo
Dentro
de outro maior
E
esse nó
Não
desata nem destina
Que
essa nação nordestina
O
Brasil é o melhor”
(Intróito à nação – Zé Ramalho)
O
meu país é imenso. Com seus 8.515.767,049 km2, é um continente dentro de outro
continente. De Norte a Sul, de Leste a Oeste, é um oceano de belezas naturais
nos quais a vista pode mergulhar por horas seguidas, por dias seguidos, sem
nunca se cansar.
A
minha nação também é grandiosa. Segundo dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística, em primeiro do julho de 2014, atingimos a marca de
202,7 milhões de habitantes. Já pensou no que significa 202,7 milhões de
pessoas vivendo sob o mesmo solo, respirando a mesma brasilidade e alimentando
as mesmas esperanças de um país melhor?
Para
as instituições econômicas, esse número não passa de estatísticas para o
calculo de indicadores econômicos e modelo para a distribuição dos Fundos de Participação
de Estados e Municípios, feita pelo Tribunal de Contas da União (TCU), mas para
mim ele representa vida, diversidade de cultura, pois assim como o Brasil pode
ser definido como um continente dentro de outro continente, também nele há
vários países dentro de um mesmo país.
Cada
estado brasileiro possui as suas peculiaridades, seu modo de falar. Os
nordestinos falam mais devagar e com um falar cantado. Os do sudeste falam
mais rápido. Os cariocas puxam muito pelo som sibilante do s, x, e ch. Cada
região tem seu céu de coloridas tradições, e em cada céu brilham as estrelas da
cultura que refletem matizes diversos. Tudo isso sem ofuscar o brilho e as
cores do manto verde, amarelo, azul e branco que recobre todos nós.
É
gostoso dizer: Meu país!
Dá
certo orgulho no peito e uma emoção na alma quando cantamos o Hino que tão bem
nos representa...
... Brasil, um sonho intenso, um
raio vívido
De amor e de esperança à terra
desce,
Se em teu formoso céu, risonho e
límpido,
A imagem do cruzeiro resplandece.
Gigante pela própria natureza,
És belo, és forte, impávido
colosso,
E o teu futuro espelha essa
grandeza...
Os
versos vão percorrendo nossas veias, despertando nossos sentidos, tal qual
bravo soldado em campo de batalha.
Por
que dizemos com tanto amor: Meu país!?
Por
que é aqui onde comemos, bebemos, estudamos, trabalhamos, ganhamos dinheiro,
descansamos... E voltamos a fazer tudo de novo. Aqui é o berço de nossos ideais
e nossos sonhos. Esse sentimento de brasilidade é tão forte que, mesmo aqueles
que estão fora do país, que foram acolhidos em outra pátria, sentem-se,
igualmente, brasileiros. Pois, nacionalidade, no dicionário Michaelis, é
substantivo feminino e significa:
1. Qualidade ou
condição de nacional; naturalidade.
2. Conjunto dos
caracteres que distinguem uma nação.
3. Nação,
Porém,
no coração, nacionalidade, é raiz... E raiz acompanha a planta onde ela for. Muda
o solo, muda o céu, muda o ar, mas a raiz permanece, para sempre.
Ah,
minha bela e pobre pátria!
Bela
pelos teus encantos naturais, e pela alegria de teu povo, e pobre porque não és
bem cuidada como deverias. Deus do céu! Como te maltratam! És como ave rara de
belas penas que é sempre depenada. Primeiro foi o ouro vermelho, chamado Pau
Brasil, cujas toras eram abundantemente retiradas e levadas para outras terras.
Depois foi teu dourado ouro que, tristemente, disse adeus ao seu solo natal e
foi enfeitar os palácios portugueses e aquecer e enriquecer ainda mais a
economia portuguesa.
Essa
herança maldita persiste até hoje. As aves de rapina, chamadas corruptos, te
sobrevoam, esperando sempre o momento certo de comerem a melhor parte do boi,
deixando apenas o esqueleto para a maioria da sofrida população. Assim como o
Pau Brasil e o ouro de nossas minas, milhões de reais saem, clandestinamente, e
vão fazer festa em paraísos fiscais.
“Ó
pátria amada, Idolatrada, Salve! Salve!”, como estamos cansados de todas essas
manchas que ofuscam a beleza de teu céu azul anil...
Como
disse, dentro do Brasil há várias nações. A Nação Nordestina é uma delas. Um
povo sofrido, mas um povo forte, um povo guerreiro. Se fosse figura
linguística, o nordestino seria uma antítese, — figura linguística pela qual se
opõe duas palavras ou ideias — pois mesmo sofrido, ele não consegue ser triste.
Ilustrando
musicalmente essa nação, um de seus representantes famosos, o cantor Zé
Ramalho, lançou, em 2000, o seu décimo quarto disco, chamado, Nação Nordestina. É um disco belíssimo,
a começar pela capa, que é uma homenagem ao lendário álbum, Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band,
lançado pelos quatro rapazes de Liverpool, em 1o de junho de 1967. O
design da capa traz para o nordeste o mundo dos Beatles. Nação Nordestina é um
passeio do homem nordestino por sua própria terra, e mergulha em toda a sua
musicalidade, na riqueza de sua cultura e costumes.
A
faixa “Intróito à nação”, com percussão de Nana Vasconcelos é grandiosa, como é
grandioso o sentir-se parte da terra, como o sente as raízes das arvores
frondosas que fincam suas raízes no profundo solo.
O
disco segue com belas letras, e também traz músicas de grandes nomes da música
nordestina, como Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro e Geraldo Vandré. O disco
inteiro é uma joia preciosa, mas a canção que gostaria de compartilhar com
vocês, mais que letra, é um discurso, e quem disse que com música não se faz
discurso?
A
letra da música, O meu país, não
destaca as belezas naturais do Brasil, e sim, as mazelas sociais dele, mazelas
essas cujas raízes principais, são a corrupção que tanto mal nos faz. A letra é
de autoria de Orlando Tejo e Gilvan Chaves, e música de Livardo Alves. O
refrão:
“Tô vendo tudo, tô vendo tudo
Mas, fico calado, faz de conta que
sou mudo”,
Poderia,
a princípio, sugerir certa passividade, comodismo, falta de vontade de lutar,
mas quem acompanha a realidade política, sabe que esse é o bordão preferido de
nossos políticos, pronunciado desde os tempos do mensalão, e que perdura nos
dias atuais, com a operação Lava-Jato. Nenhum de nossos governantes nunca sabe
de nada, nunca viu coisa alguma, mesmo com as coisas acontecendo debaixo das
barbas deles.
Esse
país da corrupção não é o meu país, pelo menos não é o país no qual nós
desejamos viver.
***
O Meu País
Zé Ramalho
Tô
vendo tudo, tô vendo tudo
Mas,
fico calado, faz de conta que sou mudo
Um
país que crianças elimina
Que
não ouve o clamor dos esquecidos
Onde
nunca os humildes são ouvidos
E
uma elite sem deus é quem domina
Que
permite um estupro em cada esquina
E
a certeza da dúvida infeliz
Onde
quem tem razão baixa a cerviz
E
massacram-se o negro e a mulher
Pode
ser o país de quem quiser
Mas
não é, com certeza, o meu país
Um
país onde as leis são descartáveis
Por
ausência de códigos corretos
Com
quarenta milhões de analfabetos
E
maior multidão de miseráveis
Um
país onde os homens confiáveis
Não
têm voz, não têm vez, nem diretriz
Mas
corruptos têm voz e vez e bis
E
o respaldo de estímulo incomum
Pode
ser o país de qualquer um
Mas
não é com certeza o meu país
Um
país que perdeu a identidade
Sepultou
o idioma português
Aprendeu
a falar pornofonês
Aderindo
à global vulgaridade
Um
país que não tem capacidade
De
saber o que pensa e o que diz
Que
não pode esconder a cicatriz
De
um povo de bem que vive mal
Pode
ser o país do carnaval
Mas
não é com certeza o meu país
Um
país que seus índios discrimina
E
as ciências e as artes não respeita
Um
país que ainda morre de maleita
Por
atraso geral da medicina
Um
país onde escola não ensina
E
hospital não dispõe de raio - x
Onde
a gente dos morros é feliz
Se
tem água de chuva e luz do sol
Pode
ser o país do futebol
Mas
não é com certeza o meu país
Tô
vendo tudo, tô vendo tudo
Mas,
fico calado, faz de conta que sou mudo
Um
país que é doente e não se cura
Quer
ficar sempre no terceiro mundo
Que
do poço fatal chegou ao fundo
Sem
saber emergir da noite escura
Um
país que engoliu a compostura
Atendendo
a políticos sutis
Que
dividem o brasil em mil brasis
Pra
melhor assaltar de ponta a ponta
Pode
ser o país do faz-de-conta
Mas
não é com certeza o meu país
Tô
vendo tudo, tô vendo tudo
Mas,
fico calado, faz de conta que sou mudo
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